sábado, 5 de dezembro de 2015

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: RECORDAÇÕES DA JUVENTUDE

(07) RECUERDOS DE JUVENTUD (36)

 


Lo cierto es que yo iba de un lado a otro,
A veces chocaba con los árboles,
Chocaba con los mendigos,
Me abría paso a través de un bosque de sillas y mesas,
Con el alma en un hilo veía caer las grandes hojas.
Pero todo era inútil,
Cada vez me hundía más y más en una especie de jalea;
La gente se reía de mis arrebatos,
Los individuos se agitaban en sus butacas como algas
       movidas por las olas
Y las mujeres me dirigían miradas de odio
Haciéndome subir, haciéndome bajar,
Haciéndome llorar y reír en contra de mi voluntad.

De todo esto resultó un sentimiento de asco,
Resultó una tempestad de frases incoherentes,
Amenazas, insultos, juramentos que no no venían al caso,
Aquellos bailes fúnebres
Que me dejaban sin respiración
Y que me impedían levantar cabeza durante días,
Durante noches.

Yo iba de un lado a otro, es verdad,
Mi alma flotaba en las calles
Pidiendo socorro, pidiendo un poco de ternura;
Con una hoja de papel y un lápiz yo entraba en los
        cementerios
Dispuesto a no dejarme engañar.
Daba vueltas y vueltas en torno al mismo asunto,
Observaba de cerca las cosas
O en un ataque de ira me arrancaba los cabellos.
De esa manera hice mi debut en las salas de clases,
Como un herido a bala me arrastré por los ateneos,
Crucé el umbral de las casas particulares,
Con el filo de la lengua traté de comunicarme con los
        espectadores:
Ellos leían el periódico
O desaparecían detrás de un taxi.

!Adonde ir entonces!
A esas horas el comercio estaba cerrado;
Yo pensaba en un trozo de cebolla visto durante la cena,
Y en el abismo que nos separa de los otros abismos.


Poemas y antipoemas -- 1954.

RECORDAÇÕES DA JUVENTUDE

 

O certo é que eu ia de um lado para o outro,

Às vezes me chocava com as árvores,

Às vezes com os mendigos,

Me evadia através de um bosque de cadeiras e mesas,

Com a alma por um fio via cair as grandes folhas.

Mas tudo era inútil.

Cada vez mais e mais imergia numa espécie de geleia;

As pessoas riam quando explodia,

Os indivíduos se agitavam em suas poltronas com algas

            movidas por ondas

E as mulheres olhavam-me com ódio

Fazendo-me subir, fazendo-me baixar,

Fazendo-me chorar e rir contradizendo minha vontade.

 

De tudo isso resultou um sentimento de asco,

Resultou uma tempestade de frases incoerentes,

Ameaças, insultos, juramentos que não vem ao caso,

Aqueles bailes fúnebres

Que me deixaram sem respiração

E que me impediam de levantar a cabeça durante dias,

Durante noites.

 

Eu ia de um lado para o outro, é verdade,

Minha alma flutuava pelas ruas

Pedindo socorro, pedindo um pouco de ternura;

Com uma folha de papel e um lápis eu entrava nos

            cemitérios

Disposto a não me deixar enganar

Dava voltas e voltas em torno do mesmo assunto,

Observava de perto as coisas

Ou em um ataque de ira me arrancava os cabelos.

Dessa maneira fiz meu início nas salas de aula,

Como um ferido a bala me arrastei pelos ateneus,

Cruzei o umbral das casas particulares,

Com a beira da língua tratei de comunicar-me com os

            espectadores:

Eles liam o periódico

Ou desapareciam atrás de um táxi.

 

Para onde ir então!

Nessas horas o comércio estava fechado;

Eu pensava num pedaço de cebola visto durante a cena,

E no abismo que nos separa dos outros abismos. 

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