terça-feira, 31 de maio de 2011

puberdade

oco como um toco pedaço de árvore no chão na imensidão de uma floresta quase devastada pelas nossas mãos de homens desrespeitosos com o futuro nosso fosso entre gerações filhos que desconhecem os benefícios deixados por pais desavisados do esforço dos avós onde iremos com esse raciocínio de símios de tristes habitantes de um planeta que finge não saber das misérias da África finge desconhecer ditadores baratos abaixo do Equador estamos certos que um Potter irá nos salvar como? se livrarias são infestadas de baratas baratos livros que fingem ser literatura para os que fingem querer saber mais do que a dificuldade na puberdade

Inundação

um dormência toma conta das minhas mãos a lentidão num azougue como eu assusta acabo de chegar a uma conclusão absurda não há por que escrever observo o ritmo das outras pessoas preocupadas que estão com a vida alheia com o pão sem comunhão com olhos de julgamento não se enxergam no espelho mas vivem mudando o cabelo o penteado caro nos salões é disfarce? acho que deveria parar de me preocupar e ficar como um peixe de aquário nadando de um lado ao outro disfarçando o desgosto da ração a dormência subiu ao cérebro única explicação para esse desânimo absurdo que inunda (imunda?) um mundo de rimas que tenho aqui dentro devo quebrar as janelas e espalhar lágrimas por aí?

pelo cheiro

costumava ler mais facilmente as letras escrevendo
costumava olhar o mar pelo cheiro
costumava cegar em casa pelo frio, pelo frio dos azulejos
não costumava usar costumava
mas
a idade chegou
e a saudade me pegou

desígnios

o silêncio me deixa comigo
ouço desígnios
sopro divino
possível

quarenta e três, livros

sete minutos...
é o tempo
que tenho para contar minha história
nasci, menino de Icaraí
casei, jovem no Centro
mudei, aos trinta para uma casa
enfilhei, logo tinha dois
engravidei, de discos e livros
pari, aos quarenta e três, livros

o pote

na busca incessante por mim
falava um sem fim de palavras
gesticulava
abraçava o mundo em tin-tins
agora
sabendo do pote de ouro no fim da história
posso fechar os olhos e sonhar

segunda-feira, 30 de maio de 2011

WALTZ FOR DEBBY

queria tanto te ver dançando
com pés rosa de felicidade tristeza amarelo de saudade
esquecida nos passos nos passados plantados naquela árvore azul que era nossa que era planta moça toda da cor de nosso amor quebrados rancor e discórdia troço das rosas que não conhecem o amor com o cravo que desconhecem a dor de querer acima das expectativas abaixo do equador bossa nossa bossa nova valsando em olhares de fossa da energia poderosa que tínhamos ao nos tocarmos como melodia

Maluf

resta claro a situação está periclitante todos estamos no perigo de num suspiro desaparecer um único vacilo um espirro mal dado é bastante nessa terra de formigas gigantes (que somos) basta um pequeno tropeço para virarmos ETs ou almas de outro mundo ou qualquer coisa... (desde que não seja o Maluf...)

Um-sete-um

ao descobrir um vizinho um-sete-um um policial tem o instinto de prendê-lo o poeta de rimá-lo

Adeus

quando insisto em tentar te trazer para cá lugar de rimas e poemas sou Deus sou Deus quando escolho não matar roubar uma declaração de fins um princípio lindo de nada adiantará para um doente de fome alimento sou para os que comem Deus sou quando sei escolher a hora de parar ou de continuar a digitar Deus quando rimo, Deus quando me arrepio, Deus quando o assobio que tento dá errado mas agrada ao meu filho de cinco anos de Deusinho adeus quando me esqueço de mim

esperanço

quando penso
em seu jeito me olhando
carpindo meu sono
chorando a falta de adjetivos
entendendo que um menino ainda precisa aprender a reconhecer texturas
pintada e esperando uma palavra
que quase nunca vem
sinto também
não saber falar
em frânces
seria mais romântico amar
e por tanto amar
quebro a rotina
com esperanço
ranço de esperança tanta
coisa tenho para continuar...
nas ondas do seu cabelo quero morrer devagar

aquecimento

...coelho...
...cachorro...
...estrela...
...montanha...
...sino...
nuvens
são
poemas
que do papel
nos
aqueceram

novelo-sentença

pairando
sobre as letras desse poema
vejo uma asa
do anjo
amor
fios do seu cabelo
fornam
o novelo-sentença
que me define como poeta

República una

cada pedaço
de um poema
é um pedaço de destino
guardado
sonhado
à exaustão
cada sentença de um poema
é uma declaração
de princípios
uma Constituição

aparte

a sombra do seu elogio
não me pertence
é dona da sua maldade
sei a parte que me cabe
em cada pedaço desse desvio
bobagem achar que estou sendo enganado
suo às bicas
ouço tudo
e
ouso ficar com a melhor parte
a parte que inventei para mim

Ventura

não me interessa se o elogio foi mentiroso aproveito a parte que me cabe na maldade e sigo como todos os que temos a consciência da necessidade de seguir como um barco que não para com o canto das sereias sigo o pranto dos desaventurados

domingo, 29 de maio de 2011

Diário

entusiasmo é Deus
única atitude sublime
transborda
assusta
edifica
se Deus é amor e entusiasmo é Deus
entusiasmo é amor
pela oração, diária
pela sentença, diária
pela palavra, diária
pela sensação, diária
da busca, diária, do significado da vida

orações

algo sobrevoa um poema
uma sensação
um cheiro
de emoção
como um prédio que treme com uma explosão
como uma águia e seu olhar apaixonado pela presa
sem pressa as letras se juntam e palavras viram sentenças
orações

(oremos ao amor)

Pena

...não há definição
palavras
sendo asas
das letras
borboletras
coloridas
procurando néctar
para futura floresta
um marimbondo azul
acasalando um blues
sentimental
(eu sou)
o amor
voando numa pena perdida de um pássaro alado

Clarividência

não, poesia
não é palavras de dor
não é letras com cor
é o calor da ilusão do poeta
a vontade da comunhão
poesia
não é doloridas letras
não é coloridas palavras
é a sensação de pertinência do poeta
uma desinência
uma clarividência
tudo resumido no amor pelas pessoas

burra

poesia
magia abusiva
mania das Musas
loucura crua
sem-cerimônia
dum banquete de letras
acesas
inteligência burra

BANDA OURO NEGRO

Mario Adnet....................... Violão
Ricardo Silveira.................. Guitarra
Cristóvão Bastos.................. Piano
Marcos Nimrichter................. Teclados
Zeca Assumpção.................... Baixo Acústico
Armando Marçal.................... Percussão
Jurim Moreira..................... Bateria
Andrea Ernest Dias................ Flautas
Zé Nogueira....................... Sax-Soprano
Idriss Boudriowa.................. Sax-Alto
Marcelo Martins................... Sax-Tenor
Teco Cardoso...................... Sax-Barítono
Phillip Doyle..................... Trompa
Jessé Sadoc....................... Trompete
Vittor Santos..................... Trombone
Antonio Henrique Seixas (Bocão)... Trombone-Baixo

Quem tiver tempo não pode deixar de ouvir a homenagem ao maestro Moacyr Santos executada por essa banda de altíssimo nível musical e espiritual! É só ir ao youtube, abraços.

Degradação

o sofrimento do poeta
é saber-se
solidão
afastado do convívio
sozinho
batalha a boa luta
luta em que
mostra e se vê formiga
num labirinto de assassinos do tempo
inveja
incompreensão
dinheiro
todos nos vendemos à ilusão da juventude eterna
terna mentira
que nos ajuda a suportar a degradação
atávica

CARLOS NEJAR (3)

Sobre o livro de Carlos Nejar, TRATADO DO BOM GOVERNO, que ainda não li, nos diz Vera Lúcia de Oliveira, poeta e ensaísta: "Tratado de bom governo é um dos livros mais intensos e tocantas de C.N., livro solene e trágico, lírico e dramático ao mesmo tempo, obra de um poeta no pleno possesso dos seus meios expressivos. Ele plasma e modela exemplarmente a língua, levando-a a atravessar limiares inéditos, sem nunca deixar que se distancie da função primordial da comunicação, embora a viagem seja ontológica e metafísica. É poesia sem tempo e sem limites, onde a palavra tem uma função profética e salvífica, nessa república de vivos que não vivem; é uma poesia ética e religiosa no senso mais amplo do termo. Nejar não contempla de longe o grande e trágico espetáculo do universo, mas participa com sua sensibilidade, sua pietas, e celebra sempre a vida, contraposta ao definitivo silêncio de tudo o que finda. A sua palavra profética promove a renovação, a recuperação dos significados remotos e primogênitos dos signos, que carregam ainda impressos na pele dos sons a substância concreta das coisas. O poeta é solicitado a agir, é um arauto e um testemunho que traz à república dos vivos a mensagem de alerta e de esperança, embora o seu dom não seja de nenhum conforto, já que os poetas são sempre menos tolerados no nosso comvívio.".

CICLISTA PRATEADO

O ciclista prateado inventou um estilingue de pérolas do amor enquanto falava a plateia preferiu achincalhá-lo sacaneava o cara direto e ele tentando falar ao se irritar jogava fictícias pérolas aos porcos que continuavam sem entender aquele significado

Existe!

diante de tanto sacrifício não seria lindo alguém lhe avisar que um pouco de felicidade existe?

Domicílio

é chegado o momento...
preciso me livrar de mim
triste fim
para quem se amava
a rotina das minhas palavras
me esgotou
(esgotaram as gotas, lágrimas secaram)
preciso escrever algo que me assuste
que mude a muda de planta que trago
algo está errado
e preciso de tempo para raciocinar
para onde estou levando minha
prisão domiciliar

Preferência

como a chuva
prefiro o vento
que me empurra para junto do argumento
como o fogo
prefiro o vento
que me faz alcançar alturas jamais vistas...crescimento
como um poema
prefiro o vento
que me ajuda a rimar quase tudo com sentimento

sábado, 28 de maio de 2011

LÔRO

um menino poede ser tudo o que quiser
um menino lindo sabe o que quer
quer brincar
quer jogar capoeira
quer ser palhaço, não ditador
quer ser um sapo, não princípe de um império árabe
quer ser ditado, não quer ser papel picado
um menino lindo pode ser o que quiser
elefante de barbante
tigre no céu
nuvem de papel
pode ser saci
pode ser Pedrinho
pode ser seu vizinho
fura-bolo
mata-piolho
em tudo há seu dedo, mágico segredo

MÁGOAS DE UM VIOLÃO

O som da melodia que fiz não foi suficiente perdi o que de mais urgente tinha nessa vida, suo em bicas, minha amada deixou-me aqui enluarado, apenas acompanhado por bigodes desafinados, de nada adianta ter vontade tamanha de querer chorar, soar pela noite entristecido, sonoro, cantando o amor que sinto e minto tanto e no entanto ainda quero me enganar onde estão meus companheiros de sofrimento onde está aquela voz que me faz corar o sereno acelera meus batimentos tantos sentimentos desperdiçados por um mulato contente quando tem quem amar

BODY AND SOUL

Um corpo sem alma
é um corpo sem choque
o choque da vida é a morte
uma alma sem corpo existe?
triste pensar que não?
insitem em dizer que sim
insito em pensar que não
o mundo é esse único possível em que essa eletricidade é minha e me pertence
único mundo em que me reconheço
mente sã
em corpo são
mente aquele que diz que não está doente de pretensão?
em que vã filosofia esse corpo me pertence?
quem escreve esse poema é meu corpo ou minh'alma?

CARLOS NEJAR (2)

" Sem estrela

A morte ia comigo e eu, com ela.
E vi o seu ridículo vestido,
o andar desajeitado e sem sentido,
o rosto com penteado de donzela,

sendo tão velha, velha, no ruído
de suas meias e sapatos de heras.
Então não resisti e me ri dela,
caçoava de seus gestos confundidos.

E desta sisudez que nada espera,
mas sabe que na vida um só gemido
pode fazê-la emudecer. Insisto

em rir de sua passagem sem estrela,
sem grandeza nenhuma. E se resisto,
é porque está em mim quem vai vencê-la.".

CARLOS NEJAR (1)

"De longo curso

Para Elza

Minha alma descansa
na tua alma,
onde a luz jamais
desativada:
é um navio de longo
curso pela água.

Redonda a luz e nós
atracamos na foz
com o fundo calmo.
Em mim te almas
e te amando, eu almo.".

5 importâncias

se
sei quem sou
o que quero
o que não quero
como conseguir o que quero
estou apenas a mercê do tempo
do destino
que menino pode bulir comigo
pode me levar consigo
pode me fazer esquecer de mim

COULDN'T STAND THE WEATHER

A chuva que entope as ruas aí fora
é a mesma que transborda de mim?
lágrimas do céu são Deus chorando ou estamos de ponta a cabeça?
Como posso deter meus sentimentos
onde estão os meninos, filhos, que me ajudarão a crescer?
quero crescer, preciso?
simples assim, minto
sempre sinto tudo mas me afasto dos meus pensamentos inventando ser o super-man
Gil cantou e eu também
"...verão no apogeu da primavera..."
homem-fera entendendo a mulher-bela, mãe, de todos nós outros
chorando fogo pela falta de compreensão
até quando seremos caixa d'água sem vazão?

SCUTTLE BUTTIN'

Em que desculpa vou me agarrar?
Quero fugir, voltar a mamar
Vamos fugir para outro lugar?
Longe de tudo que seja ardência
Longe de todos de preferência
em quê quadra, quê marca quero deixar?
correr, verter palavras
correr, meter letras onde espaço não há
como viver num país sem memória como me lembrar da sua história?
Em que desculpa vou me agarrar?
Quero fugir, voltar a mamar?
Vamos fugir para outro lugar
vamos cumprir nosso carma?
Vamos desentupir as artérias
Ou ficar olhando a vida passar jogando o jogo-da-velha?

ON GREEN DOLPHIN STREET

Quem disse que a esperança é verde?
quem disse que essa cor é verde?
acredito piamente que esse tom é de dor?
e sofro na cor que quiser
quem disse que não devo sofrer?
a vida é amarela e azul?
Não! a vida é um fado, uma toada, um blues
um blues verde.
(pronto disse...)
sofro na cor verde vendo seus olhos verdes em cada pedaço verde de tapete
verde, verde, ver-te
quisera eu ter-te
experte em sentimentos
jardineiro das verdes recordações
sofro também em outras colorações
É vermelho um coração abandonado?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

LENNY

Lenny, Por que você ainda me ama?
depois de tanto tempo um coração não se cansa?
tanta, tanta esperança
enquanto canto
tem tanta coisa acontecendo
mundos acabando pessoas nascendo
enquanto houver manga
nosso doce amor nunca acabará?
Lenny, onde você agora está?
me vendo
me rezando
me comendo em seus sonhos de aquecimentos
como ainda amas um homem sedento?
de vida
de cidra
de tinta
das letras que não deseja largar
Lenny, a que horas nosso mantra acabará?

SO WHAT

Grito mesmo, e daí?
Grito e procuro uma saída?
onde está a felicidade
espremida entre desejos e medos?
grito e quero ser escutado
jogo todos os dedos em todos os dados
acho que encaixo
meu jeito já é um poema gritado
onde estão as pessoas que tinham a opinião cerrada
será que ainda acham que estou do lado errado?
grito e ensurdeço pelos meus predicados grito a plenos pulmões
onde estão os enredos dos do outro lado?

Blues-DNA

Célula mater do jazz, o blues pode e deve nominar qualquer projeto em que as duas maiores manifestações musicais dos norte-americanos estiverem conjugadas. O blues é a alma do jazz que, com mais possibilidades harmônicas e intelectivas, não pôde abrir mão do seu DNA criativo. Por isso, o projeto de fazer um poema a cada audição de um blues ou um jazz foi chamado POESIA-BLUES e não poesia-jazz (muito menos sonoro, diga-se de passagem).

ALMOST BLUE

É...
foi quase azul
meu mundo misturou
em exatas partes
verde e amarelo...
foi quase azul
quase
por muito pouco
não nasceu
uma discórdia azul
esse blues
não é meu
é seu retrato de como uma vida pode acabar, em música, com uma vida
as palavras têm força, têm insígnias
mostram seu valor e nos abafam por vezes nos transformam em dor
é
foi quase azul

AUTUMN LEAVES

o outono cai
em folhas
em branco
versos em prantos
esperando
esperança
(pedaço)
de árvores
em verdes planos
vou levando a vida
vou rimando
vou caindo
com as folhas
voando
esperando
o vento soprar seu nome
esperanço
que me faz plantar
um engano

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Song of the wind

O vento sopra quente seu nome
dormente ouço os joelhos sofrerem
tente sempre não me fazer doer
lembre do último olhar a mim dirigido
ódio fino
mimosos versos de desamor
preste atenção no balé de suas mãos negando-me, atenção,
carinhos, foram princípios desperdiçados em declaração frouxa em boca roxa de sofreguidão
o vento aquece minha ilusão
o mundo não é tão quente, tão verso, tão repleto de poesia quanto gostaria
mas
é o único mundo ao alcance de minhas mãos e brigarei com qualquer um qualquer uma felicidade é urgente é sopro vivente num corpo-prisão

KILLER JOE

Onde estás assassina?
das minhas ilusões foi bandida
tinta, pintou de vermelho lágrimas infantis
onde estás? por onde andas? cínica!
reflexo de lua nos meus olhos primaveris
sinto muito, gostaria de te alcançar só para dizer-lhe
por incrível que pareça ainda te amar
de tanto amar
ouso sonhar com dias simples
me fascina me enganar
acostumado que estou a sofrer
espero sorver um último gole do seu beijo
sexo no tejo
zé mané do alentejo
homem feito chorando como uma criança
ouço a esperança
no cair de uma tâmara...

TAKE A FIVE (2o poema do POESIA-BLUES)

Porque não penso e paro de reclamar?
Por que não penso e paro de me arrumar?
Por que não penso e para de me pesar?

Hoje vou tomar cinco resoluções:
1) amar, o próximo
2) amar, o pródigo
3) amar, a próxima
4) amar, a toga
5) amar, a espada
a justiça tarda mas não falha
quero saber de tudo que devo saber para me colocar nessa vida aflita
quero saber de tudo que devo saber para me posicionar de cinco maneiras atrevidas

UMA HISTÓRIA (Continuação)

O seu pai, menino, desses marceneiros era. Foi atropelado na volta a pé do trabalho, o que, nesses dias em que qualquer um é motorizado, já é sinal de pobreza bastante. E se tornava para descansar em casa posta no Conjunto Habitacional Monte Castelo, no castelo somente em nome habitava, sinal de pobreza exuberante.Claro como a luz, igualmente, é o fato de que você, menino, no pedir pensão de apenas um salário mínimo, pede não mais que para comer. Logo, para quem quer e consegue ver nas aplainadas entrelinhas da sua vida, o que você nela tem de sobra, menino, é a fome não saciada dos pobres.Por conseguinte um deles é, e não deixa de sê-lo, saiba mais uma vez, nem por estar contando com defensor particular. O ser filho de marceneiro me ensinou inclusive a não ver nesse detalhe um sinal de riqueza do cliente; antes e ao revés a nele divisar um gesto de pureza do causídico. Tantas, deveras, foram as causas pobres que patrocinei quando advogava, em troca quase sempre de nada, ou, em certa feita, como me lembro com a boca cheia d'água, de um prato de alvas balas de coco, verba honorária em riqueza jamais superada pelo lúdico e inesquecível prazer que me proporcionou.Ademais, onde está escrito que pobre que se preza deve procurar somente os advogados dos pobres para defendê-lo? Quiçá no livro grosso dos preconceitos...Enfim, menino, tudo isso é para dizer que você merece sim a gratuidade, em razão da pobreza que, no seu caso, grita a plenos pulmões para quem quer e consegue ouvir.Fica este seu agravo de instrumento então provido; mantida fica, agora com ares de definitiva, a antecipação da tutela recursal. É como marceneiro que voto. JOSÉ LUIZ PALMA BISSON -- Relator Sorteado”

UMA HISTÓRIA

"Decisão do Desembargador José Luiz Palma Bisson, do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferida num Recurso de Agravo de Instrumento ajuizado contra despacho de um Magistrado da cidade de Marília (SP), que negou os benefícios da Justiça Gratuita a um menor, filho de um marceneiro que morreu depois de ser atropelado por uma motocicleta. O menor ajuizou uma ação de indenização contra o causador do acidente pedindo pensão de um salário mínimo mais danos morais decorrentes do falecimento do pai.
Por não ter condições financeiras para pagar custas do processo o menor pediu a gratuidade prevista na Lei 1060/50. O Juiz, no entanto, negou-lhe o direito dizendo não ter apresentado prova de pobreza e, também, por estar representado no processo por "advogado particular". A decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a partir do voto do Desembargador Palma Bisson é daquelas que merecem ser comentadas, guardadas e relidas diariamente por todos os que militam no Judiciário.
Transcrevo a íntegra do voto:
“É o relatório.
Que sorte a sua, menino, depois do azar de perder o pai e ter sido vitimado por um filho de coração duro - ou sem ele -, com o indeferimento da gratuidade que você perseguia. Um dedo de sorte apenas, é verdade, mas de sorte rara, que a loteria do distribuidor, perversa por natureza, não costuma proporcionar. Fez caber a mim, com efeito, filho de marceneiro como você, a missão de reavaliar a sua fortuna.
Aquela para mim maior, aliás, pelo meu pai - por Deus ainda vivente e trabalhador - legada, olha-me agora. É uma plaina manual feita por ele em pau-brasil, e que, aparentemente enfeitando o meu gabinete de trabalho, a rigor diuturnamente avisa quem sou, de onde vim e com que cuidado extremo, cuidado de artesão marceneiro, devo tratar as pessoas que me vêm a julgamento disfarçados de autos processuais, tantos são os que nestes vêem apenas papel repetido. É uma plaina que faz lembrar, sobretudo, meus caros dias de menino, em que trabalhei com meu pai e tantos outros marceneiros como ele, derretendo cola coqueiro - que nem existe mais - num velho fogão a gravetos que nunca faltavam na oficina de marcenaria em que cresci; fogão cheiroso da queima da madeira e do pão com manteiga, ali tostado no paralelo da faina menina.
Desde esses dias, que você menino desafortunadamente não terá, eu hauri a certeza de que os marceneiros não são ricos não, de dinheiro ao menos. São os marceneiros nesta Terra até hoje, menino saiba, como aquele José, pai do menino Deus, que até o julgador singular deveria saber quem é.
(continua...)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

'Round Midnight (1o poema do projeto POESIA-BLUES)

Quando por volta de meia-noite acordo
dos sonhos mais intensos
quando me lembro do seu sorriso de piano
tremendo
quando vendo nossas fotos
sangro
fervendo
sendo todo noite
esqueço de acordar
me perco em sonhos
de jazz
me sambo
me azulando
vou vivendo em blues
quando por volta de meia-noite
sou inteiro
sendo seu sempre
esqueço do blues
me sinto azul por dentro
e vendo cada pedaço de esquecimento
para continuar
apenas continuar
sendo seu

notícia

tente escrever lidando com a vida real... pague contas, compre verduras e frutas, faça o imposto de renda, compareça à reunião de condomínio e depois tente, tente escrever para ver como o noticiário afeta o imaginário

cotidiano

(esse , um segredo: escrever é a arte de curar cicatrizes com a saliva, mistura de perigo, angústias e lambidas, pode causar sérios danos ao cotidiano...)

letras e palavras

escrevo por medo e por desejo
escrevo por tédio e por efeito
escrevo por tudo que vivi e por nada daquilo que imaginam
escrevo por angústia e por mistura
escrevo por que sincero e por que sério
escrevo por letras-regras e por palavras-mistério

absinto

preso num labirinto
seguindo o instinto da luz interna que queima que quer me lamber e me fazer ter coragem de tentar me livrar das paredes redomas de vidro acinzentado absinto muito não ter com quem conversar

Base

...e agora o que faço?
com todas as dívidas sendo cobradas
com olheiras na cara
com o mal-humor dos indignados
o que me resta?
como será que se encerra essa fase?
é uma fase?
com que base irei poder contar nessa luta de cartas marcadas?

POESIA-BLUES (projeto)

Poesia-blues é o nome de um dos projetos em que estou envolvido. Trata-se de ouvir exaustivamente um blues ou jazz e escrever o que sinto. Hoje ao ouvir um CD com várias faixas, escolhi uma que logo vocês saberão qual é...e aí daqui há pouco vou ouvi-la umas cinco vezes soltar o freio do fusquinha e começar a trilhar o caminho poético que me levará a trasnformar aquela múisca em poesia. O mais legal é que é o caminho inverso do que faço com minhas músicas que nascem primeiro de um poema. Abraços!

Realize

onde estão os que já sabiam?
anteciparam a estadia na porta da padaria?
necessitam de sonhos?

...quem faz não sonha
realiza

incorreto?

o politicamente correto
é a confissão
de uma sociedade que não se dá tempo de humanizar o relacionamento entre seus integrantes
ao invés de tentar conhecer o caráter das pessoas
apelidos são banidos com eufemismos que possam minorar o sofrimento daquele ser que não queremos conhecer

à natureza

um dia voltarei à natureza
voltarei
depois de perder o ranço dos eletro-eletrônicos dos pacotes econômicos das reuniões sem motivo dos muitos uísques falsificados dos selos dos carros dos E-mails das roupas caras das xerocópias dos livros depois de tudo isso volto à natureza como vejo a abelha zangando com a flor volto como a mosca em volta da bosta de gado como um beija-flor suga o néctar como o marimbondo marimbonda tudo que se mexe mas não voltarei como cinza quero ter tempo de aproveitar a brisa do mar esticar as pernas e tropeçar na bola de crianças brincando de teatro quero sentir o cheiro do mato com seus verdes diferentes tão supreendentes como um sorriso em seu rosto

terça-feira, 24 de maio de 2011

amuleto

...QUERER...
isso é que nos diferencia
quero querer
quando quero me esqueço do tempo
não existe nada contra
quando estou querendo
fervo
cresço
pretendo
supremo

amuleto

...ou dom

como se forma um poeta?
mistura de sofrimento, inerente
vontade, imanente
regras, poucas
criatividade, louca
leitura, selecionada
e trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho (que os outros chamam sorte ou dom).

dor-socialista

perfume-amor
dedo-professor
letra-prosa
palavra-rosa
escrita-artista
poema-autista
dor-socialista

perfume-amor

admito:
quero morrer
morrer de amor por você
quando seus lábios tocam minhas letras, todas
retira o hálito de jabuticaba que inventei para mim
sim, em flores transformo dores, quentes calores
me ajudam
a rimar
a parar
de pensar e agir
assim, sem um único gole d'água encharco seu colo de pétalas molhadas
trago seu decote para enfim poder descansar
animado pelo perfume-amor

vcp

OUSADIA

vontade com poesia

bêbado

...insatisfeitos...
insatisfeitos sempre somos com tudo que está a nossa volta o mundo é redondo por quê? não sei jogar como Neymar o mar está em ondas e não sei surfar o triatleta me humilha o poeta acaba com meus sonhos de verão vocês terão a maior surpresa quando eu comprar meu i-pad novo vou inventar um jogo um novo super star vou aprontar todas as cervejas são louras e as beberei quente e sempre insatisfeito...(e com medo...)

Aqueles dois

sendo Deus nesse pedaço de chão único sobrevivente de uma devastação tenho que ser humilde um Deus pode tudo não preciso avisar da força das minhas sentenças criar árvores com araras azuis verdejar montanhas há pouco pintadas de marrom ensinar àqueles dois a assobiar uma canção é o início desse mundinho que quero acabar para descansar

um qualquer

logo? qualquer um logo
posso? qualquer um posso
moço? qualquer um moço
fosso? qualquer um fosso
encosto? qualquer um encosto

onze

esse cara risonho já fui eu a vida já me ensinou o sofrimento difícil sorrir depois disso mas tudo é um aprendizado e logo espero poder mostrar os dentes sem morder mostrar os dedos sem temer não ser lido em breve mais um disco com onze declarações à vida em breve mais uma despedida maldita sequência da vida real

azul de afilhada

nem sempre a vida é séria
nem sempre as letras integram poemas
às vezes desintegram meu modo de pensar
ás vezes uma vírgula pode ser uma imensidão
azul do céu nos olhos doces e sinceros de uma afilhada poeta das tintas

como sempre

uma colisão saiu do encontro entre duas camisas listradas defronte a um conde comendo a fruta viu a loucura do anão-poeta que de frente para sua dificuldade encarou-a chutando de letra para o arco do teles do alferes mineiro de botas o papel aceita qualquer atrocidade maldade é não aproveitá-lo e usá-lo apropriadamente como sempre

capacidade...?

...e aí você se apaixonou...
pela minha capacidade de cegar...?
pelaminha capacidade de negar...?
pela minha capacidade de rimar...?
pela minha capacidade de...

maravilhas

de quanto é a taxa de retorno da poesia?
....
um país pode ser conhecido
por suas maravilhas ou por suas poesias
por seus monumentos ou por seus tormentos
por sua cultura ou por sua ditadura...

imensidão

olhos sinfônicos
anulam
o silêncio que desespero
quero
um berro também sinfônico que musique
minhas alforrias
quero idiossincrasias fervendo
queimando o teto dos meus sonhos
medonhos na imensidão de uma canção

céu negro

o céu negro
é convite para desespero?
a escuridão nos afasta de nossas cores internas?
vejo tudo escuro sem um pensamento-lanterna
acolho meus medos pois é mais fácil jogar a culpa no tempo lá fora enquanto aqui dentro me eperco em mim mesmo e sofro as consequências de não querer não ter forças para tentar mudar

fidalguia

amar-se é...
saber envelhecer
aprender a ceder
aprender a vestir a roupa da humanidade
lembrar-se
dos erros, sem desanimar
das virtudes, sem se exaltar
aconchegar-se em pretéritos
soluçando futuros rumos
sonhar com aquele café com broa de milho
sentindo o cheiro da companhia
humilde fidalguia

à mesa

acreditar no sol
numa estrela acesa
vozes me chamam à mesa
pergunto por que quero acreditar
uma ilusão nos faz andar?
onde está o caminho que me levará à quebra da rotina?
terei coragem de me afastar de outro que sou eu?

tempo X conhecimento

triste constatar que o tempo é contra o conhecimento vendo a velhice chegando quantos livros retiram nosso medo da morte? sofremos menos por conhecermos livros, filmes, obras de arte?

labirinto

pior do que viver no labirinto
é não se dar contar da desistência
na insistência de que se está acostumado com o espaço destinado... aos que não tentam arriscar sair do labirinto

um ser

o opressor procura um ser menor, pior, para mandar
o oprimido procura um ser maior, melhor, para ser mandado
eu procuro um ser, humano, com quem possa conversar

(m e d o)

(essa vontade de controlar os mínimos detalhes...sabe o que é?
m

e

d

o


de... (m

o

r

r

e

r)

(opinião)

(se assumíssemos que vamos morrer seria duro mas mais proveitoso talvez nos desvencilhássemos do terreno pedregoso que é a opinião dos outros e talvez conseguíssemos produzir algo além da intenção)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

outra face

em alguns momentos somos nosso próprio veneno
desaprendemos os passos passados
por medo das consequências
nos encolhemos
e temos motivo de vergonha
não nos perdoamos
(não viramos a outra face)
não domamos a sombra
que anoitece olhares
sóbrios de oportunidades

caçador

durmo
palavras
acordo
metáforas
palavras de fora
dão
azo
dão
asas
às
larvas de borboletras
caçadas

Pão-de-açúcar

botões num gigante de verde roupagem, pedras, céu e fios calibres vazios em bondes de imensidão açúcarada

Um mendigo

de todos aqueles que têm opinião o único ausente é sempre o que mais se exalta com a falta de palavras do poeta não entende que um poema é apenas uma intenção declaração de princípios de um mendigo

(poema)

pequeno fruto
para ser cheirado
e
não comido

(poema)

poeira

sendo poeira
a poesia
não marca
não pesa
fica coçando nos olhos
de quem desprevenido foi pego olhando para o nada

domingo, 22 de maio de 2011

Como uma árvore

um poeta
é como um árvore
nos dá sombra
a poesia como fruto
nos alimenta
um poema não é feito para quem sabe
é feito para quem não sabe que já viveu...

...a direção...

...acordo...não sei onde estou...penso em algo...você não está...me lembro dos últimos dias...da rotina...onde posso me perdoar?conhecemos as palavras de ouvir falar?!...não conseguiram nos juntar...servem para quê, então...o amanhã só vale quando sabemos a direção...

Pum no armário

...é quase um castelo de areia feito por uma criança deslumbrada pela força da água na praia a poesia é um vento que tem que ser capturado pum no armário de nossas recordações de meninos grandes fingidores que somos inibidores de sonhos estragadores profissionais de crianças menores que ainda querem sonhar mas não podem com nosso ISSO NÃO, AGORA NÃO, PARE DE BRINCAR, SOSSEGUE, VÁ DORMIR...

Tradução

...não sei a se a tradução traduziu o problema a questão é acesa é controversa o verso reflete um pensamento complexo do poeta que quisera eu crer que o tradutor alcançou e o passou pois talvez a ideia seja tão rude tão cuspe na cara do coitado tradutor que a dor produzida seja escondida... (como não sei me resta...FAZER!)

Mosqueteiro

o poeta
é
um povo
que fala
que ralha
que asa
que explica
se irrita
se consola
se ameniza
se afoga
o poeta é um e soma todos
um simples aceno
um tufão de sentimentos
o poeta seca molha rega empalha espalha agasalha amortalha...

Prédio

palavras correm soltas
penduradas
em fios invisíveis
ao alcance das mãos
até ontem também não os via
não cria
na existência metafísica do amor
prefiro sussurros a gritos
prefiro fios a guindastes
obras
também são de arte...

(é preciso sombra
para verem o tamanho do prédio?)

comecem!

todos escrevem
todos tecem
todos amanhecem
todos falecem
todos esquecem
todos carecem
todos padecem
todos merecem
todos comecem

farelos

cada um é do seu jeito todo jeito tem um cheiro todo pão tem um pedaço de mão todo farelo tem um bolo todo bolo tem sufoco toda alegria embute uma tristeza todo princípe deseja uma coroa todo tinto respeita o cacho toda boca se refere a uma declaração toda letra tem um poema? todo caso um embaraço? uva farelo pedaço língua sol colchão todos temos solidão?

gRiLo

...terra sem mata)
o grito do grilo em arrepio

...poesio

sábado, 21 de maio de 2011

...o susto

um modo de descrever o susto que um caracol toma ao cair do precipício do meio-fio
ou aquele instante em que um pai perde o filho de vista e se assusta com o susto de se ver procurando sem pista ou...

(...isso é poesia)

ardência

uma infância é criada
quando lembrada
risos esquilos
beliscões
retintos
se espalham pela casa
primos
símios
cismas de crianças amadas
ao extremo da felicidade
infância levada de arte
ardência de memória relembrada ao extremo

caça

nessa mata
inexata caça às palavras
paciência
abafa
acaba
com qualquer possibilidade de discussão
palavras aladas
asas raras
parcas
acalmam
solidão

antes e depois

a escuridão do sol
que fecha meus olhos
me fez pensar se não é a hora de descansar
a rotina das palavras
provoca anemia
irrita tentar falar e ter o sentimento de estar só
(na verdade nascemos e morremos conosco)
todo todo momento deveria ser valorizado como uma pérola porque pode acabar ali a pouco tolo aquele que quer se enganar antes do sufoco a verdade assusta depois é nula

JORGE BARBOSA, poeta caboverdano

"NAUFRÁGIO

(Para João Lopes)

Ai a tristeza do vento
chorando...
Ai as nuvens indo à solta
em louca corrida
medrosas, fugindo á mão estendida...
Ai a solidão dos montes
despidos, à nossa volta
onde a vida aos poucos consome
-- seios nus ensanguentados
onde as raízes
morrem de fome...

...E nos rostos ensombrados
rondam saudades: -- países
navegam velas: -- distâncias...
Gestos parados
caladas ânsias
gritos sem voz...

Mas assim...
Teu sorriso inocente me prendendo
o soluço da tua voz chorando em mim
o hálito da tua presença me afstando
e o medo de trair-me
e o medo de quebrar o encantamente
tornando a minha fuga o único caminho...

E assim te amo como a um amor distante.".

JOSÉ CRAVEIRINHA, poeta moçambicano

"TEIAS DE MEMÓRIA

Na baça melancolia do tecto
bilros de teia bordam solidão
enquanto meigos sussurros de sombra
no brilhante mutismo do espelho
recitam estrofes de poeira.".

GULAMO KHAN, poeta moçambicano

"DE SUL PARA NORTE

De sul para norte o vento degola
o instinto mátrio amanha a gleba
vem dos teus olhos o sabor do tamarindo
meu amor camponesa desnalgada
nas mãos de chissanos e malangatanas
onde a umbila descasca a semente
enlevada jorrando no peito a esperança
a alva aurora de sonhos sonhados
no regaço sereno que liana a liana
dedos secos souberam entrançar?
teus filhos aprenderemos a carpir
este túmulo cavado para lá das lágrimas.".

ARMANDO ARTUR, poeta moçambicano

" VIAGEM

Para habitar as palnícies da ausência
e escalar os montes do tempo
que não vives

eis a secreta viagem
duma ave imaginária
em busca do instante
onde tudo recomeça.".

TOMÁS MEDEIROS, poeta santomense

"MEU CANTO EUROPA

Agora,
agora que todos os contactos estão feitos,
as linhas dos telefones sintonizadas,
as linhas dos morses ensurdecidas,
os mares dos barcos violados,
os lábios dos risos esfrangalhados,
os filhos incógnitos germinados,
os frutos do solo encarcerados,
os músculos definhados
e o símbolo da escravidão determinado.

Agora,
agora que todos os contactos estão feitos,
com a coreografia do meu sangue coagulada,
o ritmo do meu tambor silenciado,
os fios do meu cabelo embranquecidos,
meu coito denunciado e o esperma esterelizado,
meus filhos de fome engravidados,
minha ânsia e meu querer amordaçados,
minhas estátuas de heróis dinamitadas,
meu grito de paz com os chicotes abafado,
meus passos guiados como passos de besta,
e o raciocínio embotado e manietado.

Agora,
agora que estampaste no rosto
os primores da tua civilização,
eu te pergunto, Europa,
eu te pergunto: AGORA?".

RUY DUARTE DE CARVALHO, poeta angolano

"ABERTURA --

Silêncio mas por que e não apenas vento
até que a pedra se arredonde enfim
e a água se expanda
raiada no verde?

Um sono que se estenda obliquamente
entre a murada construção da idade
e as veredas ordenadas pelo passado.

Uma memória a ter-se
mas não aquela que o futuro impeça.

O sal, por toda a parte.
Então pequenos lagos se acrescentam
a partir de alguma fenda original. E são taças de mar
que dão contorno ao continente agreste.".

DAVID MESTRE, poeta angolano

"ARTE POÉTICA

Pousa o tempo
sobre os ombros
e (d)escreve
apenas
erosões
dum rasto
de
Sol
na pedra lisa"

Menino poeta

Ao meu sobrinho poeta Bernardo Souza

continue menino poeta
lute com tudo
todo o esforço não foi
nem nunca será
em vão
invente um bolo com velas
invente a imaginação
colchão de retalhos de sentimentos usados
de flores rosas amarelas roxas
invente um atrito e chore
invente um abraço e role
de sorrisos
invente um esquilo e pinte-o de uma cor inventada
crie uma palavra
que defina seu amor pela vida
crie e pinte-a da sua cor

uma morte

...é como conviver com a dor da fome
(não adianta comer)

remorso

seu jeito ficou em mim
mas
seu cheiro...
difícil lembrar de algo que não devia esquecer
há um remorso
há um troço estranho em mim
não deveria esquecer como seus olhos pousavam em mim seu abraço seu sorriso de levada criança que tinha a esperança de envelhecer...

uno mundo

não há tempo desperdiçado
se estamos inteiros
brigando por nossos desejos
não há limite para a emoção
um sanduíche depois de uma tarde no sol
um beijo doce como um algodão
um simples aceno de mão
tudo sendo uno
tudo junto
tudo mundo

Hamsters

...não há tempo...
no relógio
os ponteiros espremem nossas expectativas
vazias
de ratos no laboratório
de um cientista que nem ao menos sabemos ser louco
quem somos?
para onde estamos indo?
quantas voltas já demos perto do precipício?
sem saber...
alguém quer saber?
alguém se esforça em saber?
se algo diferente não nos sensibiliza...
salve a rotina!

o ditado

não corra de mim
corra
(cora?)
atrás dos seus sonhos
a padaria do céu está no limite da produção
não espere Deus
pense no diabo
pense e faça algo
apareça no espelho dos desenganados
de almas com boas intenções...
ah! você sabe o ditado

BERNARDO SOUZA, poeta

Ó Vento, que eu adoro!
Vento da liberdade...
Ó Vento, que traz a chuva!
Vento da liberdade...
Ó Vento, que leva a chuva!...
Vento da liberdade...
Ó Vento, que sabe bem no Verão!
Vento da liberdade...
Ó Vento, que dá energia!
Vento da liberdade...
Ó vento, que varre as lágrimas do meu rosto!
Liberdade...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Phoenix

uma pedra
me tornou poeta
uma perda
fez-se poema

O Barco

desfeita em nuvens a juventude dos anciãos
céus de retinas azuis jorram solidões nascidas da humilhante condição de enfermos
joias quebradas mãos esfoladas olhares senis
pingam pedidos de alforria da prisão-corpo
estorvo humilde de palavras sem ouvintes
sem um último aperto de mão filhos netos decrépitos
se escondem do futuro escuro que terão
porque o barqueiro não veio lhes buscar?
em qual condição iremos embarcar?

UHLAND, poeta

"Primavera

Despertam docemente as brisas.
Sopram, serenas, moite e dia,
por toda a parte a sussurrar.
Aroma tenro, nova melodia.
Agora, pobre coração, reanima-te:
Agora tudo, tudo mudará.

Faz-se o mundo mais belo a cada dia.
Se o momento presente é tão feliz
o amanhã que surpresa não trará!
Floresce ao longe o vale mais sombrio.
Agora, pobre coração, esquece a mágoa.
Agora, tudo mudará.".


(Tradução de Henriqueta Lisboa).

amigas, namoradas ou irmãs

reflexo da vida
não quebre o espelho da sua ilusão
sente e escreva aquilo que vier de roldão
palavras expressam sentimentos
não há nenhuma melhor do que a outra
essa história de rimas ricas é para teórico
rimas só facilitam a melodia do poema
não são fundamentais
rimas
como primas
não são necessárias
se não existissem seriam amigas, namoradas ou irmãs

indo e vindo

cantar é mais fácil do que falar a melodia ajuda nos dá a deixa falar é difícil porque ninguém fala sozinho a cara da outra pessoa às vezes inibe às vezes dá raiva e acaba que atrapalha o raciocínio cantar é difícil porque normalmente achamos nossa voz ruim, diferente só que não ouvimos nossa voz real a ouvimos indo e não vindo

Esquisito

a compulsão
conhecimento das regras gramaticais
conhecimento dos destaques de sua arte
vontade
muita vontade
de viver
e de querer amadurecer
na vida e na arte
requisitos básicos para brincar no play

SÉRGIO SUZANO, poeta e músico

4 x 1

O homem corre
Corre freneticamente
Ele está tenso, concentrado
Nem olha ao cronômetro
A sua passada é o seu relógio
O tempo, seu inimigo.

E sabe que não pode falhar
Pois à frente outro o espera
Apesar de transpirar confiança
O medo das barreiras o consome.

Assim ele esquece que, caindo
Alguém tentará levanta-lo
E, sendo impossível
Seguirão de onde parou.

Porque nesta corrida
Mais importante que cruzar em primeiro
É que o bastão passe adiante
Com honra
Pois a pista é longa,
E o destino

Incerto.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

ritual

naquela caverna
por medo
por festa
por ritual
alguns homens registraram
a vida
neandertal ousadia de informar hábitos, sensações, manias

Própria ilusão

os mestres continuam os mesmos apesar da falha memória sabemos o cheiro da fumaça o fogo não nos aquece pois esquecemos de enxugar as mãos suadas de tanto esforço inútil negando a possibilidade do susto desejando não tentar
os medos continuam os mesmos de séculos como chegamos para onde vamos quem somos sabemos que onde há fumaça há fogo mas não sabemos quem produziu a faísca não queremos nenhuma pista de como esses desenhos na caverna surgiram?
nós continuamos os mesmos com medo de nos supreendermos com nossos vizinhos é mais fácil desdenhar do próximo do que desenhar uma ilusão própria

a isca e o anzol

o peixe pulando no barco almejando se desvencilhar do anzol que escondia a isca é o poeta tentando se livrar de suas idiossincrasias

enxuto

enquanto o ponteiro dos segundos é poesia
o dos minutos é um enxuto poema

um suspiro

num relógio
a poesia
sendo o ponteiro dos segundos
marca os mundos percorridos durante um suspiro de amor

Estético

...atento aos padrões (estéticos?)
o poeta é o louco com declaração de princípios

...escrevi

poema:
todo dilema que não aguentei só pensar e...

suspiro

poesia:
todo o suspiro que eu parei para me lembrar e acabei escrevendo

carne e osso

ruas vazias
desculpas vadias
para a hora dos gatos pardos
esgotos parados
dão mosquitos
dão ratos no lixo
que jogamos nas ruas
nuas cruas sujas
de tanta incompreensão
grutas de pedra
do povo
de carne e osso
sufoco de vida
sem rimas

Peixe

inseguro mas feliz
por ter escolhido
o caminho mais difícil
a poesia
tira o sono
cobra olheiras ao poeta
provoca transtornos
incita algum ódio
àqueles que desejam sem saber
como se comportar num ambiente altamente hostil
por ser verdadeiro e transparente
aquário de gente

DJAVAN, poeta (2)

FALTANDO UM PEDAÇO

O amor é um grande laço, um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculos pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada com a fuga de uma ilha:
Tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha
O amor é como um raio galopando em desafio
Abre fendas cobre vales, revolta as águas dos rios
Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho
Na pureza de um limão ou na solidão do espinho
O amor e a agonia cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço
E o coração de quem ama fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços

Estrangeiros

querem o horizonte
desejam se enganar
de perto a lenha queima
mas
à distância fogos parecem de artifício
o pisão no pé não avisa
não querem saber de sussurros
desejam a distância
a Alemanha
o calor das mãos os afasta
os coloca para pensar

O alvo (música)

(...imprevisível
como uma criança
que pinta enquanto dança, enquanto dança

inacessível por ser um míssil, míssil em movimento

eu sou o centro
eu sou o alvo
dessa equação
o resultado X2


REFRÃO
se me encontrar parado
há algo errado
no resultado
na solução dos seus problemas
sou o menor

pêssego

...nesse trecho
pêssego foi o que para você?

o que você entendeu
foi entendido do seu jeito
porque já foi vivido
já foi sentido
o registro das palavras de um poema está no seu sentimento...

nos

fato
não falado
verdadeiro
inteiro
pensado
momento de sentimento
nascido
vivido
em milésimos de segundos
recriou-nos

Nascimento

num sonho
choro
a realidade
enxuga lágrimas
secas palavras
esperando chuva
única
possibilidade
de flor em concreto

Folhas e galhos

é mais tarde
do que eu imagino
as folhas já caíram
os galhos não têm mais histórias
o frio aumento o mar
o rio deságua mágoas
vindas de outras partes
outras terras
concretas quimeras faleceram ali
crianças devem ter espalhado pétalas brincando de felicidade
piqueniques entre amigos dissiparam solidões
onde estão as nascentes das letras?
onde está a foz das palavras?

Safra

faz sentido
sentar
sentir em palavras?
os problemas do mundo se acumulam
e
eu aqui pensando na próxima safra?
alguém tem que escrever algo que não seja receita de bolo?
qual o tolo insistiria em escrever como se alguém estivesse interessado em ler?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

sabedoria

não preciso de muitas palavras
poucas me bastam
para saber que
uma flor no momento exato
significa amor
num outro
dor

Cavernas

a falta faz
segundos parecerem mundos
faz mundos parecerem cavernas
rabiscos nas pedras
neandertais cabelos e sentimentos

Vida-poema

aceito o bastão posso correr na direção que escolher?
e viver crer ser ter todas as experiências?
desejar existências, como quem ama sem julgar?
milhões de estrelas e planetas podem ser inventados por minhas mãos?
e pintar em letras uma vida-poema?
e ser Deus numa canção, desejando voltar no tempo apenas para dizer te amar?

Responsável

o tempo
único responsável
pelo destino
esse menino que em velho se perdeu de si
o tempo
esfarrapa certezas
espalha fraquezas
nos transforma
em quem não queríamos ser
(se não tivermos coragem de encará-lo)

Donzela

...parece que foi ontem...
e foi ontem
pois todo dia é um novo dia
pedras continuam limando a sofreguidão
ilusão dum mundo sem atritos
foi ontem, é hoje e será amanhã
o que decidimos é um desejo menino
lindo aconchego em música de realejo
simples mas preciosa melodia infinita na alegria sincera do mico artista
as manhãs se prolongam
as maçãs se enxugam
na solidão possivelmente bela
onde o céu começa?
onde acaba o pôr-do-sol?
a espera incita a rima (donzela) que também espera pelo princípe
se é que ele existe
o tempo também nos espera e a esfera continua a girar limando as pedras dessa vida desprevenida

nêspera

o sofrimento do mundo
é
o sofrimento da espera
nêspera de primavera
fruto proibido do amor
espero
quero que tenhas
sincera
pêra
amizade por si

Reverendo

o tempo é relativo
enquanto me coço
um troço acontece na Índia
enquanto te beijo
um percevejo pode estar se afogando
enquanto estou feliz
as horas passam num triz
os dias se prolongam
quando não esqueço...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Amar não é

amar não é
seguir
seguir não é
parir
parir não é
sorrir
sorrir não é
perder
perder é sim, perder é sofrer

A.M.O.R

numa madrugada
foi o momento
em que mais ouvi a palavra
a palavra rima
com senhor
com dor
com pavor
com doutor

sendo amor a palavra me deixou

chapéu

a escolha da rima
é a mesma do chapéu da linda
pequena menina
que segue
como o papel
amando
esperar
o que a vida está tramando

Sombras

aos engenheiros explico
a carreira de um poeta
não é construída por prédios
e sim por suas sombras
não é dose certa de remédio
mais apropriado se falar no perigo da droga
não há como se adequar a orçamentos
os custos são infinitos...

Cadiz

desejo
menos barriga
e mais cariz
menos lombriga
e mais raiz
menos salsicha
e mais perdiz
menos Andaluzia
e mais Cadiz

Carrasco

ainda consigo chorar
só que agora não mais
por um corpo derrotado
pelo tempo, sim
também pelo destino, nosso verdadeiro carrasco
que nos impõe vontade inadiável
nos torce como um papel sem rimas
na lixeira dessa existência desprevenida e menina

Crucis

mistura
de rugas e medo
velhice
humildade possível
verdadeira
via crucis
do homem
cujas mãos
se afastaram da madeira

(segredo)

eu o carrego
e ele me carrega
eu sobrevivo
e ele meu vício
eu o temo
e ele meu segredo
eu vou até o fim
e ele junto a mim

(o medo do tempo)

O erro

seres humanos...e como tais duvidamos animais humanóides é o que somos todos temem se recolhem no medo temos o outro como inimigo aquele que poderá nos despossuir deveríamos grunhir cuspir em nossos segredos por isso os artistas são loucos (poucos gênios) quebram padrões de comportamento e por isso seus defeitos mais do que seu trabalho são destacados -- gordos, bichas, drogados -- falhos, como todos nós que ao redor estamos procurando onde estamos para onde vamos com esse saco de defeitos que nos inibe a aprender com o erro alheio?

a partida

a eletricidade
nos caracteriza
a alma é nosso sorriso
a alma é nossa opinião
quando respiro por
olhos opacos sem paixão
defino
a partida
incito
a despedida

praça

rios em ruas
correm aspirações
decorrem de ilusões
perdidas
numa pintura
dura de realidade
de praça
de subúrbio existencial
ruído fractal

Silentes

o que não falo
é um poema
o que não lês
é um poema
aquele sentimento engasgado
poderia ter sido...
se fosse escrito
mas
foi desperdiçado
em lágrimas
silentes

MACLEISH, poeta

" Arte Poética

Um poema deveria ser palpável e mudo
como um fruto redondo.

Tácito
como insígnia no dedo

Silente como a gasta camada da pedra
nas junturas onde o musgo germina.

Um poema deveria ser imóvel no tempo
como a ascensão da lua.

Isento como a lua detrás das folhas de inverno
o e´pírito de memória em memória.

Um poema deveria ser igual a:
não verdadeiro.

Por toda a história do sofrimento
um vão de porta e uma fímbria de folha

Por amor
a relva inclinada e duas luzes acima do mar

Um poema deveria não siginificar
mas ser.".

(Tradução de Henriqueta Lisboa)

UNGARETTI, poeta

"Silêncio estrelado

E as árvores e a noite
já não se movem
senão pelos ninhos"



"Grito

Ao entardecer
repousava
sobre a relva monótona
E tomei gosto
à quele clamor sem fim
grito túrbido e alado
que a luz quando morre entretém.".


(Tradução de henriqueta Lisboa)

SCHILLER, poeta

"Poema

Sonha e fala constantemente
todo homem, desse sonho ardente
que o faz lutar por atingir
um marco de ouro em seu porvir.
Seca e ressurge o mundo ao derredor:
o homem aguarda sempre um bem maior.

A esperança o desperta para a vida.
Envolve-o na adolescência florida,
ao moço atrai com brilho intenso.
O próprio ancião, nesse consenso,
ao baixar sobre seu caminho a treva,
à sepultura uma esperança leva.

Não é uma ilusão fugaz
com que se ofusca o néscio. Mas
o alto prenúncio, em nosso peito,
de que o destino humano é mais perfeito.
E essa voz interior, sincera,
não ilude -- jamais -- a alma que espera.".
(Tradução de Henriqueta Lisboa)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

horizonte

se algum sentido viver faz
onde está o caminho?
onde começa o canto dos passarinhos?
onde se escondem os ninhos inteiros?
se quero sentir
por que não nascer
deixar fluir-me em instintos,
em palavras inventar uma oração?
por que devo me reduzir a mim esperando que algo me plante que algo me floresça?

nosso destino está em nossa cabeça

um instinto

o sopro de som
o instante em que os lábios se tocam
numa sinfonia de sabores
o recolher do olhar ao avistar
o aviso tímido de um futuro estilo
tudo isso é um instinto
de
poesia

Um arrepio = poesia

quando escrita
a palavra
pode ou não formar poesia
a palavra
não dita
(maldita?)
poesia
a entendida de per si
poesia
o pio do pássaro no cio no
silêncio de um arrepio
poesia

entalhe

o sofrimento do poeta
é o sofrimento de perda
consciência da morte
sincera
palavra abominada
pela certeza
destreza com as palavras de nada vale
entalhe na carne
saudade

O poeta

o sentimento da espera é o que me carrega...
por isso
sou
poeta

Esperança-ilha

O poeta se forma no instante antes da lágrima
quando segura as próprias mãos, sem fôlego, que nos ensina o valor de amigos
no silêncio em que navegam sentimentos
um peito dolorindo de desejos
ansiando por beijos, agora inexistentes
segundos de dormentes pensamentos
mundo que voa vago, falho, como somos todos
o esforço da lagarta, não fotografado
aquela esperança-ilha de achar vida numa linha escrita

HENRIQUETA LISBOA, poeta e tradutora

"Cantos do "Purgatório (de Dante)

Do "Purgatório"

A Edoardo Bizzarri, Mestre e Amigo em Dante


O Purgatório é a casa do poeta. Sei que também o Inferno, com seus embates de paixão. E o Paraíso também, com seus êxtases. Mas diz e repete meu coração que o Purgatório é a casa natural do Poeta. E aqui mora e demora o poeta nas pegadas do Irmão Maior, com seu coração sofrido porém não desamoroso. Aqui se restauram suas forças, daqui parte para novos degraus de purificação e mansuetude. Nestas plagas encontra velhos amores sempre verdes, mortos amigos sempre vivos, confidentes, repletos de complacência, mestres de amor. Aqui discorre do que adora com os artistas, conversa de ternura com os cândidos, comove-se com os que guardam no peito o antigo relógio, alegra-se com o ruflar das asas do anjo sobre cabelos revoltos. No Purgatório se concebe em névoas, além do longe, a transcendência das cousas que passam mas não se perdem. O homem compreende e confia, embora desconheça a derradeira palavra. E a contenção e o sofrimento da espera se traduzem com nobreza, profunda e moderadamente. Aqui existe silêncio, um silêncio vindo de outrora, contido em si mesmo, igual à levedura que alimenta o pão e o faz crescer em ouro e flama, o silêncio que suspende o respiro na expectativa da múisca, o silêncio que preludia o fim dos trabalhos da alma, anunciar o cântico.
O Purgatório é o reino do fazer, não mais o do agir, nem ainda o do contemplar. E o fazer condiciona a dignidade do homem, segundo seus postulados. Aqui se carregam pedras de construção, pedras semelhantes em cor, peso e tamanho, às que encontramos cada dia nos caminhos do tempo. Aqui se alteiam montanhas e serpenteiam rios que a imaginação trasladou do nosso próprio torrão natal. Aqui se edifica o dossel da estrela que está por nascer, enquanto os olhos se prolongam de adeus às estrelas que em breve morrerão. Porque tudo é efêmero, nesta jornada, até mesmo a doce cor de oriental safira, os sentidos estão em alerta para os mais tênues matizes e os mais leves sussurros. Enquanto na amêndoa se contém a força da planta, é preciso que o orvalho das manhãs se recolha gota a gota. E enrubescem as nuvens no altar do crepúsculo. Aqui se reza a amsi bela oração, a que foi ministrada pelo filho de Deus. Aqui se consagra e se coroa o poeta dos poetas, em nome da liberdade de criar. Por isso aqui permaneço com minha lâmpada acesa, meus dedos tateantes ao longo das rochas, minha frágil voz seguidora da voz primeira, para melhor sentir em mim mesma, na língua materna, o segredo da beleza e da arte--- essa água inefável sempre a fluir e a fugir do manancial.".

domingo, 15 de maio de 2011

esculpo

poesia
é o brilho das estrelas
numa noite estrelada
é a gota de saliva de um beijo roubado
é o orvalho caindo em cima de um ninho
despertador de passarinho
poesia
é o cuidado que tenho ao esculpir uma letra num poema

um quadro

restos de obras
de sentimentos
pendurados
na parede um quadro é um ex-vício um retrato de um viciado em contrapontos em amores monstros em desilusões um quadro é uma mistura de tintas que num poema são letras

açaí

poemas
pipocam
temas se esgotam
em sessenta e cinco textos
é um novo começo
invento um título
um princípio e sorvo cada letra
como um açaí até o fim

Devias

...derramam...

seus olhos derramam
de rimas
lágrimas
(palavras)
de poesia

devias chorar!

...é poesia...

um simples
nó na garganta
com um desvio de pensamento de rima

...é poesia

Fruto

Não me poupo
poupa é parte
arte
(com casca)
faço arte
inteiro
interfiro
mesmo ferido continuo...

WALT WHITMAN, poeta (4)

"...48

Já disse que a alma não é mais do que o corpo,
E disse que o corpo não é mais do que a alma,
E nada, nem Deus, é maior para uma pessoa do que ela própria,
E quem caminha duzentos metros sem amar caminha amortalhado para o seu próprio funeral,
E eu ou tu que não possuímos um centavo podemos comprar o melhor que a Terra contém,
E olhar com um só olho ou mostrar um feijão na sua vagem desconcerta a aprendizagem de todos os tempos,
E não há ofício nem emprego em que um jovem não se possa converter em herói,
E não há delicado objeto que não possa servir de eixo às rodas do universo,
E digo a todos os homens e mulheres: que a tua alma permaneça tranquila e serena ante um milhão de universos.
E digo à humanidade: não sintas curiosidade por tudo não sinto curiosidade por Deus,
(Não há palavras que possam definir a paz que sinto em relação a Deus e à morte)."...

Cello

o que pensam de mim para eles sou eu
o que penso de mim para eles sou céu
cello tocando música de anjos
demônios pensando sobre minhas afirmações
somos detalhes num mundo de ilusões
eles são vocês que não somos nós
eles são nós que desato em letras

Cetro

o meu no seu
sou eu
o eu no fel
só céu
o céu sem mel
enfermo
inferno é certo
no cetro

Runas

rio
receita
real
rede
ribalta
rei
rima
rua
runas

WALT WHITMAN, poeta (3)

"...40

Ostensivo sol, não preciso do teu calor -- afasta-te!
Tu iluminas só as superfícies, eu penetro as superfícies e as profundidades

Terra! Terra!, pareces buscar algo nas minhas mãos,
Diz, velha poupa, o que é que queres?

Homem ou mulher, podia dizer-te quando gosto de ti, mas não posso,
Podia dizer-te o que há em mim e em ti, mas não posso,
Podia dizer-te do meu desejo, desse pulsar dos meus dias e das minhas noites.
Ouve: eu não dou conferências nem pequenas caridades,
Quando dou é por inteiro que me dou."...

Súplica

sonolência
sudorese
sobressalto
sintoma
significado
sonoro
súplica

Acontecimento

em algum lugar há um segredo
pronto para ser desvendado
tesouro sagrado
de discórdia e incompreensão
em algum lugar um bebê chora de fome
e o vento quente é seu único amigo
vento frio pode lhe matar
em algum lugar
em algum lugar
algo acontecerá...

WALT WHITMAN, poeta (2)

...21

Sei que sou majestoso,
Não atormento o meu espírito para quem se defenda ou explique,
Sei que as leis elementares nunca se desculpam,
(No fim de contas, reconheço que o meu orgulho não é mais alto do que o nível onde edifico a minha casa).
Existo como sou, e isso basta,
Se mais ninguém no mundo o sabe fico satisfeito,
E se todos e cada um o sabem fico satisfeito.

Há um mundo que o sabe e é sem dúvida o mais vasto para mim, e esse sou eu próprio,
E se o reconheço hoje ou dentro de dez mil ou dez milhões de anos,
Alegremente o posso aceitar agora, ou alegremente posso esperar.

O apoio do meu pé é entalhado em granito,
Rio-me daquilo que chamas dissolução,
E conheço a amplitude do tempo."...

WALT WHITMAN, poeta

"CANTO DE MIM MESMO

1

Celebro-me e canto-me,
E aquilo que assumo tu deves assumir,
Pois cada átomo que a mim pertence a ti pertence também.

Vagueio e convido a minha alma,
À vontade vagueio e inclino-me a observar a erva do Verão.
A minha língua, cada átomo do meu sangue, composto deste solo, deste ar,
Aqui nascido de pais aqui nascidos de outros pais nascidos, e dos seus pais também,
Eu, aos trinta e sete anos, de perfeita saúde começo,
Esperando que só a morte me faça parar.

Suspensos os credos e as escolas,
Retiro-me por certo tempo, deles saturado mas não esquecido,
Sou o porto do bem e do mal, e seja como for falo,
Natureza sem obstáculos com a sua energia habitual." ...

Sossego

acordei cedo
e acabei ouvindo os passarinhos cantando
uma inexpressiva melodia me emocionou
quando iria pensar nisso que acabou acontecendo
tantos planos tantos sossegos
em versos
resolvi chorar
a mágoa repentina volta a me incomodar
preciso dessa válvula de escape
que é arte
poesia é escrever o jeito que olhamos a vida passar

sábado, 14 de maio de 2011

Van Gogh

o que assusta na noite é a escuridão
ela ilumina nossa ilusão
nos faz ver a verdade
monstros pulam no colchão
a maldade das palavras jogadas contra nossa solidão
aparece transparece
lembramos dos
sorrisos irônicos
dos olhos catatônicos
das vozes sinfônicas
que nos ajudam a nos desacreditar
a escuridão da noite é uma tela de Van Gogh

(noite estrelada)

Cinzas

o carnaval é colorido por quê?
o papai noel é colorido por quê?
Ibiza é colorida por quê?
as luzes da noitada são coloridas por quê?
Por que na realidade a vida é cinza?

Forças

a pedrada na testa foi um estrago mas se você não tivesse me treinado... não sei como seria tragédia seria uma pedrada definitiva provavelmente não teria forças de ajudar nosso pai como não ajudei agora menos fraco posso ser de alguma valia agora a bola está comigo e não há perigo de me esquecer do que aprendi com a sua falta agora sei o que fazer como fazer para quem correr e de quem esperar alguma ajuda

Guerreiro

cara o esforço do meu irmão foi tamanho lutou como um gladiador tentou mas tentou de todas as formas se fazer ouvir tentou adquirir uma maturidade em horas duma sanidade descomunal lutou contra o punhal do destino não se fez de menino cresceu uns vinte centímetros se fez homem feito aprendeu como poucos aprendeu a lutar contra o medo aprendeu a amar aprendeu a se comunicar aprendeu a ceder aprendeu a sofrer aprendi o valor de um guerreiro...

Retorno

prefiro escrever
pela manhã
a manhã me excita a viver
me exibir
a tarde me cansa de mim
me levo com pedras nos sapatos até a noitinha que desaba me suficando
às dez da noite exausto
paro o mais rápido possível
para ter forças de retornar
de manhã
a mim

calado

sofro
sofro
por escrito
normalmente
um menino sofre sozinho
mas sofro com as letras
belas palavras
se fazem
princesas
querendo minorar meu sofrimento
querendo me agradar
choram comigo
lágrimas
de rosas
margarinas
Stellas
que são estrelas só para o poeta
calado observo tudo, escuto e faço um som com o som da minha respiração

Tormento

do meu irmão
já esqueci a voz e o cheiro
essa a maldade do tempo
ele
inibe nossos sofrimentos
não os deixa perfeitos
o tempo acaba com qualquer sentimento
se humildade existe
é resistir a esse tormento

Sal azul

amar
amar
de tanto amar
o mar vaza por minhas retinas
água salgada
chamada
lágrima
por quem não sabe
a qualidade desse líquido
que não é cristalino
traz histórias
memórias liquefeitas
azuis tristezas
traz nome e sobrenome
traz
sal
chamado
memória

Tantas e tamanhas

ato corajoso é viver
escrever é só consequência
tantas letras deveriam ir para onde?
para um poema?
um romance talvez?
não sei
e por não saber
escrevo
escrevo tudo que me passa na cabeça
escrevo sem medo do que vão pensar também penso um monte de barbaridades mas só escrevo o que sinto bonito um poema não é uma lauda de jornal um poema tem que ajudar ao leitor a sangrar purgar suas fraquezas nossas fraquezas são tantas que acho não terei como parar

Catástrofe

é um cansaço de carregar a memória
verdadeira pedra no caminho
(isso Drummond me ensinou)
desvio de mim?
sigo em frente?
continuo a frear?
como um passarinho quero voar?
tenho coragem?
sobra alguma invenção depois da catástrofe?

Sobre você

Poderia começar dizendo (um começo bem careta) que quando tinha dez anos de idade me lembro... nada disso (cruzes e credos) não comecei a escrever mais tarde para copiar impropriedades...Do meu jeito fica assim:

Te descobri, mãe, aos quarenta anos, até então acreditava ser parecido com meu pai, e, apesar de fisicamente isso ser verdade, acaba aí a semelhança. Sua risada demonstrava sua alegria de viver, essa nossa principal sintonia. Depois disso, queria ter tido mais tempo, mas nunca sabemos quanto tempo teremos e por isso não nos atemos ao principal -- conviver com as pessoas que amamos! Essa tranquilidade que sinto, apesar da tristeza, vem do fato de termos nos curtido -- brigamos, cantamos, rimos... pouco tempo mas profícuo, aproveitei, fique certa, tudo que você riu para mim. O proveito agora está me ajudando a chorar em letras, em poemas posso reafirmar o que todos que conviviam com você já sabiam, exemplo de dignidade e alegria, transbordava bondade e amor. Poucos no mundo sabem como você o significado da palavra compaixão. Agora sei porque corria tanto, como o coelho de Alice não tinha tempo, me via afobado, abobado, abismado com o tamanho da encrenca que me enfiei quando comecei a escrever. Não sabia mas estava treinando para contar ao mundo sobre você!

Auroras

só é arte
quando sentimos um arrepio
o pio do artista-passarinho
é o susto que o espectador
espectora
com a dor que sente
ao ver ler ouvir transferir
a obra para sua vida
que
de pequenina engrandece
como a vida do artista vira mostro quando o outro lado amanhece em sintonia

Vitrina

Oh! Babaca senta aí e escreve pare de falar sobre poetas és ou não és um deles fica pagando pau para macaco dançar? escreva como se fosse morrer, não tema, não se meta a tecer comentários de otário nesse rio só tem paulista foda, duvida então rosne algo compreensível, não tire onda de inacessível, indie ou coisa que o valha o problema da MPB (música e poesia brasileiras) é que só tem caô todo doido bancando intelectual de esquina arrebente a vitrina com uma pedra e sinta a dor da separação talvez aí comece a sair algo que preste talvez da dor sua escrita cresça um livro só serve para quem não exerce a solidão

Eneida

Lendo poetas que escrevem sobre poesia ratifico meu modo punk de produção não penso não falo não ouço só escrevo escrevo só e continuo digitando até à exaustão não quero saber de rimas se ricas então... quero tirar de dentro desejos falácias momentos insatisfação ritmo métrica balada coisa de cara lacraia sei não! Pessoa soa aqui dum jeito Bukowisk sentimento latrina excremento Quintana ingenuidade raras bobagens rimas repetidas como cachorro odeio cão agora então que uma morte me magoou quero mandar todos para os quintos as quintas do inferno não interessa se já escreveram Eneida Odisséia caralho para esses bundões poesia é sentimento sentido e transferido por letras para os babacas dum futuro não tão próximo baterem cabeça pro corajoso de antão!

S.A.U.D.A.D.E

Só

Arde

Uma vez em cada respiração

De dia

Arde muito menos... (a rotina anestesia sentimentos), à noite

Dói mais quando relembro, sozinho sua luta pela vida

Esforço inútil, mas última lição.

morte morte morte

...tanta coisa tinha para lhe falar
e não foi por falta de tempo
às vezes esquecemos que a vida tem um fio
que de uma vez sem aviso pode ser desligado
às vezes fingimos não saber que a única coisa certa é que vamos morrer
muitos até evitam falar a palavra morte
Por quê?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Diva

foram tantas rimas
como explicar tanta alegria numa pessoa

a solidão nos paralisa?
mentira
uma voz se calou mas enquanto viva sempre se fartou em falar
gritava por espaço e conquistava aliados por onde passava
carisma
presença de palco
no palco da vida

a cor da dor

escrevi até quase desmaiar
amar
é coragem
é vontade
com medo
de esquecer
o jeito
o cheiro
a risada
a cor da voz
a cor da dor não me deixará em paz até escrever como foi o medo de perdê-la...

bandida

quem disse que a vida é fácil?
quem aguenta tanta solidão?
essa a única vantagem...
os poetas curtiram-se no óleo
solitários
aprenderam a falar o vocabulário da mestra
solidão
e com ela podem conversar por rimas
bandida mania de esconderem lágrimas
e mostrarem-se em palavras

vítreos

também sinto falta de ar
expiro pela boca
respiro pouco
não me canso de amar
letras são apenas um jeito de prolongar a fala
palavras são pedras já polidas pelo sentimento
servem para cortar os vítreos olhos femininos
que olham o poeta chorar

Átlas

o tempo é o verdadeiro diabo
finge estar por perto e quando nos distraímos ele se esvai
leva embora quem mais queremos
ele não avisa
pisa
magoa
sem perdão
tira de uma vez
quem nos preenche
quem nos sustenta
com a força de sua pá virada
menina levada
linda na sua ingenuidade rara de amar todos ao seu redor
o mundo girava mais rápido era mais agíl mais amável mais fácil de se sustentar

física

no dia de sua partida
o céu chorou
mundo cinza desde então
colorido apenas pelas ingênuas gargalhadas de um neto que lhe adora
fala da vovó estrelinha com uma saudade
que arde
que invade a todos nós que paramos de fingir que não estamos tristes e ficamos nos olhando tristes e dizendo nos amar pelo olhar triste sem a sua presença física

PUNK VERDADE

coragem!
muito mais difícil do que escrever
é viver!

Por rimas

depois dos susto
que tomei aos trinta e dois anos
com a morte do meu irmão
outros vieram e da digestão desses ossos engolidos puros
comecei a escrever uma nova história de vida
sustos são combustíveis para os poetas
que precisam de algo que os faça querer pensar em rimas
querer se comunicar
numa vida sem rumo quantos podem parar para pensar em algo que não seja contas e dificuldades tantas que esquecemos de lamber as feridas que putrefam nos identificando pelo cheiro nos destacando de um modo animal
os poetas esperamos a respiração baixar para começarmos a rezar de modo próprio

por rimas

lei mágica

estou passando
todos se afastam
a óbvia notícia assusta
mas não apaga a história do tempo
só e parado
experimento ouvir minha respiração
alinho meu pensamento
com aquela certeza da despedida
invejo a marola que sempre volta
invejo as horas que não vão embora
os ponteiros obedecem a alguma lei mágica
continuam girando em busca de notícias do tempo que não se apaga

selo

...escrevo como se fosse morrer...
verdade que assusta e afasta as pessoas não estão acostumadas com a ideia embutida na palavra
enquanto fingimos desconhecer a única coisa certa nessa vida
fingimos...
fingimos tanto e no entanto acabamos sem encanto sem canto que esconda nossa solidão
a loucura ou a coragem (já não sei) do poeta é não esconder de si que tem medo e por tê-lo escrevê-lo

as cores

hoje escrevi até sangrar
lágrimas rosas
me lembraram suas bochechas rosadas
seu sorriso de criança
me lembrou Thiago
cinco anos
mesma idade que sua alegria tinha
uma criança não devia poder morrer
a ingenuidade que carrego devo às cores descobertas por você

intensos

sobrepostos temperamentos
aos quarenta a descobri
e a cobri de beijos
nos shows sua empolgação me empolgava e cantava como se fosse morrer de amor
você se foi mas antes me ensinou a não ter medo de mim
me ensinou que somos do jeito que devemos ser somos quem podemos ser somos sonhos grandes ou pequenos mas intensos

alguma poesia

três dias depois
da morte de minha mãe
aprendi
que a dor não diminuí
anestesia
aumenta o volume do cuspe
entope a garganta
encobre algum momento de paz
pais
sãos
solução
de uma vida adulta
com alguma poesia

Salada Russa

o que leva o poeta a escrever?
muitos falam sobre o susto do primeiro olhar
acredito
é o susto
o susto da consciência da solidão
de se ver só enfrentando todas as dificuldades
a vida só é fácil para quem não tem saudade
sal e idade
que misturam sentimentos
e emoções
salada russa
triste mas colorida

Saídas

a rotina nos tira a ideia de quem somos simplifica pensamentos e nos faz ignorarmos sempre não pensar beber fumar cheirar são tidas como saídas para não pensar não nos aplicar em descobrir quem somos sem poder nos cobrir de sonhos escolhemos morrer em vida essa a verdadeira rotina

Compaixão

agora
sei
só conto
comigo
(e com poucos amigos)

simples assim
ninguém tem tempo de sofrer o sofrimento alheio
pensamento triste que me veio hoje de manhã
e verdadeiro
temos medo da morte e deixamos de aproveitar a vida
loucura indigna
crina de cavalo em cabeças de homens normais
não quero ser normal quero ser mineral e da expansão da minha dor mostrar que podemos sorrir mesmo que por um breve momento
podemos ter amigos filhos e passatempos menos agressivos do que a vida é conosco podemos ter compaixão

Essência

não há mais necessidade de correr
a corrida tinha vida própria agora pode descansar
lágrimas me avisam quando devo parar de pensar
para só sofrer
sofrer até o limite de um beijo
sofrer vendo que a vida segue sem você
essa a mais pura verdade
absoluta necessidade que todos temos de continuar
não conseguimos parar
não podemos parar
e por não podermos não lemos o que nos explica
não entendemos o perfume de nossa vida

Rotina

encontro de pulsos
dois homens carregam o mundo sem usar as mãos
coluna vertebral fenomenal na possibilidade distante de êxito
temo tudo de espirro ao azulejo que nada tem de azul
é branco
sujo pela indiferença de homens
animais na respiração aflita
do medo de dizer não saber
tudo
tudo seria mais simples
com um pouco mais de atenção aos carregadores enervados pela pouca dimensão da rotina que é suas vidas

Lição

carregar pedras
esse o significado da morte
para quem fica
é um diário desafio
de se manter são
a morte é um carregamento diário de pedras
saudade
do sorriso da intensidade das bobagens ditas para risos agora longínquos
a distância é medida pela maneira aflita de andarmos sem pressa
não há pressa num corpo franzino
um corpo que carrega a memória de tudo que nos trouxe até aqui
todos os pequenos momentos foram decisivos e serão escritos
essa uma nova missão
com o tempo necessário de uma lição de vida

AMAR-TE

perder seu sorriso
foi perder meus olhos de menino...
triste
mas
tranquilo
por saber-me amado e bem criado
estendi um tapete que teci ao seus pés
um tapete de músicas e poesias
mas
o tempo foi cruel
e não me permitiu
com ele
aquecê-la
com cores e melodias
agora
só me resta
amar-te
imaginar-te

quinta-feira, 12 de maio de 2011

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Gota d'água

se a alegria tinha um nome era Bertha
Dona...Bertha era esperta fazia tudo o que queria e ria de se escangalhar sempre dizia que seu nome rimava com certa quantia que lha permitia comer onde bem entendia e entendia muito bem de ser pessoa alegre e comunicativa que a todos cativava com sua extensa alegria que aliás transbordava como a saudade nesse poema

Sangro

...essa emoção não ficará perdida...
essa é a característica de um poeta
não guardar
sentimentos são momentos
olhos mareados de saudade
as palavras só servem quando exprimem uma verdade
um poema arquitetado é apenas junção de letras e fonemas
um poema tem que sangrar
tem que justificar sua existência tem que nos fazer pensar que vale a pena viver

Os mesmos

envelheci
todos os anos que estavam guardados
dez anos
se passaram em horas
a memória é nossa história
âncora que não nos deixa ir embora
de nós
agora
sabedor da dor de perder quem me gerou
espero ter anos adiante com meu pai
espero poder reconfortá-lo
avisá-lo que o amo como a amava
diferente mas intenso
simples mas precioso
como um espelho somos os mesmos

Portugal

o mar não cabe em minhas retinas
o sal entope as pequenas vias que seriam tintas para a composição de uma nova canção
um refrão
entope meus ouvidos e sinto como se a música não fosse minha sendo sua
suo às bicas para me encontrar de novo comigo sinto tudo e tudo é pequenino como Portugal
nada vale a pena se não sinto o cheiro de nossas lembranças

Aceno

tantas teses
tantos disquetes
tantos estudos comparados traduções alfarrábios
para chegar a singela conclusão
poesia é feita com um simples sentimento de amor

um aceno

eu e você

eu e você
você e tetê
tetê e fê
fê e ginho
ginho e luisinho
luisinho e ginho
ginho e fê
fê e tetê
tetê e você
você e eu
eu e...


Êh! rolo bom!

O contrário

a saudade pesa
a dor é física
não é coisa de poeta
a saudade
é o contrário da alegria

Planeta

o céu chorou
no dia de sua partida
o céu se emocionou em recebê-la
princesa
menina de nem sei quantos anos de alegria
quem sabe a idade da alegria?
um sorriso quanto vale?
corremos para conseguir comprar felicidade?
quem pode nos ajudar na visão da ilusão?
a vida é fácil?
com que coragem irei continuar?
mãe, em que parte dessa merda de planeta você está?

Companhia

agora sei
as palavras servem para registrar nossa fala
e os sentimentos também
corri para chegar até aqui
e apesar do cansaço
sigo tranquilo pois sei que posso dizer com letras simples
palavras preciosas sobre o valor que sinto em ter convivido
com pessoa tão especial
minha mãe
Bertha Fróes Cruz Plácido
com sua alegria transbordante é
a estrela dessa companhia e
foi a descrição mais concreta que um poeta poderia ter do significado da palavra
amor

Bertha, Berthinha

Bertha
bertinha
sapeca
menina
que soneca que nada
levada da breca
inquieta como poucas
linda nariz afinado
boca de lábios fininhos
lindo vocabulário
não saíam de sua boca
Amor
marquinho
tetêzinho
luizinho
Ginho
meu pai
me ensinou a amá-la
as brigas eram desculpas esfarrapadas para nos aproximarmos e amarmos amarmos uns aos outros como vi poucos fazendo

Aprendiz

Dizia que os poemas eram para mim
mas
(agora descobri)
eram
para você
corri tanto e não suportei te amar

sem palavras
tive que transbordar e a escrita me salvou da loucura branda de amar
sem meias
palavras me salvaram de mim
me mostraram que eu podia ser melhor do que sou a poesia é a arte do resgate da criança que fomos
somos estrelas
num lodo de desconfiança e dor
medo de tudo
medo do mundo
medo das pessoas
que se reflete
no medo das palavras
aprendi a controlar o medo e
por isso escrevo

Quilate

Para minha querida e saudosa mãe Bertha Fróes Cruz Plácido

A partida
não é despedida
lágrimas molhando o chão de terra batida
palavras escritas
sem olhos que as queiram sorrir
enquanto vejo meu filho de cinco dormindo
lembro de sua alegria sem eletricidade
não me despeço em palavras
estamos juntos como juntos estávamos há pouco
estamos enlaçados
(presente no passado)
poema num retrato
em que sorrisos são captados pela intensidade das mãos dadas
lágrimas na terra molhada
promovem o encontro da vida com a vida
alegria herdada
melancolia preservada
na pedra bruta da saudade
que arde

quilate

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Flor de cheiro

a noite me aproxima da tristeza
espero o silêncio para me confessar
luzes ao longe piscam querendo num código algo me contar
no desespero do não entendimento me perco na vontade de olhar a lua de ao vê-la sentir sua força como um lobo quero uivar canto o canto dos homens-lobos homens soltos homens sem vontade de mudar o rumo das coisas da prosa quero a rima com a rosa flor de luz e calor flor de cheiro de namoros refeitos cheios de novos carinhos cedinho o orvalho me ensinou a namorar a força da lua

oráculo

no passado para rezar juntava as mãos
hoje minha oração vem de dedos separados
dedos indicadores sendo vetores de palavras que estavam aqui guardadas e que nunca mais serão hoje as palavras escritas por mim são minha oração

Reza

...um problema de saúde
me levou a rezar...
só que reza de poeta
é
poema...

delicadeza de princesa

a delicadeza de seus olhos pousando em mim...
parecem borboletas magoando pouco uma flor
parecem princesas sentando na grama
parecem donzelas rezando ao luar
seus olhos são nítidos poemas
inspiram pequenas letras
se juntando e formando lindas palavras
seus olhos são escadas para o alcance das minhas mãos
no céu de sua emoção

escondido

mesmo com medo não escondo o segredo de ter que escrever tudo que me afasta de mim tem um porquê e luto todos os dias luto intensamente contra a preguiça de continuar a traçar uma vida em palavras normalmente acabo em lágrimas não pela simples e bonita rima mas pela necessidade ímpar de ter que trabalhar alguns aspectos ainda falhos da minha levada o bumbo às vezes atravessa às vezes atrapalha a caminhada mas apesar de tudo continuo e continuo não porque seja forte não se trata disso continuo por que não há outra alternativa vivendo ou não a onda da vida real nos atinge então prefiro senti-la em toda sua dimensão me molho mas tento pegar uma crista uma pista para continuar é a única coisa que me resta (além de escondido rezar...)

Filho da puta

hoje posso afirmar
o artista sofre
mas vê a vida como ela é se não visse não produziria arte ficaria sentado como todos falando da vida alheia alheio a tudo isso produzo e rio do constrangimento que a maioria sente quando me apresento tendo o que dizer costumam imputar aos artistas uma porralouquice típica quando na verdade a porralouquice é geral todos estão se dopando mais mas só o f.d.p. do artista é que leva a fama entendam não há a mínima condição de um cara que está construindo um jardim não estar embevecido com as flores lindas cores e perfumes que exalam bondade mesmo que seja mentira é delas e por elas que tiramos a coragem de continuar

O medo

depois do susto de ver a vida real o que faremos?
uns bebem
uns comem
outros somem
outros escrevem
escrever não é como parece
não é uma brincadeira de criança
escrever poesia é
apesar de saber das dificuldades humanas com a vida
continuar querendo se comunicar
consigo
precipuamente comigo
escrever é
não pensar
não copiar
ter coragem de apresentar as experiências adquiridas com os próprios erros
muitas vezes impróprios sentimentos
escrever é seguir em frente apesar dos pesares
(já ouviram isso?)
o fato de nos utilizarmos de rimas aliterações e outras figuras de linguagem facilitadoras da comunicação não nos condiciona a gostar de comunicar aqui não se trata de gosto se trata da necessidade de falar como a vida funciona para tentarmos diminuir o medo de continuar

Querida mãe

mãe
dizer que te amo seria pouco
muito pouco
nesse caso
não abusar das palavras
seria desperdiçar uma grande oportunidade
que na verdade foi ontem
(mas não há datas para amar)
um escritor caça palavras
como beija-flores beijam flores
seu perfume me lembrou essa rima
uma pequenina homenagem
a tão rara coragem de ser quem se é
isso você me ensinou
Não temer a fé que carregamos não temer o tamanho da pedra as dificuldades são certezas de quem somos
fomos únicos
nosso amor
(que nunca acabará mesmo que um de nós esteja sem consciência
esteja com os olhos na infância que dizem ser sempre bela
que dizem nos moldar)
é infância tão linda que está sendo desejada
(nos afastando da capacidade de nos falarmos de até brigarmos como fizemos tantas vezes e faremos com certeza) seja em que mundo for estaremos juntos o mundo só é meu porque antes lhe pertenceu

domingo, 8 de maio de 2011

Invisível visão

Sou o homem
sofro
porque a vida é sofrida
a alegria é uma pérola achada no meio do oceano
o normal são as ondas
a água salgada é que define que não estou no rio
e insisto
o arrepio é o estado normal de um homem normal
como eu
sofro
porque a vida é sofrida
como uma pedra perdida
rolo livrando-me dos musgos
procuro no canto dos muros
a grama molhada
procuro tudo que possa me dar sombra
o escuro descansa meus olhos de ilusão
como verdades, arroto bobagens
escrevo com a vontade dos fortes (mesmo não sendo)
me protejo de todos os modos possíveis
preciso de amigos (mesmo que invisíveis)
amigos melhoram minha visão

A

como uma voz tão frágil e infantil pode me emocionar tanto?
como amo tanto um frágil ser?
de tanto amar
aprenderei a?

feridas

encontro de lágrimas
amigas
palavras de oração
todos gostam de saber que o céu está azul
poucos têm intestinos crus
fuzuês
cruzes
testam minha solidão
mãos
são
opção de vida
divina
conceição
opto por acolher os choros e deles fazer grãos
poemas acerca do tempo
em que vi o verde virar fruta
tempo em que um barulho era crescimento de casca
era ferida sendo vencida

Claudico

...passos...
...pausas...
definem meu modo
peculiar
claudicante de
falar...
...andar
...pensar...
amar...

Brilho

Meu brilho no palco é o reflexo da ingenuidade rara que trago olhos luminosos iluminando vontades demonstrando mentiras injetadas em veias envelhecidas por escondidas desvantagens que poderiam ser adubo enriquecendo um mundo de criança levada crente de todas as vantagens da infância inventada

Só lição

A solidão do escritor
do poeta
só lição
solidão de buscar palavras que estão escondidas
espremidas
pelas mentiras
ouvidas pelos sábios de ocasião
procurando coragem onde só há
vaidade e iniquidade
nos vemos totalmente
inescrupulosamente sós
a sabedoria
é saber o que fazer quando só ouvimos nossa respiração
primeira lição: suspirar e pensar para escrever
segunda lição: escrever como se fôssemos morrer, sem temer nada nem ninguém
por último: esquecer opiniões, nada valem
são emitidas pelos que desconhecem o calor da terra nas unhas
arrancadas pelo pavor (valor?) das lições arranhadas no papel

A dança

enquanto respiro a tarde
a manhã se esquece de mim
tece planos com a noite
falam em não me deixar ter fim
a consciência é nosso inferno
e rezo todos os dias para não temer o fogo
rogo à falha
que me absorva
me ensine a errar competindo com a fagulha
irmão lúdica
simples como um galope de potro selvagem
nossos laços
são amarras
são entraves
respiro a tarde
conheço a manhã
acosso a noite
todas lindas acompanhantes
para a eterna dança da vida

sexta-feira, 6 de maio de 2011

ruminantes

o céu chora
lágrimas de
sorrisos antigos
adubam a terra
que sincera
humaniza os sentimentos
perdidos
restos de passarinhos
que acabarão em
frutos
mudos
comidos a todo instante por desapercebidos ruminantes

eme, pê, bê

numa escuridão absoluta
três letras cismam em colorir o dia de
eme, amarelo ouro
pê, azul céu
e
bê, verde bandeira

isolado

por percepção
por percepção
artistas desenvolvem seus trabalhos
decepção é combustível falho
alegria de viver é mais insaciável
um poema é uma alegoria da vida
tristezas
manias
dificuldades
deságuam
rio transbordando
devastando paragens
botando o gado isolado
dado necessário para a estatística daquele que sofre para botar para fora os dados que os outros se esforçam em esconder

escolhas

escolhas são folhas?
trovoadas
tempestade no Saara
possibilidades percebidas
de caminhos
canto de passarinhos
deslocados em árvores de plásticos
escolhas
e folhas
pertencem a essa vida
peixes pulando sufocando com o ar
perfeitos sedimentos de areia movediça
escolhas são folhas
necessitam de árvores para existir

quinta-feira, 5 de maio de 2011

sabres

excelentes meios
campos de centeio
cerne da questão
cogumelo de insatisfação
simplesmente
somos feitos de grãos
da discórdia nasce a solução
da discórdia temos que recorrer à criatividade
resolver extensas maldades
sabres afiados de saudade

DA COSTA E SILVA, poeta

"SAUDADE

Saudade! Olhar de minha mãe rezando,
E o pranto lento deslizando em fio...
Saudade! Amor da minha terra...O rio
Cantigas de águas claras soluçando.

Noites de junho...O caburé com frio,
Ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando...
E, ao vento, as folhas lívidas cantando
A saudade imortal de um sol de estio.

Saudade! Asa de dor do Pensamento!
Gemidos vãos de canaviais ao vento...
As mortalhas de névoa sobre a serra...

Saudade! O Parnaíba -- velho monge
As barbas brancas alongando...E, ao longe,
O mugido dos bois da minha terra...".

terço

derramo palavras como derramava o leite de caneca a espera a idade resolve um pouco paciência é arte aos poucos irei conquistar um lugar para poder rezar minhas lendas
um terço é só um inteiro dividido em pai mãe espírito

a manta

em minha defesa tenho a dizer que descobri o caminho
desde então tenho sido simples e carinhoso
com a dificuldade alheia
reconheço tive um pouco de sorte
dom amor e morte, essa infeliz que me pôs para chorar em palavras
foram necessários no processo de descobrimento do ato de escrever
faz doer, faz
mas é muito bom poder tecer em letras a manta que me deixará quente, presente, no futuro

Bandido

verso bandido
sequestro de fonemas
palavras roubadas
furto de sentimentos
tiroteio de intenções

população

letras sozinhas são problemas
harmonizadas são oração
humanos isolados são problemas
harmonizados são nação
sentimentos sozinhos são problemas
harmonizados são população

queixos

queixos juntos, relação
queixos caídos, sonho
queixos duplos, insatisfação
queixos espetados, invenção

sempre

um início de poema junta letras
aleatoriamente
formam-se frases
somente uma inteligência de observação adequa uma solução
intuitivamente
sempre

sinônimo

como a vida
é
a
poesia

início, meio e fim.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

mimos

novos ricos têm paredes brancas antigos ricos desconhecem o sofrimento embutido nos preços das obras que adquirem por mimo

agonia

concordando com os poetas a melodia mascara o grito de agonia da poesia um poema é mais do que letras rimando é muito mais do que está escrito em letras minto mas não consigo esconder o desespero dos meus dedos

mico

ao palco subo com sabedoria
não sou mico de circo para pular de alegria

versejador

retiramos o mocotó da dúvida
a espinha da poesia é a desconfiança
confiar rima com amar mas não rima com escrever
verso desejando não morrer

prejuízo

a primeira condição para o cabra escrever poesia é ter sangue nas veias ter coragem de escrever suas manias suas idiossincrasias o cabra tem que se ver marcado para morrer e aí passa a correr atrás do prejuízo sem temer opinião

o palco

lugar em que
sob as luzes
assumimos nossas manias


...o palco

tinta do poeta

escrever sem sotaque
derramando litros de letras, que são tinta do sangue do poeta

Na testa

dizemos disfarçados nãos o tempo todo ninguém quer passar por mal educado ou louco desculpas esfarrapadas nos definem somos covardes rugindo como tigres com penteado de leões guardamos fumaça apelidada de satisfação como pretendemos enganar alguém quando estamos tatuados com nossas mentiras

NÃO!

cheiro de flores que para mim é odor a felicidade fede ofende exerce fascínio nos facistas de ocasião poesia é explosão de tristezas latentes que estavam guardadas esperando a definição do sujeito que nesse caso é o poeta que erra mais do que navega que já aprendeu a desviar do canto das sereias que já aprendeu a dizer não

a voz

sinceramente será que é ingenuidade querer ter o melhor de mim? as pessoas conseguem ouvir algo que entendam ser contra seus princípios? alguém ouve a própria voz? princípios em algum momento findam, ouvidos entradas da música dessa vida, única, minha voz é só minha totalmente imprevisível

a ama

numpoemanãoháespaçoparaapolíticaaquiélugardehumanidadeaquiobamaamaosamaqueamamobamaqueamaaamaqueamaobamaeosama

perdão

olhos cheios de ternura enxergam para dentro se ocupam do medo da solidão dos instintos tão lindos fixam histórias meninos pulando corda meninos na praia meninos brigando por espaço sinto como um raio o olhar perdido pedindo carinho sinceramente um menino espera perdão

Osama

tudo todos querem todos querem tudo sem esforço sem rumo todos querem o fruto esquecendo-se de plantar a árvore todos desejam sem esforço o todo o tudo é um surto pensamento de bêbado no escuro um intruso inseguro figura barroca, pintura num muro, os do norte desejavam a morte do sujo que mudo fez-se água de chuva

terça-feira, 3 de maio de 2011

AUGUSTO DE LIMA, poeta

"NOSTALGIA PANTEÍSTA

Um dia, interrogando o níveo seio
De uma concha voltada contra o ouvido,
Um longínquo rumor, como um gemido,
Ouvi plangente e de saudades cheio.


Esse rumor tristíssimo, escuteio:
É a música das ondas, é o bramido,
Que ela guarda por tempo indefinido,
Das solidões marinhas de onde veio.


Homem, concha exilada, igual lamento
Em ti mesmo ouvirás, se ouvido atento
Aos recessos do espírito volveres.


É de saudade, esse lamento humano,
De uma vida anterior, pátrio oceano
Da unidade concêntrica dos seres.".

domingo, 1 de maio de 2011

O nada

...vendo o mar

raiva do vento
que me lembra seu cheiro
as estrelas do mar dançando
nossa música
o agarro da areia são seus beijos
e o vento não me solta
pipas colorem minha solidão
há então
um momento em que
assobio olhando o nada
e o nada sou eu

intestinos

afogo-me em lágrimas

criadas por linguagem exata

homilia

humilhado

paro para pensar em tudo o que me fez errar

e os erros são necessidades estrangeiras

precisam aprender a falar nosso idioma

para serem digeridos

entendidos nos intestinos