terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Atleta

Nesses quase quatro anos em que escrevo tudo o que vejo e percebo, sentindo, muitas histórias foram contadas, muitas lágrimas derramadas, muitas pessoas amadas se foram para o poço de recordações que chamamos saudade. Algumas sementes foram plantadas, como a vontade de cantar meus poemas, vontade esta que foi um recurso de estilo quando percebi a dança da vontade da não-percepção...decepção? nunca! já passei da idade de esperar algo de alguém e quando me joguei no mar de retinas, minhas, que seriam explicações plausíveis num mundo de irrequietos ignorantes da vontade alheia, logo vi que estava certo! Ninguém poderia deixar de ouvir meus lamentos poéticos, cantados. Agora, enquanto termino meu segundo CD e lanço meu sétimo livro sinto um alívio do dever cumprido, comprido e querido signo de um atleta das letras.

hook

a rima é um recurso
um engano um gancho
um modo mais fácil de ajudar a metáfora a dizer a verdade
porque as pessoas não têm coragem de ouvir
a verdade
nua e crua

o fracasso

o fracasso é mais confortável
se tudo der errado
já sei onde fico...
parado

o sucesso é imprevisível como uma criança que pinta enquanto dança

motivo x

onde fiz um poema chamado x e o conteúdo também era um x
por que fiz não sei mas fiz e se fiz tinha um motivo x

bulling

quando um chefe americano proíbe o bulling na empresa ele está preservando um ser humano ou evitando um processo de anos?

medalhas

hoje na barca consegui pensar em algo
na barca consegui respirar
algumas palavras
que para os outros são falhas e para mim medalhas da capacidade de mudar

transpiro

o que fazer com o excesso de ar que me entope de vida?
inspiro
expiro
transfiro
o frio que sinto para respingos de tinta que acabam
no papel
respiro o dia inteiro
e não sinto nada diferente de sobreviver

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

dengos

"uma porção de buracos amarrados com barbante, rede" (Guimarães Rosa)
tempo
o tempo é um instante entre um beijo e um segredo
cedo
cedo é o tempo de um ensejo
deixo
deixo é um deixar com dengo
dengo
é um barbante sem buracos, sem desterro

x

x

domingo, 29 de janeiro de 2012

freguesia

como disse Cazuza a burguesia fede
mas fede de sede
de medo de cedo quero tudo o que os outros têm
fede de querer sem ter esforço de querer o osso dos outros cachorros de querer o bônus sem roer o ônus
fede de sexo e drogas e roque e rrou fede da sede de se dar bem sem se esforçar pelo pão nosso de cada dia nos dai hoje...

HOMEM DE FERRO, libreto de ópera de minha autoria

O caso da Ópera foi muito simples.

Havia começado a estudar teclado com um maestro, cuja sala era do lado do estúdio em que eu estava gravando meu primeiro CD, e o maestro Oliveira tinha o sonho de fazer uma ópera.Fiquei sabendo disso lá pela quinta aula e o Tuninho, dono do estúdio, avisou ao maestro: "Não fala isso para o Marco, não! É bem capaz dele chegar com o libreto da ópera amanhã!" Não foi o que aconteceu, mas duas semanas depois mostrei ao maestro o que tinha preparado.

Nome da ópera: HOMEM DE FERRO.
Dividida em três atos, divididos em três partes:

1o Ato: HOMENS
1a parte: Homem das cavernas (músicas com ritmos tribais);
2a parte: Homem medieval (músicas com rocks pesados, punk...)
3a parte: Homem do Mundo Moderno (world music)

2o Ato: DESEJOS
1a parte: Criança (Jovem Guarda)
2a parte: Jovem (Bossa Nova)
3a parte: Adulto (Samba canção)

3o Ato: CONSELHOS
1a parte: Humanidade (Jazz and Blues)
2a parte: Família (MPB)
3a parte: Jovens (Maracatu, forró, xote etc.)

As letras para a ópera já estão prontas...

sábado, 28 de janeiro de 2012

HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DOS POLÍTICOS OMISSOS

Desabrigados

...agora
essa criança que nunca votou
Vai aprender a força da palavra solidariedade
Vai aprender que tudo de ruim que aconteceu pode piorar
Vai aprender...
E talvez
Se chegar a idade adulta
Não tenha mais forças para se revoltar
Agora
É desse jeito com esse cheiro que nós vamos ter que nos virar

Asfalto

um passarinho no caminho é menos um ninho?
simples raciocínio?
extinção de floresta?
ou
viagem de cidadão afasta(l)do das árvores?

cidade sem autoridade

não há saudade que resista ao ódio contra a autoridade
responsável por omissão
por uma vida, um suspiro de ilusão, enterrada em destroços
todos estão tocando os próprios projetos
enquanto enterramos mais um familiar
desavisado
morador dessa cidade
dita maravilhosa
que para todos nós é só decepção

Manuel Moure, tradução (poética) do poema AMOR

Tradução (poética) do poema AMOR, de Manuel Moure

AMOR:
Amor que vida pones en mi muerte
Como una milagrosa primavera:
Ido ya te creí, porque en la espera,
Amor, desesperaba de tenerte.
Era el sueño tan largo y tan inerte,
Que si com vigor tanto no sintiera
Tu renacer, dudara, y te creyera,
Amor, solo un engaño de la suerte.
Mas, te conozco, amor, y tan sabido
Mi corazón te tiene, que, dolido,
Sonrie y quiere huirte y no halla el modo.
Amor que tornas, entra. Te aguardaba.
Temia tu regreso, y lo deseaba.
Toma, no pidas, porque tuyo es todo.










AMOR:
Amor, que vida põe em minha morte
Como uma milagrosa primavera
Já te senti, porque na espera
Amor, desespero em te reter
Era um sonho tão pesado e imenso
Que se não sentisse com vigor intenso
Teu renascer, duvidaria de mim
Amor, eu seria um início sem fim
Mas, te conheço, amor, e de tão conhecedor
Dos seus segredos, meu coração dolorido
Sorri e ouve sua voz de qualquer modo
Entre amor, não me importo. Te aguardava
Temia seu regresso, mas o desejava
Me tome de assalto, porque tudo...sou todo seu

DNA

DNA de Devemos Nos Amar, nunca pensou nisso?! Então, agora você irá entender para que servem os poetas. Somos especialistas em sermos levados da breca de entendermos as coisas em vice e versa, olhamos tudo e vemos aquilo que os outros não vêem, não por falta de capacidade, não"!, por falta de atenção. Como técnicos altamente treinados identificamos os DNAs alterados que impossibilitam o olhar ingênuo e necessário nessa vida de tresloucados. Somos os não-viciados em fingir, por isso, passamos, muitas vezes, por malucos, pois enquanto os outros fingem melhor ou pior -- tentando enganar a quem?, nós somos especialistas na verdade, que até pode magoar, mas traz paz, requisito número um para alguma felicidade.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

incisos

o olhar tépido que Clarice provoca nos leitores (sim, provoca porque os poetas não morrem, escolhem se recolher em livros) demonstra sua força e concisão demonstra a luta do ser humano, não interessa se mulher ou não, com suas, nossas, dificuldades mundanas de habitantes de um mundo poeticamente falido, um mundo de incisos

texto

mais fácil desqualificar qualidades
mais fácil criticar do que fazer
poucos se olham e todos procuram a cicatriz na mão da atriz a celulite na modelo a crase errada no texto

(ou não)

o choro do velho menino baiando não é insano é intenso porque esqueceu de crescer preferiu cantar a amadurar escolheu ser vinho a vinagre por isso com prazo menor de validade sente-se agora preterido mais querido preocupa àqueles que lhe querem bem

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

achados e perdidos

...eu não estou achando nada
até agora só perdi: elasticidade, vivacidade, cumplicidade, viagem, amizade...
perdi amigos, parentes, irmão e mãe
nunca achei nada
tudo o que consegui foi sofrendo

pão

quando escrevo pão
ele não é feito de nuvens
é pão mesmo
quando escrevo pão
é sobre a emoção de sentir o cheiro da massa do pão crescendo

talento

(é tanto fingimento...)

uns fingem que trabalham
outros que pagam
uns fingem que cantam
outros que escutam
uns fingem que escrevem
outros que sabem ler
uns fingem que já ouviram falar em talento
outros só fazem correr

sentimento

o que não é inteiro
é parte
e se é parte
não me interessa

sentir o gosto da fruta
mesmo no risco de quebrar um dente
isso é pelo que escrevo

bluesman

não consigo escrever sobre algo ou alguém que não conheço
as palavras saem até perfeitas na impossibilidade de saírem verdadeiras

morte

talvez seja errado mas ainda me espanta
um engenheiro que não sabe sonhar
um matemático que acha que Einstein não foi um poeta
um físico nunca inventaria uma teoria
ainda me espanta o espanto com um poeta que sabe somar
ainda me espanta o riso nervoso do padeiro que não sabe sonhar
ainda me espanto com o sorriso catatônico do juiz que acha graça de não saber contar como uma lei pode ser imoral como um cara normal pode ser atonal como uma melodia pode ser uma mentira se não há uma rima
ainda me incomoda ter de explicar que o único erro da vida é a morte da ilusão

pratos

o mês está acabando
e as promessas de fim de ano já esquecidas
como pratos de alumínio na pia
serão esmagadas
e jogadas no lixo das dificuldades do ano que estou

liberdade

...esquecer o passado...
esse o segredo de continuar a produzir palavras
o que foi vivido não é prisão
é memória
histórias
de sal ou açúcar
mas passadas
o poeta que continua não tem as mãos acorrentadas
pelos passos dados nem pela ilusão do futuro

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Maria Creusa

cantando Maria Creusa durante anos, depois de várias pequenas discussões com meu pai, violonista,
minha mãe me presenteou com as melodias que de uma hora para outra combinaram com meu destino de me encontrar...

filhotes

alegria pela poesia?!
sendo parte da vida a poesia é o canto do pássaro (passado) na ingenuidade de não ter medo de mostrar onde está o ninho das futuras gerações

Bola de meia

Aquela árvore está pedindo um menino, subindo
Aquela bola está pedindo um pé sem chuteira

e eu...não sou mais menino
mas
se estou vendo isso posso me furtar?

Se estou vendo, estou vivo, é isso que devo fazer e farei...

estrelas

...e aquela canção?
aquela emoção?
também está presa por grades?
está na garagem dos seus ressentimentos?
e aqueles momentos agradáveis
foram abafados pelos desagradáveis?
quantos paladares aguçaram saudades estelares?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

jui jitsu

"no mundo moderno os homens não têm muita serventia
nós mulheres podemos sair, dirigir, parir, competir de igual para igual..."

(por isso alguns homens viram poetas?)

presente

...(a diferença fundamental, escolhemos não morrer...os poetas sofrem a vida real e transformam o calor do sol num vale de árvores frondosas, cujas folhas são palavras e da força dessas palavras desenham sua figura no sentimento dos leitores que o atingem em eterno como é eterno o amor pelo ser amado, sabemos, não somos pessoas especiais, apenas inventamos ser e se inventamos de alguma maneira somos somamos esforços enfrentamos ócios próprios também e desse vai e vem de suor passamos a nos enxergar melhor e se nos vemos é mais fácil entender aquele olhar perdido entre palavras não tão diretas nossas medalhas são o engasgo na garganta do paciente leitor que ainda tem algum tempo nesse mundo de engarrafamentos, medicamentos e firmamentos não tão firmes assim nossa ingenuidade é acreditar que com um simples bom dia um possível futuro assasino se transforme em um pai de família e é por isso que apesar de todas as dificuldades de um mundo cada vez mais idiota continuamos escrevendo desejando ansiando que um simples poema possa ser a chama da fogueira de muitas vidas que também serão eternas por estarem sendo vividas no --como um, presente).

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

lapidador

um índio
com as mãos faz cocáres, faz miçangas, faz caça
um monge
com as mãos faz orações e os deveres de casa
passar, lavar, cozinhar
um poeta
com as mãos lavra palavras, lava, aquece e com pepitas
e algumas pedras semi preciosas
faz o silêncio

domingo, 22 de janeiro de 2012

o poder

difícil esquecer da voz das pessoas que amamos
o sorriso
o encanto permanecem
o poder dos olhos
que não esquecem é mais forte do que os ouvidos que adormecem

(por que meu cérebro não registra sons?)

Flor

o amor
com pétalas
raízes
e perfume
de
alpiste

perplexos

querer não é poder
poder é querer poder escolher
quantos podem escolher e não escolhem?
ficamos paralisados esperando o óbvio
enamorados com o reflexo de nossa juventude esquecemos de que essas fase irá acabar e quando acaba não sabemos mais com quem reclamar

procurando culpados onde só há perplexidade

cínico

...apenas uma parte da escolha por estarmos vivos
um livro
é apenas um pequeno aviso
de como a vida funciona
sigo cínico
sempre do meu modo físico
achando que o atrito é que nos qualifica
simples assim
(sem falar nesse modo
esquisito que tenho de lidar com o medo de morrer)

siso

poesia é concisão
é
um sim
num
não

CHARLES CHAPLIN -- O Grande Ditador, discurso

O discurso
Ao final do filme, o personagem de Chaplin dá um belo discurso[1] falando de direitos humanos no contexto da Segunda Guerra Mundial. Segue:
"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos! ( segue o estrondoso aplauso da multidão ).

destro

não adianta o sol lá fora
se aqui dentro está chovendo
um palito de fósforo que causa um incêndio
para mim vale um árvore
que poderia ter existido se não fosse o início
uma sombra de dúvida evita a certeza falha?
um resquício de tinta numa blusa avisa sobre o pintor escondido?
um grito abafado às vezes é um suicídio?
tudo lindo no dos outros
sempre é refrescante o mergulho alheio
sigo sendo destro quanto a certeza canhota do fim

POCKET SHOW (revisitado)

(Introdução)

1 -- Desafios;
2 -- À Cecília;
3 -- Sim;
4 -- O Alvo;
5 -- Constelação;
6 -- Brigas;
7 -- Jaques Som;
8 -- Inútil;
9 -- Truques;
10 -- Papai me Empresta o Carro;
11 -- A Saudade/Blues do Medo.

sábado, 21 de janeiro de 2012

papagaio

(falo sem raiva)

tenho absoluta certeza de que não sei nada
se soubesse não inventava
ficaria repetindo conhecimentos adquiridos e seria talvez um professor de latim

calabouço

os poetas somos melhores falando do que escrevendo a língua solta é um atributo precioso sem amarras sem esconderijos rijos pela prisão calaboucas das regras gramaticais que infelizmente para o bem do mínimo de entendimento devem ser seguidas à risca com os riscos inerentes da compreensão sem pressão

mico de circo

vendo
livros
de pseudo-aflitos
poetas
amigos de editores
fico
puto
e escrevo
um pouco de tudo
para me lembrar
que o talento
terá seu dia de mico de circo

torpor

depois de um torpor poético de dez manuscritos
teclusdigitus
como inventei
o que faço comigo
canto
sambo
ou
escarro santos desejos mancos?

PAciência

P (puta-que-pariu!)
A (vida é foda!)
ciência

palhaço Repeteco

(depois do espetáculo)

no lusco-fusco do quarto
eu, menino de doze anos
sonhava acordado
com as estrelas que havia pintado no teto
dormia repleto de travessuras
apaziguado na candura
do gosto do algodão doce...

de manhã era um encanto
tomava café com a toalha de lona
colorida
em sanfona
que me dava um ar discreto
do palhaço Repeteco

gigante soviético

,,,não consigo falar sobre o nada
nossa existência é que nos salva
só sabemos quem somos diante das adversidades
se o cabra não sai de casa pode ter todas as opiniões
pode ser o salvador da pátria
aquele que descobriu a vacina contra raiva
ou o apostador que ganhou um bilhão apostando na primeira luta do lutador de voz fina e jeito de menina contra o gigante soviético

Metido X Animado

Algumas pessoas que não me conhecem me acham metido (As que me conhecem têm certeza...brincadeira!). Aí explico: metido é opinião de quem não me conhece e desconhece o motivo de ser animado: a qualidade do meu trabalho. Sou animado por estar fazendo um trabalho todo arrumado (Como diria meu amigo Pereira).

As crianças

...as crianças estão do lado de fora, correndo
errando, ganhando vida
estão se arranhando
tentando conviver e brincam de brigar
toda quebra de rotina faz bem a quem quer emocionar
o sol se levanta, a janta já está pronta, é hora de chamá-las:

LETRAS DE UM POEMA, ENTREM PARA SE LAVAR!

Produto final

Quando um pintor termina um quadro não sei se gosto mais do produto final ou da explicação sobre o quadro. E me pergunto: o quadro é bom ou a explicação melhorou o quadro?
As palavras são mais ingratas, permitem a sensação inteira ao leitor, o que dificulta sobremaneira a explicação do escritor.
Já há lgum tempo venho tentando aprender a explicar meus poemas, pois acho que a explicação faz parte do processo, como um adendo ao produto final que é o texto.

sóbrio

...fácil falar sobre...
e mastigar sobre? plantar sobre? regar sobre?

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

mordida

a pele ardida
me avisa
viver arde
no sol a ardência é explícita
mas nas sombras
também há raios de desilusão
e ventos de infortúnio...
assustados com os adventos nos perguntamos a razão mas não há razão para os acontecimentos

SÁBADO, 04 DE FEVEREIRO -- SHOW DE MPB

Convido a todos a irem ao SpaB Bar, em Itaipu, às 21 h no show de lançamento do CD MPB -- Marco Plácido Brasileiro. MPB acelerada! Abraços e até lá!

(escondida)

o que me dificulta engolir
não é a garganta
infeccionada de vida
é a saliva

(saudade escondida)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um-amor-quase-sempre

não exijas solidão de pessoas
dedos-entrelaçados-corpos-ardentes
essas pessoas
são um amor-quase-sempre-solidão-está-ausente

caras pálidas

o cheiro de chuva me mostrou o sentido da vida
a semente espera a hora da água viva que pode ser lágrima
espuma de cachoeira
ou uma bendita saliva
que escapou da boca de uma criança indígena perdida entre habitantes de um mundo branco
de caras pálidas
de almas lavadas com perfume de cidade
que não sabem nada
da natureza das coisas

Saliva

o susto do poeta
é o fruto mordido
antes da árvore que antes da semente
teve a vida doada
da gota de saliva
da palavra

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

desenhos

essas letras são desenhos
de um homem que não sabe
desenhar
o mar em palavras é
mais poderoso e menos
azul
o valor do econtro em palavras é
menos choroso
amigos se abraçam frouxo porque
não há como descrever
aquela sensação
uma emoção é menor
em palavras apesar
da eloquência
da frequência
da premência

triângulo

um triângulo no canto da
página é uma ideia sem
imaginação
no meio da página em
branco está coberto de significados
inexatos

Acelera, Ayrton!

Quero deixar consignado para os poucos amigos que já viram um show meu. Não faço Pop/rock. Meu estilo é MPB acelerada. Música Popular Brasileira com acento punk! Porque não há como ser poeta e/ou cantor contemporâneo sem levar em consideração a urgência nervosa dos dias de hoje. Aqueles que escreveram poemas e canções desacelerados estavam condizentes com a época da pouca aceleração. (Por isso a bossa nova já morreu há muito tempo). Nos tempos modernos, ninguém aguenta um poema de três folhas, muito menos um livro-poema, desculpe Gullar, muito menos uma MPB com o cantor parado no centro do palco fazendo cara de intelectual. Os que são são, os que não são não conseguirão enganar nem criança de seis anos. A nervosa urgência, indignação, ou qualquer outro nome que se queira dar, foi consagrada pelo movimento punk, no final dos anos setenta, e trouxe, queiramos ou não, uma estética mais agressiva. Absorvida por mim, que, àquela época tinha meus dez anos, e expressa, explicitamente muitas vezes, nos meus poemas e canções! MPB acelerada, resumindo, é o que faço! Acelera, Markito!

Novo SET LIST

(Introdução)
1 -- Desafios;
2 -- Encantadas;
3 -- O Alvo;
4 -- Minas;
5 -- Quase Sem Querer;
6 -- Don't Stop Dancing;
7 -- Pedra;
8 -- Constelação;
9 -- Contra;
10 -- Complexa vazão;
11 -- Brigas;
12 -- Jaques Som;

(intervalo)

13 -- Andarilho;
14 -- Dias que no Volveran;
15 -- Cegos;
16 -- Sim;
17 -- À Cecília;
18 -- Versos;
19 -- Inútil;
20 -- Truques;
21 -- Dias de Luta;
22 -- Papai me empresta o carro;
23 -- A Saudade/Blues do Medo.

BIS: Sim/Brigas/Ainda é Cedo/Exagerado.

quartel

úmido
o sumo
a seiva
escorre incertezas
planta dúvidas
em cabeças samanbaias
dançarinas flácidas em festa de quartel de subúrbio

genealógica

não há mais tempo
para o que não seja fundamental
a estirpe animal não me permite inventar fórmulas
lógicas soluções naturais se impõem
me impõem seus brotos filosóficos
árvore genealógica
de um cidadão do mundo

o ai

...e o que são as palavras
imagens reveladas
destravadas
levadas à extrema emoção da liberdade
expressa
(versos?)
se entregam ao prazer de olhares assustados
com a intensidade
arranhada no papel
ou onde for

palavras são o ai da dor

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

de seda

nessa vida relações meias de seda quem conseguirá esticar um dedo de prosa?

voo de cobra

de saco cheio das responsabilidades quero voar e da instabilidade do poema, que é a vida resumida em letras que são estrelas, traçar uma rota falsa um voo de cobra que irá abrilhantar o cenário da atualidade pobre como guaraná sem nome de festa de escola

Charlatães

Charlatães!
Charlatães não são os que fazem previsão do futuro mas aqueles que desejam saber o futuro
ou não sabem que o que virá é doença e morte?!
Procurem a arte...é mais barata e imprevisível!

PEDRO SALINAS, poeta espanhol

Sobre ele, escreveu Drummond: Não são muitos, entre nós, os que amam -- porque a conhecem -- a poesia de Pedro salinas. Mas esses poucos são fervorosos na sua devoção. Circunstâncias diversas têm impedido que tomemos conhecimento da moderna lírica espanhola, a partir de Juan Ramón Jiménez: apenas García Lorca, pela imolação, atraiu interesse geral, antes doloroso. Entretanto, poetas como Pedro Salinas, Rafael Alberti, León Felipe, Jorge Guillén, Luís Cernuda, Gerardo Diego, Altoaguirre suportam confronto com os maiores cantores atuais da Europa e da América.
Como seu mestre Juan Ramón, salinas tem a dicção sutil que convém à expressão de estados profundos e evanescentes da alma. Uma nobre melancolia circula em seus versos, que elevam o sentimento amoroso à plenitude de uma tomada de contato com a essência do mundo. "Poeta de emoções claro-escuro -- diz dele César González-Ruano --, de uma doçura contida, prefere a intimidade poética com uma auto rigorosa seleção do episódio e insignificante, que tem um valor quase de confidência explicada... Chegou a um acerto mágico de expressão amorosa, não raro sem superação possível na lírica da Espanha".

sapato

outro dia de cinquenta salvei um poema
mas um daqueles

é mais fácil inventar um laço do que inventar um passo

significados

quando digo azul
pode ser o mundo, um blues
ou o nada
quando cito flores
podem ser dores, calores...até flores
quando uso laço
pode ser no sapato, um pedaço ou o passado
quando digo sim pode ser para mim

domingo, 15 de janeiro de 2012

em cheiros

esse mágico sentimento que fixa os olhos num momento passado e lava alma em cheiros presentes é amor?

estádio

a emoção de emocionar
é um estimulante
também calmante
pela nobre sensação de estar
caminhando sem atalho
o trabalho de amadurecer é o mesmo de ceder às facilidades dos meninos gigantes que brigam por refrigerantes num estádio de futebol desconhecendo que os atores gritados são os que menos ligam para o resultado

BBB

...não é que o BBB seja o problema, o problema é a vontade de uma programadora de "cultura", por concessão estatal, estimular nossos piores instintos. Ninguém precisa ter realçadas as suas piores qualidades: inveja, calúnia, difamação e ganho sem esforço de trabalho e/ou talento, esse o pior exemplo. Tudo isso já faz parte do nosso cotidiano, não é preciso maior estímulo à nossa podridão...Seria como se um poeta ao invés de projetar-se mais humano, exaltando os odores de flores e amores, falasse dos calores sentidos no momento de aflição sanitária.

cós

...esse sentimento de pássaro se preparando
seja para pousar
seja para voar
é amor
amor
é calor
resplandecente sol
indecente foz
irresistível cós
alinhavado em braços traços nacos
azuis

(como as flores desse buquê-poema)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Um dia real

Acordei às 7:30, escovei os dentes pensando se voltaria a dormir. Como me conheço, sabia que ficaria rolando na cama e atrapalhando...
Quando vi já estava escolhendo entre três opções: ver o programa do Danilo Gentili, ler a Caras, cuja capa é a Vanessa Camargo ou terminar de ler um conto da Clarice Lispector. Como ninguém estava por perto, escolhi a primeira opção. Rir é a melhor solução!
Depois, folheei a Caras e tendo ficado com remorso, terminei de ler o conto da esposa rica e o mendigo. Grande conto! Aliás, como todos os demais. Clarice é o contrário de mim, mulher que escreve como homem, Cospe na nossa cara tudo aquilo que temos de pior e tentamos esconder escrevendo revistas sem graça!

locação

no verso de uma folha tinha um verso
no anverso
tinha um contrato
quem produziu esse ato de desatino
um poema sobre um menino lembrando do circo da infância
no verso de um contrato de locação?

logos

Penso logo existo
Penso logo aflito
Penso logo restrito

verdade

o palhaço
precisa da risada
como o fogo do atrito
como o poeta de olhos aflitos

a crença

é o amor que move a mão na direção da semente plantada

a crença num mundo melhor é o sol e a água

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

brincadeira

de vez em quando o tempo parece que briga com o vento e me torce retorce me vira de ponta a cabeça brinca com meus sentimentos e me expõe me impõe uma força de mudar a direção que me deixa cansado de tentar ser feliz

colarinho

o palhaço
é um ser humano como qualquer
presidente de clube
garoto do hambúrguer
misterioso vizinho
só carrega o fardo de nos fazer rir
mesmo quando está sem um sorriso no colarinho

o circo

quero pular de alegria
rir da gargalhada miserável do palhaço
ver o circo pegar fogo
sem labaredas sem fumaça
só na emoção barata de pessoas suando esperança
de ter uma vida colorida e doidivana

SET LIST (depois de muito ouvir)

(Introdução)
1 -- Desafios;
2 -- Encantadas;
3 -- Minas;
4 -- O Alvo;
5 -- Don't Stop Dancing;
6 -- Pedra;
7 -- Pensando em Você;
8 -- Constelação;
9 -- Contra;
10 -- Complexa vazão;
11 -- Brigas;
12 -- Jaques Som;
13 -- Andarilho;
14 -- Sim;
15 -- À Cecília;
16 -- Cegos;
17 -- Versos;
18 -- Inútil;
19 -- Truques;
20 -- Dias de Luta;
21 -- Papai me empresta o carro;
22 -- A Saudade/Blues do Medo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

paz

uma vida de minhas mãos escoou
(aqui dentro o silêncio dobra)
neguei-lhe uma palavra
por negar a morte
(seu pedido era por palavras escritas)
agora
só me resta escrever em paz

(a paz que me foi tirada por uma despedida...)

Análise do poema EMÍLIA

Emília

...aquela boneca de irmã, perdida

...poesia


Com certeza um dos poemas que mais me deram trabalho. E o detalhe é que sem a vírgula o poema deixava de ter todas as possibilidades que a vírgula trouxe. E explico: se tivesse ficado escrito sem a vírgula antes da palavra perdida só havia uma interpretação -- a de que a boneca da irmã havia sido perdida. Por desleixo, quem sabe pelo tempo, inexorável...

Agora com a colocação da vírgula várias possibilidades se abrem, por exemplo:

1 -- A palavra perdida se refere à boneca;
2 -- A palavra perdida se refere à irmã;
3 -- Perdida a boneca de irmã, o poeta não teria se perdido também?
4 -- E portanto, não teria perdido a poesia?

SHOW NO CATETE! CARIOCANDO, DIA 10/01/12, TERÇA, 18:30,



SHOW NO CATETE! CARIOCANDO, DIA 10/01/12, TERÇA, 18:30,




Show no restaurante CARIOCANDO, em 10.01.2012.



POCKET SHOW

1- Introdução;

2 -- Desafios;

3 -- Sim;

4 -- À Cecília;

5 -- Pedra;

6 -- Constelação;

7 -- O Alvo;

8 -- Andarilho;

9 -- Brigas;

10 -- Jaques Som;

11 -- Inútil;

12 -- Truques;

13 -- Papai me Empresta o Carro;

14 -- A Saudade/Blues do Medo.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Lispector

o amor e a raiva e o ressentimento e o susto com que Clarice escrevia, escrevia vírgula, escreve porque ela está em todos nós poetas vivos que escrevemos também sobre tudo aquilo que a instigava a irritava a mastigava e ela cuspia firme forte e surreal

latente

é quase insuportável resistir à tentação de escrever
pois acaba sendo um aluvião de sentimentos e sofrimentos
uns vindos dos outros
e eu potro selvagem
tendo de domar o instinto e o idioma para criar algo que não vire axioma e sim uma verdade latente

castanho azul

com quantos anos de sofrimento se faz um poema que gema experiências?
um poema que exprima a maturidade do poeta que sofre a dor de viver consciente da sua sina que é linda?
mas
que queima a retina
que esquenta a retina
que transforma um olho castanho em azul-sentimento

gift or curse

dom
é a responsabilidade que trazia em mim sem conhecê-la
agora que tenho plena convicção dessa característica
tenho de elevá-la ao quadrado para não transformá-la em maldição

eu mais

não pode haver confusão sobre isso
eu sou eu
e escrevo
mas meus poemas não são eus
são meus
mas um meu maior do que eu
pois são sobre a realidade
não da minha realidade
entende?

coco

não há meia liberdade
há ser adquirida pelo poeta
ou o cara escreve o que tem de escrever ou é melhor ir vender coco na praia
em arte não há meio termo

tamanduás

não aguento mais ler poemas envelhecidos pelo ritmo do momento
não aguento mais ficar lendo versos que escrevi
faz tempo que decidi fazer tudo novo
tudo fresco para poder deixar minhas digitais espalhadas por aí
como folhas que caem e viram adubo
como formigas que são alimento de tamanduás
como fogueiras que aquecem a lenha sem acabar com a floresta

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Clarice Lispector, conto "É para lá que eu vou"

Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto -- é para lá que eu vou.
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma ideia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia -- é para lá que eu vou.
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou -- é para lá que eu vou.
Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. É para lá que eu vou.
Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra "tertúlia" e não sei onde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois -- depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio. Não sei sobre o que estou falando. Estou falando do nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.
É para o meu pobre nome que vou.
E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira do meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.

fato

fato:
as pessoas hoje em dia não aguentam cinco minutos de papo furado
como se tivessem algo mais importante para fazer
como se soubessem o que realmente querem fazer
com se não soubessem a solidão de fingir ser

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

metido

metido
quando você acha que não posso ser o que eu acho que sou
entusiasmado, diria
quando eu acho que posso ser o que sou pela qualidade do meu trabalho

Anderson Silva

Preconceito é quando um lutador acha que vai meter a porrada no outro porque o adversário é
negro, fraco e com a voz fina

carvão

vês rugas
onde tem história
vês fugas
onde tem memória
vês roxo
onde tem luta
vês fogo
onde tem fuga

flor

não sei se esse o gosto de doce na boca é amor
mas
é bom
é fecundo
um susto bom de perceber
quando lembro de você
flor

(quando algo remete ao seu reflexo sinto cheiro de açúcar)

alfinete

o que chamas cicatrizes
chamo medalhas
marcas da batalha pela vida
e reparas
nelas
porque não vês o profundo do furo
que o alfinete
deixou como memória

domingo, 8 de janeiro de 2012

sábado, 7 de janeiro de 2012

intrínseca

um passado-serpente
sempre está junto a mim
serpenteia meu raciocínio
sempre se enrola em meus cabelos
sempre sibila a sílaba intrínseca

pés ardentes

amanhã com sol irei à praia
amanhã com sol não escreverei
amanhã com sol não haverá nuvens aqui dentro
amanhã com sol vou queimar por fora, sendo mais fácil, com camisa branca, ser identificado
amanhã com sol é um amanhã quente dentro dos sonhos que tivemos
amanhã com sol é mais um futuro com queimaduras
amanhã com sol é um presente com pés ardentes
(amanhã com sol esquecerei um passado-sempre?)

karma

não vês que ao chorar um poema estrangeiro
tendo tantos
tendo prantos
santos
no chão de casa
no teto dos olhos de menino
não negas a raça
negas a genuína matriz
negas a íntima relação atávica
kármica
que exalas?

aflita ternura

ouço o fogo dos meus olhos e sinto a quentura da música interna que provoca a coceira nos dedos que pedem por letras que acham palavras susssuradas em ouvidos atentos que aprenderam a melodia dos ventos que atiçam o fogo dos meus olhos nervosos por leitura

vida com aflita ternura

atrito rítmico

hoje ainda não havia escrito nada
porque não tinha nada a dizer
estava apenas tentando respirar
ouvia o ar entrando e saindo
e me concentrava no nada
e o nada veio
me deixando mais quieto
menos elétrico
e parece que pela primeira vez
vivi sem atrito
e sem atrito
não há faísca
e sem faísca
não há poesia

Por que Drummond traduziu o poema CANTO FÚNEBRE SEM MÚSICA?

A explicação se deu na crônica chamada "Diante dos mortos, publicada no jornal Correio da Manhã, de 2 e 3 de novembro de 1963:
" vestes brancas substituindo as antigas vestes negras: assim os padres se apresentam aos fiéis, nas cerimônias litúrgicas e Finados, em obediência à orientação do Concílio vaticano II. O dia dos mortos não é dia de luto. Nele deve reconfortar-se a esperança de convívio futuro e definitivo com a essência dos seres que amamos e perdemos. A morte ganha sentido diverso daquele que nos fora inculcado pela educação religiosa em aliança com o terror instintivo. transforma-se em porta aberta ao conhecimento de um estado de graça, qua a vida não nos permitiu fruir.
Mesmo, porém, sem recorrer ao pensamento católico, é possível considerar Finados não um dia triste, mas antes de libertação da tristeza. No plano das afeições humanas, idealizo uma festa dos mortos, que, a poder de serenidade e meditação, quase se poderia chamar alegre. Dia em que tornaríamos mais consciente nosso convívio com eles, avaliando e vivendo ao mesmo tempo uma amizade, um amor que se limpou para sepre de dúvidas, equívocos e incompreensões, da nossa parte e da parte deles.Mas isso é programa para o resto da vida, não apenas para 24 horas.
Como chegar a esse ponto de entendimento perfeito, de que a vida aparentemente nos desvia, e que nossa volubilidade sentimental torna ainda mais remoto? Não creio que a comemoração fúnebre nos aproxime dele, por ser quase mecânica e padronizada. Mas confio nesse estranho trabalho de demolição interna, que se vai fazendo em nós. Vamos perdendo as coisas, e sentimos que leas eram secundárias; com isto, descobrimos outras subjacentes e mais importantes. Em camada mais profunda está colóquiop plácido com os mortos. E a descoberta: os mortos não são fúnebres.
Até alcançarem esta percepção, os mais sensíveis (tanto requintados como simples) carregam uma saudade pungente que é, afinal, preliminar do entendimento completo. Saudade ás vezes impregnada de revolta, protesto de amor ferido, ou mesmo de sentimento de beleza, que pretende parar sobre as contingências, e busca a eternidade no instante. Encontro a marca desse sentimento, palpitante de inconformismo, no poema "Dirge without Music", de Edna St. Vincent Millay...".

CANTO FÚNEBRE SEM MÚSICA -- Edna St. Vincent Millay, poeta

"Não me conformo em ver baixarem à terra dura os corações amorosos,
É assim, assim há de ser, pois assim tem sido desde tempos imemoriais:
Partem para a treva os sábios e os encantadores. Coroados
de louros e de lírios, partem; porém não me conformo com isso.

Amantes, pensadores, misturados com a terra!
Unificados com a triste, indistinta poeira.
Um fragmento do que sentíeis, do que sabíeis,
uma fórmula, uma frase resta -- porém o melhor se perdeu.

As réplicas vivas, rápidas, o olhar sincero, o riso, o amor
foram-se embora. Foram-se para alimento das rosas. Elegante, ondulosa
é a flor. Perfumada é a flor. Eu sei. Porém não estou de acordo.
Mais preciosa era a luz em vossos olhos do que todas as rosas do mundo.

Vão baixando, baixando, baixando à escuridão do túmulo
suavemente, os belos, os carinhosos, os bons.
Tranquilamente baixam, os espirituosos, os engraçados, os valorosos.
Eu sei. Porém não estou de acordo. E não me conformo." (Tradução: Carlos Drummond de Andrade).

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

tia

um dia recebi uma visita que passou a conviver comigo planta parasita levou consigo uma alegria suicida que tinha e um dia ainda terei sei pela poesia que me encontrou e conseguiu afastar a perigosa amiga a ponto de me permitir plantar uma rosa-declaração-de-amor sem temer o choro da tia saudade

melodia

preciso de tempo e silêncio
assim posso escutar as primeiras palavras
sussurradas
e escrevê-las como se fossem um poema que estava em mim guardado por horas minutos séculos
em versos escrevo a melodia da minha vida

arrastão

...ainda há tempo?
o tempo é apenas um elemento?
sendo tudo
sendo o todo
o tempo não perdoa
de vez em quando
escapa e acaba
com pretensões
arrasa quarteirões
interrompe ilusões

com puta dor

o dia em que as palavras florescem à minha frente como árvores do de repente tenho de parar e colhê-las tentar absorvê-las e tê-las como telhas na cabeça e chorá-las como lágrimas num papel de tela de com puta dor

semeante

o poeta não anda
planta
o poeta não fala
lavra
o poeta não come
semeia
a raiz
o poeta não bebe
lacrimeja
sins

saliva

o susto do poeta
é o fruto mordido
antes da árvore que antes da semente
teve a vida doada
da gota de saliva
da palavra

3 X 4

alguém me responde por que os amigos somem mesmo estando vivos?
somos sorrisos aflitos ou a calma de olhos mastigados?
somos um vício raro de saudade ou aquele retrato amassado três por quatro?

o outro lado da razão

não temo a vida
outro lado da despedida
amiga de todas as horas
companheira de mãos dadas dos poetas
que inventam sorrisos em plena exclamação

véu da noite

daqui donde estou as árvores sorriem para a chuva
que luta nua para lambê-las
lavando as asperezas do reflexo de estrelas que identifica a despedida da tarde
na folha
enlutada pela pele enluarada

tenda

uma sinfonia de pingos me acordou dos desejos disfarçados em sonhos que estava tendo tenda dos milagres urbanos dos desastres que somos

engano

animado pela chegada da idade
nunca pensei em viver tanto
sempre fui o doente da família, toda família tem um doente todo doente acha que não vai fazer anos e agora faço tantos e tantas são as recordações que já estou velho ainda com cabelos negros
o espelho me engana
mas a saudade não

opacos

...esperei por isso minha vida inteira...
em todos os lugares procurei aquilo que pudesse me nutrir...
(suprimir em mim
um gosto um cheiro)

vivi de olhos atentos e acabei esbarrando
num sorriso de menino com olhos cansados
opacos
pelos sustos do pisão no jardim que chamo recordações

antigo

...escrevo...
mas não quero uma história inventada
quero uma folha caída
que mostre a árvore por mim plantada
quero um pedaço de calçada
que mostre que morei num lugar bonito
quero um dente quebrado de um sorriso, antigo

rapper

num programa de Tv um rapper visitando índios, na despedida, chorou e chorou porque se deu conta da maldade que levara para aquela ingenuidade branda um rapper demonstrou o desamor aprendido na cidade chorou a verdade de se ver ao contrário

não somos índios, infelizmente

(amo)r

amo
e afasto o erre da palavra
afasto a raiva porque amo o amor
e canto
amo escondido (no canto)...
o amor
é o canto do encanto ou do desencanto?
o amor
é o grito do espanto
ou do
pranto?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

SET LIST do show do dia 10/01/12.

SET LIST DO SHOW MPB

MARCO PLÁCIDO BRASILEIRO



(Introdução);

1 – Desafios;

2 – Encantadas;

3 – O Alvo;

4 – Andarilho;

5 – Don’t Stop Dancing;

6 -- Pedra;

7 – Constelação;

8 -- Contra;

9 – Complexa Vazão;

10 – Brigas;

11– Jaques Som/Desire;

12 – Minas;

13 – Sim;

14 -- À Cecília;

15 – Cegos;

16 – Versos;

17 – Inútil;

18 – Truques/Ah Ah Uh Uh;

19 – Dias de Luta;

20 – Papai me empresta o carro;

21 -- A Saudade/ Blues do medo.

BIS: Brigas/O Alvo/Sim.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Retrospectiva (Novembro e Dezembro de 2011) -- regente

regente

À Beth Dargam

da dificuldade um sorriso sangra
em lágrimas de alegria
tamanhasviagens à lua
imagens de uma realidade sua
fruta na salada diária de família feliz
continue sendosendo sempre
sempre sem temer
sem temer serpente
sabedoria de fina flor do fazer
sem perder o rumo
regente de sinfonia para surdos

Hámor

Hámor, porque
Há dor
Hágua, porque
Há lágrimas
pingos de silêncio molhado

doentes

Há amor
sim
há amor quando do reflexo nos vemos serenos
quando estamos vivos mas pequenos
quando respiramos sinceros mas terrenos
quando estamos sabedores da tristeza que é viver sem nossos entes
tristeza de viver doentes

ardido

difícil desejar algo a alguém difícil num momento ardido em que os lírios têm pouca graça pela saudade desejar algo que faça uma declaração de quem sou agora não sou apenas estou cumprindo tempo

extremas

em janeiro
minha mãe um prefácio escreveu
em maio
minha mãe morreu
e eu?
eu continuo tentando renascer em letras
continuo tentando inventar certezas

extremas

Retrospectiva (Outubro de 2011) -- Rock in Rio

ROCK IN RIO

Para mim, até o show de sexta-feira, algumas lições ficaram claras. Do pouco que eu li e do pouco que vi, pelo Multishow, afirmo:
1-- Um artista sem carisma pode ter carreira, se for excepcional músico LENNY KRAVITZ;
2 -- Um artista sem conteúdo e com carisma pode fazer o que quiser no palco, IVETE SANGALO;
3 -- Um artista sem conteúdo e sem carisma pode fazer sucesso, CLÁUDIA LEITTE;
4 -- Um artista com carisma e com conteúdo é Deus, STEVIE WONDER.

Retrospectiva (Outubro de 2011) -- Virgínia

VIRGÍNIA

quando raro paro para me concentrar em pensamentos dourados sinto seus olhos de um halo azulado olhos amados amando um rastro de compreensão raro em mim definido como amor farto mato em areia da praia alegria verde única prova divina de vida vida possível sentimento impossível incrível mítico rítmico cisma num símio me faz declamar em palavras o quanto canto enquanto te amo amo amo virgínia anjo

A DOR -- Pedro Salinas, poeta espanhol

A DOR

Não. Já sei que prefere
corpos recentes, jovens,
que lhe resistam bem
e não se rendam logo.
Ama carnes rosadas,
dentes firmes, ardentes,
olhos que ainda não lembram.
Deseja-os mais. Assim
seu estrago
não se confundirá
com o crestar do tempo,
esfarelando os rostos
como os torsos direitos.
É seu prazer abrir
rugas na pele fresca,
partir o puro vidro
dos olhos intocados
com a lágrima quente.
Vergar a direitura
que há nos corpos perfeitos,
de modo que se torne
mais difícil olhar
o firmamento por eles.
Seus dias sem vitória
são esses em que fere
apenas corpos velhos,
corpos nos quais o tempo
tenha matado muito.
Seu júbilo, seu triunfo
tem uma cor selvagem:
resume-se em surpresa,
em destruir a flor plena,
as vozes no apogeu
do cântico, os mais altos
meios-dias da alma.

Eu sei como lhe agradam
os olhos.
Aqueles que veem longe
saltando bem por cima
de seu céu e seu chão
e que buscam no fundo
mais terno do horizonte
essa greta do mundo
que azul e terra formam
por não poder juntar-se
como Deus lhes mandou.
Essa greta por onde
passam todas as asas
que nos estão batendo
em frente aos muros da alma,
clausuradas, frenéticas.

Eu sei como lhe agradam
os braços. Longos, sólidos,
capazes de levar
sem desânimo,
entre torrentes de anos,
amores pela altura
sem que nunca se quebrem
esses cristais sutis
que são, na sua essência.

Eu sei como lhe agradam
os lábios como as bocas.
Por certo, não os virgens
de beijo: os já beijados
longa, profundamente.
Os mortos sem beijar
não conhecem o fio
duma separação.
O separar-se está
nas bocas que se afastam
contra seu próprio signo
de estar beijando sempre.

E só por isso as bocas
que já beijaram são
as favoritas. Têm
mais vida que deixar:
a vida que confere
a toda boca o dom
de haver sido beijada.

Eu sei como lhe agradam
as almas. E por isso
quando te tenho aqui
e te fito nos olhos,
e a alma te brilha neles
tal como grão de areia
celeste, pura estrela
na sina de atrair
mais que todas as outras,
cobre-te minha vida
e em meu amor te escondo.

Para não seres vista. (Tradução: Carlos Drummond de Andrade).

Retrospectiva (Setembro de 2011) -- Chiado Editora

Agradeço a todos que, de uma maneira mais ou menos explícita, me fizeram ter vontade de escrever. E isso se dá por estar comemorando a assinatura de um contrato com a Chiado Editora. Empresa de Portugal que irá distribuir meu próximo livro chamado "RASCUNHOS POÉTICOS" no Brasil, em Portugal e em toda a Europa.Beijos aos amigos que sempre me prestigiaram e, porque não dizer, me aturaram falando de poesia muito mais do que eu deveria e muito menos do que eu poderia.

Retrospectiva (Setembro de 2011) -- Inge Morath, fotógrafa

"Antes de iniciar um projeto, quero conhecer o seu contexto, mergulhar na sua civilização e aprender pelo menos os princípios fundamentais da sua linguagem. Tenho depois mais liberdade para chegar ao que Cartier-Bresson chama a atitude decisiva do fotógrafo. Ele tirava as fotografias com um olho aberto, observando o mundo através do visor, e outro fechado, olhando para a sua própria alma".

Retrospectiva (Setembro de 2011) -- Conto Voem e Noel

Conto Voem e Noel (adaptado de trecho do Romance OLHOS DE PICASSO)

Tinha para mim isso como verdade. Nunca escreveria um conto. Até hoje não sei sua diferença para crônica. Como iria escrever? Mas...queria contar um pouco da vida de dois velhinhos que conheci não faz muito tempo. Quando começamos a tratar, ambos já estavam com mais de setenta. Na verdade, um com setenta e um e o outro com oitenta. Anos de amizade proporcionaram uma intimidade que era reconhecida pelas homéricas brigas. De copo d'água à hora do almoço, do ônibus errado ao troco do cafezinho. Brigavam por tudo, mas quando o mais moço morreu o mais velho me contou o que irei transcrever agora. Parte de uma história de amizade bonita toda vida.

"Voem me olhou emocionado e passou a falar, sem parar, durante uma hora e meia, só fez falar e chorar.”Sinto saudade de um, dois, feijão com arroz, três, quatro, feijão no prato, cinco seis, feijão outra vez, sete, oito, quero biscoito, nove e dez, começa outra vez.
Sinto saudade do tempo em que meu pai me obrigava a esperá-lo voltar do trabalho para recitar poesias que ele tinha feito com a barriga no balcão da farmácia.
Sinto saudade da Mariazinha do bole-bole, peitinho duro, boceta mole, o galo canta meu pau levanta a vaca berra meu pau enterra.Sinto saudade do cheiro do arroz que minha mãe fazia. Comia, comia, comia sem parar, era de chorar!
Sinto saudade do pirulito que bate, bate, pirulito que já bateu quem gosta de mim é ela, quem gosta dela sou eu.
Sinto saudade dos amigos que já se foram, das peladas na praia, do basquete no clube, das caçadas de passarinhos, coitados prendíamos os bichinhos e ficávamos bobamente alegres.
Sinto saudade de eu vi uma barata na careca do vovô, assim que ele me viu bateu asas e voou, Do,ré,mi,fá,fá,fá do,ré,do,ré,ré,ré do,sol,fá,mi,mi,m,i do,ré,mi,fá,fá,fá.Sinto saudade de primeiro time é meu segundo time é teu, Andaraí no seu gramado, bola pro mato que o jogo é de campeonato.Sinto saudade das noites de seresta em que ouvia minha mãe cantar várias músicas da Maria Creusa.
Sinto saudade de escravos de jó, jogavam caxangá, tira, bota, deixa ficar, guerreiros com guerreiros fazem zig, zig, zá..
Sinto saudade da calçada da praia das Flechas.
Sinto saudade do Huguinho, do Zezinho e do Luisinho.Sinto saudade de Fé, Tête, café, fedo, Fred, Fernandes.
Sinto saudade da canoa virou, por deixar ela virar, foi por causa do Zezinho, que não soube remar...
Sinto saudade da gangue, do Gaguinho, do Bruninho, do Cláudio, do Osvaldo e da Betina.Sinto saudade do Pai Francisco entrou na roda, tocando seu violão, paradão, dão, dão. E vem cá seu delegado e pai Francisco foi para a prisão Como ele vem todo requebrado, parece um boneco desengonçado.
Sinto saudade do coração de Boceta, do capitão Buraco, do Burackson Five.Sinto saudade do sapo não lava o pé, não lava porque não quer, ele mora na lagoa, não lava o pé, porque não quer.
Sinto saudade do Ratonildo; do Dudu, Piru e do Carlinhos.Sinto saudade do meu pintinho amarelinho, cabe aqui na minha mão, na minha mão. Quando quer comer bichinho, com seu pezinho cisca no chão. Ele bate as asas, ele faz piu, piu, mas tem muito medo do gavião.
Sinto saudade de jogar bola e sair na porrada.Sinto saudade das meninas de saia.Sinto saudade de torce, retorce, procuro mas não vejo, não sei se era pulga ou se era um percevejo. A pulga e o percevejo fizeram uma combinação, fizeram uma serenata, bem debaixo do meu colchão.
Sinto saudade do cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido e a rosa despetalada. O cravo ficou doente e a rosa foi visitar. O cravo teve um desmaio e a rosa pôs-se a chorar.
Sinto falta de atirei o pau no gato-to, mas o gato-to não morreu-rreu, Dona Chica-ca admirou-se-se do berro, do berro, que o gato deu. Miau!
Sinto saudade da pouca idade, da intensidade que a ingenuidade permite, ver em olhos de piques a vida pulsando a vida me chamando e eu sem medo gritando amá-la.
Sinto saudade de como pode o peixe vivo viver fora da água fria? Como poderei viver? Sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia?
Sinto saudade do meu filho e da minha nora que me deixaram num momento delicado, me deixaram com dois anjos para cuidar.
Sinto saudade da inteira coragem que tive que ter para cuidar da Bela e do Rique.Sinto saudade do alambique do meu vô, que em vão tentou me dar um pouco da branquinha que eu recusei por não saber como dói uma recordação.Sinto saudade de ir ao Maracá com meu tio.
Sinto saudade do cai, cai, balão, cai cai, balão, aqui na minha mão. Não vou lá, não vou lá, não vou lá, tenho medo de apanhar.
Sinto saudade de tomar banho na banheira da casa de minha vó Diva, para os íntimos, ou gordinha, para meu pai, ou Divanaghy, para todos.Sinto saudade da minha outra avó Arlete, que era apaixonada por mim e por gim, uísque e outros destilados, a velha era animada e brincava comigo de tocar instrumentos nas minhas costelas.
Sinto saudade de marcha soldado, cabeça de papel, quem não marchar direito, vai preso pro quartel. O quartel pegou fogo, Francisco deu sinal, acode, acode, acode, a bandeira nacional.
Sinto saudade do som das panelas na casa da minha tia Ana, todo ano íamos para São Pedro da Aldeia, e faziámos a maior bagunça.Sinto saudade do salgueiro entrando na avenida, com meu tio Quincas.
Sinto saudade do mundo, do quadro de Drummond, do menino-passarinho Quintana, do sacana do Vinícius.
Sinto saudade do alecrim, alecrim dourado, que nasceu no campo sem ser semeado. Foi meu amor, quem me disse assim, que a flor do campo, é o alecrim.
Sinto saudade de tudo o que poderia ter escrito mas fiquei com preguiça, medo, sei lá.Sinto saudade da voz do poeta Tiago de Melo.
Sinto saudade do cello de Jaquinho.
Sinto saudade do poema que meu irmão leu em homenagem ao meu pai e que agora não me recordo...Perái, lembrei:um poeta não precisa escrever ter a capacidade de antever sofrer de amor escorrer lágrimas por amizade parecer desatento mas cuidar de longe, alisar os cabelos do pai mesmo que por palavras não ditas, não escritas um eu te amo num simples:”oi, pai!”
Sinto saudade do Ginho.
Sinto do menino que fui!”.

Aí, emocionado, falei. Eu também sinto saudade, sinto saudade tanta coisa...principalmente da casa que foi meu abrigo, da casa onde vivi com minha família e que o vício me tirou.
Essas sombras que invadem minha sala...São flexões do meu corpo? Ou ações da luz que incide contra mim...Um rastro de tão pouco...Vendo um jardim da sacada (nada me escapa): as abelhas,as moscas, os mosquitos se divertem com um carrossel colorido de cheiros e ilusões...Uma flor sendo cortejada pelo beija-flor que a trata vendo alimento e amor, vendo carinho e a dor de perdê-la, no primeiro bater de asas...
Sob o sol, carências serão reveladas, as árvores da inveja desprenderão folhas e sementes de discórdia, de desatenção...Depressão por saudade, por vontade de fazer algo, sem ter coragemSó nos resta arrancá-las, produzindo clarão na nossa floresta de desilusão.Dentro de mim tenho a vida, os rios, as montanhas, a ferida,o óbito, a felicidade, os óculos, a mentira, a flor, o maluco...
Não me importo com o antes ou com o que virá...Me vejo com tempo para aproveitar. Dentro de mim tenho o mundo a girar, sou cachorro latindo,menino pedindo, mãe chorando de felicidade, velho namorando a feliz idade, sou o bobo, freirinha namorando o Senhor, acelero a dor da descoberta, sou bombeiro, sou novela, Saavedra de aventuras, sou fartura, sou cisterna cheia, que é vida ou morte, Severina sem sortede conhecer seu Romeu, Julieta sem julho, agosto sem outubro,Sou seu tudo e nada também, setembro sem vintém...enfim...Tudo está aqui, dentro de mim!
Se eu fosse poeta esqueceria as regras e me prenderia aos sentimentos. Enrolaria breves momentos ao tecido fino da memóriae nunca mais me esqueceria de mim......ser poeta...Ser poeta é enxergar poesia na vida. É antecipar o canto do pássaro, inventar o nascimento do pássaro que ainda não cantou, é transformar o canto do pássaro no canto das coisas que ainda estão por acontecer. Ser poeta é voar para viver, viver inventando o sofrer, reinventando-se para tecer com fios de ouro o imaginário do leitor, ajudá-lo a pisar num chão de estrelas caindo, subindo, fingindo não ligar, para tocar o céu com as mãos. Ser poeta é ser deus numa fração, transcender às primeiras intenções. Sou(l) poesia?
Caralho, Noel! Você é um puta poeta!, disse Voem emocionadíssimo!".Se isso é um conto não sei, mas contei

Retrospectiva (Setembro de 2011) -- Krajcberg

Krajcberg

os livros ensinam?
apenas partes
entalhes do tronco galhos de árvores
peças para artista plástico
paciente esperando
a natureza lhe doar alguma sobra de vida
algumas folhas
acabam em feridas

Retrospectiva (Agosto de 2011) -- Escutar?

Por que escutar é difícil

Ouvir atentamente ou escutar é privilégio de pouquissimas pessoas. Veja quais são os fatores que enfraquecem a capacidade de escutar:Hábitos - Consciente ou inconscientemente, estamos acostuamados a interromper os outros, a tirar conclusões apressadas, a distrair o interlocutor, agindo dispersivamente.Filtros - Crenças, experiências, costumes, expectativas, pressupostos, preconceitos e cultura, são filtros pelos quais peneiramos tudo aquilo que ouvimos. O significado das coisas não está nelas, mas em nós.Ambiente Físico - Ruídos, desconforto físico, distrações visuais, fadiga ou falta de privacidade, influenciam negativamente a capacidade de escutar.Competição - Ao querermos dominar uma conversação, gastamos mais tempo pensando no que iremos dizer do que escutar o que os outros tem a dizer.Timidez - A pessoa tímida ou dependente, preocupa-se mais com o que os outros podem vir a pensar delas do que o que eles estão realmente dizendo ou querendo dizer.Más notícias - Quando nos dizem coisas que não queremos ouvir, nós nos desligamos da conversa.Prepotência - A falta de humildade e a crença de que somos superiores, nos impedem de dar valor ao que os outros tem a nos comunicar.Velocidade de Assimilação - Uma pessoa normal pronuncia entre 100 e 150 palavras por minuto, enquanto que uma outra pessoa normal consegue assimilar entre 250 e 500 palavras por minuto. Assim, é fácil esta ultima se distrair com outras coisas capazes de preencher os espaços deixados na sua mente pela fala da primeira.

Retrospectiva (Agosto de 2011) -- acreditos

acreditos

onde os sonhos acabam? onde começa a verdadeira realidade? o que é real na minha imaginação de querer uma vida melhor? o que é imaginação na hora da resolução de um problema prático? quero ser a vida inteira um realizado? com o quê? quem atura aquilo que tem? quem vive sem ilusão? a esperança é o que nos move aquilo que acredito é que me faz acordar todos os dias e rezar ao dormir meu filho é uma declaração de princípios declaração de acreditos

Retrospectiva (Agosto de 2011) -- Romance ESPERANÇO (resumo)

Resumo do Romance ESPERANÇO, ranço de esperança tanta. Umberto acorda num quarto escuro, sem saber o porquê de, tendo pais e dois irmãos mais velhos, se encontrar sozinho. Adiante descobre estar num internato. A partir daí começa sua saga para não se deixar endurecer pelo ódio. Apesar disso, como protesto muda seu sobrenome para ESPERANÇO e passa a escrever sobre todos os sentimentos que o fizeram transbordar, escrevendo. Amor, ódio, arte, tempo, mercado musical, relacionamento familiar são discutidos numa prosa intensa e envolvente que se utiliza da experiência poética para contar uma história de amor. Amor pela esperança tanta que Umberto tem de ser feliz e de mostrar que o amor e a arte foram e são importantes no desenvolvimento do ser humano que se tornou.

SHOW NO CATETE! CARIOCANDO, DIA 10/01/12, TERÇA, 18:30.

Amigos,

No dia 10 de janeiro, próxima terça-feira, estarei cantando as músicas do meu novo CD MPB -- Marco Plácido Brasileiro no CARIOCANDO, que fica na Rua Silveira Martins, 139, perto do Palácio do Catete.

Metrô perto e estacionamento gratuito ao lado.

Nesse dia ainda haverá show de bossa nova, numa dobradinha imperdível!

O couvert é R$ 12,00.


Espero vocês lá!

Abraços, Marco.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Retrospectiva de Julho -- José Paulo Moreira da Fonseca, poeta

" NÓS
nascemos na terra: verde e úmido pedregulho
a girar em torno do sol
estrela secundária nos confins da via láctea
perdida e salva nesta coisa tão nítida quanto vertiginosa que chamamos espaço

somos prodigiosos e celestes
como um eclipse um cometa uma galáxia"

Retrospectiva de Julho -- Cyro Pimentel, poeta

"SÉCULO

Debruçado no tempo vejo à passagem
Das nuvens o reflexo
Da beleza ensinada pelos saudosos mitos.
Mas volvendo o rosto lamento que o humano inventou: A bomba atômica e a poluição, a máquina, a morte.".

Retrospectiva de Julho -- Moacyr Félix, poeta

"AUTORRETRATO

Certa vez, numa aventura estranha, fugidos estreitos horários em que me estorcia para uma ampliação sem fim. Quando voltei e senti, de novo, ferindo-me, o peso dos grilhões, então não mais sabia quem eu era.E nunca mais soube quem sou.Talvez a sombra triste de um sonho de poeta.Talvez a misteriosa alma de uma estrela a guardar ainda no profundo cerne a ilógica saudade de um passado astral.".

Retrospectiva de Julho -- Adélia Prado, poeta

"Casamento

Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil""prateou no ar dando rabanadas"e faz o gesto com a mão.O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa,vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.".

Retrospectiva de Julho -- Miriam Estrella, poeta

Do que me cabe..."... Na minha alegria cabe o riso. O riso daqueles que convivem comigo. De dias grandes cheios de gente dentro. De conversas jogadas fora. De gente fazendo gracinha só pra me encantar. Na minha amizade cabe um abraço. Daqueles que envolvem o mundo todinho com as mãos. Daqueles que esquentam e traz paz e carinho, aconchego e vontade de ficar morando dentro. Na minha prece cabe o outro. Aquele que mora do outro lado do mundo e que eu não conheço, mas sei que existe. Que existe e precisa de luz. Que existe e precisa de paz. Pra ele eu mando meus pensamentos mais bonitos, pra ele eu mando o pouco que me cabe, mas que é inteiro coração. Na minha solidão cabe um livro. Pode ser Clarice, Caio, Adélia ou "Plácido". Cabe um lágrima rolando sozinha, mas que me acrescenta algo de divino. A lágrima é que me humaniza. Faz com que eu estique a alma num varal de delicadezas. Na minha eternidade cabe nós. Cabe eu e minha família. Eu e meus amigos. Osde perto, os de longe, os do outro lado da tela do computador. Cabe os dias bonitos. Cabe os choros divididos, os risos compartilhados, os abraços jamais esquecidos. Cabe os laços, cabe as luzes, as memórias e suas saudades. Na minha vontade cabe um jardim. Uma casa toda branca com janelas azuis. Uma roseira no quintal e um girassol na porta de entrada. Cabe um amor limpinho morando dentro dela. Cabe eu e minha história, bordada de afinidades, amor e leveza.”

Retrospectiva de Junho -- nós

nós

o tempo somos nós mesmos
nós mesmos somos o tempo nós
mesmo nós somos o tempo todo
mesmo sós somos o tempo todos nós?

(Esse poema nasceu de uma resposta ao álbum de fotos de minha cunhada Andréa Rosane, que mora em Portugal, distante realidade, cuja rima com saudade desmistifica as teorias que dizem que as rimas devem ser ricas! Como ricas, se todos distantes sofremos?! Quem procura beleza num corpo de poema onde há sal e idade, não acha porque procura o que não deve ser achado!).

Retrospectiva de Junho -- poema-riacho

poema-riacho

não me pergunte nada apenas escrevo
na maioria das vezes não sei por quê começo
olho para a testa e as palavras vem chegando a primeira frase como essa se apresenta e nem olho mais a tela apenas digito seguindo o poema-riacho

Retrospectiva de Junho de 2011 -- Matisse e Picasso

MATISSE E PICASSO

(1) O artista japonês Riichiro Kawashima escreveu: "Há muito tempo (1913), quando Picasso morava num ateliê da moda que dava para o cemitério Montparnase (...) eu lhe perguntei: "Você gosta de Matisse?" Ele arregalou os olhos brilhantes e me disse: "Bom, Matisse pinta quadros bonitos e elegantes. Ele é compreensível". (...) Quando visitei Matisse há quatro anos (1929), indaguei: "O que você acha de Picasso?" Depois de um momento de silêncio, ele me respondeu:"Ele é caprichoso e imprevisível, mas compreende as coisas".

(2) "...A explicação habitual -- que Matisse teria "influenciado" Picasso -- não é nada satisfatória. A própria noção de influência, com suas conotações de passividade, não combina com o que sabemos sobre Picasso e sua exploração onívora de todos os estilos, passados e da época dele.(...) muitas coisas estavam em jogo e o verbo compreender (e seus derivados) deve ser levado a sério. Provavelmente não há melhor definição do que a proposta por Mikhail Bakhtin, obstinado em estender a noção de diálogo a todos do fatos socias: "Uma compreensão autêntica, ativa, já contém o esboço de uma resposta.(...) A compreensão é uma forma de diálogo; ele está para a enunciação, como a réplica está para a réplica, no diálogo. Compreender é fazer oposição à palavara do interlocutor com uma contrapalavra".

(3) A compreensão como "resposta", o enunciado como "dirigido a um interlocutor" e a soma dos enunciados como "contexto" são as ferramentas conceituais que o sistema dialógico de Bakhtin nos fornece para desembaraçar o emaranhado complexo e mutante das relações entre Matisse e Picasso. Antes da morte de Matisse, em 1954, a replicação contínua entre os dois artistas se transformou numa troca privilegiada e tingida de nostalgia. "Precisamos conversar muito", dizia Matisse. "Quando um de nós morrer, haverá coisas que o outro nunca mais poderá dizer a ninguém." Aliás Gilot atribuí a mesma frase a Picasso, que acrescenta:"Levando tudo em consideração, só existe Matisse".

(4) "...é preciso notar que o diálogo aqui tratado é, antes de tudo, um diálogo entre obras de arte e não entre indivíduos que as produziram. E, tanto as obras de arte quanto nas conversas da vida cotidiana, uma não-resposta também é uma forma de resposta: durante muitos períodos Matisse e Picasso parecem ignorar completamente um ao outro -- a até de maneira agressiva.""(...) E o que acontece com a incompreensão? Se é evidente que, a longo prazo, toda interação passa por mal-entendidos ocasionais, o que dizer da incompreensão intencional (...) --- que harold Bloom chama de misprision, isto é, menosprezo?"Num conceito psicanalítico, "o filho deve matar o pai", ou seja, o poeta novo normalmente utiliza-se de uma estratégia de incompreensão. Uma "leitura autoritária", má leitura (misreading), erro fundamentla de interpretação , proposital, na base da relação que todo grande poeta (ou artista) mantém com a obra de seus predecessores. Esse mal-entendido inicial com os rivais passados é a precondição da grandeza de um poeta: é o que eventualmente dá possibilidade ao poeta de se libertar da "angústia da influência".

(5) Matisse, não desconhecendo o "fardo do passado", "não se cansava de citar as palavars de Cézanne:"Desconfiem dos mestres influentes" E acrescentava:"Quando se imita um mestre, a habilidade dele inibe o imitador e forma à sua volta uma barreira que o deixa paralisado. Eu não saberia reproduzi-lo" No fim da vida, Matisse se preocupou com o efeito da sua própria arte nos jovens pintores e descobriu, por si mesmo, uma lei que os historiadores da literatura e da arte chamaram de "lei do avô" -- o conceito de que, na busca de uma autoridade, artistas e escritores pulavam uma ou várias gerações, para conseguir se libertar das realizações intimidadoras de seus antecessores imediatos.

Retrospectiva de Junho de 2011 -- Uma Noite Só Tua de Alphonsus de Guimaraens Filho

UMA NOITE SÓ TUA

Carregas no teu bolso uma noite só tua.Um poema? uma canção? o rascunho de um grito?
Supões (por que o supões?) que te mudaste em mito.Que não é (se já foste) e que a alma é fria e nua. Como uma extensa praia, uma deserta rua. Um poema? uma canção? o rascunho de um grito?Carregas no teu bolso uma noite só tua. Vais levando contigo um tátil infinito.
Supões (por que supões?) que não pertences mais à terra, nem ao céu: o que quiseste, aflito,é cinza só, e nuvem. Num silêncio cais tão forte e tão absurdo, que teu corpo flutua.Um poema? uma canção? o rascunho de um grito?Carregas no teu bolso uma noite só sua.

Retrospectiva de Junho de 2011 -- Testamento Verde de Carlos Nejar

TESTAMENTO VERDE

Para Carla Carpi Nejar

Tudo o que é humano sabe a espelho. A luz real apenas reflete.
O nosso nome é igual, sou tão precário mas sabes que te amo.
Perece o sonho, se não o regamos. A chuva é o instante de ser nuvem.
E me fui despindo dos adornos, dos taciturnos ódios.
Os meus puídos anos,com os sapatos. O patrimônio de palavras e cuidados.
Talvez o patrimônio de silêncio.
E que a inteligência seja flecha, mas saiba repousar. Impávido ou adverso, em nós se funde o tempo e o universo é um sigilo, um informe secreto.
E quando venta, estou perto, percebes. A lei morre em seu peso. A dor se esgota.
É no simples que as coisas são completas
E, filha, importa resistir sob o pavio dos ossos
Refazer a vida, tantas vezes, quanto a vida doer.

Retrospectiva de Junho de 2011 -- Nelson Mello e Souza

NELSON MELLO E SOUZA, escritor e filósofo "Sabe que a grande obra não é a que mais vende, é a que sobrevive. E se sobrevive, se merece a atenção da posteridade, é porque, como diz o solitário Franz Kafka, "nos atinge como um soco no rosto, como um suicídio".São as obras que nos falam dos sobressalatos do amor,das incertezas da vida, da certeza da morte, do mistério do tempo e do enorme fardo do ego. Sendo temas comuns, são sempre individualmente tratados porque o ego traz consigo a carga da memória pessoal, o acúmulo dos desacertos e o custo de todas as perdas."A vida se nega a ser compreendida por quem se coculta de si mesmo. Se a olharmos de frente vamos ver que o tempo somos nós. Não está no espelho misterioso em que "deixamos a nossa face", como sentiu a melancolia fatal do poeta. Nossa face, não a deixamos em lugar algum porque nela o que se reflete é a essência de nossa história. Os vincos que a deformam são os mesmos que nos constroem. E cada um tem os seus. Equívoco é o dos que buscam no viver, descuidado pela alegria do lúdico, esconder esta verdade."

Retrospectiva de Junho de 2011 --João Ricardo Moderno sobre o poeta Carlos Nejar

JOÃO RICARDO MODERNO, filósofo Sobre poesia acrescenta o filósofo, aproveitando homenagem a Carlos Nejar, poeta: " O poeta descobre criando, e cria descobrindo. O filósofo cria descobrindo, e descobre criando. O primeiro chega à razão pela via da imaginação criadora, o segundo, à imaginação criadora pela via da razão. Se não há identidade absoluta entre filosofia e poesia, há identidade relativa. Se todo poeta é de algum modo filósofo, ainda que nem todo filósofo seja poeta, poucos poetas são plenamente filósofos. É o caso de Carlos Nejar. Esta a casa dos filósofos, dos pensadores, não importa a via pela qual a filosofia se manifesta. Filosofia é a manifestação do espírito e, no caso de Carlos Nejar, do espírito e do coração. Sem espírito não há filosofia. Por mais que um filósofo profissional conheça conceitos filosóficos, isso não é o bastante. Não bastasse o espírito, Carlos Nejar acrescentou coração, muito coração.

Parafraseando Kant, diria que a poesia é um conhecimento sem conhecimento determinado. A poesia de Carlos Nejar é o melhor antídoto contra o tédio da poesia do conhecimento (poesia de ideias, não de ideias racionais). A obra poética de Carlos Nejar gera conhecimento, não sendo de conhecimento. É poesia erudita sem erudição. Sem o tédio dos inteligentes, dos cultos, mas, como diria Clarice Lispector a propósito dela e de Carlos Nejar, com a força dos "burros", como ela mesma filosoficamente definia. Cria cultura, mas não é de cultura. Vico, na Nova Ciência, afirmou que "a fantasia é tanto mais robusta quanto mais débil é o raciocínio". Não existe arte de raciocínio. O artista ao criar uma obra de arte deve fenomelógicamente e intencionalmente debilitar o discurso raciocinante e, simultaneamente, tornar a razão uma faculdade a serviço da fabulação criadora. A serviço da loucura artística, antídoto das loucuraspatológicas e sociais.

Mas, o próprio Carlos Nejar discute as relações entre poesia e filosofia: "Toda grande poesia é de pensamento. Não um pensamento lógico, que a faria despencar no discurso retórico e fechado. Um pensamento de prodígios, reunindo real e sonho. O poeta só é pensador na medida em que é poeta". Mais uma vez parafraseando Kant, para quem a arte é uma finalidade sem fim determinado, diríamos que a arte é pensamento sem pensamento determinado, pois a arte é domínio da indeterminação e do desconhecido. Poesia é a descoberta da verdade sem busca da verdade. A arte alcança a verdade e a sua verdade pela imaginação criadora desvinculada da intencionalidade da determinação. No mesmo sentido, Valéry observa que "filosofar em versos foi e ainda é querer jogar xadrez segundo as regras do jogo de damas". Schiller belamente em versos filosóficos assim se expressou:"Quando o véu mágico da poesiaflutuava ainda cheio de graça em tornao da verdade,Então através da criação espalhava-se a plenitude da vida.

Miguel Reale em seus textos estéticos afirmou que "o ato poético é sempre um ato de rebeldia, de não-conformidade com o que é predeterminado. Daí o emprego das palavras não em seu mero significado verbal, mas como formas de revelação de algo que se confunde com as raízes ocultas da verdade". Miguel Reale demonstra que a autonomia estética da poesia cria os seus próprios recursos de acesso à verdade, como verdade poética ou estética.Diz Nejar, "...a poesia ajuda a viver, porque vive. Não é passiva a sua situação. Ao se relacionar, é que se impõe". Vive-se melhor, então, com poesia do que sem ela. Levar vida a sério é levar a sério a poesia e os poetas, ou então de fato não se sabe o que é seriedade.

Lembra Carlos Nejar que "foi Picasso quem afirmou que "leva muito tempo a tornarmo-nos jovens". Pois a arte inverte os ciclos. Inicia com a velhice, ou as normas. Avança com a juventude e as rupturas. Atinge a infância. Isto é, a plenitude". E de infância a poesia entende, já que na infância do mundo o que havia era a poesia, criação da linguagem. Vico assim se manifesta sobre a infância cultural da humanidade: "Os primeiros autores entre os orientais, egípcios, gregos e latinos e na barbárie regressada, os primeiros escritores nas novas línguas da Europa foram poetas". Vico defendia a tese de que a língua primordial da humanidade era a poesia, os humanos estabeleceram a comunicação verbal necessariamente pela vertente poética, algo como "no princípio humano era a poesia". A poesia faz nascer e morrer, para fazer viver na eternidade, como nos versos filosóficos de Schiller: "O que está destinado a viver no canto do poeta/ estácondenado a desaparecer na vida desta terra.".

Retrospectiva (Maio de 2011) -- José Craveirinha, poeta

JOSÉ CRAVEIRINHA, poeta moçambicano
"TEIAS DE MEMÓRIA

Na baça melancolia do tecto
bilros de teia bordam solidão
enquanto meigos sussurros de sombra
no brilhante mutismo do espelho
recitam estrofes de poeira.".

Retrospectiva (Maio de 2011) -- Menino poeta

Menino poeta
Ao meu sobrinho poeta Bernardo Souza

continue menino poeta
lute com tudo todo o esforço não foi nem nunca será em vão
invente um bolo com velas
invente a imaginação
colchão de retalhos de sentimentos usados de flores
rosas amarelas roxas
invente um atrito e chore
invente um abraço e role
de sorrisos
invente um esquilo e pinte-o de uma cor inventada
crie uma palavra
que defina seu amor pela vida
crie e pinte-a da sua cor

Retrospectiva (Maio de 2011) -- Sérgio Suzano, músico e poeta

SÉRGIO SUZANO, poeta e músico
4 x 1

O homem corre
Corre freneticamente
Ele está tenso, concentrado
Nem olha o cronômetro
A sua passada é o seu relógio
O tempo, seu inimigo.
E sabe que não pode falhar
Pois à frente outro o espera
Apesar de transpirar confiança
O medo das barreiras o consome.
Assim ele esquece que, caindo
Alguém tentará levantá-lo
E, sendo impossível
Seguirão de onde parou.
Porque nesta corrida
Mais importante que cruzar em primeiro
É que o bastão passe adiante
Com honra
Pois a pista é longa,
E o destino
Incerto.

Retrospectiva (Maio de 2011) -- Cavernas

Cavernas
a falta faz segundos parecerem mundos
faz mundos parecerem cavernas
rabiscos nas pedras
neandertais cabelos e sentimentos

Retrospectiva (Maio de 2011) -- O erro

O erro

seres humanos...e como tais duvidamos animais humanóides é o que somos todos temem se recolhem no medo temos o outro como inimigo aquele que poderá nos despossuir deveríamos grunhir cuspir em nossos segredos por isso os artistas são loucos (poucos gênios) quebram padrões de comportamento e por isso seus defeitos mais do que seu trabalho são destacados -- gordos, bichas, drogados -- falhos, como todos nós que ao redor estamos procurando onde estamos para onde vamos com esse saco de defeitos que nos inibe a aprender com o erro alheio?

Retrospectiva (Maio de 2011) -- Macleish, poeta

MACLEISH, poeta " Arte Poética
Um poema deveria ser palpável e mudo como um fruto redondo. Tácito como insígnia no dedo Silente como a gasta camada da pedra nas junturas onde o musgo germina.Um poema deveria ser imóvel no tempo como a ascensão da lua.Isento como a lua detrás das folhas de inverno o espírito de memória em memória.Um poema deveria ser igual a:não verdadeiro.Por toda a história do sofrimentoum vão de porta e uma fímbria de folha Por amora relva inclinada e duas luzes acima do mar Um poema deveria não siginificar mas ser.".
(Tradução de Henriqueta Lisboa)

Retrospectiva (Maio de 2011) -- Schiller, poeta

SCHILLER, poeta "Poema

Sonha e fala constantemente todo homem, desse sonho ardente que o faz lutar por atingir um marco de ouro em seu porvir.Seca e ressurge o mundo ao derredor:o homem aguarda sempre um bem maior.A esperança o desperta para a vida.Envolve-o na adolescência florida,ao moço atrai com brilho intenso.O próprio ancião, nesse consenso,ao baixar sobre seu caminho a treva,à sepultura uma esperança leva.Não é uma ilusão fugazcom que se ofusca o néscio. Maso alto prenúncio, em nosso peito,de que o destino humano é mais perfeito.E essa voz interior, sincera,não ilude -- jamais -- a alma que espera.".

(Tradução de Henriqueta Lisboa)

Retrospectiva (Maio de 2011) -- Henriqueta Lisboa, poeta e tradutora

HENRIQUETA LISBOA, poeta e tradutora "Cantos do "Purgatório (de Dante)Do "Purgatório"A Edoardo Bizzarri, Mestre e Amigo em DanteO Purgatório é a casa do poeta. Sei que também o Inferno, com seus embates de paixão. E o Paraíso também, com seus êxtases. Mas diz e repete meu coração que o Purgatório é a casa natural do Poeta. E aqui mora e demora o poeta nas pegadas do Irmão Maior, com seu coração sofrido porém não desamoroso. Aqui se restauram suas forças, daqui parte para novos degraus de purificação e mansuetude. Nestas plagas encontra velhos amores sempre verdes, mortos amigos sempre vivos, confidentes, repletos de complacência, mestres de amor. Aqui discorre do que adora com os artistas, conversa de ternura com os cândidos, comove-se com os que guardam no peito o antigo relógio, alegra-se com o ruflar das asas do anjo sobre cabelos revoltos. No Purgatório se concebe em névoas, além do longe, a transcendência das cousas que passam mas não se perdem. O homem compreende e confia, embora desconheça a derradeira palavra. E a contenção e o sofrimento daespera se traduzem com nobreza, profunda e moderadamente. Aqui existe silêncio, um silêncio vindo de outrora, contido em si mesmo, igual à levedura que alimenta o pão e o faz crescer em ouro e flama, o silêncio que suspende o respiro na expectativa da múisca, o silêncio que preludia o fim dos trabalhos da alma, anunciar o cântico.O Purgatório é o reino do fazer, não mais o do agir, nem ainda o do contemplar. E o fazer condiciona a dignidade do homem, segundo seus postulados. Aqui se carregam pedras de construção, pedras semelhantes em cor, peso e tamanho, às que encontramos cada dia nos caminhos do tempo. Aqui se alteiam montanhas e serpenteiam rios que a imaginação trasladou do nosso próprio torrão natal. Aqui se edifica o dossel da estrela que está por nascer, enquanto os olhos se prolongam de adeus às estrelas que em breve morrerão. Porque tudo é efêmero, nesta jornada, até mesmo a doce cor de oriental safira, os sentidos estão em alerta para os mais tênues matizes e os mais leves sussurros. Enquanto na amêndoa se contém a força da planta, é preciso que o orvalho das manhãs se recolha gota a gota. E enrubescem as nuvens no altar do crepúsculo. Aqui se reza a amsi bela oração, a que foi ministrada pelo filho de Deus. Aqui se consagra e se coroa o poetados poetas, em nome da liberdade de criar. Por isso aqui permaneço com minha lâmpada acesa, meus dedos tateantes ao longo das rochas, minha frágil voz seguidora da voz primeira, para melhor sentir em mim mesma, na língua materna, o segredo da beleza e da arte--- essa água inefável sempre a fluir e a fugir do manancial.".

Retrospectiva (Maiol de 2011) -- Natação

esporte em que as lágrimas se disfarçam com a água
evitando maiores explicações

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

a testa

qual o próximo passo?
Sei lá! eu não penso, eu faço
encaixo um argumento num pedaço de vento que tive aqui dentro e na apneia esfrego a testa no chão para provocar a lágrima que me salvará

teimosia

todo ano
no seu primeiro dia
descubro que envelheci...
mas a voz rouca ainda canta
mas o olhar turvo ainda vê
mas a mão cansada ainda suporta
mas a teimosia não desaparecida ainda lê

papel da árvore

de repente
num dia qualquer
em um lugar qualquer
um pedaço de papel
me serviu de árvore
me deu sombra
frutos
e um pouco do verde que faltava

rabiscos

de todas as ideias que me vêm em segundos
penso
sopeso
espremo
expresso
em rabiscos
computadorizados
indícios
de algo
que só depois de escrito
me diz o que sinto

passeio

Qual é a cor da dor?

a cor do amor?
a cor da saudade?
a cor do medo de um passeio num carro sem rodas?
a cor de um pedaço de terra sem família?

em que cor sofro por não ter respostas?

vendaval

vovô viu a uva
vovó viu o vovô
vendo a uva
(de viúva)

veio vendaval

(mãos e pés respingados de vinho)

cobra

suporto sóbrio
o ócio
sobra
cobra
a troca de pele...

a sobra da cobra
é a obra de arte
de pele

natais

uma mão estendida é sinal de chegada ou de partida?
quantas mães estão escondidas numa menina alegre e gentil?
quantos daqueles meninos alterados num campo de futebol se transformarão em bons pais?

(ainda quantos natais?)

surfistas

atingidos pela onda da vida real
nos vemos tendo que decidir
como nos comportaremos

nos esconderemos?
ou
surfaremos?

animal

a facilidade que tenho de falar sobre meus poemas
é diretamente proporcional
ao sofrimento não infinitesimal
de tentar entender o motivo
de tanta incompreensão
animal

Língua (nova música)

Língua

Língua

íngua da linguagem
imã de uma tribo indígena

Língua

Língua

íngua da linguagem
imã de uma tribo indígena

esquecida

esquecida


Ingenuidade e saudade
primeiras habitantes do meu território poético

cariz naif
nariz do cacique que sou

para...


Língua

íngua da linguagem
imã de uma tribo indígena

esquecida

cinco num quarto
cio de gatos

sublime

ter pensamentos não é pensar
ter pensamentos é desanuviar a vida real
pensando
pensar é adequar aqueles pensamentos soltos n'alguma direção
evitar rota de colisão
pensar é o ato sublime de existir

domingo, 1 de janeiro de 2012

Retrospectiva (Abril de 2011) -- Música no Rio de Janeiro

Música no RIo de janeiro
Mariano Marovatto, que acaba de lançar um CD e faz doutorado na PUC, é mais duro:
- Falta de tudo na música do Rio. Talvez falte argumentação crítica por causa do comodismo. Aqui acabou a música em processo. As pessoas só vão aonde todo mundo vai. E o cara faz uma canção, vai à praia e já pensa que é artista.

Retrospectiva (Abril de 2011) -- Marco (nada) Plácido

Marco (nada) Plácido
Nesse momento em que, triste, vejo minha mãe se recuperando de uma intervenção cirúrgica no coração, lentamente. Penso, lentamente, que devo parar para me reciclar. Não quero continuar a repetir as mesmas histórias que alegram o riso dos meninos, cheios de vida. Não quero continuar a ter medo de trabalhar em algo que já não condiz com quem eu sou, nesse instante. Não quero diamantes quero apenas um crucifixo de madeira, que caiba em minhas mãos. Não quero me dedicar a palavras que não são minhas, preferio lagartas que virão a voar do que migalhas que ajudam a matar peixes. Não quero ser um feixe de palha, marcar suas mãos, como um arame espinhoso, deve ser gostoso. Não quero ficar olhando o mar quero cair n'água, agitar os pés e espalhar gotas num oceano de enganos. Não quero ser um único tempo sem contradição, água parada dá mosquito, dengue é o início da confusão. Não quero ter que dizer sim para parecer bonzinho, quero ser vinho, parecido com sangue, ex-punk banqueiro não tá com nada. Não quero ser empada sem azeitona, prefiro um samba ruim à Madonna nada tem para me seduzir. Não quero batidas estrangeiras, meigas gueixas, mais negras do que ameixas, isso sim, satisfaz ao meu apetite poético. Não quero ser ético, perigo em forma de rimas, desrespeito das primas, meninas levadas até a última consequência. Não quero fogo, quero arder, dos seus olhos fazer uma cachoeira, tênue areia para arranhar teu sexo, amplexo queimando de tanto querer. Não quero tudo, o que consigo passa a me desinteressar quero o caminho o fim não tem desafio. Não quero medalhas já sei o tamanho do alfinete, estilete entre os dentes é meu sobrenome e meu nome é e sempre será Marco (nada) Plácido.

Retrospectiva (Abril de 2011) -- Gravetos

Gravetos
visão de cegosentimos o erro alheiopelo cheirotronco de árvore num jardimnossas dificuldadessão palatáveissão pequenos espinhos de rosasão prosa de um poema extensonossos erros são gravetos

Retrospectiva (Abril de 2011) -- (florado)

(florado)
...se um dia venderei flores do meu jardim?posso dizer que simmastambém posso dizer que não é isso que me faz revolver a terra e molhá-la na esperança tanta de deixar um legado(florado)

Retrospectiva (Abril de 2011) -- Construção

Construção
...muitos não entendem...maisimportante do que vender rosaséconstruir um jardimrepleto de flores-esperançade dores tantasque só eu sei quanto custou começar

Retrospectiva (Abril de 2011) -- Numéricos

NUMÉRICOS
(feliz): 1, 1, 1, 1, 1
(infeliz): 1/2, 1/2, 1/2, 1/2

(criança): 2, 3, 6, 10, 4...
(adulto): 1, 2, 3, 4, 5, 6.
(velho): ...1..., ...2..., ...3...


(executivo): 1+1+1+2,5=5,5.
(advogado): 1+1+1+2,5= cinco (meio).
(poeta): 1+1+1+2,5= cinco histórias e meia vida.

Retrospectiva (Abril de 2011) -- Obra de arte

Obra de arte
...aquele objeto que te faz pensar durante o susto de tê-lo descoberto

Retrospectiva (Abril de 2011) -- Lunático

Lunático
um amigo matemático
exato
na sua percepção
não disse
mas pensou:
o mundo é dos lunáticos

o mundo é de quem descreve o voo do beija-flor

Retrospectiva (Abril de 2011) -- Juventude

Juventude
prisão num corpo
a velhice prova isso
enquanto novos desconhecemos o sufoco o oco do toco não nos atinge
enquanto novos há a vertigem da juventude tudo podemos tudo criaremos tudo tudo é nosso não há derrotas é essa sensação de vitória a verdadeira ilusão da vida

Retrospectiva (Março de 2011) -- refrão

refrão
o rio de janeiro continua lindo...

com copa e olimpíadas
estamos num mar de fumaça cinza
narizes poluídos de esperança
medalhas para quem?
se o alfinete já está em mim?
enfim
só nos resta acreditar no refrão do Gil

Retrospectiva (Março de 2011) -- A casa

A casa
um garoto morava na casa que o avô construíra pintada com as cores do seu time de futebol após vários anos sendo retocada inclusive por seu pai se viu num dilema depois que um estádio do time adversário fora construído ali em frente...
reclamava?
se mudava?
ou repintava a casa?

Retrospectiva (Março de 2011) -- Mundo cinza

Mundo cinza
alma
azul
porque
blues
toque
no mundo cinza
dum homem cru

Retrospectiva (Março de 2011) -- De memória

De memória
...sempre desejei sentir...e agora sintoninguém me contousinto o desamorquase rancordesses que se esqueceram da saudadedesses muitos que perderam a mocidade e que por isso não querem lembranças não querem esperar a esperança crianças-adultas desmioladas acossadas pelo frenético ritmo dessa vida desassistida dessa vida perseguida pelo ócio tédio de esconder-se do espelho caras sem reflexo porque sem cheiro da coragem necessária para viver preenchido de memória

Retrospectiva (Março de 2011) -- Sereia

Sereia
na praia vazia
o vento conversa com o tempo
tanta areia
arremessada
contra meus tímpanos
que confundo areia
com sereia
de olhos quase fechados
me oriento ao atravessar a rua pela simples vontade de voltar para casa

Retrospectiva (Fevereiro de 2011) -- Jorge Teillier, poeta chileno

JORGE TEILLIER, poeta chileno
"El poeta es un marginal. pero de esta marginalidad y de este desplaziamiento puede nacer su fuerza: la de transformar la poesía en experiencia vital, y acceder a otro mundo, más allá del mundo asqueante donde vive. El poeta tiende a alcanzar sua antigua "conexióon con el dínamo de las estrellas", en su inconsciente está su recuerdo de la "edad de oro" a la cual acude con la inocencia de la poesía..."

"...El poeta es el guardian del mito y de la imagen hasta que lleguen tiempos mejores...".


"...Y de nada vale escribir poemas si somos personajes antipoéticos, si la poesía no sirve para comenzar a transformarnos nosotros mismos, si vivimos sometidos a los valores convencionales. Ante el "no universal" del oscuro resentido, el poeta responde con su afirmación universal.".

Retrospectiva (Fevereiro de 2011) -- Enrique Lihn, poeta chileno

ENRIQUE LIHN, poeta chileno
"...Todo esto en el entendido de que el arte se entiende con la emoción y los sentimientos, directamente, mano a mano; en tanto que las ciencias, por antropológicas o sociales que sean, reducen -- aunque se admita con Eliot una poesía despersonalizada y antisentimental -- el papel del experimentador, manteniéndolo en lo posible, al margen del experimento.

E em nota cita T.S.Eliot: "La poesía no es dar rienda a la emoción, sino un escape de la emoción; no es la expresión de la personalidad, sino un escape de la personalidad. Pero, naturalmente, sólo aquellos que tienen personalidad y emociones saben lo que es desear liberarse de estas cosas.".

Retrospectiva (Fevereiro de 2011) -- Nicanor Parra, poeta chileno

NICANOR PARRA, poeta chileno
...A mí me parece que el sexo es lo que hace marchar el mundo. Alguna vez me han preguntado qué es lo único que queda en pie en esta hecatombe de la antipoesía. Realmente quedan muchas cosas en pie. Por lo menos una muchacha desnuda que se lanza de cabeza a una piscina. Eso queda realmente; eso es algo intocable; es un misterio para mí indescifrable..."

Retrospectiva (Fevereiro de 2011) -- Num tempo

Num tempo
entro num tempo só meu tempo em que tudo ainda não nasceu está só no começo de um pensamento

Retrospectiva (Fevereiro de 2011) -- Estatura

Estatura
Cultura
é
a
estatura
que
o
homem
alcança
ao
explicar
para um
estrangeiro
porque
as
pessoas
do seu país
não se matam

Retrospectiva (Fevereiro de 2011) -- Respiração

Respiração
difícil definir amor?

olhos abertos esperando a última gota de saliva
mãos cansadas de alisar cabelos presos em dentes
pés retorcidos precisando de massagem urgente
mentes paradas no tempo de uma respiração

Retrospectiva (Fevereiro de 2011) -- Filhos-livros

Filhos-livros
nossos filhos
ensinam aos outros quem somos
mostram valores
dores e sabores
explicitam nossos pensamentos
livros abertos
nada discretos
do que sonhamos

Retrospectiva (Fevereiro de 2011) -- Encapelado

Encapelado
cinza mar
encapelado
barcos ancorados
nuvens desenhando
imagens sem nexo
braço
cinza encapelado
nuvens sem nexo em imagens ancoradas em mim

Retrospectiva (Fevereiro de 2011) -- Em sal

Em sal
indignado
nado
em sal
ilusão
em ondas
ilhas
secretas
deserta
sensação
de pertinência

Retrospectiva (janeiro de 2011) -- Fortuna

Fortuna

fazer do lixo
flor
fazer do cinza
cor
fazer do átomo
cultura
fazer do escracho
fortuna

Retrospectiva (janeiro de 2011) -- Carnavais

Carnavais
fantasmagóricas certezas
de carnaval
passaram por aqui
em vendaval
roupas coloridas
pestanas insanas
canas caianas
valenças
de alceus
onde estão os orfeus
os moreiras
os carlinhos
onde estão os passarinhos
onde estão os carinhos
onde estão nossos antigos carnavais?

Retrospectiva (janeiro de 2011) -- Combinações

Combinações
...e a vida segue pequena e finita segue linda porque com poesia entendam não há como parar de vivê-la e tê-la todo dia é minha maior emoção ao acordar rio e procuro o mar para começar a embalar meu dia de azul o fundo da piscina limita meus sonhos pinta de azulejos brancos o tanto de imagens que trago afinal de contas poetas são pintores frustrados

Retrospectiva (janeiro de 2011) -- Schiller

SCHILLER
" O poeta independente não reconhece por lei senão as inspirações de sua alma, e por soberano o seu Gênio.".

Poema cotidiano com novo nome

gato

(esse, um segredo: escrever é a arte de curar cicatrizes com a saliva, mistura de perigo, angústias e lambidas, pode causar sérios danos ao cotidiano...)

enfeites

e agora que o ano novo chegou
o que faço com minhas promessas
penduro na árvore de natal ainda armada na sala?
ou
espero para embrulhá-las juntos com os enfeites
no dia 6 de janeiro?