sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Cristo

...se seu olhar pudesse...
pudesse equacionar problemas
nos fazendo acreditar no azul do seu céu
no verde do seu mar
se seu olhar pudesse destilar ódios
guardados há tanto tempo
ilhados em Angra
se seu olhar
pudesse agradar às barangas
de tangas que entopem o noticiário americano
se seu olhar
pudesse romancear as esquinas
de sexo e drogas
de Copacabana
se seu olhar pudesse nos mostrar
que ainda existe roque
que não seja universitário
se seu olhar
pudesse consagrar a melhor vista de suas bandas
(do outro lado da baía)
se o seu olhar pudesse desbravar as matas
da floresta esverdeada das nossas cabeças esperançosas
o dia a dia dessa cidade
maravilhosa
seria consagrador

redentor

piscada

...naquele início em que as certezas são quase nulas em que o medo quase anula a o primeiro passo da caminhada é o momento em que os amigos se qualificam no carinho de acreditar um olhar um sorriso o pouco de brilho de uma mísera piscada pode ajudar a coragem a bondade de uma to tão pequeno e tão grande ao mesmo tempo...

mais cedo ou mais tarde

olhando para trás
vejo
fraldas e chupetas
notas em cadernetas
professoras
sorrindo como se a vida fosse fácil
vejo
um arrastão de peixes em redes na praia de Icaraí
a noite demorava a chegar
e as luzes eram menos intensas
olhando para ontem
me assusto com a intensidade do frio
arrepiando minhas retinas
as meninas mais cedo chegam mais tarde
os meninos mais tarde descobrem o medo
olhando para trás
que já é hoje
o tempo não esconde a rapidez da minha desilusão

pirâmide

seocarapensasseassumissemelhordizendoquevaimorrerquenadaimpediráessefatodeocorrer
iria
poder
escrever
qualquer
coisa
sem
nenhum
tipo de
preocupação

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

TRÍPTICO

Secreto
letras
num poema
na esperança
de encontrar
olhos de flor
olhos de amor
a dor não esconde um poema


Secreto
letras
na esperança
imensa
de encontrar
olhos de flor
olhos de amor
a dor não é secreta
num poema


Secreto
letras
letro
na esperança
tanta (tonta)
de encontrar
olhos de flor
olhos de amor
não se esconde a dor num poema

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

INGE MORATH, fotógrafa

"Antes de iniciar um projeto, quero conhecer o seu contexto, mergulhar na sua civilização e aprender pelo menos os princípios fundamentais da sua linguagem. Tenho depois mais liberdade para chegar ao que Cartier-Bresson chama a atitude decisiva do fotógrafo. Ele tirava as fotografias com um olho aberto, observando o mundo através do visor, e outro fechado, olhando para a sua própria alma".

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Letra

Amor é sexo
sexo é amor

Amor é sexo
porque amor sem sexo é amizade

Sexo é amor
amor é sexo

Sexo é amor
porque sexo sem amor é vida sem arte

Arte é amor
amor é arte

Arte é amor
porque arte sem amor é inverdade

Arte é sexo
sexo é arte

Arte é sexo
porque arte sem sexo é vacuidade

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

violino

ouço passos esses passos impressionantes sou eu
eu enquanto chuva enquanto solo enquanto choro
enquanto morro
do amor mais sublime me encontro
comigo
em instantes me socorro das cordas de um violino
que range palavras de desespero
espero
espero o acorde que irá me lembrar de quem fui

domingo, 25 de setembro de 2011

pipocas

...teve dias que eu cheguei a escrever durante vinte horas como suportei? quem disse que suportei me enfiei em mim e tracei as vísceras como pipocas no cinema fiz um filme com minha memórias

trouxa

toda vez que me lembro de ter demorado a começar me vem uma raiva raiva não de ter demorado raiva de ter ficado parado esperando não sei o que uma ligação do tico com o teco tlavez um neurônio com choque para ligar uma coisa a outra uma trouxa de roupa para me dar vontade de me livrar de mim

o eco

o eco é o som de um começo aprisionado?
ou
o eco é um começo preso por não ter se efetivado?

divertido

se leio
melhoro o pensamento
não sento
sinto
não meço
minto
(para mim)
que é só divertimento

matas

as folhas das páginas cortam mãos como cortaram as matas

careta

...arrepio em letras
me livro dos fantasmas
fazendo careta

Oração do Rock, por VICTOR COSTA MACHADO,

Victor Costa Machado
ORAÇÃO DO ROCKRock nosso que estais na veiaMuito escutado seja vosso soloVenha a nós o riff inteiro Seja feito barulho a vontade ... ... ... ... ... Assim em casa como nos shows Musica boa de cada dia nos daí hoje Perdoai nossas loucuras Assim como perdoamos os pagodeiros e sertanejosCom aquelas músicas horríveis Não nos deixeis cair em funk carioca E livrai-nos do axé AMÉM

sábado, 24 de setembro de 2011

parado pensando

a vida é simples assim:
tem hora de bater e hora de apanhar
tem hora de querer e hora de descansar
tem hora de correr e hora de andar
tem hora de arrefecer e hora de voar

mágico

...enquanto eles mancam
encanto
enquantos eles mancam
espalho
enquanto eles mancam
mágico

V.I.P.S.

Vultos
Inspiradores de
Pessoas
Suficientes (em suas nossas incertezas)

elementar?

Os menos seguros adoram os sinais...gráficos. Servem a eles como eles deveriam seguir as regras gramaticais. Ocorre que, a vida real é mais complicada, a dinâmica do momento presente muitas vezes impede o aperfeiçoamente do regramento. E aí como ficam os artistas-leitores desacostumados a pensar de um modo mais abrangente? Saberão completar as lacunas? Saberão inventar algum dado complementar (elementar)?

suado

diviso uma saída divina, simples, cínica, sendo sua saída, suo, sigo sendo seu

, ideias,

ideias, entre virgulas, separam expectativas, dignas, divas, cínicas

ogro

morgo
ogro
logro
ogro
morfo
ogro
logo
ogro
sogro

nuca

...o sabor da aventura?

beijo molhado na nuca!

aventureiro

bananas de bananeiras
maçãs de macieiras
letras de letreiros
poemas de aventureiros

brilho

...ando num carro sem faróis o brilho do céu ilumina meu caminho de estrelas

paixão

poetas cultivam, no chão, a solidão
por isso
o céu é uma paixão

trapos

trato com o chão escritores são trapos de pão salgados estragados pelos fados

nosotros

nos outros vejo
rugas, defeitos
se são meus são trejeitos
secos
um pó de pouca importância
num louco de dessemelhanças

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

pastel de ventos

o tempo
traz a verdade
(a saudade)
opiniões vazias
sem experiência
são vaidades
pastel de argumentos e de ventos

esferográficas

folhas
esfolam
imaginações
devotas
pensam em letras
gozam
em palavras sussurradas
surradas
capas
de chuva
clamam por gotas
de esferográficas

descida

argumentos
não são para instituir um vencedor
servem
para nos mostrar o caminho menos sofrido da descida

bócio

já ouvi
que
escrevo
sobre o óbvio
o ócio
também existe
e
quem
admite?

cheiros

admito
me vejo inteiro
se sou grande?
inteiro!
pequeno?
inteiro!
melhor ou pior?
inteiro!
não me envergonho dos meus cheiros

cara limpa

o poeta
é aquele
que se arrisca
de cara limpa
entre o o céu e o inferno
o escritor
o que se esconde
atrás dos personagens

seguro

...ninguém segura a vida...
um
livro
é apenas
parte
de uma história vivida

com talco

o nostálgico é aquele que tem tempo de lembrar dos fatos do passado por estar parado

leve livro

a leitura de um livro deve ser leve os ensinamentos ali registrados são néctar vivido pelo escritor ninguém aprende com alheia dor

Chiado Editora

Agradeço a todos que, de uma maneira mais ou menos explícita, me fizeram ter vontade de escrever. E isso se dá por estar comemorando a assinatura de um contrato com a Chiado Editora. Empresa de Portugal que irá distribuir meu próximo livro chamado "RASCUNHOS POÉTICOS" no Brasil, em Portugal e em toda a Europa.Beijos aos amigos que sempre me prestigiaram e, porque não dizer, me aturaram falando de poesia muito mais do que eu deveria e muito menos do que eu poderia.

de fado

olhar de fado
(cansaço)
costume de continuar tentando

tentativa
é
sopro de vida

amadores

a insistência
(com ciência) é uma chatura branda
ranhadura mansa
que mais esculpe do que inferniza
se todos escolhessem algo para (se) decorar não haveriam tatuadores profissionais

num canto

num canto
meus filhos me vêem sofrer ao escrever
fora daqui
vêem risos esquisitos
de não entender
que escrever é registro do possível sorriso

esforço

seres
ovo
larva
bicho
(livro)
esforço
borboletra

susto

Deus me livre!
Deus
me livro
de tudo que possa me perturbar
não preciso de ajuda para me assustar

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

riscas

a liberdade é um vício
pulo em precipício
estrela cadente querendo brilhar
riscas em livro se transformando
em experiências

mesquita

a ira da língua irrita excita esmiúça a desídia incide...

mesquita

o ser

em alguns meses as coisas aconteceram e nasceu em mim um novo sentimento de querer continuar um ano como essa em que perdi o ser que me gerou foi de uma dor tão plena que achava que iria parar

Garrincha

...quando penso em artistas penso em Chaplin Picasso Garrincha
desculpe desconheço seu apreço por Chapolin Gugu Tiririca

jumento

...e quem disse que artista é doido ou coisa parecida não confunda bunda com funda razão de viver e mostrar o motivo de ainda estar vivo não confunda enfarte com arte não confunda televisão com visão não confunda pensamento com jumento

ArtE

Arte até marte mate enfarte

Dungas

...e acaba sendo assim, os temperamentos dos anões de Branca de Neve demonstram quem somos:
felizes
dengosos
zangados
mestres
atchins
dungas ou
sonecas

C.O.U.R.O

Certo
Ócio
Único
Ruim quando é com os
Outros

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ciência

espero tanta coisa...
espero um pouco de paciência
ciência de acreditar
em passos que me permitam realizar
alisar minhas vontades
criar saudades

quedas

quando árvores choram, folhas caem
quando folhas choram, pássaros caem
quando pássaros choram, sonhos caem
quando sonhos choram, homens caem

espantalho

roto
rosto
esfarrapado
sem amigos
sou
um troço
um espantalho
em andrajos
ando e não me vejo
falo e não me percebo

amido

AMIDO!

amigos são amido
fazem crescer tudo
o bolo, de coco
o louco, de santo
o beijo, de fanta
a boca, de manga

uma esperança

o tempo
é uma esperança
espero que o hoje
se transforme em futuro
espero que o ontem
não me impeça de sonhar

o centímetro

não me assuste
não preciso de ninguém me vendendo medo
o centímetro desse sentimento
eu já tenho
não preciso de ajuda
mesmo

hojes

Hojes, hojes
vamos aproveitar os dia de hojes
está cheio o dia está cheio de hojes
o dia de hojes está cheio hoje

Tr aço

Tr aço

M aço

L aço

A ço

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

vírus

oventonorostoumavisoprecisotudopodeevaimelhoraramedicinasabeondepodeatacaremelivrardessesvírusdejuntarletras

olhos rasos

um choro
(de violino)
fino
feito
chuva
fraca
rápida na inconstância
na fragrância de chão
olhos rasos
procurando razão

segredos

em nervos
enervado
pelos fatos do passado
magoados
sem futuro
num homem escuro de tudo
sem fruto
com medo dos seus segredos
presentes

salvo

a despedida
não nos livra do passado
transforma-o num presente
datado
cujo futuro sou eu
salvo

saltos

poesia não é nada
é tudo ao contrário
é mundo em que cabeças saltam de olhos querendo bocas
loucas de tanto suar
saliva de palavras
benditas

um jazz

ouço um jazz tomando um sorvete ouço um de repente

ser pente

sempre a serpente mente para a presa sem pressa se enrola se esmera em serpentear ser pente ser tear ser serpente ser sempre pente e tear sem serpentear se pentear a serpente somatiza solidões

augusta

os ponteiros do relógio não fazem música
tocam e todo toque é forte para meu coração assutado
ouço os segundos gritando
e do meu lado acabam depois de horas de angústia
augusta vigília

(entendimento)

...(de difícil entendimento)...
a imensidão do silêncio cobra seu preço
tento o tempo todo tento
descobrir o segredo
o som da última gota de palavra
que me derrotou

domingo, 18 de setembro de 2011

aquiles

aquele mundo
aquele mudo
aquilo tudo
que me fez calar
aquele outro
aquele troço
aquilo fundo
que me fez pensar
em parar
em parar
de olhar
para
atacar
o problema

mudo

quanta injúria num céu sem estrelas
mudos planetas esperam as luzes brilharem
refletindo seus milhares de corpos em uma distância ardida de cinema
mudo
espero um cometa mudar minha direção

enfeites

lá fora o sol já se foi
e a noite tenta chegar
acanhada ainda não sabe que lutei para trazê-la para com as estrelas enfeitar meus poemas

pas sado

tanta coisa ficou para ser dita
tanto se pensou
tanto
e no entanto
nunca será dito
nunca mais será escrito
o momento passou
o passado se consolidou

o processo

é lento
é certo
é ferro
o processo
se insere
interfere
no indivíduo
aflito
arrisco
com suas
nossas imperfeições
são concretas
são corretas
no rascunho de nossas ilusões

do esgoto

absolutamente
a mente luta
extraordinariamente
e sempre
mente
para si para mim para nós outros
ratos do esgoto de nossas mentiras deslavadas que correm em águas atávicas

nado

parem
parem de tentar entender
escrevo para esquecer
não perder tempo
tentando explicar
é o que desejo
me deixo levar
nada
nada
a maré em mim nada

entupidos

olhos me olham
tentando entender minhas rugas
sugam
o açucar
que ainda escorre
em goles desejam
enormes
quantidades
desejam entopem
seus pensamentos

salgado

em idades
a carne salga
vem da alma
a vontade
de sentir
tudo
o que
me expremir

Capítulo 4 (parte do Ensaio SILÊNCIO OLHAR AZUL)

Num livro de um crítico de literatura li que a pedra no caminho de Drummond era na verdade as dificuldades que todos temos na vida. Que tudo que nos aflige é a pedra no caminho.
Mas, refletindo, poeticamente, afirmo, a pedra, as pedras no nosso caminho são as perdas que temos durante a vida. Aprendi isso sofrendo na carne. Ninguém me contou.
Quando da morte do meu irmão, comecei a descobrir e agora, com a morte da minha mãe, esse sentimento se consolidou.
Vamos ao poema do mestre de Itabira.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Não há possibilidade de esquecimento. As retinas fatigadas são os olhos azuis cansados da vida cinza de perdas. De pedras.
O poema mais famoso em língua portuguesa talvez o seja por exalar perfume de destino. Todos estamos fadados a conviver com esse sentimento, o da perda, como uma pedra no caminho. Nosso destino é levar a pedra (a pedrada) até o final, que não sabemos quando será, que não desejamos, mas sabemos, que temos de carregar, as pedras fazem parte da nossa rotina, retinas?
E por que as retinas estão fatigadas?
Cansadas de tanto conviver com as pedras, as perdas! É isso e disso termos de tirar o fôlego para continuar...Difícil...Diante de tal desafio como nos comportaremos? Paramos, insistimos ou voamos para longe de quem somos?

domingo, 11 de setembro de 2011

Conto Voem e Noel (adaptado de trecho do Romance OLHOS DE PICASSO)

Tinha para mim isso como verdade. Nunca escreveria um conto. Até hoje não sei sua diferença para crônica. Como iria escrever? Mas...queria contar um pouco da vida de dois velhinhos que conheci não faz muito tempo. Quando começamos a tratar, ambos já estavam com mais de setenta. Na verdade, um com setenta e um e o outro com oitenta. Anos de amizade proporcionaram uma intimidade que era reconhecida pelas homéricas brigas. De copo d'água à hora do almoço, do ônibus errado ao troco do cafezinho. Brigavam por tudo, mas quando o mais moço morreu o mais velho me contou o que irei transcrever agora. Parte de uma história de amizade bonita toda vida.
"Voem me olhou emocionado e passou a falar, sem parar, durante uma hora e meia, só fez falar e chorar.

”Sinto saudade de um, dois, feijão com arroz, três, quatro, feijão no prato, cinco seis, feijão outra vez, sete, oito, quero biscoito, nove e dez, começa outra vez.
Sinto saudade do tempo em que meu pai me obrigava a esperá-lo voltar do trabalho para recitar poesias que ele tinha feito com a barriga no balcão da farmácia.
Sinto saudade da Mariazinha do bole-bole, peitinho duro, boceta mole, o galo canta meu pau levanta a vaca berra meu pau enterra.
Sinto saudade do cheiro do arroz que minha mãe fazia. Comia, comia, comia sem parar, era de chorar!
Sinto saudade do pirulito que bate, bate, pirulito que já bateu quem gosta de mim é ela, quem gosta dela sou eu.
Sinto saudade dos amigos que já se foram, das peladas na praia, do basquete no clube, das caçadas de passarinhos, coitados prendíamos os bichinhos e ficávamos bobamente alegres.
Sinto saudade de eu vi uma barata na careca do vovô, assim que ele me viu bateu asas e voou, Do,ré,mi,fá,fá,fá do,ré,do,ré,ré,ré do,sol,fá,mi,mi,m,i do,ré,mi,fá,fá,fá.
Sinto saudade de primeiro time é meu segundo time é teu, Andaraí no seu gramado, bola pro mato que o jogo é de campeonato.
Sinto saudade das noites de seresta em que ouvia minha mãe cantar várias músicas da Maria Creusa.
Sinto saudade de escravos de jó, jogavam caxangá, tira, bota, deixa ficar, guerreiros com guerreiros fazem zig, zig, zá..
Sinto saudade da calçada da praia das Flechas.
Sinto saudade do Huguinho, do Zezinho e do Luisinho.
Sinto saudade de Fé, Tête, café, fedo, Fred, Fernandes.
Sinto saudade da canoa virou, por deixar ela virar, foi por causa do Zezinho, que não soube remar...
Sinto saudade da gangue, do Gaguinho, do Bruninho, do Cláudio, do Osvaldo e da Betina.
Sinto saudade do Pai Francisco entrou na roda, tocando seu violão, paradão, dão, dão. E vem cá seu delegado e pai Francisco foi para a prisão Como ele vem todo requebrado, parece um boneco desengonçado.
Sinto saudade do coração de Boceta, do capitão Buraco, do Burackson Five.
Sinto saudade do sapo não lava o pé, não lava porque não quer, ele mora na lagoa, não lava o pé, porque não quer.
Sinto saudade do Ratonildo; do Dudu, Piru e do Carlinhos.
Sinto saudade do meu pintinho amarelinho, cabe aqui na minha mão, na minha mão. Quando quer comer bichinho, com seu pezinho cisca no chão. Ele bate as asas, ele faz piu, piu, mas tem muito medo do gavião.
Sinto saudade de jogar bola e sair na porrada.
Sinto saudade das meninas de saia.
Sinto saudade de torce, retorce, procuro mas não vejo, não sei se era pulga ou se era um percevejo. A pulga e o percevejo fizeram uma combinação, fizeram uma serenata, bem debaixo do meu colchão.
Sinto saudade do cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido e a rosa despetalada. O cravo ficou doente e a rosa foi visitar. O cravo teve um desmaio e a rosa pôs-se a chorar.
Sinto falta de atirei o pau no gato-to, mas o gato-to não morreu-rreu, Dona Chica-ca admirou-se-se do berro, do berro, que o gato deu. Miau!
Sinto saudade da pouca idade, da intensidade que a ingenuidade permite, ver em olhos de piques a vida pulsando a vida me chamando e eu sem medo gritando amá-la.
Sinto saudade de como pode o peixe vivo viver fora da água fria? Como poderei viver? Sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia?
Sinto saudade do meu filho e da minha nora que me deixaram num momento delicado, me deixaram com dois anjos para cuidar.
Sinto saudade da inteira coragem que tive que ter para cuidar da Bela e do Rique.
Sinto saudade do alambique do meu vô, que em vão tentou me dar um pouco da branquinha que eu recusei por não saber como dói uma recordação.
Sinto saudade de ir ao Maracá com meu tio.
Sinto saudade do cai, cai, balão, cai cai, balão, aqui na minha mão. Não vou lá, não vou lá, não vou lá, tenho medo de apanhar.
Sinto saudade de tomar banho na banheira da casa de minha vó Diva, para os íntimos, ou gordinha, para meu pai, ou Divanaghy, para todos.
Sinto saudade da minha outra avó Arlete, que era apaixonada por mim e por gim, uísque e outros destilados, a velha era animada e brincava comigo de tocar instrumentos nas minhas costelas.
Sinto saudade de marcha soldado, cabeça de papel, quem não marchar direito, vai preso pro quartel. O quartel pegou fogo, Francisco deu sinal, acode, acode, acode, a bandeira nacional.
Sinto saudade do som das panelas na casa da minha tia Ana, todo ano íamos para São Pedro da Aldeia, e faziámos a maior bagunça.
Sinto saudade do salgueiro entrando na avenida, com meu tio Quincas.
Sinto saudade do mundo, do quadro de Drummond, do menino-passarinho Quintana, do sacana do Vinícius.
Sinto saudade do alecrim, alecrim dourado, que nasceu no campo sem ser semeado. Foi meu amor, quem me disse assim, que a flor do campo, é o alecrim.
Sinto saudade de tudo o que poderia ter escrito mas fiquei com preguiça, medo, sei lá.
Sinto saudade da voz do poeta Tiago de Melo.
Sinto saudade do cello de Jaquinho.
Sinto saudade do poema que meu irmão leu em homenagem ao meu pai e que agora não me recordo...Perái, lembrei:

um poeta não precisa escrever ter a capacidade de antever sofrer de amor escorrer lágrimas por amizade parecer desatento mas cuidar de longe, alisar os cabelos do pai mesmo que por palavras não ditas, não escritas um eu te amo num simples:”oi, pai!”

Sinto saudade do Ginho.
Sinto do menino que fui!”.

Aí, emocionado, falei. Eu também sinto saudade, sinto saudade tanta coisa...principalmente da casa que foi meu abrigo, da casa onde vivi com minha família e que o vício me tirou.

Essas sombras que invadem minha sala...São flexões do meu corpo? Ou ações da luz que incide contra mim...Um rastro de tão pouco...

Vendo um jardim da sacada (nada me escapa): as abelhas,
as moscas, os mosquitos se divertem com um carrossel colorido de cheiros e ilusões...

Uma flor sendo cortejada pelo beija-flor que a trata vendo alimento e amor, vendo carinho e a dor de perdê-la, no primeiro bater de asas...
Sob o sol, carências serão reveladas, as árvores da inveja desprenderão folhas e sementes de discórdia, de desatenção...
Depressão por saudade, por vontade de fazer algo, sem ter coragem
Só nos resta arrancá-las, produzindo clarão na nossa floresta de desilusão.

Dentro de mim tenho a vida, os rios, as montanhas, a ferida,
o óbito, a felicidade, os óculos, a mentira, a flor, o maluco...Não me importo com o antes ou com o que virá...Me vejo com tempo para aproveitar. Dentro de mim tenho o mundo a girar, sou cachorro latindo,
menino pedindo, mãe chorando de felicidade, velho namorando a feliz idade, sou o bobo, freirinha namorando o Senhor, acelero a dor da descoberta, sou bombeiro, sou novela, Saavedra de aventuras, sou fartura, sou cisterna cheia, que é vida ou morte, Severina sem sorte
de conhecer seu Romeu, Julieta sem julho, agosto sem outubro,
Sou seu tudo e nada também, setembro sem vintém...enfim...
Tudo está aqui, dentro de mim!

Se eu fosse poeta esqueceria as regras e me prenderia aos sentimentos. Enrolaria breves momentos ao tecido fino da memória
e nunca mais me esqueceria de mim...

...ser poeta...Ser poeta é enxergar poesia na vida. É antecipar o canto do pássaro, inventar o nascimento do pássaro que ainda não cantou, é transformar o canto do pássaro no canto das coisas que ainda estão por acontecer. Ser poeta é voar para viver, viver inventando o sofrer, reinventando-se para tecer com fios de ouro o imaginário do leitor, ajudá-lo a pisar num chão de estrelas caindo, subindo, fingindo não ligar, para tocar o céu com as mãos. Ser poeta é ser deus numa fração, transcender às primeiras intenções. Sou(l) poesia?



Caralho, Noel! Você é um puta poeta!, disse Voem emocionadíssimo!".

Se isso é um conto não sei, mas contei!

torcidas

o jogo se desenvolve
em times que desconhecem as cores da paixão
todos esperam o fim da partida
para iniciarem-se em orgias
torcidas

com fissões

onde estão as palavras proibidas?
sinistras?
esquisitas?
monolíticas?
onde estão aquelas a quem cobrirei com confissões

aventuras

as palavras cortam como o frio de hoje a tarde
cada vez me interesso menos por tudo à minha volta as letras me sugam formam grossas dobras da espessura de aventuras

estrume

em algum lugar
nesse momento
alguém está
querendo mudar de vida
sem saber que nada muda
tudo pó
tudo sólido
tudo cheira
a
estrume de árvore

é só chorarmos

lâmpada

a palavra se gasta
o gesto tem tempo
tudo tem seu mínimo detalhe
o olhar tem encaixe
perfeitos
quando sabemos escolher a hora certa
gênios da lâmpada
ideia

inspiro

andando pelas ruas
num domingo escuro e frio
me dei conta
dum arrepio
que me inspirou a pensar
que o maior problema da vida é não saber respirar

sangro

alguns poemas me dão raiva
saem sem que eu queira
têm
asas

alam por aí

sem a minha presença

algumas vezes cansam

sangram-me sem saber

assado

opino
o pino
fino
deveria
estar
assim
ou
assado
de lado
de banda
de franja
de santa
o pino
sangra
simples assim

assado

lápis

rosto
nasce
cinco
minto
cores
papel
fruta
muque
livro
chute
poema
truque
pinto
lápis

toco

tico
teco
meço
eles
fico
mico
peço
mofo
moto
toco
fogo
subo
toco
maçã

usa

edu
usa
eco
oco
uso
asa
til
ato
mil
mio
fim

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

verdes dilemas

a terra é azul
e eu com isso!
os marcianos estão verdes de saber disso
e não resolvem a porra do problema
apareçam homenzinhos estranhos
nos salvem dos nosso terráqueos dilemas!

raivoso

nessa vida tudo acaba sendo feito com raiva
raiva dentro de mim
raiva fora de ti
raiva por querer e não ter
raivar por temer
raiva pela pequena quantidade de inteligência para saber
raiva pela grande quantidade de pequeneza
raivoso
escrevo
raivoso
padeço
raivoso
esqueço

de você e de mim

R.A.I.V.A

toda arte vem da raiva

R
Ara
Idade
Viciada em fazer
Arte

terça-feira, 6 de setembro de 2011

pés de pato

a qualidade rara
de uma piscina farta
de águas azuis
exerce uma atração farpa
na minha falha chata
de ser observada
com pés de pato
crus

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

domingo, 4 de setembro de 2011

super-HUMANOS

a visão de raio x do super-homem
é a visão de todas as nossas dificuldades em exergar-nos
como somos humanos
super-HUMANOS

status quo

alguns detalhes de tintas
escapam às minhas retinas
preocupadas que estão em manter o status quo

FrANS

desejo
a coragem do artista
que espera a folha cair
o galho retorcer
que espera as rugas
aparecerem como sinal de vida

Krajcberg

os livros ensinam?
apenas partes
entalhes do tronco
galhos de árvores
peças para artista plástico
paciente esperando a natureza lhe doar alguma sobra de vida
algumas folhas acabam em feridas

ouro de tolo

espremidos pelo tempo
seguimos
rodando em argumentos
normalmente torpes
enganos de amadores
(quem leu o manual de viver?)
os mais afoitos
interrompem coitos
para tentar convencer os outros
como se todos fôssemos tolos

o ouro é só para quem quer tentar descobrir a direção dos nãos

sábado, 3 de setembro de 2011

o carvão

à medida que as letras vão alcançando o poema os olhos desatentos passam a sofrer com o tempo em que as verdades falhas vão sendo mostradas torcendo para que o poeta mostre seus erros esquecendo que são nossos erros o carvão para as letras que solitárias seriam apenas grãos sem chão sem vento sem sol sem momento

perto do álcool

choro, xingo, arroto, minto
pinto, coço, livro, poço
não me importo com opinião
acendo o fósforo perto do álcool para ver suas lágrimas gratas pela desculpa esfarrapada

ENfarTes

Enfartes
artérias entupidas de pessoas entupidas com as dificuldades advindas com as besteiras adquiridas com a idade

ArTes

Artes
feitas com as mãos
faço a parte que me cabe
o todo coube no colchão
faço tarde mas faço
não fico invejando solidão

PArTes

Partes de um todo formam um conjunto
explodido por um poema absurdo

adubo

enquanto fingimos desconhecer nossos absurdos ansiando sermos fruto o futuro nos aproxima cada vez mais rápido do adubo

os futuros

enquanto comem, bebem e mentem
alguns dormentes esperam para sempre que a saudade passe grande bobagem a saudade somos nós presentes desejando os passos mal dados temendo os frutos de nossos absurdos

bobagem

até quando terei de explicar que ainda espero ter muita saudade das minhas bobagens?

figuras

as figuras rupestres, primeira esperança
o escuro da caverna não gera saudade?

saldade

de qualquer forma alguma sobra de sentimento estabelece uma esperança de que tudo o que foi vivido continue gerando a fruta de sal, árvore de idade

nativa

sussurro palavras de sal
canto a esperança
nativa

ardência

onde estão
as letras da palavra
esperança?
como me livro da ardência escrita em saudade?

batida

não é ao tempo a que se referem
esperança e saudade
têm como diferença
a possibilidade da visita
a esperança tem de ser convidada
a saudade entra e bate


instantânea

todo dia preciso me lembrar de rezar
pedindo paciência e esperança
a oração da saudade é instantânea

salgada

se a crença no futuro é esperança e o sal dos passos da idade é saudade
hoje
é uma crença salgada?

plano

a esperança é uma saudade acreditada

saludo

espero a saudade do passado passar
para curtir a esperança de saber crer saudar o novo dia

salgado

se saudade é o passado sendo desejado
e
esperança é a crença no futuro
por que me salgando continuo acreditando em mim?

absurdos

...e não há porque ter saudade aquela semente virou árvore seus frutos são mundos para nós outros: absurdos

saudade X esperança

solidão da lembrança
saudade
sal da idade
olhos voltados para trás
adiante há a esperança por dias melhores
dias sem idade?
dias sem saudade?

digestão

donde veio a fruta que muda está sofrendo uma mordida da vida? vomito perguntas na cabeça as respostas estão sendo mastigadas

o sol

reflexo do sol exagero de olhos miúdos o mundo é dos que não se furtam a espelhar a própria loucura ensolarada

alimentos

alimento-me do ensejo como a boca do beijo como o dente deseja fartura como os olhos desejam a culpa

Desvios

amigo
quando vir um carro, na Ponte, em zigue-zague
não se espante
é meu carro
desviando da saudade

carvão

uma caminhada sem azul
com cinzas de saudade
tudo arde
nem tudo que imita a vida é
arte
sendo capacidade de entrega
do presente
num futuro escrito
passado em ferro de carvão
pedras
da emoção verdadeira
miséria
em olhos fundos
do poço

margarido

prepare-se
amasse-se
transforme-se
escute-se
acostume-se
aprofunde-se
fecunde-se
margaride-se

trigo

o lugar mais perto do infinito
é dentro de um livro
a vida não acaba os conflitos são inícios os meios estimulam segredos e beijos sendo um norte um grão de arroz numa plantação de trigo

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

especiaria

borboletras
bourbon de letras
licor de cenas
especiaria de incerteza

RI(s)COS

coragem de viver a vida com todos os erres, os is, os esses, os ces, os os, os esses da palavra

R

I

S

C

O

S

essa a fortuna do poeta

em planetas

o tempo late em meus sofrimentos
exaspera-me
emperra-me
ajoelha-me
aglomera-se
em mim
que como única salvação
sento e choro em letras

estrelas em planetas

Imprensa do

as letras publicadas
ficam prensadas
durante horas...
pensas
que é fácil
se espremer para lacrimejar?

Pensamentos

"uma porção de buracos amarrados com barbante, rede" (Guimarães Rosa)

sal e idade, saudade
letras que voam com o simples objetivo de voar, borboletras
ranço de esperança tanta, esperanço
ver o mundo na velocidade de dedos digitando vida, teclusdigitus
pensamentos que refletem olhos rimados, pensamentos em movimento

artes, partes e enfartes

mistura frenética de vento e pretensões
o tempo não alivia
estimula tensões
letras e canções
são desperdiçadas
no intuito de estancar lágrimas espalhadas
pelas estradas desta vida ingrata em ser do jeito que é
sem perdão sem ilusão sem satisfação
por isso
sexo, drogas e roque em rou
por isso
artes, partes e enfartes

Dengos

"uma porção de buracos amarrados com barbante, rede" (Guimarães Rosa)

tempo
o tempo é um instante
entre
um beijo e um segredo
cedo
cedo é o tempo de um ensejo
deixo
deixo é um deixar com dengo
dengo é um barbante sem buracos, sem desterro

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

pequeninas

esquecido dos romances
voltei a escolher meu destino
menino
nessas pequeninas letras
que perfazem um poema

caraminholas

...às vezes é como se numa cidade dessas ninguém ligasse para o que pensamos e olha que todos pensamos apenas alguns ultrapassam o limite do risco e começam a mostrar as caraminholas

Caro Luiz Roberto

Caro Luiz,

Como agradecimento pelo apoio, competência e amizade, arrisco mostrar o manuscrito ("teclusdigitus") do Romance ESPERANÇO. Arrisco porque um romance, como manifestação da vida, nunca está completamente pronto e esse não seria diferente. Sempre pode ser modificado e essa é a humildade do autor que num ímpeto passou a escrever e num átimo deve entregá-lo aos leitores. Espero que você goste e espero, como sempre aconteceu, sua opinião sincera a respeito do meu "ranço de esperança tanta". Abraços, Marco.