quarta-feira, 30 de março de 2011

Desculpe, Bial

Desculpe, Bial
eu quase chorei com você
o problema foi o mesmo de sempre...
a Globo maquiando a verdade...
quando você se utilizou de cultura e memória para, citando Guimarães Rosa, comparar a pureza dos sentimentos do Coronel pela outra Maria pretendendo obviamente justificar a opção "inteligente" das telespectadoras pela simplória Maria, você Mariou...
Mariou quando quis nos maquiar (manipular?) comparando criação artística de alta envergadura com a edição de um programa que fazia despreparo parecer pérola filosófica. Lembro de ter ouvido que, por ser um jogo, o BBB poderia ter as regras alteradas, o que, em outras palavras, chama-se manipulação. Aliás, técnica bastante utilizada pela estação, vide o episódio da eleição do Collor x Lula, entre outros da nossa recente democracia.

Desculpe, Bial mas a mim você não enganou!

Palavras-cruzadas

pslmbcesopsplgfjdncmrpsol çagfdieumcoseropflcnzxisol solpçfgirtujybnposvdrctyul muyeoplçsdurimcoptahiwq mviergdomsoçeheobceuytçi çsetryuiopkjhgfdmrbvcxza qwertyuiopçlkjhgfdsahxcvb nbgrfedvyuhjnmklioplalwx bytghnmjuikolpçcdserwxoy

boca

...desejo o infinito como se fosse pouco... iludo meu destino me trato como louco pelo desfrute do gosto de fruta verde na boca

terça-feira, 29 de março de 2011

Universais

alguns sentimentos são universais e não é porque o cara leu ou deixou de ler determinado autor que escreverá melhor ou pior escrevo no limite das minhas experiências e dos meus desejos escrevo com erros e acertos que só a mim me pertencem escrevo com meus medos e coragens vistas adquiridas lidas até escrevo porque tenho que escrever

JACKSON (música)

os abafados se jactam em abafar X2

os abafados abafados abafados abafados abafados se jactam em abafar

se abafam me abafam nos abafam me abafam se abafam se jactam em abafar

sua menina eles acham os falantes uns safados retirantes difícil de acreditar X2

os abafados se jactam em abafar X2

os abafados abafados abafados abafados abafados se jactam em abafar

se abafam me abafam nos abafam me abafam se abafam se jactam em abafar

minha resposta para eles é a seguinte falo mesmo seus ouvintes com Jackson vou ganhar X2

Com Jackson vou ganhar

Freguesia

não quero ver
me nego a ver
não quero ver felicidade demais atrapalha não é preciso morrer mas é como se fosse necessário quase um sopro de morte para escrever alegria serve para forró axé ou qualquer migué poesia não se presta a tal papel e talvez por isso espante a freguesia

Desfrute

não uso
no qual
tal qual
não uso
sabonete
absorvente
não uso
abuso
desfruto

domingo, 27 de março de 2011

Monólogos

...com dificuldades...
com dificuldades todos lutamos todos os dias ao abrirmos os olhos soa a sineta o ringue é a vida engarrafamentos, muitos discussões, muitas empregos, poucos estamos roucos tentando nos comunicar ninguém ouve ninguém quer falar com a outra pessoa somos artistas solo no palco conversamos em monólogos

Gepeto

a cada passo
retomo o fôlego
acredito no futuro
cada passo é um caminho completo em minha ilusão esperta espeto o sofrimento não sabendo querendo me enganar que a vida vai melhorar que minha cara de pau se humanizará

Poéticas ilusões

...o bilhete da loteria...
...o bilhete na garrafa ao mar...
...a fumaça da ilha...
...a aliança no dedo...
...o sinal da cruz...

(ilusões poéticas)

Primaversos

tanto quis
que consegui
tanto tentei que me quebrei todo e estou torto escrevendo fogo pelas ventas tantas sendas tantas recordações que me esforço em monções em verões espero queimar sua testa em pensamentos primaversos

O outro

a vida não para
por que iria parar?

continuo a tentar te fazer
me enxergar
sinta o esforço
sinto o esforço
não nos conhecemos como conhecer o outro?

Anestesia

onde estão as palavras?

já estou parado aqui em frente faz um tempo!

onde estão os temas que me façam ter raiva e ter que escrever?

fome, hipocrisia, anestesia, vida...

sábado, 26 de março de 2011

Espesso

metáfora da vida
o mar
está sempre esperando
uma maré de despedida
uma onda de esperança
trazendo uma garrafa azul comum
com um pedido de socorro
um olhar espesso esperando uma nuvem espessa com chuva espessa

Artéria

esqueço
esqueço de mim
sim
de vez em quando
um humano som me absorve
quase entope uma artéria
venero a sério um barulho
curto
uma última declaração
choro
um som
mastigado
mitigado
farto em subliminares dificuldades
minhas dificuldades ardem
saem musicando a vida
sem sentido
sem medida

sexta-feira, 25 de março de 2011

sextetos

sangue sangue sono sangue sangue sono

sono sono sonho sono sono sonho

sonho sonho sangue sonho sonho sangue

Devaneios

as palavras
que formam o poema
são do poeta
no mais
todo o poema
pertence
aos mágicos devaneios
do leitor

Querer é...

querer não é poder

mas querer é acordar cedo malhar trabalhar voltar respirar andar falar pensar

e talvez conseguir

num tempo

o tempo é mesmo relativo...
num mesmo tempo
mato ou morro
caço ou corro
cacho ou soro
enquanto canto poderia estar
andando ou voando ou falando ou discando ou flanando ou
te amando...

porco

não gosto
evoco
um troço
arroto
pescoço
um pouco
remorso
entoco
farofo
um poço
troço
troco
porco

um ato

escrevo muito
e desse treino de vez em quando me surpreendo como se aquelas palavras tivessem sido levadas até a minha presença insistência escrever é como viver um ato de insistência que um dia de imediato acaba

joias

não procuro números
procuro verdades
desafios
que me levem ao próximo ano
próximo traço
palavras que definam quem sou
letras como joias
adornando solidão

O Artista

insano
um tanto
garboso
um pouco
irritável
termo exato
faminto
por instinto

Sanitas

a obra-de-arte
é o anúncio de sanidade (possível) do artista

Jurados

...diante de tantos fatos
que comprovam o acontecido no passado acho ótimo não ter que levantar questão acho ótimo que todos estejamos conscientes acostumados diria com a situação agora podemos nos concentrar em julgar...

refrão

o rio de janeiro continua lindo...

com copa e olimpíadas
estamos num mar de fumaça cinza
narizes poluídos de esperança
medalhas para quem?
se o alfinete já está em mim?
enfim
só nos resta acreditar no refrão do Gil

Estanho

estranho
pensar
agora
na palavra
estranhamente
seria
estranho com mente
estranho a mente de um estranho?
estranho
muito estranho...

mini-saia

ontem
estava tão absorto
sonhando com um mundo novo
que esqueci de escrever
estava tão animado em enganar-te
que me esqueci de me enganar
esqueci que aqui que é o lugar de sonhar
que aqui um caqui pode ser amarelo saído duma árvore roxa pendurada numa pouca roupa

mini-saia azul

Tombos

se sou difícil
por que teria uma carreira fácil?
se primo pelo deslize
posso querer agilidade?
quem está acostumado a levantar de tombos
sabe cair?
ou é preciso sorte para continuara a existir?

quinta-feira, 24 de março de 2011

arrulhos

quem semeia chuva colhe amargura...

insisto em ouvir
o canto dos pássaros
a gota de orvalho
o galho da uva
semeio a dura realidade colho bobagens
detritos do lixo chorado pelos desalmados
às vezes
prefiro o barulho insano
ao choro
tormento criptografado


quarta-feira, 23 de março de 2011

Santa ignorância

...algumas coisas estão claras
ofendem
de tão cristalinas
a ignorância é uma dádiva
um néctar para o paladar dos que ficarão ajoelhados de tanto acreditar em algo que se existe não se consegue comprovar

Risada

fácil
quando falho
difícil
quando rio
do seu arrepio
ao falhar

Dádiva

não há tempo
a precisão das palavras será uma dádiva

todos estamos traçando nosso destino todo dia
todo dia vivendo no fio da navalha
entre anseios e impossibilidades
choramos nossas verdades

terça-feira, 22 de março de 2011

ordem

primeiro
nascer
segundo
aprender
terceiro
sobreviver
quarto
sobreviver
quinto
sobreviver
sexto...

Monstros

o palco
é um lugar sagrado
por acolher
os anseios monstros de um anjo

Em borboletra

uma
pequena lagarta
presa num pote plástico
está ensinando
a um menino
como é linda a transformação

(uma folha virando borboletra)

Vida escrita

ao brotar
a hoje
semente
começa a rezar
para um dia testemunhar
a força da terra
gerando vida
(escrita)

Borboletras

para um escritor
árvores são passado
o futuro
está ali num livro adornado por letras
borboletras

invenção

o escritor não quer fazer valer sua capacidade de transformar semente em árvore quer sim inventar um cheiro para o fruto

Orador

ao falar transformo a semente do argumento em árvore

A Magia

a magia do orador
é falar da semente
e fazer ver o fruto na árvore



segunda-feira, 21 de março de 2011

Pitaco

poetas somos todos
quando nos livramos
dos impostos
dos encostos
dos amorfos
dos pitacos
dos enfartos
dos...

Brinco

...parece mas não é
o poeta
num mundo doido
parece um louco
um boçal
meio criança
querendo brincar...
mas
brincar de quê?
com quem?
por quê?
a ingenuidade do poeta
é ter coragem de continuar
escrevendo
declamando
amando
ferir
sem matar
ferir-se sem morrer

domingo, 20 de março de 2011

CÉU

C(abelo)

É (vento)


(d)O (pensamento)

INFERNO

IN
(inseguro)

(en)FER(mo)

NO (escuro)

Ócio

meu globo
(ocular)
se compõe
de traços
pedaços
em que desenhamos
desencantos
seus olhos
são ócio
mas
me encantam

DIRETO DO AURÉLIO (25) -- Terra

TERRA


Terceiro planeta do sistema solar, em ordem de afastamento do Sol;

A parte sólida da superfície do globo.

DIRETO DO AURÉLIO (24) -- Universo

UNIVERSO

O sistema solar;

Os habitantes da Terra.

DIRETO DO AURÉLIO (23) -- Deus

DEUS

Princípio supremo considerado pelas religiões como superior à natureza;

Ser infinito, perfeito, criador do Universo.

DIRETO DO AURÉLIO (22) -- Inferno

INFERNO

Segundo o cristianismo, lugar ou situação pessoal em que se encontram os que morrera em estado de pecado, expressão simbólica de reprovação divina e privação definitiva da comunhão com Deus.

Má-criação

o criador existe para a criatura
essa por ter sido criada
deve continuar acreditando na capacidade de criação do criador senão perde a razão de viver

Criatura

(O criador existe?)
como
crio
como
toda criatura
tem o direito de se achar em algum momento criadora de algo que não tem explicação senão senão não há motivo de se ter imaginação

Conexão

poetas há
que trocam confidências por citações
poetas alguns
não querem ser confidentes preferem erudição às lágrimas
confundem exposição com falácia não querem conexão
como se fossem cantores que não quisessem molhar a plateia
como se quisessem escrever somente para quem imaginassem ser seus amigos de verdade

Nada teórico

...difícil explicar...
mas...
de uma maneira ou de outra
não preciso mais de leitura para escrever
meus poemas me parece independem do que lerei
o que li já me foi sufcientemente importante
para me fazer alcançar um mínimo de capacidade gramatical que facilite o entendimento do que quero dizer e o leitor não sente falta de nada teórico imagino o xis da questão é até parar de ler para tentar ser absolutamente original naquilo que estou sentindo

CONSTELAÇÃO (música nova)


(A)

Seus olhos são

tristezas

Meus olhos são

poemas

Nossos olhos...

Solidão

Seus olhos são

poemas

Meus olhos são

tristezas

Nossos olhos...

Solidão

(B)

Onde iremos ao sair dessa prisão?

Como poderemos viver sem imaginação?

(A)

Seus olhos são

estrelas

Meus olhos são

cometas

Nossos olhos...

constelação

Seus olhos são

cometas

Meus olhos são

estrelas

Nossos olhos...

constelação

(B)

Como pudemos viver nessa solidão?

Onde brilharemos sendo constelação?

(C)

Estrelas e cometas sempre...

Tristezas e poemas só na canção...

Constelação

sábado, 19 de março de 2011

...e vivo

meu pulso
pula
parece que o sangue quer se livrar de mim
a pressão insuportável que inventei
me queima
me deixa atrasado
em relação a tudo que deveria ter vivido
e vivo
pensando em viver
não me dou trégua
não me deixo morrer

Pulo

...não existe...
o ontem
é apenas memória
influenciaria o passo
se o passo fosse dado
não se trata disso
aqui
há um precipício...

só um pulo resolverá a questão...

ou não

Lago raso

seu rosto é de um desgosto profundo quando apresento um estudo fecundo de tudo que vivi...

seu rosto é um profundo lago raso de satisfação quando falho...

Furta-cor

espelhos se partem...
peças de um quebra-cabeça
parte da vida se revela em
ardências esféricas
circunferências estéticas
em negro cobertor
ardor
fogo em cor
laminado pudor
agraciado por furta-cor delícia de crítica

rítmica

quebra-cabeça

se sou ligado nos detalhes
quer dizer
que os detalhes
são peças importantes
do quebra-cabeça da vida
então
os detalhes
são fundamentais para a vida
então
os detalhes não são detalhes?!

Asas

escrevo muito
porque não sou preso às
palavras
para mim
são
asas

Escravo

...o espaço em branco
deve ser deixado em branco

aquela palavra deixada de lado
algumas vezes pode ser recuperada...

acertar o verbo e o pronome...

com poucas palavras colocar o leitor na lua...

(isso é escrever)

Ilusionista

...domar as palavras...
...dar de comer aos leões, dentro da jaula...
...iludir com as próprias mãos...

(ser poeta)

O rancor

o rancor aos poetas
é porque nós fedemos a vômito de palavras

Mendigos

comparo os poetas aos mendigos

porque o cheiro das palavras nos agarram
não nos deixa mentir

Apropriação

...escrever
o padeiro escreve
escrever
o verdureiro escreve
escrever
o ascensorista escreve
escrever
o jornalista escreve
escrever
o juiz escreve

nosso propósito não é informar e sim nos apropriar da palavra solidão

sexta-feira, 18 de março de 2011

Gaveta

tenho a perder mas confio
confio no insistente olhar que pede ajuda
que roga por uma fuga crua
nua luz de luar
quem precisa precisa se doar
confiar no momento do primeiro olhar
trancar toda a desconfiança
na gaveta da esperança

MARCELO CAMELO, poeta

De Onde vem a calma

De onde vem a calma daquele cara?

Ele não sabe ser melhor, viu?
Como não entende de ser valente?
Ele não saber ser mais viril
Ele não sabe não, viu?
Às vezes dá como um frio
É o mundo que anda hostil
O mundo todo é hostil

De onde vem o jeito tão sem defeito?
Que esse rapaz consegue fingir
Olha esse sorriso tão indeciso
Tá se exibindo pra solidão
Não vão embora daqui
Eu sou o que vocês são
Não solta da minha mão
Não solta da minha mão

Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
Não vou ceder
Deus vai dar aval sim
O mal vai ter fim
E no final assim calado
Eu sei que vou ser coroado
Rei de mim.

G+R+I+T+O

os→abafados→se→jactam→em→abafar→se→abafam→nos→abafam→tentam→me→abafar→e→acham
→que→os→falantes→são→safados→como→se→isso→pudessem→provar→os→abafados→acham→que→
estão→abafando→e→abafam→abafam→e→abafam→sem→sem→tocar→que→nós→os→falantes→já→
temos→uma→saída→para→tanta→falta→de→ imaginação← gritar

Talento

sorte e talento é do que precisamos...
mas...
sorte é talento
e
talento é trabalho

quinta-feira, 17 de março de 2011

A casa

um garoto morava na casa que o avô construíra pintada com as cores do seu time de futebol após vários anos sendo retocada inclusive por seu pai se viu num dilema depois que um estádio do time adversário fora construído ali em frente...
reclamava?
se mudava?
ou repintava a casa?

tango

esperanço
(esperando com esperança)
rango de esperança
tango para minha ilusão tanta

Divina criação

talvez os homens se esforcem mais na arte porque a criação divina já foi presenteada às mulheres

salvação

...e cada um de nós descobrirá
como se dará
sua própria salvação

poesia é só uma das possibilidades

bilhete ao mar

não se esqueçam
quando o poeta ilhado
joga
um bilhete ao mar na garrafa
ele já está salvo, pela esperança

cidadão

conversa entre iguais
o homem
aprende e ensina
o poeta a pescar
esse
faz do esse peixe
e
oferece alimento (da alma)
ao faminto cidadão

Em ação

sacramentar a razão
não abrindo mão do sentimento pelo outro

(poeta em ação)

(uni)verso

desmistificar o medo
provando sermos o centro do nosso (uni)verso

isso é ser poeta

saliva

da gota de saliva de uma boca com raiva
realçar a água
afrontar o sal

(poesia)

Lunar

descobrir o dia no olhar triste de pessoas noturnas

isso é poesia

Partido político 2

Lugar em que homens exercitam o direito de ficar calados...

Partido político

Partido político
já nasceu para dar errado
se fosse para dar certo
seria
inteiro político!

Evolução divina

Os "criacionistas", sob pena de acreditar em Deus, fingem desconhecer a teoria Darwiniana da evolução das espécies. Evolução que se dá ao ouvirmos, falarmos, trabalharmos e mudarmos de opinião. E mudamos de opinião sempre que a realidade se impõe, sempre que nossa maneira de ver as coisas é atingida pela onda real da vida. Essa a verdadeira criação divina, a capacidade de evoluirmos.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Outra face

...não entendem que virar a outra face
não é perdoar o outro
é sim
perdoar-se
independentemente
do motivo que gerou
a necessidade do perdão

Verdadeira

apenas continuar
é a única coisa que desejo
nesse momento
já tive esperando outras
mas esperar
não combina comigo
então numa hora pensei
sozinho
continuar
apenas continuar é a verdadeira humildade

No momento

normalmente os que mentem para si mesmos não são artistas podem até passar por mas os na essência são os que trabalham as próprias dificuldades expondo contradições dicções e verdades talvez esses não sejam reconhecidos no momento penso que é melhor fazer o que tem que ser feito

Gostosa

música do momento
ator do momento
filme do momento
gostosa do momento

De qual momento mesmo?

Loteria

na ilusão
seguimos em frente
o menino quer jogar no flamengo
o coroa deseja namorar a atendente do dentista
o velhinho espera ganhar na loteria

Gostoso

entre e forma e conteúdo
quero como todos tudo
e às vezes
fico mudo
pela impossibilidade

(riem
se esquecendo que o mais gostoso é a ilusão do conseguir)


Mangas

aquele pedaço de chão
guarda um cheiro
de criança balançando
brincando de pique-esconde
lá longe tem uma mangueira
que ainda tem mangas
ainda tem tanta
recordação
aqui dentro
(que às vezes dá medo...)

As rimas

amor rima com dor
e doer
com
viver

Expressão

sua
humanidade
reflete em mim
em
palavras
que exprimem
um sim à vida

O pior

...um último segundo já se foi
e
meu mundo ainda não foi
totalmente
por terra

essa espera do pior é pior do que o pior

Malcriação

...única e desprevenida...
essa vida
única vida
sopro divino na
descoberta de Darwin
evoluímos
e por isso
mentimos ao dizer acreditar em Deus

broto

o futuro está ao alcance das mãos?
onde está o broto do feijão?
quem irá plantá-lo?
perguntas necessárias num mundo temerário...

Alma menina

alma menina
voe
arrebate
e bata em mim
como loa
à toa
sinta e me faça sentir
minta e me faça acreditar
no poder daquilo que chamam de amor

segunda-feira, 14 de março de 2011

Japão

Hoje é
o único
amanhã
possível
para grande número de japoneses

(tragédia encoberta por necessidades mais urgentes)

Da cruz

...se o Diabo existe
não fique
triste
é
sinal (da cruz)
que
Deus também existe

Momento

...não sei se sou o cara certo no lugar errado ou o cara errado no lugar certo...

(desconfio ser o cara certo, no lugar certo, no momento errado!).

tempestade

Olho para o espelho
e leio meus pensamentos:
"Não fique com medo, envelhecer é a única maneira de não morrer por isso faça amor não plante tempestade, a idade combina com experiência cheire sua essência extrato de sorrisos, querido!".

suspiro

...não se estrague em desesperos impróprios, somos nossos corpos mas também somos mentes somente os dormentes não sentem nossas rugas são maduras decisões de vivermos juntos tudo somamos e dividimos uma parte do mundo escolha de menina e menino com adultas consequências somos essência perfumes perfumamos (defumamos) nosso ócio somos um breve suspirar de amor num mundo póstumo

domingo, 13 de março de 2011

Idiossincrasias cristãs

ajoelho
e peço perdão
logo depois
desejo sem admitir
admito mentir
minto sem culpa
culpo o outro
sem desculpa

Acorrentado

não há perdão
para quem não consegue se livrar do passado
está acorrentado
lembranças
são passadas dadas
não devem limitar o voo da lagarta

Taxas

o mundo em que a trilha sonora era de marchinhas de carnaval está soterrado por coturnos, caveiras e medo

mundo das tachinhas

Coturnos

grito
um roque pesado
exprime
oprime
meu andar aterrado

Ouvinte

Ouço um som azul
um blues
define
meu mundo
de sorrisos
amarelos

Som azul

se o desejado som azul
é para poucos
poucos o merecem
os vermelhos
são mais comuns e machucam meus olhos azuis de querer azul

Criar-te

quero criar medo
coragem de provocar
(provocar-te)
pensamento diferenciado
criar
criar-te
arte é efeito

Gargalos

cedo
cedo abri os olhos para os desejos
sinceros regalos expressos
muitas vezes em gargalos
extensos
engarrafados em medos
divisados
divindades
em segredos

parede

nas sombras da parede brinquei de fazer animais com meus medos

Insólita

preciosa
pedra
sofisticação
que bate em um coração...
...blues
mágoa sólida em
rocha azulada

alma insólita

E souza

...you are the precious, heart and soul...
ah! pai
eu sei que sou:
"dê precius, rarti endi souza"

extrato

é no silêncio
que me concentro...

erros, muitos
extrato do perfume que exalo

acertos, poucos
como ter começado a escrever

...pense...

...o futuro a Deus pertence...
o passado...
o passado é que toma conta da gente.

feriados

Deus
fez o mundo em sete dias
e descansou...

por que você quer que eu trabalhe nos feriados?

Explicações

respiro problemas
e tento
expirar soluções
tudo o que mais me atrapalha
são
explicações

DIRETO DO AURÉLIO (21) -- Intensidade

INTENSIDADE

O maior grau de força expiratória com que o som da fala é proferido, força que se manifesta acusticamente na maior ou menor amplitude de vibrações.

DIRETO DO AURÉLIO (20) -- Exaltar

EXALTAR

Tornar alto, sublime, grandioso;

Atingir o mais alto grau de energia, atividade, intensidade, etc.

DIRETO DO AURÉLIO (19) -- Inflamado

INFLAMADO

Cheio de ardor; excitado;

Irritado, exaltado.

DIRETO DO AURÉLIO (18) -- Ígneo

ÍGNEO

Respeitante ao fogo;

Muito ardente, muito apaixonado; inflamado.

Feto

o barulho das ondas ainda consegue me atingir
ainda sinto o ar de maresia da distante praia
me afetam as crianças nas ruas sem chance como os meus filhos de terem esperança me afetam... me afeto e de afeto em afeto
um feto espera nascer

À poesia

o parque de diversões do mundo das crianças que tiveram a sorte de acreditar em palhaços as guerras retiraram
o instante em que a luz muda com a deitada do sol as guerras retiraram
aquele olhar de piscada antes do pai comprar o sorvete para o menino que escutava as guerras retiraram

guerras são um não à poesia

Vaga lembrança

uma voz
me lembra de mim
lembro de criança ter tido várias mãos para me ajudar
uma mãe
uma tia

escondida de si
agora vaga...
mas
não esquece de mim

Rugas

...o desespero do espelho...
alguma idade
nos traz
o desespero do espelho
e
não é por causa das rugas

é por medo das lembranças

Repúbicas

Em quantas repúblicas sou amigo do rei?

Em quantas repúblicas chegarei?

Em quantas repúblicas cegarei com minhas palavras?

MIGUEL GULLANDER,em Perdido de volta (8)

"...Tudo o que me seduz é só uma imagem. Um só fragmento que paira entre as folhas e o vento, nas sombras da parede. O sopro que corre nas cortinas, e toda a minha alegria, tudo o que sou se resume a esse flash, essa beleza condensada, captada numa só imagem.
O halo de luz está em volta de um candeeiro de névoa, numa noite prematura, onde o sol é um cristal de sal branco de encontro a um horizonte azul, com o mar ao fundo, no norte das descobertas, e no sul de mim mesmo. Uma tempestade de partículas de água invisível rodopia o farol do candeeiro, dança uma figura ígnea -- e as gotículas vindas da barra queimam, mordem a carne do rosto -- ou sudário, impresso na fina película do meu desejo, dessa Cidade das Mil Ondas. A Praia da Luz Negra, uma república de justiça, o lugar onde executas ondas com o próprio corpo. Queria estar lá.
Palco após palco, de empregos e missões, quem representa todas as tragédias, todos estes "meus" papéis -- em quantas diferentes dimensões fui diferente, alienígena? estrangeiro a tudo, procurando uma república da qual somos todos legítimos cidadãos?".

sexta-feira, 11 de março de 2011

Carnaval

carnaval
carne e vendaval
de ideias
aceleradas por cachaça
piratas com devassas
esquecendo de cuidar das máscaras
das mascaradas

quinta-feira, 10 de março de 2011

De memória

...sempre desejei sentir...
e agora sinto
ninguém me contou
sinto o desamor
quase rancor
desses que se esqueceram da saudade
desses muitos que perderam a mocidade e que por isso não querem lembranças não querem esperar a esperança crianças-adultas desmioladas acossadas pelo frenético ritmo dessa vida desassistida dessa vida perseguida pelo ócio tédio de esconder-se do espelho caras sem reflexo porque sem cheiro da coragem necessária para viver preenchido de memória

quarta-feira, 9 de março de 2011

mãe-poesia

mãe de todas as artes

o pintor faz poesia
com as tintas
o escultor
com as mãos
o blues man
com a voz
o palhaço
com a esperança de um riso-menino

Responsável

Não basta ser pai
temos que participar...
Poemas,
entrem para brincar!

Expertise

...diverso...
de verso
concreto
poema
dilema da verdade
ver idade
ouro da experiência
expertise
da saudade

solo

meus filhos andam soltos no mundo
solo fértil
(solo, sigo reto)
satisfação em sensações
admiráveis
Cabo Verde
Suíça
Açores
Américas
meus filhos nada temem
liberdade da ingenuidade
só não se esqueçam de mim
poesias e poemas
voem
colorindo com a primas
(rimas)
toda diversidade

papai

...jardim de poemas...

cada poesia
com sua cor
própria
seu aroma
seu frescor
todas são filhas que não tive
todas massageiam meus pés
todas fazem minhas unhas
todas dizem te amo papai

O verso

o verso
é o avesso
do medo
é o avesso
do tormento
avesso do que é ruim
o verso
busca palavras para mim
no verso busco você para mim

imã

ria de mim
ria
rima

(irmã
de dor
cisma
fina
flor
ímã
de suor)

Salada

a uva viu a maçã saindo do quarto com o abacaxi e falou com a pêra:" Espera estou acabando de contar...a maior salada de frutas...

Pêra, uva ou maçã

onde estão os caras que jogavam futebol na rua?
onde estão as crianças que brincavam de pique-esconde?
onde estão os montes de piratas que atacavam na escada do prédio?
onde estão as meninas do pêra, uva ou maçã?
onde estão as palavras para a rima exata?

Caveira

Era uma vez uma caveira
que tinha uma dentadura que mordia orelha
o truque que ela
usava era fingir que ia dar um beijo na bochecha do menino e ele bobinho não sabia que o que a caveira queria era morder sua orelhinha
a caveira já ia em sua direção com o sorriso armado
grande satisfação que teria de morder a orelhinha dum garoto amado

Pena

...no momento em que fiz meu primeiro poema

Frederico me libertou de mim

pena planando em vendaval

vírgula

####
essa palavra não pode ser escrita?
como?
qual é o motivo?

escreverei quantas vezes quiser!

é proibido?
num poema nunca foi escrita?

uma
vírgula!

história

histórias sendo contadas
livros
são isso
nada mais
nada menos
se soubéssemos
contar essa história às crianças
tudo ficaria mais fácil
menos pesado

terça-feira, 8 de março de 2011

Pomar

do lugar que escolhi para mim
te ofereço um olhar
(debaixo do seu queixo
um beijo...)
suas maçãs
meu pomar
iluminado por
luar
cheio
em olhos doces
de desejo


Falsa comemoração

...quando instado...
o homem só reage quando se sente obrigado a lutar
o imaturo ao ver o filho chorar para de besteira e sai para lutar pelo pão
tantas vezes reclamamos sem razão
tudo ao nosso dispor e só nos preocupamos em por a barriga na borda da mesa e arrotar falsa grandeza falsa comemoração
o flamengo ganhou? o que eu tenho com isso?!

MIGUEL GULLANDER,em Perdido de volta (7)

"...Debaixo da enorme sombra eu tomei a barbidjáka, soltando, com um pop, a rolha da cabeça duma cana-de-açúcar. E tive uma viagem-em-sonho, daquelas dos feiticeiros.
Tomei-a. Porque me disseram que, entre outras coisas, tal como fazer mulheres darem à luz o fruto que corresponde ao homem com quem se deitam -- a barbidjáka é o remédio para os viajantes: e eu quis e pedi para ver aquilo, a esfera cromada dos sonhos. Aquilo que, sob as imagens, não foi gravado, marcado, queimado, tatuado, rasgado, em sulco, dentro e entre os ficheiros, os tubos de carne do meu cérebro.
Claramente a nossa cabeça é um simulacro, uma fabricação, uma condensação em aço, com sangue de mercúrio sujo -- algo construído e programado numa indústria longínqua. Algo que foi precipitado, em colapso, neste plano de existência.
E, com o mar ao longe, percebo que no início havia as águas, e sobre elas o espírito, fecundador, que pairava -- e do seu encontro, na brisa que é espuma, e as ondas que são o vento, o oceano sabe sonhar -- as miragens, todas as imagens, memórias, todas as glórias, desonras, ódios, amores, detalhes sádicos, ternuras e todas as possíveis combinações, indefinidamente, que num momento flutuam informes e logo ganham corpo como tubarões virtuais num sopro de silêncio -- águas primordiais cm um arco-íris bailando na superfície das inexistentes ondas. Pois as ondas, essas também, são imaginárias, são uma melodia fantasiada -- mas os seus reflexos são o próprio holocausto, um beijo, uma mão, uma evasão...".

Penetração

...toda vez que arde
é arte
(em mim ou em você)
toda vez que dói
mostra que nos incomodou
que nos penetrou
a coragem é admitir e pensar como resolver a dor escondendo-a ou expondo-a e dessa coragem vem uma saída artística muitas vezes

Covardes

emoção é sentimento
não procura sexo
emoção
sensação de pertencimento
amálgama
entre seres pensantes
amantes
que se despedem
sem dó nem piedade
feridas cicatrizadas
só ardem nas mulheres
estoques em
homens covardes
de assumir a dor de uma paixão

Mulheres

...não deveria...
não deveria existir dia
para quem não desaparece
uma prece para as mulheres que não se esquecem dos filhos e
cuidam
curam
nossas
suas feridas
muitas são meninas ainda e já sabem o valor da palavra
sofrimento
tente
tento
entendê-las
mas esse poder nenhum homem tem
Amém!
(por sua nossa existência)

a solução

...mulheres...
meninas
mães
santas
bandidas
estranhas?
seres totalmente diferentes
de nós outros
homens
dispostos
sempre muito bem dispostos
a matar e
correr
(a grande maioria)
elas, não!
são bastiões de carinho e adoção

educam, trabalham, riem, choram, sambam, tossem, curam,

mas não vão embora

mulheres são
a solução

Noves fora

...justamente os números é que são totalmente imprecisos
se preciso achar um xis ajudo com noves fora raiz cúbica invento uma conta de chegada e chego como a maioria não sabe nada de matemática cala, consente e aceita a manipulação mentiras em palavras dá mais trabalho e na maioria das vezes a maioria sabe que está sendo enganada

segunda-feira, 7 de março de 2011

DIRETO DO AURÉLIO (17) -- Estragar

ESTRAGAR

Destruir, assolar;

Viciar, corromper, depravar, perverter.

DIRETO DO AURÉLIO (16) -- Dissipar

DISSIPAR

Espalhar, dispersar; desfazer;

Causar a ruína de; estragar.

DIRETO DO AURÉLIO (15) -- Esbanjador

ESBANJADOR

Aquele que esbanja;

Esbanjar: gastar em excesso; dissipar, desbaratar, malbaratar, malgastar.

DIRETO DO AURÉLIO (14) -- Extravagante

EXTRAVAGANTE

Que anda fora do seu lugar;

Que comete extravagâncias, estroinices; estróina, esbanjador.

DIRETO DO AURÉLIO (13) -- Original

ORIGINAL

Escrito primitivo;

Que não ocorreu nem existiu antes; inédito, novo;

Que por seus caracteres peculiares, singulares, chega ao ponto de se tornar bizarro, extravagante.

PARALELEPÍPEDO

quem inventou de calçar as ruas com um nome tão estranho?

Cidadãos

não há pretensão por isso escrevo no blog como se fosse um rascunho de mim mesmo o fato de produzir muito não me diminuí pode estar certo um poema isolado é quase um menino carente junto a outros forma um bairro que forma uma cidade que forma um Estado que forma uma nação só num livro os poemas viram cidadãos

Carpas

o frio me inibe
me deixa com vontade de parar de escrever
gosto do sol
seu brilho me obriga a brilhar
ofusca o medo de tentar
e traz calor para palavras que muitas vezes estão ralas
quase caspas
carpas sem cor
num lago de desamor

Acarajé

...com raiva
amo
cuspo
trabalho
estudo
raiva
pimenta do acarajé
jacaré de imensa boca e dentes...
quem é que sabe como tem que ser?

Cadente

como estão seus olhos?
seu dentes...
frequentemente
encerram sonhos?
Donos dos meus sonhos
adornados pelo louco perfume
que me joga no chão
seus olhos são paixão
felicidade urgente
quentes na ilusão
de me pertencerem
estrelas no meu céu cadente

Odes

...jardim de infância...
da infância
(do artista)
que por sorte não acabou
tão decantada pela
poesia
ode à vida
ode ao carinho
para com o outro
compaixão
tão falada e tão pouco vivida
tão utilizada por não-artistas
amesquinhada pela tentativa de limitar a paixão
(desconhecida)

Essencial

quando confundo
ser com ter
me afasto do que é mais natural
me afasto do que é nossa essência

Natural

na confusão do que é integridade
a cultura e progresso são confundidos com negação do que é natural
a natureza é maior do que qualquer tecnologia

Destino

...a natureza sempre me invade
natureza é a arte
do que ainda não foi escrito nem dito
a natureza é sempre um destino...

Relax for sex (ou Relaxa senão não encaixa)

...ninguém me contou
me lembro perfeitamente
como se fosse hoje
quando Renato Russo
no lançamento do CD em italiano
Estranho Amor
disse
que mais novo
teve vergonha de escrever numa letra a palavra AMOR
por isso envelhecer vale ouro
(sendo inevitável relaxe e...)

MIGUEL GULLANDER,em Perdido de volta (6)

"...Fumei, bebi, dancei um pouco -- é a maravilha, sem factura, das relações casuais.
Causais.
Cada relação nada tem de casual, é a primeira peça dum dominó de consequências, invisíveis, talvez, para quem é cego. Mas, de casual, nada têm -- pelo contrário, são extremamente causais, disse-me aquela miúda deficiente da Ilha do Fogo.
Porque me dei ao trabalho de a ouvir e a deixei meter-me ideias bizarras na mente? Porque decidi ver como vive "o povo" e segui-lo pelas ruas duma cidade que não é minha, e não me interessa? Apenas faço o meu trabalho, e frequentemente nem isso..."

"...As coisas, quando são ditas pela metade, e o resto -- uma imagem, um fresco inteiro é implantado directamente na nossa mente, como por telepatia -- é difícil ficar indiferente. Ela conseguiu tirar-me, por longos instantes, da indiferença. Porque ela mostrou-mo.
Existe um limbo, um espaço intermédio, onde vão parar todos os epíritos perdidos, em potência, mas que foram recusados à vida -- que não foram queridos pelos pais. Crianças que foram concebidas numa raiz de furor ou indiferença, e depois foram colhidas antes de saírem para a luz....".

Olímpicos

...tão íntegros...
tão olímpicos na defesa de nossos ideias...
tão agressivos na luta pela própria ideia
tão íntegros na olímpica defesa dos próprios ideais

Carnaval moderno

...mascarados nos representam porque só queremos pular o samba marca o ritmo de nossa vida iludida...

Moderno carnaval

máscaras caem aos meus pés soluços são confetes colombinas serpentinas e pierrots já não existem mais...

Carniça

...mais divertido do que parece
mais simples do que uma prece
mais afoito do que urubu em carniça
mais amoroso do que frânces em Paris

Portuguesas pedras

desenho
ondas em pedras
portuguesas
negras
brancas
acesas com minha presença
acendo-as
e
me desligo em mim

Pedras portuguesas

quando ando no calçadão da praia sempre estou a pesquisar tipos artifícios de como fingimos não estar ligados quando ando manco em pensamentos tormentos acesos que não passam ao largo a passos largos largo idiotices próprias e me concentro nas alheias madeixas espalhadas em pedras portuguesas chamam minha atenção como o chão

âncora

a loucura
é apenas a negação da realidade
quantos de nós não vivemos num estado parecido com esse
os artistas só não somos loucos na acepção plena da palavra
pela lavra diária de emoções vividas e ouvidas
temos essa âncora como única diferença
explícita

Não-lugares

...sorte...
pura sorte chegar até aqui
quando lembro do que vivi...
vinte anos passaram como se meses fossem
fosso entre imaginação e realidade
todos
todos os momentos foram verdade
insanidade não aprender com eles
os não-lugares
também me marcaram
shoppings
aeroportos
viagens
me lembro de todos como se não tivesse saido de mim

domingo, 6 de março de 2011

I'm getting old

eu gosto do ouro (da experiência)

(estou ficando velho, em inglês)

Sereia

na praia vazia
o vento conversa com o tempo
tanta areia
arremessada
contra meus tímpanos
que confundo areia
com sereia
de olhos quase fechados
me oriento ao atravessar a rua pela simples vontade de voltar para casa

Néctar

vivo do que escuto consórcio de ideias alheias e próprios ideais o poeta coleta néctar donde menos se espera

Comento

a ingenuidade
daqueles primeiros poemas
nunca mais existirá
foi única
como únicos foram meus
aqueles
tormentos

Essências

três pontinhos
reticências...
nos poupam de algumas...

indecências
(essências íntimas)

Expectativas

...melhor
do que poderiam imaginar
pior
do que gostaria...

(único dilema
do homem-poeta)

sábado, 5 de março de 2011

FOLHA SECA (letra de música)

E da luz

fez-se letra

Nascida

desmascarada

certeza

E da palavra

Fez-se

seca recordação X2

E do choro

fez-se som X2

Triste e simples

Devaneio

Freixo (fresco) X2

REFRÂO

Da folha seca

Fez-se música

e emoção X2

Perturbada

Por sua chegada

Macia

Extasiante

Distante

senso de despedida... X2

Sequências

...num primeiro momento o susto o surto produziu excitação completa letras pulavam como pipocas cheirosas não me deixavam me tranquilizar num outro logo depois fiquei tonto com tanta poesia parecia que a criatividade era criança esperando mamadeira não deixava ninguém dormir todos preocupados com a saúde do bebê-poeta na adolescência uma indecência de livros seis foram produzidos quase num vômito e ainda veio a música mais um susto e do primeiro disco vieram certezas ainda maiores enormes consequências sequências de filme agora conseguindo respirar para falar continuo produzindo muito e muito e muito mesmo só estou menos impaciente ciente do tamanho da briga mas contente com a coragem de ter tido a ousadia (loucura?) de começar

Carinhoso

todo dia
as letras
(são as mesmas e me aturam)
mudas ficam me olhando
duras
sem se preocuparem com o significado que irei inventar
elas se acostumaram a confiar
domestiquei-as
perfumando os espinhos
pintando as rosas de azuis
amarelando o marrom da terra
mostrei que um poeta pode colocar os pingos nos is sem machucar

Elvis

Phil Collins parou
Tiririca parou
John Lenmon parou
Michael Jackson parou
Paulo Maluf parou
Elvis is dead

Simplicidade

aos quinze Vinícius escrevia como poeta frânces
aos sessenta na Bahia curtia sol, sal e água de coco
(sem falar das comidas baianas)
preciso concluir?

em pombo

...viver...
pequena palavra
qual é o seu significado?
viver é
parar de falar e fazer?
para de ler e escrever?
parar de reclamar e se candidatar?
parar ser poste e empombar?

Viva!

não cite poeta
não leia poeta
não escreva poeta
apenas viva poeta

a natureza é que te dará o que você precisa

Roubada

não adianta falar ler escrever
não adie sentir
mentir para si mesmo
é a maior roubada
mantenha-se inteiro nas suas certezas sonhadas

CAZUZA, poeta

SOLIDÃO QUE NADA

Cada aeroporto

É um nome num papel
Um novo rosto
Atrás do mesmo véu

Alguém me espera
E adivinha no céu
Que meu novo nome é
Um estranho que me quer

E eu quero tudo
No próximo hotel
Por mar, por terra
Ou via Embratel

Ela é um satélite
E só quer me amar
Mas não há promessas, não
É só um novo lugar

Viver é bom
Nas curvas da estrada
Solidão, que nada
Viver é bom
Partida e chegada
Solidão, que nada

RENATO RUSSO, poeta

TEOREMA


Não vá embora
Fique um pouco mais
Ninguém sabe fazer
O que você me faz
É exagero
E pode até não ser
O que você consegue
Ninguém sabe fazer.
Parece energia mas é só distorção
E não sabemos se isso é problema
Ou se é a solução
Não tenha medo
Não preste atenção
Não dê conselhos
Não peça permissão
É só você quem deve decidir o que fazer
Pra tentar ser feliz
Parece energia mas é só distorção
E parece que sempre termina
Mas não tem fim
Não vá embora
Fique um pouco mais
Ninguém sabe fazer
O que você me faz
É exagero
E pode até não ser
O que você consegue
Ninguém sabe fazer
Parece um teorema sem ter demonstração
E parece que sempre termina
Mas não tem fim.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Todinho

agradeço
o carinho
o carrinho
o sapinho
o filminho
o todinho

Mágica

inventei
que os dedos separados
fazem cosquinhas
e juntos
com a mão são aranha
que tece o fio de uma invenção de criança feliz
fiz
da mão
ilusão

Soca

...uma soca...

a vida
é uma onda forte
que nos abate
(nadadores de fosso que somos)
com toda surpresa de um mar que não sabíamos bravio

Pum

Aos que me perguntam se não quero escrever um romance, explico: não quero! não quero me esconder em personagens um poema é mais direto é um murro na cara um poema exala odor de rosa ou de pum um poema é armadilha que não mata não decepa mas atrapalha a indiferença balança o sujeito de tal modo que normalmente dá medo e é esse sentimento que quero compartilhar

Sapatos

...finjo ter tempo...

esse animal suculento
que corre rápido pelos prados
pratos quebrados
como sapatos
desviando de mim
toda vez
que estou só
onde o tempo me permitirá errar sem me culpar?

MIGUEL GULLANDER,em Perdido de volta (5)

"...O homem que diz que Deus é tanto a vítima como a faca e o assassino.
E que, nessa dinâmica, Deus diverte-se. Porque o sofrimento é o engenho, a força motriz deste universo, deste filme. Para haver alívio é preciso tensão, e para haver gozo é preciso haver confilto. na paz não há gargalhadas. Esta enorme gargalhada de Deus.
"Deus está a rir" diz, enquanto eu olho o rosto de lepra destes pedintes e peço informações, e eles respondem com uma mão para esmola, enquanto eu procuro pelas ruas, entre os tubos de esgoto, onde se mata para se ter uma casa. Deus está a rir.
Rir de ti.
"A essência desta realidade é a dança do conflito, é conflito, é carência" diz ele. Nada há que seja suficiente para todos. A eterna e universal Fome -- a carência de comida, de Justiça, de Amor, e muito especialmente, de Tempo. Pode-se redimir quase tudo com o dinheiro, que finge comprar quase tudo, comida, justiça e -- ah! o amor -- o dinheiro que compra tudo, menos o Tempo.".

AUTORREALIZAÇÃO

...por desconhecerem o sucesso do processo da busca as pessoas ficam esperando sucesso
desconhecendo a diferença entre sucesso (autorrealização) e repercussão (conhecimento externo da autorrealização)

Ideograma

aos críticos
cítricos
amigos
que me provocam melhorar
aviso
crise em chinês é
ideograma de mudança
só assim uma lagarta pode voar

O berro

...enquanto espero
o berro
do susto
que provoco no incauto leitor
sento e converso
comigo
pensando até quando terei que provar o gosto
do ferro
do susto sincero que tomo com a incauta mania de ser provocador

Armadilha

qualquer manifestação artística
funciona
como uma
armadilha
usa o belo
para atrair olhos sinceros de despreparo
e o talho
na carne arde
faz o desgosto da obra-de-arte
pelo descuidado atingido

Assumidas

...homens se escondem
por conta de quererem ser íntegros

quando todos somos crianças crescidas
e algumas
destemidas
viram artistas
(crianças assumidas)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Arraias

...(olhar embaçado...)
o tubarão martelo e a moréia espreitam-me, negros
no mar ideal
sem ondas
sem vento
sem ilhas também
água clara
escuros pensamentos
água parada
vida ideal
num mar embaçado

quarta-feira, 2 de março de 2011

Arrivistas

...normalmente é tudo mentira
nos enganamos
acostumamos com nossas feridas
na base da língua
como gatos
tentamos esconder nossos podres
pobres mortais com medo de tudo
de todos os outros selvagens
com opiniões sensatas exatas no jogo de antipatia próprio dos fracos dos arrivistas impacientes com a própria fraqueza fingem gentileza tentando enganar os enganáveis incuráveis na arte da dissimulação

Circulação

...a música
é
água de cachoeira

aumenta a circulação dos meus poemas

Um ator

Com botóx
um ator
enrrijece a fisionomia
torna impreciso seu pensamento
Sem sotaque
um ator enrrijece a história
suas origens são varridas da memória
Sem caráter
um ator pode fazer qualquer personagem por não temer ser descoberto

Solitários

filosoficamente falando
o facebook
é a descoberta da imediata possibilidade de um solitário na Malásia falar com um solitário em Paris

Sem refrão

o que te influencia não é o que digo é o que você concorda comigo que fica martelando na sua cabeça música de Igreja sem refrão

Ensinamentos

O que dizer para um garoto de vinte anos no auge da inocência das possibilidades?
Sem assusta-lo diria que há de ter coragem para viver a vida com a intensidade de uma experiência única, enfatizaria a importância de amigos, pois sozinho é mais difícil ter coragem de acordar, não me furtaria a afirmar que algum dinheiro ajuda, pois nos permite em determinados momentos parar para pensar no que fazer entender as coisas traz responsabilidade e sofrimento pelo desejo de ocupar os espaços possíveis tenha um rifle sem balas com flores coloridas para assustar a preguiça defeito dos invejosos ócio só o criativo tema o perigo mas de vez em quando desafie-o afie a faca e traga um livro grosso com ensinamentos que lhe ajudem naqueles momentos de angústia e solidão hora em que as lágrimas se vão sem serem convidadas deixando os olhos com saudade de um desconhecido mar cheire bastante seus pais para não esquecê-los aceite-os humanos e conscientize-se que seus defeitos são características prováveis na sua vida de herdeiro seja sempre inteiro nas suas relações não se poupe por medo diga que ama quem você amar e diga sim sempre que necessitar arriscar as vitórias são somente vitórias mas os erros são ensinamentos

Sol poesia

um amigo disse que sabia que eu vivia com poesia
pela harmonia da minha família
emoção de saber-me solar

Cometo

Um cometa
pinta
sons e silêncios
Um poeta
cometo luz e solidão

Buquês

após dez anos de anestesia
(morte palavra proibida)
a vida me apresentou uma saída depois de muita sofreguidão
muitos poemas vomitados
(transformei mato em adubo)
colho buquês dos entulhos
colocados à minha disposição

o cheiro das flores não me deixa mentir

efeito

cada olho
cada respiração
tem seu desejo
jeito de apontar
um pensamento
penso
e sinto tudo e vejo o melhor efeito de uma declaração

Ossos

caminho...
os passos estão mais lentos
mas
aumento a precisão
do esforço
retiro
lama dos rostos
desconfiados
do contorno que ouso para continuar a caminhar

As maçãs

flechas exatas
seus olhos
despedaçam as maçãs
do meu rosto

A ilha

como não sonhar num mundo cercado de realidade por todos os lados?

O alvo

as palavras me afetam são setas se desconhecesse sua força seria acertado sem saber o sabor (de maçã) da descoberta

A caixa

a ingenuidade nos induz a voar
quando acordamos nos vemos numa caixa
pequena e apertada como o tamanho dos sonhos alheios a tudo menos aos nossos anseios

MIGUEL GULLANDER,em Perdido de volta (4)

"...Uma vez também escolhi descer o Maelström -- e o meu desafio foi experimentar o poder da palavra, o poder de seduzir, de vender porque tudo é business, até o amor -- investimento em busca do máximo retorno -- empenhas cinco e esperas pelo menos vinte, senão mudas de banco e de mulher -- e vender, seduzir, tem por segredo o domínio da palavra -- porque no princípio, sim, era o Verbo, nada de Deus, mas, sim, o verbo que pode ser conjugado em todos os tempos, em todos os modos, em todas as pessoas, formando todas as combinações de universos, e nenhum é mentira, porque também não há verdade. Para haver mentira é preciso haver verdade, e o que existe é apenas isto, um evento, um espetáculo, um show, e que cada um faça o que quiser, goze o que conseguir, porque ninguém faz nada, ninguém decide nada, se decidisse, eu decidia ser novamente jovem -- que deste insulto ninguém escapa nem vivo, nem íntegro.
Pela palavra posso dizer o que quiser -- até posso dizer que sou novo ou velho, o que quiser, e tu, que sabes?
Apenas o que te digo. O que insemino em ti.
E eu quis, tanto, experimentar esse poder para seduzir, para vender, para criar abundância em mim, beber até o fundo, até à exaustão, até ao excesso, do cálice da vida, do néctar inebrianta do gozo -- e perguntei durante à minha entrevista: "A que me leva esta missão, pois o meu tempo, aqui e agora, escoar-se-á e quero saber o que resulta disto tudo" e os entrevistadores olharam-me incrédulos.
Sim, agora eu sei que eles têm razão.
"A tua missão não tem objectivo que se conheça" disseram-me. "Ela não tem propósito último a não ser viver-se a sim mesma. É um jogo. Queimar tempo.".

Teorema

todos sou eu
e não sou nenhum
os olhos que me definem não sabem atingir o cume
se prendem aos restos que vem para o poema
sou um anátema
da desconsideração de nós todos
sou um teorema
(admito prova em contrário)
dilema em carne e osso
quilos arrecadados de desgosto
ossos de nobreza tênue
como um canto de pássaro
(sou meu passado...)

MIGUEL GULLANDER,em Perdido de volta (3)

"...A irresistível tentação de sentir. Eu não aguento o tanto querer tocar-te. O teu corpo negro, esguio -- e eu sopro, entre silvos, os meus dedos estendidos para a tua pele de moreia. E a morte está contida em cada gesto meu. Eu espero por um sinal, eu aguardo pela confirmação da tua força por detrás do meu gesto -- o mudra do meu apocalipse, da minha escatologia -- aguardo pelas últimas palavras que para mim escreveste.
Quem escreve os meus actos? Quem escreve a minha morte?
Vês a raiva? Quem a sente?
Esta suástica imóvel, congelada, morta -- a roda da vida invertida, a vida ao avesso, do cara-atrás, que andamos a viver -- todo este mal, quem sente por detrás disto? -- e esta raiva de estar preso, perdido, num labirinto de cristal, impecavelmente invisível -- eu empurro esta parede de vidro -- eu dou um murro neste gelo. E o meu pulso fica preso à rocha -- que amputaria a minha mão à dentada, se para isso as mandíbulas ainda tivessem força. Espreito para o outro lado e vejo-me a mim mesmo reflectido. Por todo o lado. A minha fome cristalizada sob a forma das paredes da prisão que criei para mim mesmo -- esta rocha que é uma sereia gélida, subaquática, um penedo em vez dum coração -- e um coração em vez de nada...".

terça-feira, 1 de março de 2011

Crítico

poetas
têm que saber voar
transformar letras em sentimentos
interpretar outros poemas de outros autores
é função de crítico

Profissional

ingênuo
(meu segundo nome)
de tanto ouvir
resolvi assumir:
"Prazer, poeta!
(ingênuo profissional)

Triatleta

como o triatleta
também confronto o tempo
(e sempre perco...)

a saudade impede a paisagem de me seduzir