sábado, 31 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 31 de outubro de 2015 -- Velocidades

Velocidades

De frente para o passado...
De costas para o futuro...
Homem imperfeito
Sua memória é âncora ou vela?
Te permite lembrar mas te permite sonhar?
Te permite sonhar mas te permite realizar sabendo qual vocabulário usar?
Como saber, se estamos trocando o pneu do carro andando em alta velocidade?

A velocidade de nossa ilusão é tão grande quanto a velocidade da luz (chama que chamo esperanço)? 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 30 de outubro de 2015 -- natureza humana

natureza humana

O andarilho não tem casa não tem tempo
O tempo se mede pelo tamanho das unhas e do cabelo

O andarilho só tem asas só tem cheiro
O cenho só se preocupa com a fome do momento

O andarilho é uma vontade de liberdade
De vento De sina Sem vaidade
Nos dá a oportunidade da bondade
De estender as mãos sem julgamentos

Apenas para deixá-lo bêbado de ar
Secando ao vento sua ilusão de liberdade
Sendo plenamente nossa natureza

Humana 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 29 de outubro de 2015 -- urina

urina

 a noite traz o sossego...

medo
do escuro
das imagens que ficaram guardadas
não sei onde
não sei ontem o que se passou
mas recordo?
é, a noite machuca utopias
estraçalha ilusões em
pedaços de sonhos

(n’algumas noites frias às vezes só a urina vem me esquentar)

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Música nova: Algodão doce

Algodão doce

(A) Ali/Um menino de cabeça branca ria/Muito/das mentiras brandas que eu sorria/No carro/dentro do carro/a vida não tinha...

(B) tempo o tempo parava/como uma revoada/ de passarinhos de olhos azuis X 2

(A) Se foi/ um amigo menino de cabeça branca/poeta e cantador/cantava a esperança/

(B) do tempo em que uma manga nascia/ e era comida no pé/todos de pé batendo palmas/no ritmo/ no ritmo da embolada/ para o menino de cabeça branca/ que quiça um dia serei eu


(A) Ari... se foi...         X 3

365 dias com poesia, 28 de outubro de 2015 -- MACHO ALFA

MACHO ALFA

(Artista só lhe restam duas alternativas:
Ou numa obra de arte você arruma o mundo vil

Ou você o retrata com cuspe, gozo de homem viril) 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 27 de outubro de 2015 -- juiz

juiz

Outra perspectiva do tempo

Como se o futuro fosse possível
E sendo um ar quente de falta de arrependimento
Porque os erros são apropriados
Como característica
Havendo um perdão implícito
Significativo
Um sotaque desavergonhado
Música para os próprios ouvidos
Sem julgamentos e com alinhamento de quem se é
Sem desejar ser ou ter algo de alguém
Uma satisfação com o próprio tamanho

Alcançado aos solavancos mas com emoção

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 26 de outubro de 2015 -- Penínsulas

Penínsulas

O mais bonito da arte
É o registro do esforço entre o sonho e a realidade
Efetivamente não nascemos para vivermos do tamanho que a vida real nos impõe
Uns abusam do álcool outros do exercício físico outros dos livros alguns das tintas na busca incessante de pretenderem crescer
Do espelho fogem como o diabo da cruz
Para não correrem o risco de se verem do tamanho físico que têm (alguns até são grandes mas o espaço que ocupam é pequeno)
Como somos por dentro?
Alguém quer saber?


(Somos ilhas ou penínsulas?)

domingo, 25 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 25 de outubro de 2015 -- tãpero

Osescravosdavidarealnãosuportamaartenempodemsuportarporquenavidarealnãoépossívelerrareéoerroquedáotemperodoartistatãpero

sábado, 24 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 24 de outubro de 2015 -- Elevador

Elevador

Vendo uma foto que tirei...

Um reflexo
Mistério
Um mistério
Reflexo
Dum desejo
Dum medo
Dum outro ser sorrindo?
O mundo indo
Subindo
Caindo
Findo

Nos põe para acreditar em algo maior do que nossas rotinas? 

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 23 de outubro de 2015 -- Sonhador

Sonhador

Este meu sonho:
Deixar de sonhar e realizar
Sujando as mãos de rimas
As camisas de cantigas
As orelhas de tintas
Porque dormi na melodia do sonho
E acordei na ilusão...


(Mundo repleto de espelhos em que os reflexos são sorrisos sinceros ?)

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 22 de outubro de 2015 -- areia da praia

areia da praia

Em lágrimas assobio uma oração
Palavras rimadas
Que como um desenho na areia da praia
Não ficarão
E não ficarão porque não são feitas para ficar

São apenas para terem existido assim como nós

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 21 de outubro de 2015 -- som dum sorriso

som dum sorriso

da boca estourada de asfalto
retiro ensinamentos
gritos suprimidos
ritmos signos carência

existência

cheiro de rua
flores selvagens
sons dum sorriso


canção em silêncio

terça-feira, 20 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 20 de outubro de 2015 -- mundo de ilusão

mundo de ilusão


As regras sociais fazem parte do exercício da liberdade sem regras não saberíamos do que reclamar sem mar não haveria necessidades de braçadas sem noite o brilho das estrelas de nada adiantaria sem fome não trincaríamos os dentes e vomitaríamos poesia tudo é importante e nesse estágio civilizatório em que nos (des)encontramos não existe acessório tudo é principal um mendigo na esquina que pisca para um menino de apartamento sorri da falta de liberdade do que come todo dia mas não sabe que os micos que invadem a padaria também não estão sorrindo de quase nada o conhecimento às vezes atrapalha pois é ensinado com hierarquia aí o professor se inibe diante do mestre escritor e trata rápido de passar sua inibição adiante o contrário do que deveria fazer pois deveria ensinar ao aluno a não temer os grandes mostrando como eles também se viram pequenos diante da certeza dos que nada fazem e apenas sabem emitir opinião...emitir opinião...ah, grande mundo de ilusão!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 19 de outubro de 2015 -- fauve

fauve

Vendo um quadro que pintei...

SELVAGEM
SIM
SELVAGEM
Homem com a coragem de enfrentar os medos
Os desejos
São a solução
Simples salvadora
Salvador sempre
Sempre sendo só
Porque os outros não gostam do cheiro da cor do tamanho
De quem enfrenta os próprios
MEDOS
Tom Gil Caetano Buarque de Holanda
Todos enfrentaram enfrentam enfrentarão
E magoaram magoam magoarão
Os sem noção do tempo

Que está se esvaindo a cada minuto...

domingo, 18 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 18 de outubro de 2015 -- três vezes três

três vezes três

QUERO O ERRO!
Quero a visão do pincel na tinta na tela
Quero a visão da solidão impressa
Queria que o nove mal pintado fosse entendido
Como uma possibilidade de três vezes três de seis ao contrário
Queria um monte de coisas ao contrário!

Por isso rimo canto pinto em falsas imagens o absurdo da realidade 

sábado, 17 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 17 de outubro de 2015 -- binóculo

binóculo

Olhos olham
Olhos sobram
Olhos sombram

Pescoços tombam
Imagens de pés
Pendem
Sempre sigo sempre
Minto às vezes
Sopro suspiro simples
Curto a dor do sol
O sol sendo futuro
Heras em muros
Anunciam um jardim
Não sei onde estou
Nem quero saber
Só quero querer:


Sombras Sobras Olhos e Sóis

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 16 de outubro de 2015 -- O Segredo dos seus olhos

O Segredo dos seus olhos

A Angélica Plácido

Feche a porta!
Entre e se desfaça de seus sonhos
Falemos da realidade
Que sangra
Que manca
Tenta nos pegar
Falemos dos nossos olhos cansados de tantas batalhas
Perdidas...
Mentira!
Estamos vivos e só isso já nos permite tentar alcançar o segredo dos nossos olhos
Se não tivermos medo das palavras:


TE (a)MO!

365 dias com poesia, 16 de outubro de 2015 -- círculo

círculo

A Andréa Cunha

Aceitação sim
Insatisfação também
O outro lado da moeda também é moeda
A vida é feita de desafios
De sins e nãos
Importa mais nossa reação
Às vezes os sins parecem fáceis mas nos afastam de quem somos
Às vezes os nãos parecem inaceitáveis mas nos mantém querendo
Conseguir algo além da

Imaginação 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 15 de outubro de 2015 -- convidado

convidado

Vivemos pouco mais de oitenta anos
E por isso nos impressionamos com a solidão da imaginação?
Desejamos a verdade da realidade
Quando poderíamos apenas respirar aliviados pela sensação de poder errar
Destacamos os outros olhares diferentes dos nossos e então perdemos a vontade de crer nas nossas possibilidades?


(Assim perdemos o melhor da festa que é apreciar nosso olhar sobre a festa de como nos comportamos com os reveses na dança da vida como levantamos depois dum tombo como encaramos o espelho depois do sonho não realizado...)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 14 de outubro de 2015 -- cego

cego

Por que Paris?
Porque a tristeza que sinto
Vem de uma música que nunca tinha ouvido de Aznavour
Porque é como se se tivesse vivido lá como se entendesse suas pontes sem tê-las construído
Como se sentisse doer nos olhos sua luz excepcional sem nunca ter podido olhá-la
Não é um conhecimento de livro nem de experiência
É um conhecimento de sentimento
E conhecimento de sentimento não precisa de palavras nem de imagens
Precisa apenas de crença
Crédulo amo Paris como a primeira vez que não a vi

terça-feira, 13 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 13 de outubro de 2015 -- o mar

o mar  


A Nélson Cavaquinho


não jogue luz
sobre minha tristeza
deixe-a seguir azul

(cor do céu
em reflexo
cor de olhos
sem nexo
que seguem
a tristeza da luz) 

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 12 de outubro de 2015 -- Crianças II

Crianças II

Aos meus filhos: Vinícius, Victor e Thiago

Se tivéssemos coragem de escrever sobre nossos sonhos...
Ao cantá-los seríamos encantadores
Ao pintá-los seríamos pintadores
Ao vivê-los seríamos inteiros

Ao esquecê-los seríamos crianças

domingo, 11 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 11 de outubro -- doce segredo

Não posso mais rimar
Ar com sufocar
Flor com odor
Mãe com vida
Não suporto mais agüentar as verdades escritas
Meus dedos mandam no meu sentimento e escrevem palavras direto do coração
Não posso mais suportar olhar em primeira mão minha própria emoção escondida de mim
Assustado tento não ler o que escrevi mas a curiosidade é maior do que o medo


doce segredo

sábado, 10 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 10 de outubro de 2015 -- carência

carência

Certamente há um desespero
Um certo esmero em ser incorreto
Falar das coisas difíceis para chamar a atenção...

Chamar a atenção
Defeito dos tempos modernos
Só pode acontecer com sorrisos de carnaval
Palavras mentidas fotos retocadas declarações de falsas intenções
Todos são mentirosos? Não! quase todos nós mentimos sem nos lembrar
Do tamanho e da cor das nossas mentiras
Pequenas grandes gordas
Animais que cultivamos como se fossem flores
Quando guardam espinhos enormes
Do tamanho de árvores
Que enfeiam nossa existência

Tanta carência

Só podia dar em explicações que choramos escondidos acordando cansados por não entender que são os momentos verdadeiros que nos embelezam para nós mesmos 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 08 de outubro de 2015 -- carne e osso

carne e osso

Movediço tempo
Cediço
Incerto
Movimento
Quando acho que estou parado
Rodo
Tonto me incomodo sofro
Da vertigem de desconhecer-me em ilusão
Da crença na certeza
Espremo desilusão
Durmo acordo espremido
Por besteiras que invento
Regras impossíveis de ser seguidas
Já sei que nada sei?
E mesmo assim continuo...
Ato contínuo absurdo
Parado e mudo

Envelheço...

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 07 de outubro de 2015 -- queda de asa

queda de asa

Algum dia alguém entenderá
Que o azul do céu determina o azul do mar?
Que a terra é redonda de tanto apanhar dos séculos
Que dizemos de cem em cem anos porque inventamos?
Na vida quase tudo é invenção:
O número zero o ano bissexto o amor a paixão!
(A paixão é o amor por nós mesmos, esse um segredo
O amor é a paixão pelo outro que existe aqui dentro
Bem aqui dentro de mim que me completa
Num olhar num toque numa queda de asa numa lágrima furtiva...)
E seguimos desconhecendo o poder da invenção...

Ruminando uma vida simples quando podia ser preciosa pelo sabor da imaginação

terça-feira, 6 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 06 de outubro de 2015 -- olhos de fábula

olhos de fábula

O anjo amor me determinou:
“Siga seus instintos!”
Segui sigo seguirei sendo aquele menino que mereceu continuar pela vida

Para plantar um pequeno jardim de rimas com pedras de riachos com cacos decantados em tantas palavras...tantas que passei a cantá-las e a pintá-las apenas com  a força do acaso (?) amador do amor fracasso diário dividido ao vivo persigo tudo aquilo que acabou esquecido num rio (Nilo?) dourado de lágrimas em olhos encabulados de fábula

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 05 de outubro de 2015 -- simplesmente

simplesmente

Tanta coisa a ser dita
E quase sempre com as mesmas palavras...
O que fazer se só sei solfejar rimas?
Pintar versos com tintas das recordações mais bonitas?
Teria que inventar um dialeto?
Mas quem o entenderia?
Passaria dias e dias tentando explicar o que ninguém quer ouvir...
Ninguém quer ouvir muito menos escutar

Quando se escuta as perguntas ficam mais simples e mais absurdas

domingo, 4 de outubro de 2015

365 dias com poesia, 04 de outubro de 2015 -- fundo de gaveta

fundo de gaveta


...era um poema tão lindo
que lá pelo meio
falava de belas tardes apertadas
entre tias e avós
e tinha um cheiro de doce de coco danado
um poema delicado como os abraços que o menino levava
em seu modo pequeno e quente
o destaque não eram as palavras escolhidas e sim o tom emocionado que o poeta conseguira...
mas esquecido que estava de quase tudo
ele esqueceu o poema que se perdeu entre tantas preocupações que o consumiam numa tarde fria de domingo
sem ter o que fazer, por não se lembrar, resolveu relatar como uma pequena joia acaba esquecida num fundo de gaveta d’alma 

sábado, 3 de outubro de 2015

Aldemir Martins, poema: labirinto azul

labirinto azul

A Terra é azul
O todo é azul
O nada é escuro?
Como meus olhos negros surdos?
As matas sãs são verdes e o incêndio inventa novas cores
A fumaça cega e aquece a terra e o aterro claro fica raro
Sempre vejo como os pássaros voam e cantam num canto cada vez mais espremido pelos edifícios o que me salva é a areia da praia e mesmo a água infectada colore a manhã

Não sei para onde vou mas continuo como quando o mundo acabou para meu irmão e minha mãe o mundo sempre acaba e sempre acabará para quem morre por isso prefiro pensar no topo do céu azul pintado inventado por mim para mim e que perto do fim continuará azul sim!

Aldemir Martins -- Plácido, poema: BIRDMAN

BIRDMAN

Foda,
Não é abrir as asas
E alcançar o mundo com as mãos pela
Ilusão de controlar o tempo, no momento do show,
Sendo o senhor supremo do (meu) universo.
Foda,
É ter de fechar as asas e encarar a rotina cinza do mundo real

Com curiosidade sociológica para saber até que ponto as pessoas mentem para si e sorriem!

Aldemir Martins -- Plácido, poema: caubóis

caubóis

Efetivamente os realistas têm a capacidade de ver a realidade?
O que é real quando estou sentindo fome?
Um nome um ventre um sobrenome?
Quantos de nós não gostamos de nos iludir e achamos que estamos fazendo aquilo que queremos que de fato nos foi empurrado goela abaixo pela propaganda esperta e viril?
Lembram do caubói do cigarro?

Morreu de câncer sozinho e abismado com o tamanho a cor e o cheiro de sua solidão... 

Aldemir Martins -- Plácido, poema: tardes febris

tardes febris


...e acaba que o dito artista plástico cospe na tela vontade de se comunicar escolhe cores que alegrem seu pesado estar nesse mundo cinza da vida real que acaba com qualquer ilusão quando todo dia anuncia: a nova guerra a nova política monetária a nova modelo milhardária vida real que adora gente com pouco talento que precisa ser ajudada nos programas televisivos das tardes solitárias de nossa pobre existência febril

Aldemir Martins -- Plácido, poema: Sorrysos II

Sorrysos II

A Jorge Plácido, 75 anos

Pai,
Todo ano faço um poema que você não lê
Eu entendo e queria lhe dizer
Que também sofro por todos os momentos que não temos com quem nos deixou
Finjo não sentir na sua presença tento disfarçar mas as lágrimas acabam virando palavras
As quais transformo em asas

Para da ilusão sorrirmos um pouco um para o outro 

Aldemir Martins -- Plácido, poema: Passádos

Passádos

A vida real não passa
VOA
E como esquecemos que fomos pássaros
Esquecemos de acompanhar seu ritmo
Desdenhamos da vontade que intuímos de voar
E ficamos a olhar o chão

Com medo da ilusão...

Aldemir Martins -- Plácido, poema: alma

alma

A Naná Rossi

Às vezes as palavras não têm sentido
Somente um abraço pode minimizar a falta
Mas de longe
Só posso desejar um desejo
Que tudo se acalme na sua alma
Saiba todos iremos e nos encontraremos no amor
Nesse momento apenas rezemos por calma
Porque depois é só saudade
Saudade que cansa o corpo e nos deixa sem sorrisos

Um pouco cinza vivemos a vida saboreando de mãos dadas nossas desilusões

Aldemir Martins -- Plácido, poema: ciclistas

artifício

a arte é o registro da emoção
e só há emoção com movimento
(ninguém ri de olhos vidrados,
ninguém chora com lábios parados)
só há emoção com movimento
de olhos de corpos de
sofrimento:
desejo do que não consigo
expresso pelo estranho movimento

que em mim é arte

Aldemir Martins -- Plácido, poema: ciclistas

ciclistas

uma bicicleta sombreando a lua
lembra o ET
aquele animalzinho de olhos grandes e que tocava o dedo na nossa ilusão
de crianças que queremos acreditar em algo que venha dos céus
em algo que nos acalme dessa vida cansada

de pedaladas e de animais estranhos (a que chamamos humanos)

Aldemir Martins -- Plácido, poema: compositores

compositores

A Fábio e Alessandra Coelho

sim
o mar
(O mar quando quebra na praia é bonito é bonito...)
também salga o amor
no barulho das ondas há
olhos sorrindo
bocas brilhando
dois amores com calor
impulsionando vidas
impressionando os ventos
alísios
alívio ver
dois amigos sendo
um
navegar

(Navegar é preciso viver não é preciso...)

Aldemir Martins -- Plácido, poema: Deus e o diabo

Deus e o diabo

Não crer
É para poucos
E não porque seja uma vantagem
Pois na verdade
Não crer em nada
É ter de resolver tudo
Ser o mundo
Deus e o diabo
Terra do sol
Ser
Glauber
Caetano
Gil
Sarney
Se fazer em mil pedaços de homens e
Ter de trabalhar como mil pedaços de homens
Amar como mil pedaços de homens
Sofrer como mil pedaços de homens
Sem saber como mil pedaços de homens

Chegarão a ser mil homens 

Aldemir Martins -- Plácido, poema: Pedras, lago e vento

Pedras, lago e vento

A vida é definida pelo movimento

A pedra é pedra porque está parada
Quando em movimento é agressão
Ou brincadeira de criança num lago

O lago parado é depósito de mosquitos
Sendo nadado é alegria de braços
Que parados são tristeza (ninguém dança em silêncio)

Qual pássaros nascemos para nos agitar
Parados somos árvores
Esperando a queda
(Apenas árvores esperando a queda...

Com medo do som das serras, gritos intuídos trazidos pelo vento...)

Aldemir Martins -- Plácido, poema: diabólica

diabólica

O diabo não é mau porque é o diabo
É mau porque é velho
A velhice vê o futuro
Cospe pretéritos
Vê cinzas nas árvores
Sente o cheiro das saudades
E arde como carvão
Por isso desacredita em qualquer obra
Principalmente numa que fale a verdade

Porque a velhice não precisa mais da verdade porque ela já sabe que a  verdade é o fim

Aldemir Martins -- Plácido, poema: duas mãos

duas mãos

A tristeza não cansa
O que cansa é a falta de esperança
(Essa nossa segunda pele...)
Se não acreditarmos tudo estará acabado
Precisamos acreditar em algo que nos dê paz
Que iniba nossa feia mania de avançar no que é do outro ser
Que está ali a rezar pedindo paciência, amor, dinheiro?
Precisamos de quase tudo que não é nosso?
Ócio criativo ódio do sorriso alheio?

(Precisamos urgentemente de sonhos, nossos, que preencham nossa Necessidade de ilusão

Precisamos insanamente de pelo menos mais duas mãos!)

Aldemir Martins -- Plácido, poema: dedo babado

dedo babado

Antes da lágrima
Cuspo a palavra
Que define a direção

Antes da farpa
Cuspo a palavra
Lança de sensação

Antes que ouça asneiras
Vomito besteiras
Sobre Picasso Drummond

Antes da ressaca
Tomo ar contra a solidão

Antes que venham estou indo
Antes do latido o carinho
Afago esperto contra a mordida certa

Antes prevenido do que machucado
Antes do não um arranhão

Isso é a arte do meu jeito

Um cheiro de dedo babado impresso na tela