sexta-feira, 29 de outubro de 2010

REDONDOS

Quem são

aqueles olhos redondos

me olhando

longe da possibilidade

são seus olhos de sonhos?

Eles cabem num voo pela cidade?

EM VOCÊ

Esqueço do hoje
para pensar no amanhã
é idade?
ansiedade...
deveria me lembrar
do que ontem ocorreu
mas
doeu
e preferi esquecer
deveria lembrar de mim em você?

EM ROU

quem quer ler poesia nesse mundo de sexo, drogas e roque em rou?
sexodrogaseroqueemrousexodrogaseroqueemrousexodrogaseroqueemrousexodrogaseroqueem rousexodrogaseroqueemrousexodrogaseroqueemrousexodrogaseroqueemrousexodrogase roqueem rou

RAINER MARIA RILKE

Pois arte é infância. Arte significa não saber que o mundo já é, e fazer um. Não destruir nada que se encontra, mas simplesmente não achar nada pronto. Nada mais que possibilidades. Nada mais que desejos. E, de repente, ser realização, ser verão, ter sol. Sem que se fale disso, involuntariamente. Nunca ter terminado. Nunca ter o sétimo dia. Nunca ver que tudo é bom. Insatisfação é juventude.

CUSPES (modificado)

Nada muda porra nenhuma? Ou tudo me muda se vivo o resultado dos meus atos? Tudo que se acumula não me anula ao contrário teimoso como mula continuo cavalgando amuado insisto em micros estampidos cuspes acumulados transformo meus triângulos em quadrados quartos de luas abismados pela luminosidade absurda não me culpam pelo aclarado discurso de boas-vindas aos meus ensejos desejados continuo acumulando lutas idas e vindas quiça para o lado errado fracionado por permutas mudas com a consciência dos desalmados assustados com os animais enjaulados que trago mato certezas absurdas frequentemente malversadas por enfados

TEMA E POEMA

mesmo sabendo do jeito que o mundo é e de como são as pessoas no mundo continuo esticando as mãos se vão corresponder e querer me cumprimentar não é problema meu se estico a mão e fico no vazio me congratulo em ter tido a coragem de esticar quem não me cumprimentou é que term que se explicar consigo mesmo

Esse é na verdade um tema para um poema. Então, vou tentar:

DE POUCOS

Estico
minhas mãos
são
minhas passadas
por esse mundo de ilusão
estico-as
como um colchão
esperando o travesseiro
conforto do outro
se não tenho
pelo menos
tive a coragem de esperar
algo de alguém
nesse mundo
de poucos

(Esse sim, o poema!).

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

CANTO LOGO EXISTO

Se canto enquanto choras não seria melhor parar de cantar? é difícil lidar com um cara que sabe o que quer e tem o dom que acha que tudo que quiser conseguirá criação ou loucura é difícil precisar a verdade que é fácil ou impossível isso descobri desde o início quando me vi cercado de amigos incríveis que me fizeram acreditar poucos vão me perdoar por falar a verdade mas a verdade é que se penso logo existo só existo porque enquanto canto choras

DILEMA

Nessa vida ou você sofre ou produz sofrimento quantos homens você conhece que são neutros? quantos conseguem ouvir predileções sem preconceito? quantos conseguem gostar de ver o gosto de outra pessoa? essa vida é a única neste corpo e mesmo assim escolhemos sempre algo que nos martiriza você sabia que o esforço para fazer alguma coisa boa é o mesmo que para fazermos algo ruim o esforço é o mesmo para ser triste ou ser feliz o que você irá fazer depois de acabar de ler esse poema?

CARNE

porque pedra, esfarelo
porque ferro, enferrujo
porque carne, apodreço

porque amizade, apareço
porque amor, anoiteço
porque paixão, amanheço


Abraços, Marco.

SEM GRAÇA

sinceramente
acho que graça não combina com poesia
ironia
sim
mas piada
fica sem graça
manifestar o óbvio
desculpem-me
os humoristas
lembra rima
de criança
pança com dança
ou
amor com calor
ou para piorar
coração com emoção

VERBORRÁGICO (modificado)

Li num filme assisti num livro ouvi no teatro vi num Cd telespectei na internet conversei com o mouse...

Só os verbos me definem

Elástico (modificado)

...artista é esticar o elástico sem deixar arrebentar ou se arrebentar consertá-lo em poucas palavras antecipar o canto do pássaro como lá atrás já escrevi escrever errado por linhas virtuais mas mesmo assim conseguir a tão pretendida comunicação com lábios ou com as mãos o artista tem que mandar seu recado que será mais ou menos magoado de acordo com suas vivências acumuladas muitas vezes entretanto invento mágoas que parecem apenas palavras repetidas para quem desconhece seu sentido muitas vezes sou meio aflito meio míssil atirando pretensão ser artista é mais do que poder tudo é acreditar que se pode tudo seguir em qualquer direção para enfim parir uma obra de arte!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

FRUSTRAÇÃO

escrevo
com desconhecimento de causa
fingir desconhecer
ou desconhecer mesmo
tudo o que já foi feito
é condição primeira
para um escritor
viver
uma lenda alheia
essa a grande frustração
que impede a criação

CRINA

Na música
me sinto invadido
por desculpas
que não me pertencem

num poema
me sinto
inventando a semente
criando árvores num deserto
colorindo o cinza
galopando na crina
de um animal selvagem
que sou eu

DO DESTINO

Estou tranquilo
ciente do sacrifíco
e sabedor
de que
não há
mais nada a fazer
carreguei meu fardo
sozinho
subi um morro
e
quase aproveito a rima
para me deixar
(de mim)
agora
está na hora
do destino se manifestar

ORAÇÃO

agora que está pronto
é hora de ter cuidado
deixar o ritmo da vida se impor
não tentar vencê-lo
o tempo é padrasto
com o tempo
há-de
haver paciência
ciência
de saber entender
a direção do vento
nas velas
levar
o barco longe das pedras
preservá-lo
tê-lo como aliado
para que não aja
esforço em vão
tê-lo
quase como
uma oração




Abraços, Marco.

HAICAIS LEGAIS

Lendo uma coletânea de poemetos (haicais aportuguesados) separei alguns para vocês:

Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a lua

É meu conforto
Da vida só me tiram
Morto. (Millôr Fernandes)



DIA A DIA

Noite? manhã? tarde?
O meu dia é eterno
sem nenhum alarde.


A VERDADE DA NOITE

No copo d'água
a dentadura postiça:
o riso no aquário

(Lêdo Ivo)



OCIDENTAL


a missa
a miss
o míssil


À BENGALA

Contigo me faço
pastor do rebanho
de meus próprios passos.

(José Paulo Paes)

LENDO HAICAIS 2...


ROMEU

Esse mar revolto sou eu
encapelado, abismado
adolescente irado, Romeu


A TARDE

Devoro-me em lágrimas
que não tarde a tarde
para provar-me em palavras


DIAMANTE

Num relicário
em orações, me escondi de mim
eu, diamante solitário

Rimas e Metáforas

a verdadeira coragem do poeta é apesar de saber que ninguém quer saber continuar a fazer com a ingenuidade de quem estende as mãos para um acidentado sem saber a origem do desgraçado continuar levando o susto com tudo que dizemos já estar acostumados esse susto é que nos sinaliza que devemos continuar não interessa se poucos ou muitos irão aproveitar algo essa a coragem do poeta que sabe mas finge não saber único fingimento possível na vida com rimas e metáforas

terça-feira, 26 de outubro de 2010

LENDO HAICAIS...

QUEDA

Do alto da cátedra
aflito me sinto
folha em queda de pedra


BERÇO

Com beijos em todo o corpo
amanheço em berço
de ouro


SONO

Pássaros cantam na
amarela janela
que meu sono nina

UMA ROSA

uma rosa só é uma rosa
quando entregue
em sua mão
enquanto isso
é apenas
uma planta
uma flor
sem razão

PÓLENS

os sons me ferem
pelo silêncio
aqui dentro
continuo
pensando
rezando
em continuar
melodia é poesia sem palavras
poesia é perfume de sons
faço música com tons
rincóns
cultivei em mim
uma imensa quantidade de dores
com caule pétalas pólens
que necessitam do silêncio aqui de dentro
para germinar


NA BOCA

Com a boca

Se faz

Uma declaração

Uma oferta

Um bocejo

Um beijo

Também precisa de boca

Como

O prego

precisa de estopa

como a unha do

dedo

na boca

é desejo

reprimido

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

TEMPO PRESENTE

...tudo vem do interior

no litoral

ondas carnaval

o interior

nos traz

o alimento

que define quem somos

amamos

sonhamos

inventando perfumes

galinhas

plantas

pintamos jardins

revestidos de saudade

fontes

brotam infância

ingênuo

mantenho-me a pão-de-ló

os poetas

plantamos amanhãs

domingos do tempo presente

DUM BLUES

...atraso o relógio...

o canto do pássaro
para mim
é passado
vejo verdes dons crescendo no escuro
ouço tudo
todos os olhares
de aprovação ou não
são
perceptíveis
ao encanto do oceano
que canto
no azul
dum blues

BOBAGENS

...bobagens...
o ser humano
qual papagaio
repete o que ouve
sem pensar
senão vejamos:
Lula come criancinhas
vai deixar invadir terrenos
deixará de pagar a dívida externa...
(declarações de eleitores
preocupados com a primeira candidatura de Lula)

enquanto isso os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro...

ÊXTASE

Todo dia hesito
penso
roo as unhas
deliro
faço tudo para não começar
mas
aprendi que dom
é
responsabilidade
escrever
é fazer a minha parte
deixo a vergonha de lado
penso no êxito
e
só paro de escrever
quando meus olhos não aguentam mais
o êxtase de estar vivo

O SUPER

...o problema...
o problema
é que a maioria das pessoas está cagando para tudo
ninguém quer saber da verdade
(qual verdade?)
ninguém quer gostar de nada
ninguém quer saber de nada
muitos, por inveja
poucos, por preguiça
saber
dá trabalho
se sei
me comparo
e posso sair perdedor
a merda é o cara que inventou
a competição
o fulano primeiro vê se vai ganhar
só quer fazer para ganhar
não importa a porra do segundo lugar
caralho
se sou o último entre os poetas fodas
sou foda para caralho
ou não sou?

quem não escreve
oficialmente
(num livro mimeografado que seja)
não pode nem começar a abrir a boca para falar de algum autor
quem sobe no palco
(seja ele qual for)
tem que respeitar o outro ator
se o cara é foda
aprenda com ele, ora bolas!
se você é que é o super
seja humilde e ensine aos mais inexperientes
lembre-se do seu começo

seja intenso e troque experiências
ninguém nasceu sabendo
e nenhum diploma substituí o talento

domingo, 24 de outubro de 2010

CASAMENTO

casamento
encontro de duas histórias
duas retas paralelas
que se encontram para formar um quadrado
um círculo de amizade
(essa a força da poesia)
que une
nutre
um novo ser
um caminho
um amanhecer

(Ao quase enforcado Marcus Vinícius e Taís)

...dos gramados

...e o susto que tomei quando meu filho me disse que haviam outras pessoas lendo isso tudo aqui
sem demagogia sempre escrevi achando que ninguém iria ler sempre pensei em conversar comigo retirar tudo aquilo que havia guardado durante anos a fio
para ser mais correto
durante quarenta e dois anos nunca pensei em começar
a coceira que me deu não tem explicação
ou
até tem
com o primeiro poema
homenagem ao meu falecido irmão
Frederico...
danado você me salvou aos quarenta e dois do primeiro tempo
craque dos gramados
até morto
pensou em mim
espero que tudo esteja correndo bem
te encontro no fim...

UM GOSTINHO... (do Pelas Janelas Amarelas)

ENQUANTO...

Enquanto houver sentimento

Enquanto houver nobres momentos

Enquanto houver credo

Enquanto houver amigos por perto...

UM GOSTINHO... (do E = mc2)

A MATEMÁTICA

A matemática

Ajuda

Com perfeição

Meu problema de adequação

Somo

a mais b

e sempre encontro

c...

UM GOSTINHO... (do No tempo do Vento)

BLUE

Derramei

Até a última gota

Da palavra

Fiz meu escudo

Protetor

Por pintar a dor

Me fiz de forte

Perdi meu norte

Me esforcei

Até a última força

Da palavra

Quis retirar o símbolo

Da sorte

Por esculpir na dor

Me fiz de norte

Perdi meu sul

Sucumbi

No azul!

UM GOSTINHO... (do Soul Poesia)

AÇO

quero ter

o brilho do aço

reluzindo

minha verdade

quero ser inteiro

com várias partes

quero

somente

ter

a significância

da criança

UM GOSTINHO... (do Imaginar-te)

CONTRA WILLIAM

Saiba

Não há superação

O que há é

Bela decisão

De ser quem

Se é

Deixar

De ser

Ou não ser

UM GOSTINHO... (do Meu vagabundo Olhar)

Serão seis posts, cada um com um poema da COLEÇÃO RASCUNHOS POÉTICOS, que pretendo lançar em 2015. Serão seis livros, cujos nomes dão uma pista do inteiro teor. São eles:
1 -- Meu vagabundo Olhar;
2 -- Imaginar-te;
3 -- Soul Poesia;
4 -- No Tempo do Vento;
5 -- E = mc2 (Explosão é igual a ação vezes emoção ao quadrado); e
6 -- Pelas Janelas Amarelas.


Então, lá vai o primeiro poema da séria UM GOSTINHO...


PARADOS

Quem muito quer

nada detém

as pessoas correm atrás

do carro

da viagem

do novo emprego

de ganhar muito dinheiro

para não terem tempo

de parados

descobrirem

quem são...

LAMBIDOS

...não fico lambendo
poemas
os antigos são tão importantes quanto os novos
afinal de contas
vaidade é ficar contando vantagem do que foi feito
esqueço
esqueço
e me lembro de tentar inovar
essa verdadeira característica
adoro novidade
é mais fácil
não se prender ao passado e mirar no escuro
o futuro a Deus pertence?
ou o futuro
(se possível)
me pertence?

sábado, 23 de outubro de 2010

UM FIO

crio vida
mio
lato
enfio na cabeça
um fio de história
invento memórias
o curso do rio
mudo
falo
mio
um gato
num verso exato
defino o mundo
faço dele
o meu final

OS FINAIS

Triste do país
que se define
por intelectuais de butique
ansiando um lugar na TV
não lêem não falam não vêem nada sabem
porque é bom nada saber
se sentem aliviados
por não dar opinião
fora os finais da novela
os finais da copa

esse tipo de emoção

Cento

pássaros
voos de asas
soltos
prova cabal
do vento
sento
cento
bicos sedentos de ar
pássaros
liberdade de voar
fechar os olhos

emocionar

DESCONHECIDOS

...desconhecem o processo
se apegam ao nexo
desconhecem a criatura
se apegam ao sexo
desconhecem a dor
se apegam à cor dos cabelos
desconhecem os calos
se apegam às unhas
desconhecem o futuro
se apegam ao passado

ANTERIOR MENTE

me mudei do meu mundo anterior anteriormente minha mente ainda não sabia o que era pavor de perder as pessoas amadas e por isso mudou mudei em mim o conceito do que era importante e por isso passei a escrever para mim todo o instante entre o desejo e o pensamento entre o pensamento e a ação entre a ação e a coragem de escrever tudo o que estava sentindo e mentindo para mim mesmo todos aqueles anos anteriores àquela sensação que havia anteriormente na minha mente


Abraços, Marco.

O MUNDO

nada no mundo é tudo
tudo sempre pode mudar
a única coisa que não tem jeito é a morte
mesmo a doença pode melhorar
algo em alguém se esse alguém puder
ainda pensar
tudo é o mundo
nada é ficar
esperando
o mundo mudar


Abraços, Marco.

CONDES (FRUTAS)

...onde se escondem as cores
das ondas
das mãos
(giocondas)
das meninas levadas-da-breca
onde se escondem os amores
dos homens
dos condes
(frutas)
dos entonces
onde se escondes?

Carioca (modificado)

Carioca

praia carioca

funk carioca

chopp carioca

samba carioca

marra carioca

PM carioca

Político carioca

Endereço carioca?

(Depois do Tropa de Elite 2)

SOU ARTISTA!

...difícil explicar...

é muito difícil explicar minha opção em me tornar ou me aceitar artista
num mundo em que ser artista remete a ser ex-BBB
ninguém lembra que a arte é feita da realização da exposição de nossos conceitos de vida
ninguém lembra quase ninguém sabe que a arte é feita de um misto de medo e consideração pela própria história
ninguém lembra ou quer lembrar que a arte geralmente ofende e por isso os primeiros a sofrerem num regime autoritário são os artistas
ninguém lembra ou ousa lembrar que artistas são cidadãos que se especializaram em pensar e expor nossas idiossincrasias
por tudo isso
não é brincadeira chegar e se apresentar:
sou artista!

AMIGAS

escrevo apenas quando estou indignado...
é que
geralmente estou indignado
por isso escrevo muito
tudo
aqui é diferente
acham que podem estacionar em qualquer lugar
limpar os dentes
em público parece que é bonito se expor
mostrar a briga pelo celular
a amante risonha
tudo explícito
suplício
para nós outros mortais
normais
que não somos especiais
não moramos no Leblon
não lemos O Globo
nem queremos estar nas capas
expondo falácias

queremos apenas a chance de nos vermos nos identificarmos com algum tipo de arte que não esteja exposta nas capas das revistas
amigas
será que isso é possível?

DE-TV

todos se acham no direito de achar tudo do meu trabalho eu também então acho que vou lhes mandar para aquele lugar em que a grama não nasce lugar em que o diabo é loiro e vascaíno vou lhos mandar para os quintos os quintos e sextos do inferno vou pedir para o diabo amigo dos poetas revolucionários-que-somos-em-fazermos-os-outros-pensarem-em-algo-que-não-seja-besteira-de-TV realizar bastante diabruras acabar com a doçura da vida de vocês


Abraços, Marco.

APNÉIA

Encontrei Maurício amigo antigo num evento esportivo nossos filhos nadaram e ganharam medalhas de participação nossos filhos são nossa continuação contínua ação nos liga e nos dá vontade de realizar outras histórias são fartas em lágrimas perdemos amigos irmãos e estamos aqui ainda estamos aqui sofrendo vivendo não há outra opção continuamos na apnéia essa a ideia de coragem que nos restou


Abraços, Marco.


...em voos

...hoje...
apenas reflexo dos meus ontens...
bem ou mal vividos
existiram
e me trouxeram até aqui
hoje
não abro mão
da força
da memória
única forma
de saber
o motivo de continuar
única forma
de tentar
tornar
meus passos
em
voos


Abraços, Marco.

007

...é muito fácil entender
quando se chega aos quarenta parece que descobrimos quem somos ou quem queremos ser e nos vemos ainda com chances de completarmos alguma missão sem sermos 007 mas com mais vontade e certeza de alguma direção aí partimos com tudo querendo realizar aí saímos de cima do muro e não vemos impedimentos para voar em busca do paraíso que quase sempre é um simples lugar



Abraços, Marco.

UM AMIGO

um amigo ainda não é fotógrafo mais um dia ainda vai se deixar fotografar
um amigo ainda não é diretor de filme de ação mais um dia ainda vai direcionar sua ação
um amigo ainda não beijou um beija-flor mais um dia ainda vai beijar
um amigo ainda não foi ao Japão mais um dia ainda vai japonear
um amigo ainda não sabe como fazer mais um dia vai saber



Abraços, Marco.

Coisa e tal

O Rio é uma festa de balas e mescla de pessoas que se detesta logo de cara é a marra é a marra a cara do cara do Rio jeito de surfista sotaque arrastado arrastando a asa de malandro só tem esperto
quem é o otário talvez todos que se esquecem que somos gente temos sentimentos encontros são momentos de nos conhecermos olharmos dentro dos olhos e tentarmos desvendar quem queremos do nosso lado no Rio a moeda de troca é o corpo tatuado dourado de sol de sal de coisa e tal onde isso vai parar não, não pare marque sua vida com algo mais do que "praia e sol, Maracanã, futebol...Domingo...".



Abraços, Marco.

SET LIST

mandei meu recado no show do dia 20.10 havia de tudo misturado estavam músicos garçons donos e engradados todos se movimentaram depois que comecei foi uma festa só não teve confete e serpentina não é carnaval tudo o que ocorreu tinha motivo como tudo na vida tem o set list (ordem das músicas) foi batalhado durante um ano e consegui em 50 minutos dar meu recado agora estou aliviado e posso pensar no próximo passo!



Abraços, Marco.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

FAMA X PRESTÍGIO 2

Num mundo midiático em que todas as tecnologias estão aí ao alcance de todos falta conteúdo para tanta forma de propagação, esse um grande paradoxo da nossa sociedade. A verdade é que do jeito que as coisas estão qualquer um com uma produção um pouquinho acima da média terá seus cinco minutos de fama, resta saber se esses cinco minutos podem se transformar numa história menos de fama e mais de prestígio...


Abraços, Marco.

NUVEM

...esse céu azul
me abafa
com suas possibilidades

é tanta dimensão
tanta parte
que não sei por onde começar
como os pássaros fazem para começar a voar?
em que momento devo parar?
para que nuvem me direcionarei?
onde inventarei seu rosto?

Imitando índio

...e a vida continua continuo mudo não posso emitir som como parar de ouvir meu coração o medo me conduz a ficar cada vez mais calado e magoado com o mundo em que ninguém me dá valor como posso passar desapercebido será que se comprar um apito imitando índio farei sucesso? num mundo globalizado um cara que tem opinião passará sem ser notado? entrará no crediário atrás de uma fila um fila me morderá para me fazer gritar de dor não acredito que tenha que fazer música universitária esquecendo dos meus valores e os atores dos meus poemas onde estão? será que conteúdo não rima com mundo?



Abraços, Marco.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

PREOCUPADO

todo dia me obrigo a escrever
todo dia
faça sol ou chuva fina
sento e escrevo
às vezes
estou inspirado e os poemas saem voando
sem esforço nenhum
noutras
como hoje
a coisa fica meio preocupante
os dedos pesam e nada tem muito graça
insisto e continuo digitando
às vezes
quebro o encanto
noutras jogo tudo fora
e vou seguindo
essa a humildade do poeta
saber que mesmo quando não é o seu dia deve continuar
se preocupando em continuar

Esse e Aquele

...um poema mudou minha vida...
corajosa afirmação?
sinceramente
não sei, não!
é apenas a verdade...
um poema não pode fazer a sua parte?
não pode nos colocar para pensar?
um poema não é apenas um poema
é um tema para nos fazer refletir e talvez se nos pegar no momento certo possa nos fazer realizar uma pequena que seja modificação que qual massa de pão quiça aumente e no fim das contas saia uma pizza um macarrone sei lá um poema como qualquer forma de arte é feito para interferir e espero que esse faça com você o que aquele fez comigo


Abraços, Marco.

ASSASSINOS

ASSASSINOS!

Assassinos

assassinos

de crianças

da própria

evidentemente

deixamos de nos emocionar com as coisas mais simples da vida

nos forçamos a esquecer o primeiro beijo

o primeiro encontro

o primeiro safanão

esquecemos tudo para nos fixarmos em produtos

esquecemos da árvore

lembramos do fruto

trocamos o passado pelo futuro

esquecendo de quem fomos

da nossa criação

para comprar valores baratos

na liquidação americana de produtos para os de terceira

do terceiro mundo

nos mudamos de nós assassinando nossa identidade

depressão e outras doenças

nos perseguem

como abelhas ao mel

e o céu

De quê cor

estará hoje?

NATUREZA

Resolvi
resolver
resolvi e passei a ver soluções
de vez em quando me desespero com o excesso de acomodação
poucos dão perdão
a si mesmos
minha tranquilidade
é um apetrecho
uma atiradeira
que serve para proteger os passarinhos
atira pedra nos meninos que não dão valor
à natureza
à nossa natureza
de exímios
fingidores
esqueço
as cores
para chorar
em preto e branco

viva os prantos

Abraços, Marco.

A VIDA

Hoje, conversando com um amigo que tem pouco contato comigo disse: "Rui, não estou fazendo poemas...isso é verdade mas limita o campo de ação de quem ouve." Ele, curioso, fez cara de que não entendeu, e continuei:"...estou inventando uma nova vida! Quando comecei a escrever -- e um ano depois a cantar, não havia me dado conta, mas, hoje, vejo claramente...estou inventando um novo jeito de levar minha vida até onde ela irá... não é que tenha ganhado tempo, mas, com certeza, estou muito mais feliz como esse novo jeito que criei de percebê-la...".



Abraços, Marco.

UMA IDEIA

Depois que escrevi o poema HOMELESS, o poeta tive ideia de uma peça. Como seria? Vários esquetes com fatos cotidianos e o poeta interferindo como um espectro falando poemas que tivessem algum nexo como o que estava se passando, no fim da peça quando todos estivessem na certeza de que o poeta era um fantasma...descobririam que aqueles que se especializam na vida real...bom um dia desses conto o resto...



Abraços, Marco.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

FADO-BLUES

um blues
é uma toada
de saudade
como o fado
lamento
de um bravo
cantado
sofrido
grito invadindo o silêncio
repetido à exaustão
um blues é um motivo azul-solidão

PERGUNTINHAS

Einstein era maluco?

Só por que botava

a língua para fora?

Ora!

Meu cachorro

também coloca

e não é maluquinho, não!

Aquele quadro

está de cabeça para baixo?

Acho que sim!

Porque reparei que a assinatura está no alto...

(Gente, que absurdo

Quem disse

que não pode aparecer um maluco

e esquecer o que se estabeleceu...)

SAMURAIS

As rimas

Se perderam num dia-a-dia

De sertanejos e pagodeiros

Não é preconceito

É conceito

Ninguém agüenta

Ouvir

Música

Com coração e paixão

Os poemas deviam esquecer

Delas

e

num clube do Bolinha

só deixar entrar

Quem não rimasse

Seriam poetas

de conteúdo

do mundo

inteiro

viriam árabes

Judes

Japoneses guerreiros samurais da honra à palavra

Todos irmanados

Em preservar o que a poesia realmente precisa:

criatividade

Beltranos

...rindo...
rimo...
insisto
nada me cansa
a vida não é uma mansa manhã

exala
se agarra
nos erros dos pequenos
das artes bélicas
(diria Camões)

a vida é uma batalha a ser vencida
uma guerra entre quadrilhas
os flamengos querendo tirar os espaços dos nenses

ninguém fica parado estendendo as mãos
o pouco espaço é conquistado
com inteligência e trabalho

mas
não é inteligência de beltranos
é inteligência de eu-te-amo-e-posso-te-convencer...

sol

...ando de carro
perseguido
pelo sol
reencontro-o
batendo no paredão dos prédios
sua existência
é a minha existência

puxando rede de peixe
na praia de charitas
aos domingos
sorrindo

sua existência é minha

caminhando
pensando
digitando uma canção

rimando mão com solidão

CAIPIRINHA

o que me mantém jovem
é querer ser jovem
mas
não é jovem de butique
é jovem por ainda acreditar
por continuar fazendo
não tenho tempo de ficar ouvindo conversa fiada
nem esperando para bater palmas
para maluquice dos outros
sou jovem
porque apronto
as minhas
e são
elas que me manterão
eternamente
limão
nessa vida
água com açúcar


Abraços, Marco.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ENQUADRADO

...tem três estágios
um enquadrado:
1 -- rezar pela saúde do pintor;
2 -- torcer para que a mistura de cores dê certo;
3 -- reclamar que a moldura ficou muito apertada...




Abraços, Marco.

BEATLES

rosa num sonho rosa não é rosa é qualquer cor qualquer flor azul num blues azul não é azul é a cor da discriminação que pode ser verde amarelo vermelho um submarino amarelo na viagem dos besouros é amarelo apenas porque parece sincero achar que amarelo é sincero mas amarelo para mim pode ser discriminação ou azul um blues ou rosa um sonho rosa ou qualquer cor qualquer flor


Abraços, Marco.

Tamanduá

Um grilo
é verde
no meu sonho dourado
um besouro
anda
no meu sonho cantado
um tamanduá
rosa
no meu sonho
rosa
rima
formigas com foca


Abraços, Marco.

domingo, 17 de outubro de 2010

Levado

Nunca é tarde para blábláblá

os ditados são grandes bobagens

como dizer para um homem de oitenta anos que não é tarde para uma grande paixão?!
poderá acontecer
ninguém pode duvidar
mas
algumas coisas poderiam estar resolvidas a uns trinta anos atrás
(ou durante)
e nesse caso
dizer que não houve perda de tempo
é ficar cego para as evidências

na verdade
se não tomarmos as decisões ao seu tempo
para quase tudo será tarde e
pior do que ter
lembranças difíceis
é não ter
do que se lembrar
ou
do que ser lembrado

Abraços, Marco.

Suas, minhas

sentei pensei e escrevi
não sei de ler
sei por sentir
entendo o que os poetas dizem
não porque me treinei em entender
entendo porque sofro com eles
as palavras suas
minhas
são
cada hesitação
cada ponto
cada vírgula
os espaços em branco

a intenção


Abraços, Marco.

Inventado

palavras
são facilmente confrontadas
se digo que é sim
dizem não
se digo mim
dizem então
por isso os críticos temem
análise acurada
de poetas
ainda na estrada
seu poder de invenção diminuí
diretamente com o humor do analisado

vocês já imaginaram uma réplica entre o inventor e o inventado?


Abraços, Marco.

De intenções e intuições...

...o inferno está cheio...
de intenções e intuições o inferno está cheio
o Diabo deve estar satisfeito
cheio de pessoas da mais alta
estirpe
políticos

do Pt

do Pv
do FDP
...

resumindo
tudo salci fufu
todos tiveram
ótimas intenções
por óbvio
de uma excelência...
e as intuições então
proficiência
de intenções e intuições todos estamos cheios e paralisados pelo medo
de merecermos irmos nos encontrar com o demo

PESSOA SOA (Poema)

Pessoa soa
entoa
nossas dificuldades
nos transforma em moscas
na sopa
de angústia e incompreensão
espremida
pelo seu eléctrico gigante de coragem e lucidez
Lúcifer
acidez
clara visão e compreensão
de nossa dimensão humana
escarro esgoto putrefo
não escrevo em Português
escrevo em pessoa
(peçonha)
pessonhez
aridez do sertanejo que ainda mantenho
fingimos desconhecer nossos enredos
Pessoa criou-nos na escrita
e por isso vive!



Abraços, Marco.

LEIO

Escrevo

por não ter certeza...

Canto

por não ter certeza...

leio

por não ter certeza...

não espero

por não ter certeza...


Abraços, Marco.

LENHA

Tirante

As declarações de princípios

Dos inícios de alguns poemas

O resto

É rio que corre solto

É pedaço de lenha na correnteza


Abraços, Marco.

ALGO AZUL

touros
somos touros
não podemos ver vermelho
nos abalamos
em corridas
atrás do rabo
guiados
pelos chifres
não nos damos conta da existência
de algo
(azul)
que talvez possa nos explicar
essa fúria


Abraços, Marco.

De Gesso

...estátuas
voltadas
para uma caverna
pelo eco
posso afirmar
não ouvem
não querem quebrar
suas certezas de gesso
não podem confrontar-se
com as verdades
(de barro?)
que estou a ruminar


Abraços, Marco.

Dona Encrenca

"Você não tem...expediente...
você ouviu?
Afrânio, preste atenção em mim!
Você não sabe ganhar tempo...
Por que enquanto eu estava no hortifruit
você não lavou o carro?!...
Afrânio...

você vai aonde?!"



Abraços, Marco.

sábado, 16 de outubro de 2010

Homeless, o poeta.

...e o poeta continua mendigando atenção
os executivos buzinam
em desespero
os juízes
se escondem
em insulfilms
cada vez mais negros
e os desejos?
os desejos
são descobertos pelos poetas
que vivem nas ruas
sem serem notados
como párias
alguns poucos
são destacados
pelo cheiro do que escrevem

EX-QUINA

Gosto de azul
pela rima e pela
cor
gosto de Ipanema
pela rima e pela
prima
gosto de esquina
pela rima
e pela
química
gosto de poesia
pela rima e pela
ex-quina


Abraços, Marco.

Importância

A distância
me lembra a esperança de rever...

a criança pensa...
conhece distância?
o sentimento
atrapalha ou eleva?
agasalha ou estraçalha?

a herança
de bondade
de azul
nos mostra
a importância
da importância


(Parabéns, Andréa)

POMARES

Fiz um romance...

Não foi bem aceito...

Li alguns romances

Contos

Não gosto do que leio...

Estou num impasse

Enquanto não descubro o meu jeito

Continuo

Entre os pomares

Colhendo poemas


Abraços, Marco.

HOMELESS

No pescoço os fios de cabelos

Desalinhados

Tortos

Denunciam

Junto com as unhas sujas

Das mãos e dos pés

A confusão

Em que se encontra esse cidadão

Que não mais atende

pelo nome

Triste

Cansado

de carregar

nos ombros tanta solidão


Abraços, Marco.

CADENTES

A tarde

Humilha o dia

num reluzente pôr-do-sol

Que inspira a noite a inventar

Suicidas estrelas cadentes

como vingança por fim tão belo


Abraços, Marco.

Ausência

Quanto mais aprendo mais não sei
não sei por que a pétala precisa da água
não sei se vários pingos formam uma poça ou uma taça
não sei se uma flor me basta
se uma floresta me abrasa
não sei se quero ter
se quero querer...

nada sei

quando mais me apresento mais me ausento
de mim

Abraços, Marco.

Poetas Portugueses 7

Maria Alberta Menéres, no poema sem título do livro Água-memória:

"Parece igual a flor
mas já não é.
De corpo decepado, ainda a cabeça move
toda a graça!
Só amanhã secará.
Aguentasse um dia a nossa esperança,
um dia apenas de cabeça viva
e corpo decepado,
aguentássemos nós a vida em nossos olhos
depois do corpo morto,
e em nós começaria a eternidade.

mas a seiva que ilude a bela flor
é mais forte que o sangue verdadeiro."

Poetas Portugueses 6

João Rui de Sousa, em:

"AZUL PELA PEDRA

A palavra azul é pela pedra:
pela dureza que vai de seixo
ao centro da montanha,
que vai de um paralelepípedo
aos húmidos rochedos que se ouvem
(porque nos falam) frente ao mar,
frente à pedra que é só pedra,
frente às paredes de gelo
que se transformam em pedra
ou num vislumbre de pedra.


A palavra é azul pela pedra:
a que se contempla, a que se retira,
a que se guarda,
a que se parte e reconstrói.
Azul sobretudo
pela pedra que nos fere e cega
pela pedra que dói.".

Visionário

O que enxerga mais
é louco ou visionário?
O que copia a cópia
é artista ou reacionário?
O que assume como seu pensamento alheio
é amigo ou adversário?
O que se mostra por inteiro
é doente ou libertário?
O que escreve sem medo
é hipócrita ou revolucionário?


Abraços, Marco.


O VOVÔ

O vovô

Não parava de correr

Atrás das saias

Engomadas

No varal

O vovô

Qual Quixote

Era fenomenal...

PERIGO

Sou um pássaro

À procura de um rio

Sou um lago

À procura de um ninho

Algo

Está errado

Mas

Esse

Não é o perigo...

PRÍNCIPE

...quero uvas

figas e rimas

agora

já sei o que quero

e só uma coisa muito séria me tiraria do meu caminho

(um menino gigante no seu desígnio de brincar com as palavras claras de todas as intenções e intuições possíveis de serem salvas dos dragões...

...um menino príncipe...)...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Queimada

Queimada

hoje

inventei uma paixão

meus dedos

pegam fogo:

pedaços de carvão

queimam

em vulcão

transformam

seu choro

ardem

acabando com o oxigênio

pelo bem

da luz

Abraços, Marco.

Quântico

...não quer dizer que não vá morrer...
a morte é uma passagem
dizem os vendedores de ilusão
a morte é apenas física
me fisga o físico quântico
crédulo amante secreto de uma ordem secreta de segredos eternos modernos
pensamentos
quantos pensamentos sinceros se revelam
verdadeiros deuses
de mundanos desesperados-sincréticos
peruanos
incas-diluvianos que eu não sei nem se existem aliás como essa vida que inventaram para mim

Abraços, Marco.

OFICINA POÉTICA

Hoje me perguntaram se não gostaria de ensinar outras pessoas a escrever. Respondi que isso seria impossível, primeiro porque acho que não conseguiria; depois, porque penso que as pessoas não gostariam do jeito que tentaria passar o que aprendi na prática.

E explico: primeiro acho que as palavras têm importância relativa no processo; sem elas não há escrita, por óbvio, mas só com elas, na maioria das vezes, também não há escrita, porque não há comunicação. Me refiro a escrever dando mais importância a intenção do que aquilo que está propriamente escrito, não sei se me explico, mas é isso. Pelo menos na minha poesia funciona, acredito! O poema transforma as letras em sensações, que depois de sentidas fazem com que o leitor se esqueça das palavras mas guarde o que sentiu do que foi dito!

A segunda dificuldade seria fazer com que as pessoas, não obstante utilizassem as regras gramaticais, não se escondessem nelas! Processo inverso do que escrevi acima, ou seja, o escritor vai pensar o conteúdo do poema sem se prender às regras para só depois adequar ao vernáculo aquilo que efetivamente quer escrever. Esse controle é que demonstra o calibre da arma do dito- cujo (sem trocadilhos, por favor!).

A terceira e última, para não me alongar, é escrever sem pudor. Essa é a mais difícil de todas, pois quem -- num mundo globalizado, em que todos querem ter as mesmas tatuagens, as mesmas gírias e fazer parte da "tchurma" --, quem terá coragem de ligar o foda-se e escrever como se fosse morrer dali a poucas horas?!


Abraços, Marco.


NAVALHA

...o fogo com que escrevo...
meus dedos
pingam
lacrimejam
palavras
letras são
navalhas
cortam
a garganta
fingindo escanhoar
iludidos
se deixam pela ardência
triste inconsequência
dos vazios
de barba


Abraços, Marco.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

VÍDEO da música: Contra, produzido por Gabriel Dargam)

VÍDEO (Música: Inútil)

profissionalismo

A reação ao susto? Escrever muito! Essa a solução por mim encontrada...Certa ou errada, foi a que consegui... Já entendi, alguns precisam da minha animação...quantos são? A música me ajudará a responder...me assusta também a falta de vontade que as pessoas têm...Parece que todos fazem favor de viver...estranho, mas é isso que vejo, uma preguiça, um não-se-encontrar que deriva em profissionalismo, ou seja, fazer o mínimo necessário, por isso alguns se destacam, fazendo...



Abraços, Marco.

BAND-AID

faço novos poemas porque me esqueço dos outros todos nos esquecemos se nem sabemos quem somos como como iremos nos lembrar de sentimentos que não nos pertencem sentinelas atentos talvez dos próprios desejos somente disse talvez porque é talvez mesmo se nem ao menos sabemos o que queremos ou escondemos de nós mesmos como pretendermos entender a necessidade alheia alheios seguimos fazendo machucados tentando curar o que não devia existir...



Abraços, Marco.

IRÔNICO

O nariz vermelho e os sapatos são o contexto do palhaço. Se queremos fazer graça é necessário algo que avise os desavisados, senão, como diz Veríssimo, não há comunicação. Como demonstrar num texto ironia?! Engraçado que sexo, roque e paixão dá, mas ironia...Talvez o motivo seja que as poucas pessoas que leem levem seu ofício a sério e não se prestem, a priori, a ler desconfiando do que está escrito. E a ironia?! A ironia é o jeito que encontramos de escrevermos desconfiando de nós mesmos.



Abraços, Marco.

ÓPERA

se imito a imitação
sou o quê?
soo como um arremedo
como um eco do ão
registro sonoro do passado
soo
como um canário
que canta atravessado
uma dobradiça
que soa
repetitiva
um
cantor de ópera
sem ópera
nem diva


Abraços, Marco.

ORIGINALIDADE

Alguém quer algo original? Comecei a pensar nisso ouvindo uma cantora que imita a imitação da Madonna...aí me dei conta que de Marisa Monte, no Brasil, tem umas três...uma finge não imitar e outra é tão parecida com a original que é difícil não se enganar...Então, pergunto outra vez: Alguém quer originalidade? No mundo capitalista, onde as pessoas vivem correndo há tempo para garimpar algo novo? Difícil dizer sim, quase impossível, na verdade. É mais fácil ouvir a versão de uma música que poderia ter sido feita pela Madonna ou pela Marisa do que aguçar os ouvidos...aí começamos a nos perguntar quem é o novo Caetano, o novo Gil ou o novo Djavan, quem seremos nós, algo novo ou imitação?



Abraços, Marco.

o psicopata e o artista

ambos os dois são meio adolescentes têm vontades e fazem bico quando contestados um escolheu o lado errado o outro porque desequilibrado faz arte para registrar seus nossos fantasmas opção mais barata poupa os centavos do psicólogo psiquiatra e num par de anos como diriam os americanos dará volume dará sustança às histórias contadas aos netos


Abraços, Marco.

Carioca

PM carioca
praia carioca
funk carioca
chopp carioca
samba carioca
marra carioca

endereço carioca





Abraços, Marco.

Adrenalina

as rimas não importam
o que é importa é a intenção
um poema
como a vida não é feito de palavras
é feito
(feio)
da adrenalina de saber-se
não-querido
não-necessário
é da coragem
de continuar que estou falando

Abraços, Marco.

Pão

quero envelhecer
com você

seremos somente
intenção
que brilha

estrelas
novas
na constelação de Dalvas
estelamaris
costela de Adão pecado e pão

Abraços, Marco.

ENTENDIDOS

Em todos os tempos, os entendedores de poesia elegem os que serão cultuados mas a graça é que normalmente não são esses os com mais destaque anos mais tarde. Quem escolhe é o público leitor e por mais que os entendidos queiram influenciar a opinião na sua época, até por isso, desconhecem, ou melhor, não enxergam tudo que está acontecendo. Essa a graça da coisa!


Abraços, Marco.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Poetas Portugueses 5

António Maria Lisboa, com:

"POEMA

Para o Mário Cesariny

Moveu-se o automóvel --- mas não devia mover-se
não devia!

Ontem à meia-noite três relógios distintos bateram:
primeiro um, depois outro e outro:
o eco do primeiro, o eco do segundo, eu sou o eco do terceiro

Eu sou a terceira meia-noite dos dias que começam

Pregões de varina sem peixe
--- o peixe morreu ao sair da água
e assim já não é peixe

Assim como eu que vivo uma VIDA EXTREMA.".

Poetas Portugueses 4

David Mourão Ferreira, em:

"CASAS CAIADAS

Por entre casas caiadas
de luar e de silêncio,
paira no meio da estrada
a poeira de outros tempos...

Por entre casas caiadas,
mas com desgraça por dentro
(ó varandas enfeitadas
com trepadeiras de vento!),

algumas desmanteladas,
de apodrecidas empenas
(todavia nos telhados
antenas e cataventos...),

por entre casas caiadas,
por entre casas (Silêncio,
que ronda o medo da estrada
em automóveis cinzentos!)

há jorros de luz salgada,
há torrentes de veneno...

E dentro daquelas casas
quando foi que nós morremos?".

Perdão

Nós homens somos
garfos
espetamos
mulheres são colheres
aceitam muito mais
competem menos
e por isso
conseguem ouvir
além do que está sendo dito
colheres
aconchegam
a sopa
tornando-a palatável
os homens somos
verdadeiros astros
na ignorância e incompreensão
focados
por nossos erros
matamos morremos
desconhecendo
a sensação do
perdão


Abraços, Marco.

Colheres

...mais inteligentes
porque mais sensíveis
mais astutas
porque mais mudas
mais amigas
porque mais meninas
mais mulheres
porque mais colheres


Abraços, Marco.

Língua

Amarelo...
azul...
branco
vermelho

Ah! que raio de língua!
as cores são masculinas?!



Abraços, Marco.

CHORO DA MENINA

Morna maré

Mar aberto

Brinquedo boiando

Lembra criança chorando

Amores adiados

Desejos

Adormecidos

Pais

Avó Menina Mulher

Boiando aberta

Brincando morno

Lembra maré

Criança adormecida chorando

Mar de desejos adiados

Desejos boiando chorando

Amores mornos adormecidos

Clamando

Esperando o choro da menina

Que só expiará a culpa que não tem

Quando se afogar em lágrimas

Ajoelhada e

Gritar aos céus

Amar

Desejos

Adormecidos

Pais

Avó Menina Mulher (poema do livro PRÓPRIO AMOR)


Abraços, Marco.