quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CONTRA WILLIAM (do livro RASCUNHOS POÉTICOS)



Saiba

Não há superação

O que há é

Bela decisão

De ser quem

Se é

Deixar

De ser

Ou não ser

pulgas

não são palavras
são
significados
versos
são o resto de mim que desaguou
que se misturou ao barro
de notícias sem fim
de augúrios risonhos
de poucos e bonitos sonhos,
ilusão no coração infantil
sinceramente espero
que um dia não precise mais cativar o sol
espero que neguemos a sombra
espero que nos deixamos viver
que não aceitemos nos encolher
e que acreditemos na possibilidade do pulo
no circo da vida

MUNDO CÃO (do livro RASCUNHOS POÉTICOS)



Não me perguntem já não sei mais por que escrevo

no início era zelo pelo que pensava necessitava deixar

tudo registrado mesmo cansado nunca parei como parar

de se investigar? hoje já é um hábito a rotina todo dia me

ensina a continuar não posso não devo parar parar para

quê? Se continuo conversando comigo por essas linhas

me arrepio me rio me desconfio e fio as tramas da minha

história não há cansaço não há mormaço que me faça

deixar de escrevinhar e escrevo quase em apneia essa a

ideia de não respirar não gosto de dicionários não gosto

de rabiscado punk poemas na medida certa da minha

inquietação que é grande como dizem os músicos que não

sabem o tamanho da encrenca não entendem que minha

sina é muito maior do que uma simples canção cantá-la

é possível mas impreciso não preciso de orelhas nesse

mundo cão

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Terra

pequeno jardim
regado a lágrimas
cada pétala
uma pequena palavra
que me identifica
cada grão de terra
uma letra
que mistura minhas incertezas
mas produz beleza
cada cor de flor
veio de uma dor
tão grande
que esse jardim
tem o tamanho do mundo
mas
cabe nas minhas mãos

desVANTAGEM

por que deixamos para nos emocionar na velhice?
será que ficamos mais emotivos pela saudade
ou pelo medo?
por que não envelhecemos logo para aproveitar a desvantagem que está no ar desde nosso nascimento?

Ocre

A Chagall

rósea curva
metalizada em púrpura
esverdeada em absurda
mata
sagrado estorvo
pés em logro
despudoradamente
descobertos
em sexo
terno
ocre dor de amor

sábado, 27 de outubro de 2012

saída

depois de um tempo
três são as emoções para continuar trilhando o caminho
cair de joelhos e tentar perdoar
se isolar e adoecer
descobrir as tintas e pintar uma saída

soslaio

dormi
e acordei velho
ressentido
comigo
pelos sonhos engolidos, esquecidos
e mijados
amarelados
como seu sorriso
ao entender esse poema
apesar de olhá-lo
de lado

sensação

com que mão
pintar
emoção?

a noção da direita é canhestra
a mão esquerda sendo cega...

com que mão
pintar?

como expressar solidão?

de que cor é um não?


Placidamente

Por que Coltrane?!

Poderia responder:

Por que Jobim?

Por que Buarque?

Por que Miles?

Por que Rotko?

Porque Chagall?

Por que Picasso?


porque Plácido

artência

NÃO, NÃO É AZUL
É VERMELHO!
o que me define é o espelho
os cacos quebrados dos segredos guardados
sentimentos de remorsos de atos que não controlei
mas
opinei
(escondido, mas nem tão escondido assim)
e para mim passaram a verdades
(passadas que ardem,
pois não sairam dos meus pés
passadas entristecidos pela perda da ilusão)
não é azul que define a dor em que quero sofrer
é vermelho labareda de fogueira que expressa
a ardência que me toma quando parado vejo
que o que resolve é o movimento
por mim entendido como sofrimento
mas que nas mãos de outros é arte

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

meses humanos

em julho envelheci mais um ano
que não começou em janeiro
em muitos fevereiros e marços
emburrei porque nunca gostei de carnaval
em abril abri
um novo livro que não li
em maio vi sábios casarem
juntos em junho se separarem
o que ocasionou um agosto sem tempo
setembro é só um mês antes
de tudoutubro
que antecipa a preguiça que dá de pensar
nos planos planos
de fim de ano
para o próximo ano
tudo recomeçar

Cut-Outs

quando Matisse fez as agora famosas cut-outs cortou pedaços de sua certeza e misturou às tintas necessidades diárias de arte em doses alopáticas de saudade cortava cortava se cortava porque precisava expor impor dispor supor continuar fazendo aquilo que veio ao mundo fazer precisava confirmar que podia continuar extenuado pela doença tinha pelo menos uma crença a arte precisa do artista que inventa vida

OPÇÕES

único animal com consciência do que irá acontecer
o homem
tem esse ônus
e com ele praticamente tem duas opções
praticar a nobre arte
de rezar
ou
fazer arte

peão

enquanto todos lutam
por ter razão
o artista tenta resgatar
a velha emoção
muitas vezes
de um modo equivocado
mas
sem estar errado
já que a cicatriz adquirida
é lida
vista
expelida
e
acaba sendo
chamada
pelos outros
de
obra
de
arte

MIRÓ

qual a emoção de ao subir as escadas do Pompidou ver o tom de azul do quadro BLUE
 de Miró?

sete livros de Poesias depois ainda não estou apto a descrever em palavras

STOP

PAROUTUBRO
PAROUTUDO
PAREDE
PARE
ESPERE
DESESPERE
SUPERE
ENTERRE

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sir

hoje andei olhando o sol
ele era azul
uma calçada com areia da praia
me falou tanto ao passado
que as passadas inventadas
calaram em mim lágrimas
do mais profundo azul
cor que escolhi ser

Sir

duna

sue
um sorriso
tente sonhá-lo

azul
um blue
cantado
baixo
como um riso
sibilado
o riso possível
duma vida real

SET LIST do show no SOLAR DE BOTAFOGO, dia 06/12/2012

1 – Ainda lembro/Na Estrada (com Renata Rubim)


2 – O Alvo;

3 – Don’t Stop Dancing;

4 -- Sim;

5 – Constelação;

6 – Contra;

7 – Desafios;

8 – Pedra;

9 – À Cecília;

10 -- Brigas;

11 – Crazy;

12 – Cegos;

13 – Minha Alma.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

incêndio

a casca
que me defende
das setas
é explicada pelos nós
formados pelos erros 
acontecidos 
pelos motivos normais da vida
fazer errar e aprender
fazendo uma floresta
do pólen
que escapa dos insetos
que
teoricamente
são inferiores
diante da inteligência humana

árvores

o tempo todo fingimos que o outro não existe

e o tempo todo tratamos os outros como ouro

os outros na verdade são parte de nosso reflexo

se acreditarmos neles ficaremos paralisados ou pelo medo ou pelo desejo da imagem que fazem de nós

e sempre seremos diferentes do retrato que pintam com parte do nosso desconhecimento que realçam
por serem

outros

(e nós por sermos nós somos árvores, com raízes)

revanche

...não adianta
eles
não entendem
falam tanto em perdão
mas
não entendem
que não devem perdoar o outro
devem sim
perdoar o sentimento de vingança
que os preenche

Ivo

(vivo)
vivo?
VIVO!


...vivo...
...vivos?...
vivo
vivos

Eu vivo
Eu vivo!

Eu vivo?

)VIVO(


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

traços poéticos

sendo um quadro
as rimas são
a combinação das tintas?
as linhas dos desenhos são
as palavras escritas?
o senso estético
é o sentimento poético expresso?

VIVA!

...ELE NASCEU!

eu nasci...

cresci

perdi

aqui

em mim

esqueci

lembrei

criei

fui criado

perdoei

fui perdoado

continuei

fui continuado


(ELE MORREU!

morri
mas
não
esqueci
de
viver)

domingo, 21 de outubro de 2012

Dilema 2

num poema acabo fazendo um tradução de uma imagem emocionada
as palavras servem como linhas
que descrevem mais as sombras 
do que o desenho
como irei traduzir uma imagem emocionada em imagens que emocionem?

exclamo

gás

gastar as palavras
deixar pingar das mãos

pensar nos sins
escrever os nãos

não afirmo
por isso

poesio

ção

maçã
assada
esverde
asa

aça
(esposa do aço)
denti
ção
perdi
ção
de
Adão


carlitos

onde estão?
onde está o som?
o dom?
o front?
onde está
aquele cheiro que me explica?
aquele pelo que me excita?
aqueles pensamentos
que são alimentos?

aquele queixo é meu?
aqueles olhos são seus?
aquele caminhar separado
foi que nos juntou?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

visão

já li por diversas vezes
e ouvi em outras 
que não adianta
mostrar o que estamos fazendo porque
 ninguém está ligando
isso pode até ser verdade, mas em parte
e explico
penso que a questão não está no que os outros pensam
e sim
naquilo que queremos demonstrar para nós mesmos
se trata muito mais da nossa capacidade de mostrar aquilo
que estamos fazendo
com todos os riscos e pressões
que sentiremos conosco
ao
expor tais questões
do que de como elas serão recebidas
parece pequena essa diferença
mas de fato
é essa diferença
que demonstra
que apesar de possíveis opiniões contrárias
continuaremos fazendo aquilo que temos que fazer

úmido

hoje
o dia inteiro
pensei em várias palavras

como iniciaria um poema
de um modo que só eu
poderia iniciá-lo
pensei e esqueci
esqueci e pensei e
agora
lembrando de novo esse dilema
que nada tem de importante
resolvi apenas
demonstrar
que quase sempre
melhor que ficar pensando
é sentar e escrever
escrever até cansar
até deixar de pensar
e aí sim
produzir algo único
que venha sem pensamento
que venha úmido

(PALAVRÃO)

não sei mais em que língua estou
penso e não falo
enrolo-me em palavras simples
(PALAVRÃO)
no meu país era inteligente
aqui
a saudade ou o medo
(busco em mim esse segredo)
me deixou refém
dos meus sentimentos
e sempre que lembro
lembro-me de um nariz, de
uma risada e de algumas palavras
que
poderiam estar aqui

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sorríssimo

hoje vi Veríssimo e ele me viu
esboçei um sorriso ele um suspiro
hoje vi Veríssimo e ele me viu e fugiu
ouviu um suspiro em português e se fechou em inglês
today I saw Veríssimo
e ele sorriu

algodão

um quadro com as cores das minhas verdades que realce no centro todo o desenho do desejo toda a angústia que a vida traz com o tempo tempo que normalmente levaria as cores os desejos os amigos o medo todo o tempo o tempo todo desejo tintas que sujam de vida um pedaço de algodão

LONDON

da diferença nasceu
um número maior de
COMPREENSÃO?!

transeunte

ando em anos
em cantos,
em carros, caros
escarro, tanto
em tantos prantos
enquanto santos
encontro barro
embaraço
sarro, saro
em sangue, transe
u
n
t
e


(diálogo)

"Você quer se perder de mim!"

"Como te deixar perdida, amor, se foi você que me deu direção?!".

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

de novo

existe algo novo?
explico
se o novo é bom
remete a alguma coisa que é padrão
porque é passado
então
o novo só é novo se for ruim?
acho que sim

amnésia

o artista produz por raiva da hipocrisia das palavras produz com saliva, olhos e mãos trêmulas pela emoção produz pelas rimas pelas tintas tontas emissões cantadas desprevenidas produz ira sendo ele sendo quem ele quer esmurrar até a última gota cospe furioso em sobras de silêncios em sombras de perigos demonstra quem é o que quer atira contra quadros fartos amarelados muitas vezes avermelhados o azul do céu é seu telhado chão serve pelo barro que é o marrom que almeja esquenta esfria atento atenta é cerca está perto de quem se enxerga é tela é ferramenta é intensa amnésia
para continuar

página

...e a semente
foi plantada
pelas mãos santas
da palavra
que salva
que acalma
que nina
a árvore
plena
da certeza de mãe
da sina serena
da
flor

página


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Andorinha

A Andréa Cunha

quando voa
o pássaro
esquece do esforço
do possível tombo
esquece de tudo
se concentra no azul do céu
que vê
no som do vento
que ouve
na liberdade
que acredita
voa
porque nasceu para
voa
porque aprendeu a
voa
para ensinar




diferença

nesse tempo
uma lição:
se tudo já foi feito
não há risco
escrever
cantar
pintar
pode ser feito
com desapego
brincando
apenas brincando de ser sério
indo para lá e para cá
fazendo
como uma criança
que dança
canta
sapateia
sem pensar em acertar
(esse a grande diferença)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

polegadas

de que tamanho tem o espaço
que trago
aqui dentro?
um espaço
de nada
de mil polegadas
de um quadro?
espaço
de um trago
do estrago
que tenho feito
em mim
ao não me reparar?


domingo, 14 de outubro de 2012

manifestações

de uma maneira
meio mágica
para cantar
não é preciso ter voz
para escrever
não é preciso ter palavras
para pintar 
nem é preciso
saber desenhar 
o que isso tudo trata
é do relato
daquilo que necessitamos saber
sem saber
e que é
cantado
escrito
pintado
pelos artistas
do modo esquisito
que nos entendemos
hoje em dia
e é dessa emoção
contraditória, por vezes
de que tratam
essas manifestações artísticas
e é disso
que precisamos
muitas vezes
sem saber

caloroso

a mão
calejada
pela dor
de plantar
a flor
é a que suportará
a flor
que acolher
a dor

andanças

quanto mais nos conhecemos
mais podemos arriscar
brincando de crianças
as crianças não sabem que são crianças
vivem sendo
os jovens detestam
querem crescer
sem saber do ônus
os adultos
artistas
nos permitimos
criar
um modo peculiar
de olhar
que é apenas uma lembrança

Viagem

Uma das coisas mais engraçadas
é ouvir dizer que todos somos iguais
como iguais?
se os africanos e chineses trabalham
Os americanos e japoneses viajam
Os argentinos e italianos falam
E os brasileiros torcem?!

sábado, 13 de outubro de 2012

Robert Creeley, A FLOR

Penso que cultivo tensões
como flores
num bosque onde
não vai ninguém.

Cada ferida é perfeita,
fecha-se numa minúscula
imperceptível pétala,
criando dor.

Dor é uma flor como esta,
como aquela,
como esta,
como aquela.

Besteiras

Ver besteira na arte moderna
demonstra menos a besteira
e mais
nossa capacidade
de querer ver besteiras
se nos treinamos vendo besteira o dia inteiro
porque ao ver algo que não entendemos
iremos ter paciência para não tentar ver besteira?

Mendigos

a poesia não abandona o poeta
porque ele viaja
um mendigo em Paris não é chique
aliás
nenhum mendigo é chique
o ser humano nasceu para sonhar
se emocionar
e
a preocupação com o alimento de hoje
no dia de hoje
acaba com qualquer capacidade criativa
um menino não brinca mais porque mora num país desenvolvido
aliás

quantos ainda somos meninos?

Globalização

Grande vantagem ter habilidade com os dedos
Quando tento falar frânces
Perguntam se falo inglês
Quando falo inglês
Perguntam se sei falar espanhol...
Grande vantagem ter habilidade com os dedos!

Picasso 2

...e nos acabamos numa manhã de eternidade
valeu a pena?
valeu, porque não tive medo
(a primeira vez que não tive medo do medo)
...e me veio um pensamento:
Catedrais são imensas e portanto podemos!


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Charles Bukowisk, SEM CHANCE DE AJUDA

existe um lugar no coração que
nunca será
preenchido

um espaço

e mesmo durante os
melhores momentos
e
os melhores
tempos

nós saberemos

nós saberemos
mais do que
nunca

existe um lugar no coração que
nunca será preenchido

e

nós iremos esperar
e
esperar

nesse
lugar

B O M D I A

- Bom dia!

(B O M  D I A)

- ...eu queria saber

(Q U E R I A   S A B E R)

-...quanto tempo...

(Q U A N T O  T E M P O)

- Quando o Senhor irá parar
de digitar para que possamos conversar?!


Fantasmas

Fantasmas sem castelos
quando negamo-nos
nos falamos por ais
Podes
Pads
negue
fede
fedelhos
fedemos
fantasmas do futuro
nu
escuro
sem castelos
sem nexo
de sexos
diversos
o quê digitar?
para quem digitar?
quem é o outro
que não está lá?

POESIA = PRESENTE

POESIA = ANTI-VIRTUAL

VIRTUAL = AUSÊNCIA DE PRESENTE

PRESENTE = ANTI-FUTURO

FUTURO = ANTI-POESIA

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Gregório Corso, (poema sem nome)

ficar
parado
em
uma
esquina
esperando
por
ninguém
é
poder

THE BEA(s)TS

A Allen Ginsberg

As bestas
Bateram
Na testa
Da
Senhora
Hipocrisia
Bateram ainda mais
Onde sabiam que
Doía
Nos olhos
Nos ossos
Nos bolsos
Nos escrotos
Bateram
E foram
Aceitas
(abatidas?)
Pela batida
Milk-Shake
Da fruta
Mentira


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Presa

Falam
E não entendo
Não entendo a pressa
De falar
Ao celular
Sobre o quê?
Com quem?
Se se morre
De medo
De todos
Por que falar?
Temos medo
Do tempo?
Por quê?
Ele é
A única coisa que sobreviverá
Ao celular
Ao medo
Aos outros
A todos nós...


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Estátuas

A chuva ajuda as plantas e acaba com fotos
O cinza incendeia monumentos
Os momentos
Menos coloridos
Mas
Mais doloridos
Escondem-se em sorrisos sem graça
As palavras se perdem
No mármore duro das lembranças
Não adianta
Carregamos conosco
Nossas estátuas



Então

Diferentemente das crianças
Os poetas
Trabalhamos as lembranças
Elas ainda estão vivendo
As que terão
Então
Não sofrem quando escrevem
Não sofrem quando perdem a direção
Pois ainda não estao condicionadas a acreditar na perda
Estão apenas brincando com suas certezas

Pontes

Vendo tantas fotos e tantos monumentos
Sento e lembro
Lembro e fermento
Fermento
Um bolo de imagens
Pensamentos
Mensagens
Idade
Que congestiona
Condiciona
Passagens
Sem pontes
Que me permitam escolher o caminho...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

po(d)emos

criação
infância
velhice
lembranças
por isso
a meia idade é tão
perigosamente artística!
Pois
po(d)emos imaginar
as lembranças
que queremos
ter
ou
po(d)emos lembrar
das imagens
que queremos
crer!


fotossíntese

a diferença
é que normalmente
fotos não servem para a tristeza
as palavras
de mim pulam tristes
mas espelham quase sempre
sentimento
contrário do que sinto
sou feliz por saber administrar em mim
a tristeza que nos aflige
a todos nós
que estamos vivos e errando
muitas vezes
em atos e palavras
sem sentido

Livro RASCUNHOS POÉTICOS, apresentação da parte E = MC2 (Explosão é igual a ação vezes emoção vezes ao quadrado.

O poeta-cientista nos ensinou nesse livro que nossa


vontade é singular, que é importante ter crença em Deus

e no tamanduá, sendo formigas, para conseguirmos desvendar

os mistérios da poemática (imaginação combinada

à matemática).

Para tanto explodiu em azul (sentimento-blue) nos

mostrando que a fórmula de Einstein

–E = mc2 –

significa, na realidade: Explosão é igual a ação vezes

emoção ao quadrado!

Com suas palavras, temperadas, nos fez sonhar,

melhor, acreditar que nosso fim não está intrinsicamente

ligado ao nosso início. O genótipo pode ser fenotipamente

alterado, nos disse rindo!

Quando confidenciou que fotos não se escondem para

chorar, o poeta quis realçar nossa humanidade, perdida

em fórmulas de sucesso, regras gramaticais e receitas de

bolos, próprias daqueles que desconhecem a geometria

poética, que diz que um círculo só se livra do quadrado

explodindo!

Mostrou-nos, enfim, que existe uma poção mágica

para a felicidade possível e que, qual drúidas, devemos

na mistura colocar como ingredientes: autoconhecimento,

amor, paixão, experiência e autoestima, que nos proporcionarão

a verdadeira transformação: lagartas se vendo

borboletas amarelo-espoleta voando alto, colorindo nossa

existência.

Andréa Cunha apresenta a parte PELAS JANELAS AMARELAS do livro RASCUNHOS POÉTICOS

Não se iluda leitor se ouvir dizer


que se trata de um livro só de poesia.

é um livro escrito com as mãos abertas

sobre uma inundação de sentimentos impressos em

cada palavra

Janelas da alma folheadas em cada página.

Assim como em tecido fino nossa memória se enrola

em momentos passados nas gotículas poéticas

que no espanto de belo jardim se faz florescer a magia

da sua escrita.

PELAS JANELAS AMARELAS é uma obra

para se deslumbrar a janela da vida,

navegar com arte, amor e sonoridade as lições de

sentimentos citadas em cada poesia.

“Enquanto houver sentimentos

Enquanto houver nobres momentos

Enquanto houver credo

Enquanto houver amigos por perto…”

haverá enormes janelas amarelas para serem abertas.

Andréa Cunha

Pedagoga e Psicomotricista

Militando, à época, no projeto sócio-cultural

“Coriscolandia” em Ponta Delgado, Portugal.

Maria Luiza Leite, apresenta a parte SOUL POESIA do Livro RASCUNHOS POÉTICOS.

Tarefa difícil fazer caber neste pequeno espaço toda


a intensidade da poesia do Marco. A cada página encontramos

os mais profundos sentimentos ali revelados

de uma maneira tão direta, tão clara, tão emocionada…

Como encontrar palavras que ainda não foram escritas

para aqui deixar sobre esta deliciosa coleção de

poemas? Só mesmo mergulhando fundo em seus versos,

lendo e relendo, deixando-os permear nossas almas e

usando suas próprias palavras para aqui falar da beleza

que guardam as páginas de SOUL POESIA…

é a mais pura poesia na vida, é assim que ele vive e

também nos convida a viver, nos faz voar sem ter asas,

porque escreve palavras que amam, nos fazendo enxergar

nossa vida no papel, nos vendo como somos…

impossível não gostar do Marco como ele é, inteiro

com várias partes, querendo a emoção de dividir conosco,

a alma de sua poesia e assim nos alentando e

alimentando a todos, com tamanha generosidade.

Maria Luiza Leite,

psicóloga.

Livro RASCUNHOS POÉTICOS, apresentação da parte IMAGINAR-TE

… criar o azul do mar, imaginar… IMAGINAR-


-TE!

Livro em que o cineasta-poeta brinca de fazer arte!

inventa ângulos, atores, adoça o todo com partes de

uma torta de biscoitos, anseios, beijos e temperos, que

demora segundos ou mundos para ficar pronta. Se é que

um dia ficará!

O poeta pinta sonhos, esculpe movimentos, entalha

sentimentos… nos ama por palavras! Estica o elástico

da própria pretensão para nos definir como artistas da

nossa própria vida. Linda, finita, aquecida por versos

produzidos pela saudade de uma infância feliz.

Nesse livro, Chaplin, Cervantes, Fellini, Guignard,

Picasso, Rodin e, o mestre maior dos poetas, Fernando

Pessoa convivem, como se fosse possível conviver, como

se fosse crível tantos talentos se aturarem no espaço

exíguo de um livro de poesia. Mas estão aqui juntos para

prestar homenagem à nossa capacidade de sonhar…

sonhar todo dia, como a rima-menina sonha encontrar um

príncipe-poeta encantado!

IMAGINAR-TE é, antes de tudo, um ato de

coragem do homem que se esconde atrás do poeta, asceta

da solidão, mas que sabe traduzir em palavras nossa

humanidade, perdida muitas vezes em pequenos detalhes

de desconsideração.

Salve poeta, por conseguir com um voo melódico

ultrapassar o humano que há em ti!

Livro RASCUNHOS POÉTICOS, apresentação da parte NO TEMPO DO VENTO

“Com o passado tracei um pacto de não agressão!”


Essa afirmação desvenda um pouco do

NO TEMPO DO VENTO livro fresco como os

ventos das lembranças de um passado quase perfeito, do

jeito que todos gostaríamos para os nossos filhos e netos.

um começo que fala do fim? Como assim? O poeta

brinca com as palavras e com o tempo, mas não para,

somente dá um tempo, tempo em que a saudade se

mistura aos seus olhos de jabuticaba.

Ontem já se foi, amanhã será uma surpresa e o hoje?

hoje é um dia especial por isso chamado presente!

Esse livro é um eterno hoje mitigado de futuro gordo

e rechonchudo, roxo, como quando o pai nasceu, depois

cresceu, sofreu e se descobriu poeta.

O tempo, mistura de rugas e saudade, não é padrasto

é o único motivo de fazermos algo que nos dá medo.

As palavras são chama sem fim e no fim nada tem

tanta importância, no fim o que fica é um eco de um sorriso.

Sorriso de poeta levado da breca que chora gotas

de rubi pela sensação de estar vivendo no tempo de uma

piscadela.

O aconchego de suas palavras, poeta, nos faz pensar

e querer mais, correndo o risco de esquecer de quem

fomos ou somos...cosmos!

Livro RASCUNHOS POÉTICOS, apresentação da parte MEU VAGABUNDO OLHAR

Abusado, indignado, debochado, sem meias palavras.


Palavras que vêm para detonar a babaca mania

do politicamente correto; papo reto, com sexo, drogas

e rock’n’roll.

Sem pieguice, sem frouxidão. Sem influência francesa.

Sinceridade portuguesa. Poeta com coragem de

dizer aquilo que tem de ser dito, sem meninice de

intelectual querendo agradar aos pares. Punks poemas

dum cara que escreve com tesão de viver, de escrever

sem se esconder, de nada nem de ninguém.

Demonstração cabal de que poesia também tem

ligação com as trevas – inveja, calúnia e difamação,

provando que o poeta não pode, nem deve, frequentar

ambiente religioso, sob pena de negar Deus, na presença

Dele. Ou reafirmá-lo, por contraste!

MEU VAGABUNDO OLHAR vem para acabar

com a sensação de que os poetas são românticos. Niilista,

extremista, acaba com o papo de que as regras limitam

o discurso poético e prova que as regras acabam com

qualquer manifestação artística!

Bigode na Mona Lisa!

SELVAGERIA (Do livro PENSAMENTOS EM MOVIMENTO)


A latente selvageria do homem

Selvagem agressividade

Talvez

seja o motivo imanente

que tenha feito o menino correr

para escrevendo

se proteger

talvez

seja esse o motivo tão repentino

de tão desatinada produção

falar ao coração deve ser bom

mas não pode nem deve

ser a última explicação

homenagem a meu irmão

coragem de expulsão

dos demônios, exteriores

coquetel de solidão, interior

mais um pouco de vaidade

(disse vaidade!)

Compuseram a receita

Agressivamente romântica

Desse escrevinhador

Que vos escreve

Selvageria bacana

Ingenuidade quintana

Drummondiana

a serviço da

Pessoa

que em frente a vós

se amolece

no ritmo do mar

a pretender

camonianamente

afrontar vosso olhar fremente

para placidamente

ganhar mais um amigo

a proteger o dolente menino

que se esconde a escrever

freqüentes versos

sobre o amor

que sente

(invasor)

por habitar

sem se desculpar

o corpo do homem

selvagem!

CRIAÇÃO (Do livro INTENSAIDADE)


Criou-os

Abençoou-os

Chamou-os de filhos

Gerou mais

Arrependeu-se

pela maldade

irritou-se

Diluviou

Cheirou o suave cheiro

Abençoou

O dia e a noite

O inverno e o verão

Perdoou

Mas não foi perdoado!

ENIGMÁTICO (Do livro DECLAMADOR DE SONHOS)


Plácido

Seu toque

no meu rosto

Sensação de vazio

Se esvaindo

Tenho vontade de chorar

Por não te merecer

Enigmático

A pensar

naquilo

que sei dever

te dizer

Flácidos

Músculos

não conseguem

me impulsionar

para dizer que

ainda te amo

Contínuos toques

Estoques vários

Atingindo meu coração

Por falta de coragem

Para perguntar

O que sentes

Mentes

Desconexas

Sem saber

Para onde ir

Quem comandará

Nossa direção

Nesse

Bólido

Possante

em alta velocidade

para o agitado

final

do nosso

tempo!

PRÓPRIO AMOR (Do livro de mesmo nome)


Como diminuir

O amor

Que sinto

Por mim

Próprio amor

Apenas por mim sentido

Encarregado de me levar a algum lugar

Um lugar

Que não sei

Nunca saberei

Aonde vai dar

Sujeito estou

A morrer de próprio amor?

Desígnios de algo maior

Com o qual não sei lidar

Amar

Lutar (adiantará?)

Comandam meu

Amor-próprio

me ajude a navegar

sem adernar

sem me sufocar

em meu próprio querer

Querer-te

A ti como quero a mim

É a parte mais difícil

Deslembrar

Da minha história

Pode parecer bonito

mas é mentiroso

Deslumbrar-me

Com a sua história é mentiroso

mas parece bonito

esmiúço meus sentimentos

sobre nós

e não encontro resposta

Então, pergunto-te

Como teu amor-próprio

Conviverá com o meu próprio amor?

MINHA LINDA BEATRIZ (Do livro OCULTO)


Eu gostava

Que tu fosses ao parque comigo, dindo

Eu gostava

Que tu comprasses gelado para mim, dindo

Eu gostava

Que tu me visses

quando eu estivesse a andar de patinete, dindo

Eu gostava

Que tu me desses toalitas para me limpar, dindo

Eu gostava

Que tu me levasses para assistir o kung fu panda, dindo



Minha linda,

Pare de tirar macaquinhas do nariz

Minha linda,

Venha limpar a boca

Minha linda,

Cuidado para não cair na areia

Minha linda,

Não ponha o papel no chão

Minha linda,

Eu vou ao cinema com você



Dindo, eu gostava que tu parasses de chorar

Minha linda,

Anda cá

Para eu te abraçar

E dizer que eu choro

Por já sentir saudade de você

Saudade, palavra que eu gostava que não existisse!

POEMAS (Do livro DENTRO DE MIM)



Os poemas jorram de mim

O difícil é explicar

o porquê das roupas molhadas

quem entenderá

o motivo de tantas letras penduradas

por todo o meu corpo

é impossível explicar

aos que não têm

tempo

para pensar

na importância do sofrer

para crescer

e se dar atenção

Já não quero agradar

Procurando explicações

onde só há emoções

e sentimentos

a recolher

impostos

apenas pelo bem-querer

ao próximo

e a mim mesmo

então

ficamos desse jeito:

estou molhado de tanto chorar...

domingo, 7 de outubro de 2012

A rocha e a flor

Paul Desmond
tinha
em Brubeck
seu contraponto
esse era a rocha
ele
a flor

escondido

não sei se senti a necessidade psicológica de frear
ou se foi meu corpo que não aguentava mais
pela idade
a velocidade
descomunal
da vida virtual
há quase um histerismo coletivo
esoterismo coletivo
auto ajuda egoista
afirmativos demais
certezas radiofônicas demais
fingimento demais
então
acabei decidindo
em ser
quem eu já era e escondia
optei
pelas dúvidas
da poesia

barriga

será que ninguém quer ver?
quanto mais nos afundamos nas mentiras que inventamos
mais estamos fadados a ficar parados
vomitados
nas nossas idiossincrasias
assustados com tamanha hipocrisia
que sabemos que não nos ajudará
e continuamos a fingir
remar
empurrando a vida com a barriga
fingindo espirrar
para nos livrar dos chatos que sorriem verdades
sejam eles
equilibristas
pintores
palhaços

quando aprenderemos a ouvir nossa própria e rica melodia?

Aniversário, 04/07/2012

A banda

No sentido horário: Tom Marques (violão), Felipe valadares (teclado), Marcos Sandro(bateria), Jorge "Ginho" Veloso (guitarra), Renata Rubim (bacling vocal), Eu e João "Kibe" Rafael (baixo).

Show na Lapa, em agosto de 2012

Show na Lapa, em setembro

Show no teatro Solar de Botafogo -- 06/12/2012

Wang Wei, ADEUS A YUAN, O SEGUNDO, AO PARTIR EM MISSÃO PARA ANXI

Na Cidade de Wei, a chuva matutina
Fez assentar a poeira leve do ar.
Tudo está verde na estalagem
Verde como as folhas novas do salgueiro
peço-te que esvazies uma vez mais a taça
Tu vais para Oeste, al´me fronteiras, e não tens lá amigos.

Li Bai, PENSAMENTOS NOTURNOS

Diante da cama
Brilha o luar
Que mais parece
Gelo no chão.

Se levanto a cabeça
Contemplo a Lua.
Ao baixá-la
Sonho com a terra natal.

religiosidade


é do silêncio dum quarto imundo de ilusão que tiro cada letrinha para formar uma oração de vida que nada tem de essencialmente religiosa nos termos ortodoxos da coisa mas é de uma religiosidade espantosa quando percebemos o tamanho da solução

sábado, 6 de outubro de 2012

Fragmento do último discurso de Steve Jobs

(...)Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: 'Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia você certamente vai acertar'. Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: 'Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?' E se a resposta é 'não' por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa. Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo – expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar – caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Lembrar que você irá morrer, é a melhor maneira que conheço para evitar o pensamento de que se tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir o seu coração.




(...) Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade. O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém. Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas. Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior. E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário.



Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras Polaroid. Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes do Google aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e ótimas noções. Stewart e sua equipe publicaram várias edições de The Whole Earth Catalog e, quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês. Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras: “Continue com fome, continue bobo”. Foi a mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome. Continuem bobos. Muito obrigado a todos".

Steve Jobs, Último Discurso

Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores universidades do mundo. Que a verdade seja dita, eu nunca me formei na universidade. Isso é o mais perto que eu já cheguei de uma cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar a vocês três histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três histórias.

A primeira história é sobre ligar os pontos. Eu abandonei a Universidade Reed depois de seis meses, mas fiquei enrolando por mais dezoito meses antes de realmente abandonar a escola. E por que eu a abandonei? Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem universitária solteira que decidiu me dar para a adoção. Ela queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior. Tudo estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um advogado e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam mesmo uma menina. Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma ligação no meio da noite com uma pergunta: 'Apareceu um garoto. Vocês o querem?' Eles disseram: 'É claro'.




Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia eu iria para a faculdade. Este foi o começo da minha vida. E, 17 anos mais tarde, eu fui para a faculdade. Mas, inocentemente escolhi uma faculdade que era quase tão cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da classe trabalhadora, estavam sendo usados para pagar as mensalidades. Depois de 6 meses, eu não podia ver valor naquilo. Eu não tinha ideia do que queria fazer na minha vida e menos idéia ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá estava eu gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo ficaria OK. Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das melhores decisões que já fiz.



No minuto em que larguei, eu pude parar de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e comecei a frequentar aquelas que pareciam muito mais interessantes. Não foi tudo assim romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e por isso eu dormia no chão do quarto de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11 quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare-krishna. Eu amava aquilo. Muito do que descobri naquele época, guiado pela minha curiosidade e intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço. Vou dar um exemplo: a Universidade Reed oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada poster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Como eu tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais, decidi assistir as aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa.



Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo fascinante. Nada daquilo tinha qualquer aplicação prática para a minha vida. Mas 10 anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro computador Macintosh, tudo voltou. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o primeiro computador com tipografia bonita. Se eu nunca tivesse deixado aquele curso na faculdade, o Mac nunca teria tido as fontes múltiplas ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows simplesmente copiou o Mac, é bem provável que nenhum computador as tivesse.



Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa caligrafia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses fatos olhando para a frente quando eu estava na faculdade. Mas aquilo ficou muito, muito claro olhando para trás 10 anos depois. De novo, você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Porque acreditar que os pontos vão se ligar em um momento vai te dar a confiança para seguir seu coração, mesmo que te leve para um caminho diferente do previsto, e isso fará toda a diferença.



Minha segunda história é sobre amor e perda. Eu tive sorte porque descobri bem cedo o que queria fazer na minha vida. Woz e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhamos duro e, em 10 anos, a Apple se transformou em uma empresa de 2 bilhões de dólares com mais de 4 mil empregados. Um ano antes, tínhamos acabado de lançar nossa maior criação – o Macintosh – e eu tinha 30 anos. E aí fui demitido. Como é possível ser demitido da empresa que você criou? Bem, quando a Apple cresceu, contratamos alguém, que achava que era muito talentoso, para dirigir a companhia. No primeiro ano, tudo deu certo, mas com o tempo nossas visões de futuro começaram a divergir…



Quando isso aconteceu, o conselho de diretores ficou do lado dele. Então aos 30 anos, eu estava fora. E muito escandalosamente fora. O que tinha sido o foco de toda a minha vida adulta tinha ido embora e isso foi devastador. Fiquei sem saber o que fazer por alguns meses. Senti que tinha decepcionado a geração anterior de empreendedores. Que tinha deixado cair o bastão no momento em que ele estava sendo passado para mim. Eu encontrei David Packard e Bob Noyce e tentei me desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Foi um fracasso público e eu até mesmo pensei em deixar o Vale [do Silício]. Mas, lentamente, eu comecei a me dar conta de que eu ainda amava o que fazia. As coisas que aconteceram na Apple não mudaram isso em nada. Eu havia sido rejeitado, mas continuava amando.



Foi quando decidi começar de novo. Não enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa. Pixar fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa e a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual renascimento da Apple. E Lorene e eu temos uma família maravilhosa.



Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple. Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que você ama. Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz. Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não sossegue.



Minha terceira história é sobre morte. Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: 'Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia você certamente vai acertar'. Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: 'Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?' E se a resposta é 'não' por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa. Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo – expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar – caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Lembrar que você irá morrer, é a melhor maneira que conheço para evitar o pensamento de que se tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir o seu coração.



Há cerca de um ano, eu fui diagnosticado com câncer. Era 7h30 da manhã e eu tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no pâncreas. Eu nem sabia o que era um pâncreas. Os médicos me disseram que aquilo era certamente um tipo de câncer incurável, e que eu não deveria esperar viver mais de 3 a 6 meses. Meu médico me aconselhou a ir para casa e arrumar minhas coisas – que é o código dos médicos para 'preparar para morrer'. Significa dizer aos seus filhos tudo o que você pensou que teria os próximos 10 anos para dizer, em apenas poucos meses. Significa ter certeza de que tudo está no lugar, para que seja o mais fácil possível para a sua família. Significa dizer seu adeus. Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, à tarde, eu fiz uma biópsia, em que eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Era uma forma muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia. Eu operei e estou bem.



Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero que seja o mais perto que vou ficar pelas próximas décadas. Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá. Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade. O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém. Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas. Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior. E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário.



Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras Polaroid. Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes do Google aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e ótimas noções. Stewart e sua equipe publicaram várias edições de The Whole Earth Catalog e, quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês. Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras: “Continue com fome, continue bobo”. Foi a mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome. Continuem bobos. Muito obrigado a todos".

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

poeira

uma poeira na saliva do sopro
soul de alma na calma de um sax man sofredor
a dor da cor da flor do amor
colinas verdes onde velejam velas de rotinas amarelas
lágrimas, palavras, aladas, caladas, cantam
a poesia daquele momento que acabou

ilusões

por não entender
me arrisco a dizer
Monk e Coltrane
tinham além da angústia
uma renúncia de tristeza
tinham sempre um ás na manga
que era o que dava o sabor de fruta
acesa
delicadeza do sofrer
escalas modais de realeza
mesmo tristes eram príncipes
como Cartola
fraque interno
certeza de reias reis da vida ilusória
com sabor azul

Circo

Ouvindo Better Git It In Your Soul , com e de Charles Mingus

palmo
espalmo
a alegria
num jazz
gritado
amordaçado
nunca mais
grito
aos quatro ventos
os tormentos
os unguentos
os seiscentos remédios
musicais que inventei agora
assombro as horas dos que se consideram sem merecer
e mereço uma medalha, sem alfinete, por entender que tudo o que nos salva é o que nos falta pouco para começar a crescer sombras

intrusos

...e pior
é que alguns acham que na vida* ser adulto
é só ter responsabilidades
sérios olhares
sorrisos irônicos em olhos catatônicos

Por que não se deixar levar pela criança que nos habita?


*essa é nossa única vida, desprevenida, e por isso deveria ser aproveitada em todos os sorrisos, sentidos -- Não deveríamos nos sentir intrusos!

Li Bai, DIÁLOGO NA MONTANHA

Perguntas-me: porque habito a verde montanha?
Rio-me. E nem respondo. Quieto, coração.
Correntes águas, floração, vão para esse escuro
E outro mundo há que dado não é a Mortais.

Li Bai, COVÃO DA MONTANHA DE LESTE -- LEMBRADO

Há quanto tempo não faço a Montanha Leste
Quantas rosas abriram nessa parte, sozinhas
E nuvens brancas passando -- o que ninguém vê
Desce a deusa, ou a lua, e para quem...

Tu Fu, PENSAMENTOS NOTURNOS

Ervas rasteiras,
Brisa suave
Sozinho na noite
Sob o mastro ao alto.


As estrelas suspensas
Sob a vasta planície
A lua ondula
Corre o grande rio.


Vêm das obras, a fama?
O letrado retira-se velho
E doente -- sempre errante
Que sou eu senão uma
Gaivota entre céu e terra?

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Bai Juyi, FLOR OU NÃO

É flor, ou não.
É bruma, ou não.
À meia-noite vem
De madrugada vai.
Chega, devaneio, vernal, efêmero.
Parte, neblina, matinal, sem traço.

Eliseo Diego, citação


  E para que serve um livro de poemas?, perguntariam agora, obedientes, os meus filhos. Servirá para atender, eu lhes responderia. Mestres maiores lhes dirão, com palavras mais nobres e mais belas, o que é poesia; baste-lhes, entretanto, se lhes revelo que, para mim, é o ato de atender em toda a sua pureza. Sirvam então os poemas para nos ajudar a atender como nos ajudam o silêncio ou a ternura.

  Não é por acaso que nascemos num lugar e não em outro, senão para dar testemunho. Ao que Deus me deu de herança, creio que atendi tão intensamente quanto pude; às cores e sombras da minha pátria; aos costumes de suas famílias; à maneira com que se dizem das coisas; e as próprias coisas -- às vezes obscuras e leves às vezes. Comigo se vão acabar estas formas de ver, de escutar, de sorrir, porque são únicas em cada homem; e como nenhuma de nossas obras é eterna, nem sequer perfeita, sei que lhes deixo quando muito um aviso, um convite para que estejam atentos. Para estar, melhor do que nunca estive, no que Deus nos deu de herança.




Li Shangyin, SEM TÍTULO

Sempre difícil encontrarmo-nos, difícil, sempre, separamo-nos
E murcha cada flor no vento que declina
Terminado que é o fio, morre na Primavera o bicho da seda
A vela seca as lágrimas -- quando já é só cinza
De madrugada, o espelho faz-me triste
Mudados neles os meus cabelos
A voz que canta na noite acorda o frio sentido do luar
Daqui não é longe... daqui à Ilha dos Imortais
Pássaro Azul, depressa, gostava de lhe dar uma espreitadela.

Domingo

duro tempo...


enquanto não chega
demora

transformado em memória
foi no sábado

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Du Qiuniang, CASACO DE FIOS DOURADOS

Digo-te -- preza menos o casaco de dourados fios
Aviso-te -- antes prezes os anos da fresca idade
Quando os ramos da floração se abrem, pronto a agarrar, fá-lo
Não esperes que tombe a flor segurando tu então um galho nu.

Huiji, (poema sem nome)

Oh uns e dois, meus dois e três. Filhos!
Tranquilos de olhos. Eles, voltai p'ra cima.
Entre ambas as duas bocas nada de falas
Este é meu convencimento.

Su Shi, (CENA DE PRIMAVERA)

As flores o seu vermelho perdem, frágil
Os damascos são pequenos, e verdes.
Esvoaçam andorinhas
E verde a água rodeia uma das casas.
Dos ramos voaram já, uma vez mais,
Muitos dos amentos de salgueiro
Onde é que não haverá, na terra, ervas fragrantes?


Dentro do muro, um baloiço, de jardim; fora, uma rua
Fora do muro, um transeunte
Lá dentro, um um riso -- de rapariga bonita
Que a pouco e pouco se extingue.
E agora um coração em fúria, o dela
Contra quem mostrou não ter nenhum.

Su Shi, DE PRESENTE A LIU JINGWEN

Lótus secando não deita sombrinhas à chuva
Mas um ramo fica do crisântemo à prova de frio.
Vistas de um ano inteiro não esquecem, e menos esta:
--Limões amarelos e verdes ainda tangerinas.

SURPRESA!

...e tudo começou com a morte de meu irmão, Frederico, e depois não parei mais e veio tanta coisa...mais uma morte, da minha mãe, Bertha, e continuei escrevendo e vendo quase tudo desmoronar, com as pedras no meu caminho tentei proteger o jardim de rimas que fiz em cafuné, pela ausência sim, mas não só pela ausência, pela presença de pessoas fundamentais que ontem, hoje, amanhã e sempre estarão ao meu  lado, mesmo que eu não as veja, mas sinto a presença e é esse sentimento que me dá coragem de lançar livros, CDs e quem sabe outras surpresas...

Su Shi, BEBENDO SOBRE O LAGO COM TEMPO LIMPO SEGUIDO DE CHUVA

O brilho d'água -- imensa -- salta melhor com tempo claro
O sabor da montanha, incerto, nevoenta, realça a chuva mesmo
Lago de Oeste  Rapariga de Oeste
A maquilhagem carregada, leve. Sempre parece bem.

Zhou Bangyan, ERRÂNCIAS DE MUITO NOVO

A faca do Norte brilha, água
O sal branco do Sul, neve
Finos dedos abrem a tangerina nova
A cortina enfeitada, aquecida há pouco
Incenso -- subindo do queimador animal
Diante, um do outro, tocando flauta de tubos
pergunta ela com brandura -- a quem visitas mais esta noite?
Os cascos de cavalo, escorreg-se, no chão nevado
Lá fora os passantes são raros.

Li Qingzhao, PRIMAVERA EM WULING

Passou o vento. Até a poeira é perfumada.
Já é tarde. Não me apetece pentear-me.
As coisas estão aqui mas ele o homem não -- tudo acabou.
Quero falar -- mas correm-me as lágrimas
Ouvi dizer que no Regato Duplo é ainda Primavera.
Gostaria de ir até lá andar numa barca leve
Mas tenho receio que barca tão frágil
Não suporte o peso de tanto sofrimento.

Yuan Haowen, VIVENDO 9OU ESTANDO) NA MONTANHA

A folhagem, imensa, cabe nas vozes de Outono
E os restos de um burgo -- entra devagar o crepúsculo.
O arco-íris se vai e fica chuva, esbranquiçada
As fumarolas vão, para surgir o azul. Montanhas.

colo

um sorriso
um leve branco
santo
uma rima
que diga
que sinta
o momento


colo de mãe

nós

sozinhos
somos

o

de nossas
idiossincrasias

sem olhos

somos
nós

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Bai Pu, AUGÚRIO ENQUANTO MONTA A CAVALO

(Um, de um conjunto ou encadeado de 6)


Encontros bastantes e foram felizes
É muita aflição? Sentimentos
Se embrulham -- pacotes de cânhamo
Passeios sob o muro de Leste por acaso
Ajudam, mas pouco. Lamento. Ah! O frio. Límpida
A lua e contra o seu amarelo a flor.

Yao Sui, CANÇÃO DE PRIMAVERA DO LETRADO VELHO

O meu pincel co'a tinta o tempo centra
Crianças, em baixo são mais que os versos
Quando perguntado, digo do Mundo --- É vasto, o mar.
E não há dia sem tufão ou borrasca
--Sem fazer caso do peixe ou de cálculos.

Ma Zhiyuan, (sem nome)

Trepadeiras secas, velhas árvores, corvos no crepúsculo,
Uma ponte baixa, um riacho correndo, umas casas
Uma antiga via, um cavalo magro, o vento oeste,
O sol a pôr-se -- também a Oeste.
E um viandante de coração destroçado
No limite do céu.

algodão

sem mãos que expressem em tintas rotinas
tempero em preto em branco sentimentos brandos
enquanto sigo tentando entender uma nova perspectiva
que desenhe-me em algodão

rosto

o que pintaria se fosse pintor?
um rosto
que me lembrasse o amor!

expressão 2

de nada adianta
um quadro
bem pintado
(bem pintado?)
bonito
(bonito?)
sem um mínimo de sentido
(sentido?)
de nada adianta um pintor que pinta sem motivo
sem arriscar expressar a dor de sentir de mentir de exprimir em tintas a vida

Gao Qi, TÚMULOS DE GUERRA

--- Na véspera da festa dos Mortos


Roupas sujas de poeira, lágrimas e sangue,
O triste regresso após anos de guerra.
Varridas pela borrasca: flores de pereira
Passa a véspera da Festa dos Mortos.
São tantos os novos que enlutados
Junto dos´túmulos se lamentam.

Jin Shengtan, (DÍSTICO)

Grãos de lótus: de amargura cheios, coração.
A pêra: amargos dentro -- do ventre.

Zheng Yan, LÁBIOS VERMELHOS

(No Lago)

E vou e venho entre bruma e vagas
maneira esta de me intitular Senhor do lago Oeste
Com brisa boa e um pequeno remo
P'ra fora puxo do Riacho das Canas.
A disposição no alto
Cimeira canta
E à noite quieta a voz é estranha e clara.
Ninguém te ouve
Aplaudo eu só
Tacitamente escutam as montanhas todas.

Yuan Mei, TROÇA E ARVOREDO

Planto bem arvoredo aos setenta.
Vizinho, não rias de trabalho em vão,
Pois, gente normal há-de morrer um dia
Quando, felizmente ninguém pode saber.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

atração

temos momentos
porque
a vida são
momentos de sentimentos
e registramos
esses sentimentos
momentos em que somos nós mesmos

DIAS!

DIA!

(com olhos vermelhos de desejo digo)


TARDE!

(com olhos azuis de angústia respondo)


NOITE!

(com olhos desgastados pelos excessos conquistados durmo)

arteplásticos

Coltrane exala poesia
Davis agonia
monstros da escala sonora
que angustia
que desafia
o som surdo
da afonia
dos sem consideração
melodia do grito
que é massa
nas mãos dos poetas
sejam eles
musicais
gráficos
ou
arteplásticos

sementes

a ilusão é que nos move
que diminui a nossa dor
por ela cantamos
por ela rimamos
suamos
nos esforçamos
para deixar algo
que nos qualifique
que nos exale
que nos cimente

Pt, saudações

páis estranho esse em que por ter conseguido chegar (cegar?) ao poder
um partido quer ensinar-nos a
ser inteiros
sem estudarmos
só pela vontade de querer?

colheita

Escolhestes
o sentimento
que te definirá?
irás para longe
onde não há rotina?
Colhestes a flor
da dor que sentiu
quando não se viu
no espelho de tuas alegrias?