domingo, 30 de novembro de 2014

Tomie Otake, quadro. Poema: milagre, Marco Plácido

milagre

Época de vícios espalhados
Vídeo-game remédios tarjados
Quem quer ver uma figura?
Todos querem algo abstrato
Que defina quem são pelas possibilidades sãs
De escolherem aquilo que estão vendo
Então pinto só manchas e espero o espanto
Com a reação de cada um que vê o que quer
E gosta de ver aquilo que quer crer

365 dias com poesia, 30 de novembro de 2014 -- tempos de outrora



tempos de outrora

muitas coisas acontecem a um homem para que ele pare de ouvir música conversar  escutar o canto dos pássaros que se esforçam solitários na árvore vizinha ao prédio amarelo do homem que está abismado com a força da memória
muitas coisas acontecem no cérebro do homem que para de fazer as coisas que mais gosta de repente apenas para de sentir prazer nas mínimas coisas mais simples talvez porque nele não exista mais espaço para a simplicidade absorto que está com a dificuldade de olhar para frente diante do passado ainda tão quente e pesado tantos anos trazendo tantas recordações palavras que não podem ser ditas pois isso seria um furacão sem volta seria uma revolução de sentimentos momentos florescendo cheiros hábitos hálitos mãos afastados todos afastados pela vida que não dá trégua nos leva sem ritmo para longe quase sempre longe de nós mesmos que ficamos ancorados perplexos apenas ouvindo nosso mar revolto dos tempos de outrora

sábado, 29 de novembro de 2014

Frederico Nitzsche, quadro The Rose Rosá

INvisívEL

EU NÃO SEI!

(e é isso que procuro o visível no escuro
o ouro que existe em cada pedaço de outro o suporte físico do ar
o olhar salgado amassado pelos nãos que exala o instinto físico do amor
o abraço sacrificado de um gago o gajo que cante um blues acelerado em partículas lindas de uma física escultural pintadas em meus olhos de metal)

Marco Plácido

Frederico Nitzsche, quadro: La Eclosión

feixe

olhares olham a escuridão ilumi-
nada
e piscam e ciscam um canto
para
a solidão
combi-
nada
estrelada
de razão
olhares olham a minha sombra e nadam
empeixando o feixe de luz procuram água

ou o
nada?

Marco Plácido

Frederico Nitzsche, quadro: Der Gätner

La Fusión

Siempre amar...
la montaña
la tierra
yo quiero...
amar
la fusión
de obscuro cielo
con nuestros
niños pechos...

Marco Plácido

Frederico Nitzsche, quadro: Drummond

Drummond III

Sombra de vida
onde mora a poesia?
no escuro de nossos olhos carentes?
no colorido dos nossos dentes dormentes?
onde a cotovia canta?
onde meus dedos sujos de tinta se levantam para protestar
por mais amor mais calor mais horas de flores divinas?

Marco Plácido


Iberê Camargo, 100 anos. Poema: bicicletas e carretéis, Marco Plácido


bicicletas e piões

A Iberê Camargo, 100 anos

Iberê pintas sombras sobras do que somos
Sonhos roxos escuros contornos pintas medo alguns segredos doem escorrem das tuas pinceladas de homem atormentado pelo talento Iberê pintas quente em cores ditas frias mentiras não cabem na tela exalas poemas em rodas de bicicletas e piões emprestas a nós nossas solidões como um menino que conta verdades vivendo dentro dum poema em seu olhar

Marco Plácido

Iberê Camargo, Quadro: Fantasmagoria. Poema: Forrest Gump, Marco Plácido.



Forrest Gump

O problema maior de muitas pessoas não é viver
É carregar o remorso daquilo que não fez
Que paralisa suas ações futuras e aí é mais fácil se deixar envelhecer para contar aos mais jovens histórias de experiências (não vividas)

365 dias com poesia, 29 de novembro de 2014 -- comédia bufa



comédia bufa

Ao amigo Fábio Dargam

todos somos pintores cantores atores de uma comédia bufa se fingirmos estar gostando daquilo que não somos os sonhos são feitos para sonhar e nos engordar de sabores a vida é uma e única não deveríamos ficar ajoelhados esperando por algo dado por alguém que escolhemos chamar de deus apenas para nos inibir e punir calado pelo nosso medo de viver: pintemos a coragem cantemos a vontade atuemos em prol da liberdade!

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Lucian Freud, Autorretrato. Poema: essaéaperguntaquequerofazer, Marco Plácido.



essaéaperguntaquequerofazer

comonãotemosprazodevalidadeháoengôdoporvezesquedizqueojovemterátempodefazeroquequiseraconteceuamimaconteceráavocêentãopassamsseosanoseaquelejovemnãotãojovemacordadosonhoeteráalgumacoragemparacomeçaracorrer?

Marco Plácido

365 dias com poesia, 28 de novembro de 2014 -- claridade II



claridade II

sendo sol sim sou sofro a dor do amarelo laranja em céu aberto transformando em azul uma possibilidade e esse azul vem a ser aquilo que serei no fim de tarde quando acinzentarei o dia que assim se vai e dá lugar à noite tão bela imagem que descansa meus olhos pois a claridade é demais

sendo sombra sou sofro o frio da noite adormecendo sonhos transformando o azul em preto escuro do mundo sendo a realidade pelo menos até a próxima alvorada e ansiando a chegada daquela tarde que em mim é arte recolho imagens que descansam em meus olhos pois a escuridão é demais

(e assim fico rimando apenas durante toda a eternidade que já está a me cegar...)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Música: SOMBRAS de Tom Marques e Marco Plácido Brasileiro

http://youtu.be/MkSC3TeRXao

Francisa Bacon. Poema: Samba suor e lágrimas, Marco Plácido.


Samba suor e lágrimas

À memória de Francis Bacon

A arte às vezes precisa chocar
Para chamar a atenção dos muitos desavisados
A vida não é essa festa de pagode, praia e risadas
Ela está mais para samba, suor e lágrimas
E esquecer disso não é felicidade
É querer tapar o sol com a peneira
É querer esquecer da saudade de quem se foi
É querer não ver um quadro que parece muito com uma mancha que exala solidão
É querer não ter noção de que não viemos aqui para brincar de esconde-esconde
Como crianças adultas assustadas

(nesse mundo dos “fortes”, a arte sem choque é quase nada!)

365 dias com poesia, 27 de novembro de 2014 -- luta inglória



luta inglória

O que tipifica o artista
É o temperamento e a saliva
“Há que endurecer sem perder a ternura”
Há que falar sem perder a saliva
Água e força se complementam e
São o sustento de quem quer se arriscar
Nesse mar de desilusões
Menos pelo não entendimento
E mais por lutar contra o tempo...
(Luta sempre inglória)

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Marco Plácido -- Poema e Quadro: HÁmor, 40 X 40 cm, guache.



HÁmor

Vendo um quadro que pintei...

Um coração que são três
Branco azul vermelho
Areia céu medo?
Sendo tudo o que consegui, sorri
Um coração virado deitado como uma barriga
Que dá a luz a um tema
(A um poema?)
Nada sei e por não saber estou a fazer uma história de vida
(Divina porque minha?)

365 dias com poesia, 26 de novembro de 2014 -- percepção II



percepção II

Se tivéssemos a percepção
De que já nascemos perdedores
Porque quando o quando chegar tudo acabará
Não precisaríamos temer nada que não fosse risco físico
E aí talvez pudéssemos descobrir
O véu de nossa doce hipocrisia
Para sorrir dos nossos erros e deles produzir algo
Que nos emocionasse

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Marco Plácido -- Quadro: jarro e folha, 50 X 50 cm, tinta acrílica.


Marco Plácido -- Quadro: Arco-íris, 50 X 50 cm, tinta acrílica.


Marco Plácido -- Quadro: janela I, 50 X 50 cm, tinta acrílica.


Marco Plácido -- Quadro: menina rosa, 50 X 50 cm, tinta acrílica.


365 dias com poesia -- 25 de novembro de 2014, sorrisos



sorrisos

Não há mais espaço para lágrimas
Não há mais espaço para palavras
Não há mais espaço para nada
Preferimos não sentir
Preferimos ser cegos surdos
Preferimos chorar calados
(Como estátuas?)
Estranho mundo
Onde não engano ninguém com meus sorrisos mudos
Mas continuo tentando
Não sabendo bem para quê...

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Charles Aznavour, foto. Poema: déja vu, Marco Plácido.


déja vu

A Charles Aznavour

O passado não existe
O que existe são nossas lembranças sobre os fatos passados
Que somos nós são(s) nós de laço do sapato que ainda trazemos em nossas mentes
O passado somos nós de pé vivendo o presente

Pressente um algo que já aconteceu?

Marco Plácido

365 dias com poesia -- 24 de novembro de 2014, velas



velas

Os poemas não envelhecem
Nós é que apagamos com o tempo...

domingo, 23 de novembro de 2014

Marco Plácido -- Quadro: cores, 50 X 50 cm, tinta acrílica


Cadu Coelho, Caminho

Antes do tempo
Meu termo tempo
Eterno acabar

Serei agora
Caminho
Distante

Daquele
Inverno
De outrora

Que a mim
Fez pensar
E olhar

Despir a alma
Atento a momentos
Onde finitude ganha propósito:

Semear, aguardar
Olhar o chão
Dar ao grão sua natureza, seu destino

Por fim, aprender
Viver cada pequena eternidade que me é concedida
Ciente de que persistirão apenas memórias

365 dias com poesia -- 23 de novembro de 2014, aroma



aroma

À memória de Bertha Plácido

Ando
Por cacos de vidros
Dum copo azul
Um blues ouvido no passado
Me dá de presente uma sensação tênue
Uma névoa de saudade
Um chá numa chávena de esperança
Serve tanto tantas vezes observei sem pensar
o pôr do sol, luz d’arte da vontade de não esquecer...

A lembrança incitando um aroma...

sábado, 22 de novembro de 2014

Marco Plácido -- Quadro Janela, 90 X 70 cm, tinta acrílica


Marco Plácido -- Quadro horizontes, 70 X 50 cm, tinta acrílica


Marco Plácido -- Quadro quadrantes, 50 X 50 cm, tinta acrílica


Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski -- Poema de M. Yu. Liérmontov

Poema de



M. Yu. Liérmontov, de 1839:

Não creias, não creias, jovem sonhador,
Teme como chaga a inspiração...
Ela é delírio penoso de tua alma enferma
Ou de ideia prisioneira uma excitação

Marco Plácido -- Quadro esqueleto e Poema: esqueleto, vendo um quadro que pintei...


esqueleto

Vendo um quadro que pintei...

esqueleto... 
ossos cinzas de possibilidades vis?
parte vinho como o sangue de que necessito para sonhar?
sustento de vidros coloridos diferentes da vida?
pergunto para não pensar?
esqueleto
quebro-te querendo forçar-me a me levantar?

365 dias com poesia -- 22 de novembro de 2014, pressão arterial



pressão arterial

Depois da retirada da vesícula com pressão alta

O silêncio se existe é quente?
O silêncio...
(silencio para tentar ouvi-lo...)
Parece que ele é minha respiração
Tentando se adequar aos meus sonhos
Parece que ele sou eu sozinho no quarto escuro
Com olhos brilhando de vontade de gritar:
NÃO ESPEREM...NÃO HÁ O QUE ESPERAR!
Batimentos cardíacos próximos do enfarte
Se for com arte que venha e mate logo todos os meus medos de sofrer
Mas que me mantenha vivo para pelo menos poder dizer que tudo valeu a pena
E que valerá ainda mais se eu acordar desse louco momento insano
(que preciso de vez em quando para não estourar)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

João Ubaldo Ribeiro, foto. Poema:Espírito, depois de ler Viva o Povo Brasileiro, Marco Plácido.


Espírito

Depois de ler Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro

SOLDADOS UNI-VOS NO AMOR!

O Espírito do Homem
Trabalha para um dia ouvir essa afirmação
Nega a escravidão d’almas que deveriam saber sorrir
Nega a angústia a maledicência a indecência de homens vivendo enquanto outros mal conseguem respirar abomina a crítica preconceituosa adora amar aquele amor da consciência de que todos somos iguais e que devíamos exercer nossa igualdade
Não rezando mas dividindo o segredo;
Você pode ser tudo, mas antes tem de ser você!

Marco Plácido

365 dias com poesia -- 21 de novembro de 2014, paradoxo artístico



paradoxo artístico

Verdadeiro paradoxo:
A obra de arte deve espalhar a vontade do artista de espelhar quem é com total atenção ao passado que foi e se estabelecer uma conexão com os espectadores de hoje será uma forte ligação com algo presente perene por todos chamado futuro

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Marco Plácido, Quadro e poema: esqueleto.

esqueleto

esqueleto
ossos cinzas de possibilidades vis?
parte vinho como o sangue de que necessito para sonhar?
sustento de vidros coloridos diferentes da vida?
pergunto para não pensar?
esqueleto
quebro-te querendo forçar-me a me levantar?

Marco Plácido

Neném, duma imagem do Amazing Geologist



Neném

Duma imagem do Amazing Geologist

quem é esse ser
nascendo da neve
de pedras
quem é essa pedra
o que pensa
o que espera
onde sente
com quem freqüenta
lugares quentes úmidos
quem é esse neném que nos restituí a vontade de viver


Marco Plácido

tartaruga de pedra, duma imagem do Amazing Geologist

tartaruga de pedra

Duma imagem do Amazing Geologist

uma coruja espiando
o que a tartaruga está levando?
até quando?
meu deus
até quando ficaremos expiando nossos pecados?
Olhando
apenas olhando a vida (de pedra) passar?


Marco Plácido

Marco Plácido -- Quadro: Jazz III, 50 X 100 cm , tinta acrílica.


Marco Plácido -- Quadro: casa, 50 X 50 cm, tinta acrílica.


Merval Pererira, n'O Globo de 20/11/14 -- Roubalheira com método

   A tese do advogado Mario Oliveira Filho, que defende o lobista Fernando Baiano, de que não se faz obra pública no Brasil sem propina para políticos, é uma variação da tese genérica que as grandes empreiteiras brasileiras estavam montando para uma defesa conjunta, a de que estavam sendo extorquidas pelo governo.

   Com isso, queriam reduzir as suas responsabilidades no esquema desvendado pela Operação Lava-Jato e de corruptoras passarem a vítimas de um esquema político perverso. A defesa de Fernando Baiano, generalizando tanto a praga da corrupção a ponto de dizer que se o empresário "não fizer isso, não tem obra", em qualquer prefeitura do país, mistura alhos com bugalhos.

   Se para eles o que interessa é misturar tudo e dar a sensação de que o megarroubo na Petrobras é igual ao de uma prefeitura do interior, para os cidadãos é preciso fazer uma distinção absolutamente essencial. A corrupção generalizada no país não é de hoje, e o fato de ter se espalhado até o mais modesto município brasileiro só mostra que a impunidade fez aumentar a possibilidade de corrupção.

   Ao mesmo tempo, há montado na Petrobras, e provavelmente em outras estatais, um esquema corrupto que não é vulgar e que já mostrou suas garras no episódio do mensalão. Em vez de combater a corrupção disseminada, como prometia fazer antes de chegar ao poder, o Partido dos Trabalhadores, ao contrário, aderiu à maneira brasileira de fazer política e transformou-a em um método de dominação do Poder Legislativo e de perpetuação de poder.

   Quando Lula disse que no Congresso havia 300 picaretas, em tom de crítica, parecia o líder político que queria mudar a maneira de governar o país. Mas quando chegou sua vez de mostrar a que veio, Lula comandou um governo que institucionalizou a corrupção para garantir apoio político, aperfeiçoando e aprofundando as técnicas que eram usadas naturalmente pelos políticos brasileiros há décadas.

   Que havia corrupção na Petrobras muito antes de o PT chegar ao poder, ninguém discute. O que é espantoso é que essa corrupção tenha chegado ao ponto que chegou e tenha se tornado institucional a ponto de o então deputado federal Severino Cavalcanti, alçado à condição de presidente da Câmara em episódio que maraca a degradação daquela Casa do Congresso, ter feito em público a exigência de nomear "o diretor que fura poço".

   Os 300 picaretas do Congresso já sabiam àquela altura que as diretorias da maior estatal brasileira estavam sendo leiloadas para os partidos políticos da base, com direito a percentagens generosas de todo e qualquer contrato.

   Como partido organizado e bem comandado, o PT transformou a roubalheira generalizada em instrumento de controle político, o que deu até a seus integrantes mais ideológicos uma paz de espírito com a desculpa de que agiam assim em "nome da causa". Até mesmo quando parte do desvio vai para seus bolsos privados, a manutenção do "objetivo maior" dá-lhes a certeza de que mereciam cada tostão desviado.

   Será preciso separar muito bem o joio do trigo para não confundir o que é roubo vulgar do esquema político montado às custas do dinheiro público. E se é verdade que as empreiteiras foram extorquidas pelo esquema que o governo controlava, também é verdade que sempre trabalharam dessa maneira, embutindo sobrepreços nas licitações, fosse para compensar a inflação, ou para molhar a mão de um gerentezinho ou do ministro da área.

  O que mudou nos anos petistas é que a roubalheira nas principais áreas do governo foi monopolizada pelo esquema político que almeja a hegemonia. É claro que o pequeno empreiteiro do menos município do país continua tendo que pagar propina local, mas este é um problema de impunidade. O que aconteceu na Petrobras é um problema político.


Miles Davis

fôlego

A Miles Davis, 88 anos

Quando Miles toca
Ele, esvazia-se
Eu, me preencho
Da vida cuspida do trompete
Ele, ferve em dentes escondidos
Eu, minto em olhos surpreendidos
Pela intensidade das palavras escondidas no silêncio entre notas
No incêndio de suas poucas notas que preenchem o vazio da harmonia
Que aprendo sem entender
Que sendo meu bem-querer único possível
Naquele infinito de poucos minutos em que o mundo para e é tocado
Influenciado pela eternidade de sua essência que jamais se renderá me comovo e me ponho a rimar

365 dias com poesia -- 20 de novembro de 2014, vazio



vazio

A Fiódor Dostoiévski


(Depois da retirada da vesícula...)

Tive medo de morrer?
Tive mas acho que foi mais por sentir a possibilidade do desperdício
Porque afinal de contas
Depois de fechar os olhos durante a anestesia
Só voltei a saber que estava vivo porque estava vivo
A sensação do nada logo após o anestésico
Seria o nada eterno
Não haveria mais
Dor amor calor flor
Perderia tudo e todos
E foi esse vazio que me veio e que depois chamei de medo de morrer
(Por isso digo: não espere nada nem ninguém, faça o que você espera de você)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Fiódor Dostoiévski, por Fiódor Karamázov, personagem do romance Os Irmãos Karamázov

Pelo personagem Fiódor Karamázov:

Não está pedindo dinheiro, mas seja como for não vai receber um tostão de mim. Eu, meu querido, Alieksiêi Fiódorovitch, tenho a intenção de viver o máximo que puder no mundo, saibam vocês disto, e por isso preciso de cada copeque, e quanto mais eu viver tanto mais esse copeque me será necessário. Por enquanto, ainda sou um homem, apesar de tudo, tenho apenas cinquenta e cinco anos, mas ainda quero permanecer uns vinte no rol dos homens, porque vou envelhecer, ficar um trapo e elas não vão querer vir à minha casa de boa vontade, e é por isso que vou precisar de um dinheirinho. É por isso que venho juntando cada vez mais e mais só para mim, meu amável filho, Alieksiêi Fiódorovitch, que fiquem vocês sabendo, porque quero viver até o fim em minha sujeira, fiquem vocês sabendo. Na imundice é que é mais doce; todos falam mal dela, mas nela todos vivem, só que às escondidas, enquanto eu sou transparente. Pois foi por essa minha simplicidade que todos os sujos investiram contra mim. Já para o teu paraíso, Alieksiêi Fiódorovitch, não quero ir, fica tu sabendo, e para um homem direito é até indecente ir para o teu paraíso, se é que ele existe mesmo. A meu ver, a pessoa dorme e não acorda mais, descobre que não existe nada; lembrem-se de mim se quiserem, e se não quiserem que o diabo os carregue. Eis minha filosofia.

365 dias com poesia -- 19 de novembro de 2014, (im)PACIENTE



(im)PACIENTE

No consultório médico, depois de ouvir estar expressamente proibido de fazer qualquer tipo de esforço físico, por conta da retirada da vesícula...

Eu: ”Doutor, no dia 26 lançarei meu próximo livro de poesias com um show...”

Ele, surpreso:”Por isso gosto da minha profissão, sempre surgem surpresas!”

Eu: “Então, no caso de eu ser um (im)paciente e querer cantar, eu canto em pé ou sentado?”

Ele, sorrindo, apenas balançou a cabeça...