sábado, 31 de dezembro de 2011

título

...preciso de ritmo
preciso de um título

escrever é como viver precisamos de direção

desencanado

cansado de perguntar
resolvi responder
isso não me torna melhor
apenas me permite viver

sonhos

cheio das nossas besteiras humanas

esfrego uma maçã amassada por anos de calor calado

no rosto de minhas preocupações

recheio de realizações sonhadas

torta

se é parte não é arte

se reparte não é arte

a arte é feita com recheio de provocação e paixão
amor pelo calor humano

inteira sensação
torta de imaginação

inteiro

um homem
não pode
não deve
desejar ser parte...

...inteiro com meus erros e desejos

escrevo

(por amor à arte)

FLUENTE OU INFLUENTE?

(IN) fluente! Porque escrevo o que sinto e sinto muito não ter como dar maiores explicações.
Tudo, todos nos atingem e só atingimos o cume se prestarmos atenção aos nossos anseios.
Creio em Deus, pai todo poderoso (?), então é sorte ter chegado no estado latente de emancipação do meu eu (?). Seu domínio é nenhum ou alguém quer arriscar segurar as rédeas da própria vida?
Querido, querida é adjetivo utilizado e pouco vivido. Vivo, sim, vivo no perigo de escrever o que penso. E olha que penso um bocado e escrevo outro. Com Pessoa, sei, o outro não existe, mas os poetas insistem em inventar com quem conversar.
Tecer, criar a árvore, o cheiro do fruto... Crio um mundo, pois sou criador, brinco com ela... da saudade me fiz caçador.
Aperfeiçoei meu faro, fino trato com palavras que são asas, borboletas, ex-lagartas...desbaratam a solidão.
Essa a verdadeira intenção do poeta, brincar de viver, escrevendo uma história cujos laços nos liguem ao presente sem esquecer o último passo, cultivando um jardim sem muros chamado futuro.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2012

Dois mil e onze, duro ano esse em que perdi minha mãe, alguns caminhos foram traçados em meu rosto, pelos outros conhecidos como rugas, para mim foram desilusões. Algumas sensações foram únicas e por terem sido já se foram e só restou o gosto amargo da saudade: a alegria que ela tinha num show e suas palmas fora do ritmo me animavam mais do que qualquer mil assobios; o sorriso do meu filho de cinco me vendo e depois, com seis, cantando comigo; o olhar de compreensão dos meninos mais velhos...Admiração é o que sinto por todos que têm coragem de ser do jeito que são. Meu anjo, uma revolução nos seus olhos cansados de menina, que atura uma família de artistas, sendo também ela um signo de criação. Leão, leoa e seus filhos leõezinhos, tantos meninos, que só ela, sendo amor total poderia administrar essa fauna com total valor. Tudo lindo e seguindo sempre sendo do jeito que pode ser e será, sempre do jeito que a dor se apresenta e do jeito que permita que o amor a surpreenda!

Grande ano de 2012!

Marco Plácido e família.

Texto postado no último dia de 2010

DESILUSÃO
Irmão
Descobri
Com você
Que iria
Morrer
E
Foi essa desilusão
Que começou a me preparar para o que viria
Outras descobertas
Foram bem-vindas
Depois da sua partida
As coisas me afetavam mais e quanto mais era afetado mais me assustava com os rumos que a vida estava tomando
Disso tudo me recordo pouco
Tenho só uma leve sensação
Intuição
(É o jeito que nos revelamos
Com a revelação)
Passado o susto
Só me restava o futuro que viria
(E veio de qualquer modo)
e segui
Rolando como roda de carroça
Desengonçado e sério pelas responsabilidades advindas com a missão que era seguir...
...até que chegamos ao dia
cinco de maio de dois mil e oito
Data da criação do poema Frederico, em sua homenagem...
...Bom o resto
Já é bastante conhecido...
(Amigos, agradeço a oportunidade, nesse ano, sabendo-me lido, pude amadurecer na dura empreitada de fazer, ou melhor, postar um poema por dia. Para o próximo ano desejo a todos saúde e realizações, informando que o projeto “365 dias com poesia” foi devorado pelo blog “PeNsAmEnToS eM mOvImEnTo”. Abraços, Marco Plácido).

joia

não sei se palavras salvam
mas pelo menos exalam
perfume de razão
dificilmente
posso dizer não
a uma emoção legitimada
por um carisma de mina
que lavra em mim uma possibilidade
rara

são

penso
sangue

arte

quando machuca
quando anula
o nulo

sugo

o fluxo
desvio-o
do alívio
uma incompreensão

são

sorrisos

o final de ano é apenas mais uma ilusão
todos os dias nascemos, quando acordamos
e
morremos, quando dormimos
todos os dias podem ser os últimos e portanto deveríamos nos lembrar disso e parar de economizar sorrisos

uma quimera

...(o amor é...)

...nuvem de borboletas que espalham pólen, semeiam
chuva de intensidade branda que molha as plantas, cultivando-as
sol em brilho de primavera que nos faz esperar
uma quimera

o amor e a paixão

os poetas não precisavam perder tempo
tentando definir o amor
posto que á chama como disse o professor
o amor é o óbvio perfume da ilusão
sentimento forte de inclusão
ataques sísmicos de tensão
perigoso momento de compaixão

(já a paixão...)

a paixão
é inconsequente espirro, explosão

sintonia-fina

O que desejar para o próximo ano?
um amor e tanto daquele de tirar o fôlego daquele assim do tamanho de um piscada próxima de boca daquele assim meio porra louca com a intensidade de trinta anos daquele assim doidivano libriano canceriano iguano igual ao dos seus pais ou não como diria Caetano um amor sempre-de-fim-de-ano com a ilusão dos ciganos pobres por fora e ricos por dentro um amor sintonia-fina-de-um-poema-de-Drummond

minhoca

...fadado a continuar
essa a sina
do ser humano que não vai atentar contra a própria vida
se temos de continuar que continuemos na moral
sem ficar pulando de buraco em buraco
(não somos macacos
não gostamos de galho)
queremos sim plantar uma árvore frondosa
com frutos gorduchos
com cheiro de futuro

(queremos ter tempo para do andar da minhoca tirar algum ensinamento)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

rabugento

solidão é silêncio na escuridão?
ou
solidão é o barulho rabugento aqui de dentro?

ALMA PERDIDA, de Valery Larbaud (Tradução de Drummond)

ALMA PERDIDA

A vós, aspirações vagas; entusiasmos;
cismas depois do almoço; impulsos do coração;
enternecimento que vem com a satisfação
das necessidades naturais; clarões de gênio; apaziguamento
da digestão bem feita; alegrias sem causa;
distúrbios da circulação do sangue; recordações de amor;
perfume de benjoim do banho matinal; sonhos de amor;
minha enorme molecagem castelhana, minha imensa
tristeza puritana, meus gostos especiais;
chocolate, bombons, doces de derreter, bebidas geladas;
charutos entorpecentes e vós, acalentadores cigarros;
alegrias da velocidade; doçura de ficar sentado; delícia
do sono na completa escuridão;
grande poesia das coisas; noticiário de polícia; viagens;
tziganos; passeios de trenó; chuva no mar;
loucura da noite febril, sozinho com alguns livros;
oscilações do temperamento e do tempo;
instantes de outra vida, reaparecidos; recordações, profecias;
ó esplendor da vida comum e do ramerrão quotidiano,
a vós esta alma perdida.

malhação

...nessa fase fico pensando se ainda há algum tema sobre o qual ainda não tenha escrito e realmente não me lembro se ficou faltando algo o esforço foi tão grande tão concentrado que até me esqueci de mim e agora que algumas letras pendem do alto dos cadernos mal conservados acho que já é hora de começar a malhar

íris

íris
menina dos olhos
de alguém
menina
simples assim
ísis
jasmim
de um jardim
de estrelas

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

LIBERTÉ (poema de Paul Éluard, tradução de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade)

UM ÚNICO PENSAMENTO

Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome

Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Nas jângales, no deserto
Nos ninhos e nas giestas
Nos ecos da minha infância
escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Em meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome

Nas campinas no horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome

Nas formas resplandescentes
nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

No fruto partido em dois
De meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome

Em meu cão gulosos e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome

No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome

Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome

Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar


Liberdade

Oração ao Deus (que sou eu)

Senhor Deus,
que cada machucado se transforme em estrela dolorindo com seu brilho minha caminhada assustada
que cada lágrima seja cultivada como uma nova paixão assumindo em mim um clarão de fogo abrindo floresta
que cada perda de pessoa amada seja florada perfumando-me de lembranças
que cada olhar desavisado identifique-me e se afaste assustado com o tamanho da minha verdade
que cada simples letra mal arrumada seja lida como um poema-medalha das poucas vitórias conquistadas
que cada humano que cruze meu caminho sinta o cheiro do fascínio que tenho de estar vivo
que cada perigo seja pequeno e seja um ensinamento que me leve para mais perto dos meus filhos
que a cada dia eu continue um menino na esperança tanta de colher um buquê de rosas das palavras tortas que me dirijam
que a cada dia eu seja na vida das pessoas adubo mesmo que tenha de chorar para uma semente-esperança germinar
que a cada dia eu entenda que uma flor me protege mais do que um pedaço de árvore

Senhor Deus, agradeço toda manhã a oportunidade de poder me comunicar consigo (comigo).

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

tormentas

nunca compraria um barco para navegar
já me navego
desviando das rochas
surgidas nas marés das minhas tormentas

expressão

os desejos do ano passado
esquecidos foram
ultrapassados
dormiram
magoado
sigo cego
sigo sendo
interessado
mais em mentir do que
me exprimir

anos cinquenta

Porra! O fim de ano já chegou e eu ainda nem comecei a cumprir a primeira promessa, incrível como o tempo passa rápido expresso do oriente tente pensar e fazer tente errar e escrever puxa vida! tantas promessas jogadas ao vento tantos requintes de argumentos sendo produzidos com a rapidez de uma grande mentira sinta o cheiro das verdades espremidas entre as regras de português e aquele cara vermelho, irlândes... sinta o medo sinta o veneno daqueles que ficam olhando o cu alheio velhos de copacabana espremendo entre os dedos enredos duros como pão dormido o colarinho de cervejas já ultrapassadas esquentando mais a vida daquelas senhoras vizinhas em olhos acessos da saudade quente do verão vermelho dos anos cinquenta do que qualquer fofoca do prédio com as luzes acesas sem emoção

extraterrestre

difícil escapar das armadilhas da vida moderna
o tempo em que poderia estar escrevendo estou comendo lendo facebokeando encolhendo e tento tento tanto me livrar de tudo para começar mas há uma preguiça atávica uma vontade danada de não pensar e acabo não pensando para acreditar num lugar melhor em outro lugar outro mundo talvez outra existência

crer é mais fácil que saber

domingo, 25 de dezembro de 2011

bom velhinho

os sapatos na varanda continuam vazios...
como vazios estavam a um ano atrás
quantos argumentos foram inventados para manter o bom velhinho existindo
quantos livros foram lidos em busca de uma resposta
quantas esquinas foram gastas como pílulas
e nada
de nada acontecer e nada de nada acontecer...

língua portuguesa

quem disse que papai Noel não existe?
toda fantasia existe
todos precisamos sonhar
quem foi que disse que o real é preciso como relógio suíço?
quem foi que disse que é errado desejar?
onde vamos colocar os sapatos se não acreditarmos no bom velhinho?
por que não acreditar?
é mais fácil viver conscientes?
quem foi que disse que desejo apagar minhas memórias?
a primeira bicicleta foi que me deu o primeiro arranhão no joelho
a primeira mordida de cão foi que me deu a vontade de correr
a primeira mão estendida foi que me ensinou o caminho da amizade
o primeiro emprego foi que me mostrou que eu era um cara de um jeito que não combinava com aquele mundo engravatado
o primeiro beijo foi que me ensinou o valor da língua portuguesa

sábado, 24 de dezembro de 2011

Led

Led tocando
enquanto choro o silêncio de dentro
interno sentimento
sem melodia que me dê um poema
onde estão aqueles loucos anos de intensa ingenuidade?
para onde foram as flores que plantei?
quando o chão se abrirá numa canção de asas?

ceia

num sábado de Natal estou aqui tentando me provar que ainda consigo escrever algo que tenha um gosto próprio chester, presunto e ócio
ceia preferida

razão calada

em tantos momentos discutimos com os outros querendo provar argumentos quando o entorno de inteligência e consideração já demonstra a quantidade de razão calada

chiclete

a alegria às vezes traz um discurso arco-íris, grande e bobo, a tristeza é completa no silêncio chiclete de poucas palavras

pipoca

quando estou triste o circo me salva das pipocas amargas recordações

trapalhão

olhando o palhaço
no circo
desejei a graça
sem saber o trabalho que dava
esquecer dos problemas da rotina e conseguir fingir a trapalhada sacra

areia movediça

na areia movediça do tempo
me movo
com cuidado e relevo
sopeso alguns dos poucos argumentos que me sobraram
alguns que o vento do tempo ainda não tinha me tomado

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

cancelas

como Picasso disse a infância na arte demora a chegar
quebrar as regra é para uma criança que desconhece o sabor da vingança daqueles que vivem para acertar

Contrarregras

(ator puto com o meu atraso)

...Cadê aquele contrarregra?!

...Cadê aquele poeta?!

hera

Papai Noel quero um presente
uma sobra do vivido
como Pessoa disse
não quero criar nada
quero a sobra dos sonhos dos outros (?) quero uma apara do tecido de ouro do gigante do pé de feijão botões de prata cortina enluarada palavras estreladas num livro de caule uma lágrima será a salvação de uma folha
será uma possibilidade

Ela

se o erro da vida é a morte
sonhar é um norte
mas não é sonho de padaria
é sonho de tentar realizar
sem medo de errar
pois o único erro mal resolvido
é o já deveras conhecido

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

plantas

sorrisos me agridem imagino tudo em que não estou envolvido e termino me arrependendo por não ter tentado tentação não é dos demônios é dos antônimos que realçando o contrário dos sins que deveríamos cultivar, sendo planta, realça quem somos nossos medos, e enquanto ruminamos deixamos de realizar algo que pode nos fazer voar nas asas que insistimos em podar

urro

um baixo ajuda a um sax chorar
enquanto a guitarra grita, como eu, por atenção
o baterista bumba tudo
massacra o som curto
com a vontade do urro de um urso

rezado

não brigue pela escolha dos outros para encarar a solidão
cada um de nós finge não saber que estamos sós
escolhas são folhas
de papel
pintado
amassado
chorado
rimado
ou
rezado

solenes

crianças não sentem solidão
solidão é saudade ardente
consciência dos nãos
sim, é isso sim
por não terem a consciência da solidão
as crianças não sentem saudade
não mentem e não sofrem
solenemente

Buquê (Nova Música)

Por que você me deixou?
Onde foi nosso amor?
De quê cor sorrio agora?


Para onde você se deixou?
Onde foi nossa dor?
Que flor está lá fora?

A chuva chega
A manhã se apressa
Meus dedos escorrem solidão


Seu sorriso me trouxe de volta
Agora já posso dançar
Cultivar um buquê de rosas
Agora já posso sonhar
Cultivar seu olhar trouxe meus solos de volta

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

regente

À Beth Dargam

da dificuldade um sorriso sangra
em lágrimas de alegria
tamanhas
viagens à lua
imagens de uma realidade sua
fruta na salada diária de família feliz
continue sendo
sendo sempre
sempre sem temer
sem temer serpente
sabedoria de fina flor do fazer
sem perder o rumo
regente de sinfonia para surdos

Senhora

adulto é quem conhece a Senhora solidão

criança quem convive com a amiga ilusão

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

estampa do Sal e Idade, Saudade

ritualizava a rotina
talvez para se sentir santo
espancava as notícias em prantos


manco de realizações
estampa a esperança como tatuagem indígena

cobertor do Sal e Idade, Saudade

uns, ansiosos,correm atrás da desconhecida sabedoria
outros, ingênuos como nós, acreditam na lanterna existente na ponta dos pés

cada passo um futuro brilhante

domingo, 18 de dezembro de 2011

premissas

erro da vida
a morte pode
estabelecer algumas premissas
se sei que vou morrer
quanto vale uma opinião contrária?
por que me preocupar com caras amarradas?
por que não parar de falar e começar algo que me dê prazer?

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

natação

não aguento mais rimar mar com o sal das minhas retinas
não aguento mais esse sentimento de menina num corpo exalando memória
não aguento mais tanta casca de história identificando-me
não aguento mais salvar no braço todas as primeiras conjugações do suicídio de um poema sem emoção

limítrofe

onde começa o litoral?
onde concebo a linha limítrofe de um mar de lágrimas e a terra do nada?

pequeno mar (nova modificação)

essa lágrima caída é pequeno sal nas minhas retinas cansadas de ser mar

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

solto

...em sua boca navego lágrimas roucas de tanto serem caladas
soltas as amarras
irei me lançar
sem porto que me traga recordações...

pequeno mar (poema caída modificado)

essa lágrima caída
é pequeno mar nas minhas retinas cansadas de salgar

ausentes

os ansiosos vivem o futuro
os saudosos os passados
e os mortos o presente, ausente

aperitivos

barcos coloridos são aperitivos para a tempestade que espreita aliviada a ingenuidade de brancos uniformes eivados de solidão

óleo

olho
as manchas
gaivotas insanas esquecem de morrer brancas

porto

no meio do oceano navego ansiando por um porto onde aportar meus sonhos

tempestades

canção de saudade é a lágrima salgada escorrendo em olhos cansados de tempestades

bronzeados

a lágrima que vês caída é mar
o verde dos olhos que vês é esperança de olhar
os cílios bronzeados são o sol de um olhar

caída

essa lágrima caída não é pequena é mar
maré nas minhas retinas

sombras

as sombras só acontecem porque me chamas

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

inteiro

não quero água não quero pão não quero a marcha dos ponteiros (numa direção sufocada...) sigo o cheiro do medo dos outros estou um cara meio cansado mas inteiro por estar vivo

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

montanha russa

montanha russa emocional de escrever acostumar com as curvas é o pior mas quem disse que nos acostumamos? quem disse que desejamos colocar no papel aquilo que nos machuca cuspimos palavras como crianças cospem balas de gosto amargo de fato seria mais fácil continuar engolindo até que algo nos adoentasse e pudéssemos ter a desculpa de não ter começado

domingo, 11 de dezembro de 2011

sábado, 10 de dezembro de 2011

crucifixo

nesse minuto estou rezando para a tempestade nos deixar nosso barco é pequeno e da cor do amor que deixamos na partida devemos voltar porque temos família os amigos, todos, devem estar rezando apreensivos pelo que imaginam nós rezamos para estancar o medo que sentimos por desconhecermos o tamanho do perigo de nos navegarmos

petróleo

navegar é parábola da vida salgada tentativa divina de satisfazer nossas vontades em águas que ardem invadem mistérios vazamento de óleos submersos

cabo

onde começa o rio e acabo de amar?

cantoria

amar sentimento que se explica pela intensidade do tempo a paixão é fogo ardendo olhos vermelhos irracionais o amor é espaço perfeito tempo de maturação da semente em flor o néctar é o sabor de dois corpos que aprenderam a se adubar transformando ondas em cantoria

ri mar

prometi que nunca utilizaria rimas da primeira conjugação mas o mar é mais forte do que qualquer promessa amo o mar e o temo nunca navegarei de verdade e por isso só me resta rimar amar navegar pelas palavras salgadas

imensidão

...há um momento em que só há o mar e os companheiros de aflição a respiração é música de crenças com vendas nos olhos crédulos rezo para me tornar imensidão

areia

do barco ao longe vejo pessoas na praia figuras apenas delineadas sem rosto sem voz sem nada que me prenda a elas fantasmas velejando na areia

profundo

procuro na distância do mergulho encontrar algum ponto de luz a areia do fundo do mar em minhas mãos são salvação cheguei ao ponto mais profundo agora é ter a crença do fôlego para a ressurreição

submerso

debaixo d'água
o tempo para
não há ondas
o nada é nada
não há azul
o silêncio é sem cor
penso tanto
escuro aqui estou
sendo uma parte submersa do céu

Cantante

...é, escrevo como quem sabe que vai morrer! Por isso, sai forte, rápido, certeiro, grão de arroz num palheiro, preciso! Preciso ter um motivo, um mote, um alvo, muitas vezes invento palavras, as que aí estão já perderam as asas, foram domesticadas, por isso saio para caçar e se, num dia, não mato, invento e pronto está! Assim, mas não confunda, não é fácil, não sou ágil, sou destemido, sinto dor, sem grito, para não espantar as perdizes (Todos somos aprendizes!). Em cada manga uma espada, de ouros, sufoco, todo dia ter de me espantar para do susto me fazer imaginar. O cansaço quase sempre me mói, mas também constrói um cidadão, conhecido por amanhecer falando, continuo cantando em versos nossa solidão.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

professor

Não temo a morte, porque não temo o tempo. O tempo é meu aliado, por isso o silêncio, respeitoso. Admiro o amigo com um olhar protetor. Ele já me disse que não terei do que me queixar. O azul do mar é um presente que satisfará minha rotina de letras. Se quiser posso me gabar, me disse. O futuro está construído com tijolos das rimas do sofrimento de não tê-lo compreendido num primeiro momento. Agora, não! Agora, tomamos chá, todo dia, cantamos a canção do amor que há...Em todas as coisas, a cor do amor deixa suas marcas...Não, não é loucura, é consciência do seu valor. O amigo tempo foi meu professor!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

tatuados

...queremos ser livres?
queremos ser livros?
tatuamos queixas
esperando ser lidos?

WISH YOU WERE HERE

Aos Pinks

Temos os mesmos medos
dividimos o mesmo segredo
de estarmos inteiros
num céu de brigadeiro
(que não existe mas é só nosso)
gostamos do ócio criativo de olhar
a brisa e dela fazermos uma pirueta de cabelos soltos
em bocas soltas soltamos quem somos
mordemos cílios e por isso ainda choramos juntos
um quarto (de lua?) é nosso mundo

(fico fingindo ser um muro quando sou uma flor...)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

almirante

retinas são meninas
meninas dos olhos
nos olhos esquinas são dobras
de vida
confortáveis mentiras
em céu de almirante

Família

família...família rima...pão com margarina, sabor com tia, pai com sabão, avó com satisfação de ver o neto crescendo, aprendendo a andar, comer, falar...amar...a chupeta atrapalhando, o gato miando, o cachorro mordendo canelas e argumentos contrários todos estamos trocando pneus de carros em movimento todos estamos sofrendo juntos as dores tanto da separação como da aglutinação: um é chato, o outro está no armário, um é isso ou outro é aquilo, um é esquisito, o outro artístico, um é pequeno o outro é enorme na vontade, imensidão de mar, querendo espalhar gotas de letras, bombons-poemas, todos olham o futuro com gosto e medo, todos contamos os ponteiros do relógio-segredo...de quem somos? (quem queremos ser?) todos nos acostumamos com o prazer? até o fim?

(viemos separados mas precisamos viver separados?)

crediário

ontem mais um lindo dia se perdeu entre engarrafamentos, trafêgo aéreo e aumentos estratosféricos nos produtos de limpeza mais um dia desperdiçado entre um crediário de ventilador e a dor de ser sabedor que aquele dia passou sem acontecer nada de extraordinário

devemos querer isso, comprar aquilo ou sonhar?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

rotina

...é só mais um dia...

todos os dias são só mais um

às vezes nos aborrecemos com a rotina mas sem ela não conseguimos aprender a suportar a constância que nos avisa a hora de mudar...

atenção e paciência

atenção e paciência é do que preciso como escritor devo prestar atenção nos modos próprios e alheios ver a discussão do pássaro com a onda que o impede de descansar ver a areia sendo lambida e o esforço da maré por entalhar tempo às rochas devo observar o andar do velho e a queixa do impaciente garoto que óbvio não se vê desmanchando devo observar a quentura do sol de manhã nos joelhos descarnados no banco de frente da farmácia apinhada de experiências desgastadas pela falta devo continuar procurando em mim aspectos que delineiam os outros cidadãos dessa cidade febril devo escrever sobre a febre que me domina quando sinto a impaciência chegando e dominando os termos de uma oração às vezes devo ter paciência para me dizer: não devo continuar!

sábado, 3 de dezembro de 2011

pulmão

embarcações em procissão esperando algo
um vento de pulmão curando um olhar solidão

tênue

um pássaro
no meio do nada
é um esperança de terra
verde
herança tênue que trago

saudades

escrevo n'água
com a tinta de lágrimas

(saudades da alma em que me navegava)

sereias

sereias são pedras que cantam no meu desatino?
(miragens d'água no princípio do fim?)

criação

Deus criou o céu para ser reflexo de mar em nossas retinas?

pálido

quantas músicas clássicas
inebriaram os olhos de um simples sofredor?
(sóbrio no seu amor pálido)

ausências

Não sei como explicar, mas vou tentar. Algumas palavras não podem deixar de ser ditas e quando descobri que devia dizê-las, não parei mais. Quem não sabe o que é navegar, tendo ouvido falar ou apenas tendo lido em algum poema de Camões ou de Pessoa, não sabe que isso é um verdadeiro vício. Desde o início, com o poema Frederico, soube que nunca mais seria o mesmo, como não fui. Escrevendo me descobri e repensei tantas coisas...tantas notícias foram recebidas e produzidas e no meu entorno várias pessoas sofreram a consequência do não entendimento. Até porque ninguém sente da mesma maneira. O que para mim era a coisa mais séria para os outros poderia ser uma grande besteira. Assim a vida seguiu até o momento da minha primeira experiência como escritor. No lançamento dos meus três primeiros livros o que era uma desconfiança passou a ser verdade -- queria ser escritor, poeta! --, e faria qualquer esforço para conseguir meu intento. E fiz! Abri mão do convívio com as pessoas, todas, e me esqueci em mim. Esse torpor poético durou aproximadamente um ano e meio. tempo no qual produzi uns dez manuscritos, na verdade, teclusdigitus, como inventei! Agora que já consigo respirar, identificando ausências, sinto tudo de um modo estranho...meio diferente de como ocorreu...porque agora efetivamente eu sou eu!

passarinho

não consigo mais te imaginar
seu perfume foi esquecido
seu sorriso
em meus olhos
de menino passei a homem procurando uma rima que sempre lembrasse seu nome
suportei todas as palavras ingratas
que me faziam te esquecer
e
carregando o sentimento da pedra
sem caminho
escrevo
para voar

maresia

quando menino
navegava na alegria de seus olhos
de passarinho
inquietos e gentis
simples na risada de menina levada
irada quando impedida de brincar
agora mãe
quem irá me ajudar a transformar a maresia
em seu perfume de vida?

sextante

...não é que tema o mar
temo sua rotina de ondas
sua água salgada
assusta uma doce ilusão
rara
de precisar mais do céu do que de mapas

o risco

os amadores o temem...

o mar é para quem tem necessidade de testar onde acabam os instintos
e onde começa o risco de naufragar

espelho

as sombras da cidade estão chegando
quero chegar?
quero cegar?
ou
como as gaivotas
quero bailar
tendo o mar
como espelho

sou.l

entre teses e tetos sigo reto na angústia de saber o que eu quero severo na busca da compreensão sabedor da falta de tempo dos outros para identificarem quem são, sou.l

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

2012, o fim

num mundo de possibilidades todo mundo pode escolher fazer tudo e no entanto só escolhemos bobagens o ditado ultrapassado a autoajuda miúda o conselho de caminhão tratamento de choque seria imaginar uma lista de coisas que nos agradam e começar a fazê-las antes do mundo acabar em 2012?

salgado

de tanto navegar
não penso no mar
sinto sua força
suas correntes
seus ventos
de revés
sinto o mar salgado e salgado sigo sendo

estuário

meus desejos naufragaram nos seus argumentos contrários arbitrários contra o estuário

náufrago

enquanto a vida dos meninos segue, navego
enquanto os vizinhos brigam pelo melhor pedaço de chã, navego
enquanto os jogadores dos times de futebol estão indo dormir , já de manhã, navego
enquanto navego, navego

vivos

às velas
vamos aproveitar o vento
o movimento
nos manterá vivos
para partir

chão

...ar marinho...passarinhos...da cabine sinto a presença da terra...como companheiro o timão e um coração ansiando chão

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

desejo

...apesar de tudo a vida vale a pena...a plena consciência...Ah! quem a deseja?...quem dela fugirá? sabedor da dor da saudade escrevo para parar de arder

Boa Viagem

Caminhava pelo calçadão da praia de Icaraí, indo em direção ao Ingá, bairro próximo a São Domingos e me lembrei das remadas de prancha à Ilha ali perto, embaixo do museu do MAC. Continuei e a brisa atrapalhava meus cabelos que atrapalhavam meus pensamentos. Sem me dar conta, logo estava no forte do Gragoatá, fato que meus pés denunciaram. Dei meia volta e na descida da Boa Viagem lembrei de visitar meu pai. Fazia tempo que não conversávamos sobre sua nova rotina sem minha mãe...

renascer

já não sei mais por quê mergulhei me arrependi na primeira gota salgada que engoli e do mergulho assisti um novo homem nascer como se soubesse que um mergulho é uma desculpa molhada um mergulho foi tudo que eu podia fazer para renascer

procissão

num minuto capturo a intenção escuto o sal apuro a dimensão de um olhar saudoso marítimo majestoso como uma procissão

canção

um marinheiro assobia uma canção que desconheço
canção de sal?
canção de idade?
canção de saudade...

bico

avisado do perigo por ilhas, encho o peito de ar marinho, fecho os olhos e desejo encarnar o espírito livre da gaivota que brinca enquanto caça
enquanto desaba solta atrás da outra vida perseguida
que bica

de navio

peixes pulam,riscando o mar com um cardume
eu, sem prestar atenção,
oro por uma dormida de navio no meu desatino

prece

olho o mar e de onde estou a constãncia das ondas parece uma prece de vila
me traz paz
o sabor dessa dança me enche os pulmões de esperança de santa

Oceanos

Quanto de oceano separa nosso desengano?

Quanto de oceano trago em mim humano?

Quantos oceanos me separam de um eu te amo?

Em quantos anos curaremos nossos desenganos?

íris

íris procuram-me
deslocam-se com retinas azuis
apavoram-se
apavoram-me
devoram imagens azuis
de um mundo cinza da cor da mentira
comum