sábado, 31 de maio de 2014

sexta-feira, 30 de maio de 2014

365 dias com poesia, 30 de maio de 2014 -- VIVO



VIVO

palavra de sal
saudade
por segundos paralisa
alisar os cabelos, uma pista
o tempo sem pensamento roendo unhas, outra
aquele olhar distante
adiante

o passado é o perfume da rosa
os espinhos, cuidado com o futuro
o presente é estar vivo

quinta-feira, 29 de maio de 2014

365 dias com poesia, 29 de maio de 2014 -- O TREM



O TREM

Só um tolo
Ficaria sentado
À beira do caminho
Esperando o trem da memória
Passar
Trazendo todos os grandes
Nomes da nossa vida poética
Aceno para Drummond
E não sou correspondido
Mando loas
a Vinícius
E nem
um sorriso
Mas
Quando estou quase desistindo
sou agraciado
Com um leve esboçar
De adeus
Vejo Quintana
Comentando com Cabral
Que aquele menino ali comendo pipoca
Não ficará sentado vendo a vida passar....

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Quadro A BONECA -- guache, 50 X 50 cm, presenteado à minha afilhada Beatriz


365 dias com poesia, 28 de maio de 2014 -- UM DIA



UM DIA

Um dia, quando tiver tempo ou condição, escreverei
um romance. Não um romance de capa e espada ou de
amor, um romance meio como nossos tempos, sem
compromisso, sem cuidado, sem carinho com pessoas ou
palavras. Não capricharei de propósito, serão parágrafos
misturados às dores de fato. Não será escrito em outra
pessoa que não a minha, romance totalmente na primeira
pessoa.
Relembrarei casos e ocasiões, amigos e os safanões
que a vida me deu, por ter essa louca mania de querer me
comunicar (não temo vento, momento, não temo nada
para me fazer alcançar). Desconheço dificuldade, essa,
talvez, minha maior ingenuidade...Característica que
assusta e humilha os desconfiados de suas habilidades,
alguns inclusive preferem destacar minha falta
de tato, como se pudessem esconder o medo da chuva...
(impressionante o medo de saliva e ideias que temos.
Todos tememos descobrirem uma das únicas verdades,
desconhecemos por completo nosso jeito com os novos
acontecimentos que certamente virão nos causar dor...).
Continuarei escrevendo sem me importar com a
opinião dos especialistas em detonar a especialidade dos
outros, sábios que, de tão treinados em escrever, não
escrevem por receio de ensinar seus dotes ou truques
aprendidos durante a vida (gostaria de saber que livro
ensina a viver?).
um dia, quem sabe, um dia terei condição mínima de
não copiar os erros de ninguém e ao escrever conseguirei
demonstrar que aprendi olhando o passado mas desejando
o futuro... quem sabe descubra que o muro de
ilusões e calos que construí não foi em vão e que nele
conseguirei subir para avistar algo que não seja inveja,
calúnia e difamação!
um dia, quem sabe, um dia…

Niterói, em 28/05/2010.

terça-feira, 27 de maio de 2014

365 dias com poesia, 27 de maio de 2014 -- CRISTÃO

 CRISTÃO


Nascido na Tijuca há quarenta e cinco anos roxo meio
torto como o anjo de Drummond tio bêbado quase se
matou de felicidade avó mãe e pai único filho durante um
período o doente da família depois disso tive tudo de
ameba a tifo rimos muito fomos felizes num apartamento
apertado de icaraí mudei aos dez e talvez isso tenha me
dado uma dor mudança de cor tamanho e quem não sabe
disso? Vinte poucos anos depois voltei pai e aflito com
meu destino não conseguia parar de me preocupar aos
quarenta a vida não demora a passar e quando dei por
mim não queria mais brincar de nada que não fosse
poesia e música onde estavam todos esses anos em que
fui seguindo sem um plano desenganado pelo estamos
seguindo como a vida nos leva e agora que sei o que
quero estou achando que ainda espero algo de que temo
o nome meu nome continua sendo marco aurélio cruz
plácido filho irmão marido pai e cristão até quando até
quando?

Niterói, 13.08.2010.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

365 dias com poesia, 26 de maio de 2014 -- olhos católicos -- Poema inédito



olhos católicos

o silêncio muitas vezes diz tudo muitas vezes o mudo se desespera e não espera gesticulando sílabas para mostrar o quanto queria falar e não pode querer todos podemos querer apenas não sabemos querer tememos querer sonhamos em escolherem nosso querer às vezes não entendo tanta gente gemendo um sambinha frouxo no carnaval inventando sorrisos coloridos quando realmente essa gente queria parar de sambar e respirar apenas respirar para se encontrar de novo consigo sem cinzas sem remorsos roxos nos olhos católicos

domingo, 25 de maio de 2014

365 dias com poesia, 25 de maio de 2014 -- A vida é bela -- Poema inédito



A vida é bela

É sempre o silêncio que me traz a melodia da música de dentro
É sempre ele que me instiga a fazer um suspiro virar canção
É sempre com emoção que vejo os primeiros brilhos nos meus olhos do novo dia que está me chamando para vivê-lo
Inteiro sem medo sem mais ou menos
Pois não existe meio termo
Ou queremos agarrar a vida pelos cabelos e dar-lhe uns beijos
Ou acabaremos no cinema comendo pipoca e comentando o filme
sozinhos

sábado, 24 de maio de 2014

sexta-feira, 23 de maio de 2014

365 dias com poesia, 23 de maio de 2014 -- BRANCOS



BRANCOS

um menino
Bonito
um dia descobriu que podia escrever
Eu te amo sem se confundir sem temer rir
um homem um dia descobriu que iria morrer e
passou a perceber a hipocrisia ao seu redor
E ainda não desistiu de correr atrás do pote que dizem
haver depois do arco-íris
envelheceu
envelheci também
me perguntando
por que
embranqueceram os pelos do meu rosto

quinta-feira, 22 de maio de 2014

365 dias com poesia, 22 de maio de 2014 -- OS HOJES



OS HOJES

Se nada
nunca mudasse
o amanhã
seria uma repetição
de ontens
ensimesmados
de hojes
amuados
esperando
para acabar em monotonia
mas
a poesia
me salvou
vivo
cada dia esquecendo
que haverá amanhã
vivo cada ontem como se fosse hoje
e os hojes
de mim nunca terminarão

quarta-feira, 21 de maio de 2014

365 dias com poesia, 21 de maio de 2014 -- OLHOS



OLHOS

Olho
Fotos
E não me reconheço
Olhos fotos
E me perco
No que vejo
Cabelos negros
Ao vento
Olhos chorosos
Sorrisos frouxos
Ternos roxos
De outros tempos
Olho
Fotos
E me revejo
No espelho
Do passado
Revolvo
O presente
Para saber onde estou

terça-feira, 20 de maio de 2014

Jung, Memórias, Sonhos, Reflexões (fragmento 3)

(...) Nossa época colocou a tônica no homem daqui, suscitando assim uma impregnação demoníaca do homem e de todo seu mundo. A aparição dos ditadores e de toda a miséria que eles trouxeram provém de que os homens foram despojados de todo o sentido do além, pela visão curta de seres que se acreditavam muito inteligentes. Assim o homem tornou-se presa do inconsciente. Sua maior tarefa, porém, deveria ser tomar consciência daquilo que, provido do inconsciente, urge e se impõe a ele, em vez de ficar inconsciente ou de com ele se identificar. Porque nos dois casos ele é infiel à sua vocação, que é criar consciência. À medida que somos capazes de discernir, o único sentido da existência é acendermos a luz nas trevas do ser puro e simples. Pode-se mesmo supor que, da mesma forma que o inconsciente age sobre nós, o aumento de nossa consciência tem, por sua vez, uma ação de ricochete sobre o inconsciente. (...)

Jung, Memórias, Sonhos, Reflexões (fragmento 2)

(...) Para o homem a questão decisiva é esta: você se refere ou não ao infinito? Tal é o critério de sua vida. Se sei que o ilimitado é essencial então não me deixo prender a futilidades e a coisas que não são fundamentais. Se o ignoro, insisto que o mundo reconheça em mim certo valor, por esta ou aquela qualidade que considero propriedade pessoal: "meus dons" ou "minha beleza", talvez. Quanto mais o homem acentua uma falsa posse, menos pode sentir o essencial e tanto mais insatisfatória lhe parecerá a vida. Sente-se limitado porque suas intenções são cerceadas e disso resulta inveja e ciúme. Se compreendermos e sentirmos que já nesta vida estamos relacionados com o infinito, os desejos e atitudes se modificam. Finalmente, só valemos pelo essencial e se não acedemos a ele a vida foi desperdiçada. Em nossa relações como os outros é também decisivo saber se o infinito se exprime ou não. (...)

Jung, Memórias, Sonhos e Reflexões (fragmento)

(...) Quanto maior for o predomínio da razão crítica, tanto mais nossa vida se empobrecerá; e quanto mais formos aptos a tornar consciente o que é mito, tanto maior será nossa quantidade de vida que integraremos. A superestima da razão tem algo em comum com o poder de estado absoluto: sob seu domínio o indivíduo perece. (...)

Michel Deguy, A HISTÓRIA

Zurra ali talvez um asno -- um ruído. "Comaparte", diz o livro, bizarro. Vento vira feito mesa. A morte pendura crianças em seu porta-maxilares. À estiva ele está entre a vida e a morte. Está onde a indiferença prosperou, o luto encolheu e a jura de amor é adiada. Os flancos do basculante despejam sob a polar. O dia não dita sua lei ao sono. Entretanto em toda parte corre perigo a vizinhança.

Michel Deguy, CARDIOGRAMA

O Sena era verde em seu braço
Para além da ponte Mirabeau sob
as colinas como uma respiração
A periferia nos aspirava
Queria tanto seria tão
bom que você pensasse em coisas boas
mas a coragem agora de
um coração como um prisioneiro furioso como um
( coração
extirpará do lírico o remorso de si!
A expansão do dia nos privou de dias
A vazante da noite dá às noites seus contornos
Oh meu amor paradoxal! Nos privávamos de poesia
Mas a coragem será a de privar o poema
do gosto de nada sobre o gosto de tudo

Michel Deguy, MOVIMENTO DE MUNDO...

E como vai a vida que não é eterna?
Houve a claridade   Houve o enigma
E então foi feito


Houve o engma.   Houve a claridade
Ser   veio a ser   isto
Houve o enigma houve a claridade
E então fez-se a terra no centro da mesa


Quem senão ser´a força dos fracos?

Michel Deguy, ESTA MORTA

Esta morta tão parecida com quem podemos dizer tudo
Tu morta amada matada muda ida ao longe tão perto
Ela retirou o que dissera em si mesma sepulta
E nós com gestos com flores para lembrar
Em busca do gesto que deu o dado dos sábios
(Ele fez-se presente)
A dança sem modelo que conduz a tal modelo
Onde o pintor naturaliza a nudez

Michel Deguy, OS DIAS NÃO ESTÃO CONTADOS

Saibamos formar um cortejo de deportados que cantam
Árvores com flancos de preces
Ofélia no flutuar do tempo
Assonâncias guiando um sentido ao leito do poema

Como designar aquilo que dá o tom?
A poesia como o amor arrisca tudo nos signos

Drummond, ETERNO

E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.

Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.

(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)

-- O que é eterno, Yayá Lindinha?
-- Ingrato! é o amor que tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
                 eternuávamos
                            eterníssimo
A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino récem-nascido
antes que lhe deem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nunhuma
                                                                           força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa emmnós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas palavras, eternos pensamentos; e passageiras
                                                                              as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um mar
                                                                                      profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos afundamos.
É tentação e vertigem; e também a pirueta dos ébrios.

Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma essência
ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde pousosu
                                                                                        uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno boie como uma
                                                                      esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.

Drummond, CANÇÃO AMIGA

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se rreconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me veem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faço acordar os homens
e adormecer as crianças.

Drummond, CANTO AO HOMEM DO POVO CHARLIE CHAPLIN (trechos)

(...)

Bem sei que o discurso, acalanto burguês, não te envaidece,
e costumas dormir enquanto os veementes inauguram estátua,
e entre tantas palavras que como carros percorrem as ruas,
só as mais humildes, de xingamento ou de beijo, te penetram.

Não a saudação dos devotos nem dos partidários que te ofereço,
eles não existem, mas a de homens comuns, numa cidade
                                                                                      comum,
nem faço muita questão da matéria de meu canto ora em torno
                                                                                                   de ti
como um ramo de flores absurdas mandado por via postal
                                                           ao inventor dos jardins.


(...)


E a lua pousa
em teu rosto. Branco, de morte caiado,
que sepulcros evoca, mas que hastes
submarinas e álgidas e espelhos
e lírios que o tirano decepou, e faces
amortalhadas em farinha. O bigode
negro cresce em ti como um aviso
e logo interrompe. É negro, curto,
espesso. Ó rosto branco, de lunar matéria,
face cortada em lençol, rsico na parede,
caderno de infância, apenas imagem,
entretanto os olhos são profundos e a boca vem de longe,
sozinha, experiente, calada vem a boca
sorrir, aurora, para todos.

(...)


Cheio de sugestões limentícias, matas a fome
dos que não foram chamados à ceia celeste
ou industrial. Há ossos, há pudins
de gelatina e cereja e chocolate e nuvens
nas dobras de teu casaco. Estão guardados
para uma criança ou um cão. Pois bem conheces
a importância da comida, o gosto da carne,
o cheiro da sopa, a maciez amarela da batata,
e sabes a arte sutil de transformar em macarrão
o humilde cordão de teus sapatos.
Mais uma vez jantaste: a vida é boa.
Cabe um cigarro: e o tiras
da lata de sardinhas.

(...)


Ser tão sozinho em meio a tantos ombros,
andar aos mil num corpo só, franzino,
e ter braços enormes sobre as casas,
ter um pé em Guerrero e outro no Texas,
falar assim a chinês, a maranhense,
a russo, a negro: ser um só, de todos,
sem palavra, sem filtro,
sem opala:
há uma cidade em ti, que não sabemos.

(...)


Colo teus pedaços. Unidade
estranha é a tua, em mundo assim pulverizado.
E nós, que a cada passo nos cobrimos
e nos despimos e nos mascaramos,
mal retemos em ti o mesmo homem,
               aprendiz
               bombeiro
               caixeiro
               doceiro
               emigrante
               forçado
               maquinista
               noivo
               patinador
               soldado
               músico
               peregrino
               artista de circo
               marquês
               marinheiro
               carregador de piano
apenas sempre entretanto tu mesmo,
o que não está de acordo e é meigo,
o incapaz de propriedade, o pé
errante, a estrada
fugindo, o amigo
que desejaríamos reter
na chuva, no espelho, na memória
e todavia perdemos.

(...)

Drummond, A FLOR E A NÁUSEA

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo, pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol cosola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes de terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do aml.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém o ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Um flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.

É feia. mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Poema do clássico jazzístico KILLER JOE -- "COOL JOE, MEAN JOE (KILLER JOE)"

Where that killer Joe kat
Where he gone at
When he comin' back he mine
Don't he know that
'Cause I show that
When he come home everytime
And he ain't no good
And I know I should
Let him go when he go but
No that's my killer Joe
U can't have him no more
It's the way he walks and talks
And spits his game
The way he say's his name

Killer Joe
Cool Joe
Mean Joe
Cool Joe
I love him so
Cool Joe

Killer Joe
Cool Joe, mean Joe
Let me know
Cool Joe, mean Joe
Where'd you go

Hey Joe
Killer Joe
Killer Joe, missed you so
Does it show
Hey Joe
Cool Joe, mean Joe
Cool Joe, mean Joe
Cool Joe, mean Joe
Cool Joe, mean Joe

Killer Joe
You've been low
Kiss me slow
Please Joe

Eliseo Diego, VERSÕES

A morte é essa pequena jarra, com flores pintadas a mão, que há
em todas as casas e que a gente jamais se detém para ver.

A morte é esse pequeno animal que cruzou o pátio, e do qual nos
consola a ilusão, sentida como um sopro, de que é somente o gato
da casa, a gato de costume, o gato que cruzou e que já não voltare-
mos a ver.

A morte é esse amigo que aparece nas fotografias da família, discre-
tamente a um lado, e que ninguém jamais conseguiu reconhecer.

A morte, enfim, é essa mancha no muro que uma tarde olhamos, sem perceber,
com um pouco de terror

Eliseo Diego, OS TEMPOS

O tempo do Paraíso é o suave gotejar da água, quando acaba de
chover, entre as folhas de bananeira.

O tempo do Inferno é a umidade que encontramos debaixo das
grandes pedras, manchando a manhã.

O tempo do Paraíso é a transparência da água.

O tempo do Inferno é a transparência de um espelho.

O tempo do Paraíso é o Rei Mago de barro que está nos presépios.

E o tempo do Inferno é o Rei do baralho.

Eliseo Diego, DIÁLOGO NA SALA

A água, que sacia a treva livrando-a da sede, purificando-a.

No copo a contemplo, transparente, poderosa e real como a graça.

O que diremos da água: sua cor opulenta nos alegra,
sua ágil forma de cervo nos regala os olhos, recriando-os.

Sua ágil forma de menina entre as rochas diz estranho nome.

Debaixo dos pinheiros voam as sombras, as silenciosas asas da chuva.

Pelo caminho chega quem comove seu manto em radiantes rajadas,

mãe ou rainha venerável, seus cabelos são cinzentos como o ar de
novembro.

Mas a menina foge pelo bosque, silenciosa volta á sua casa.
Quem, dizes, chora tão perto, onde somente vemos o torso, a deso-
lada velhice da samambaia?
Chora tão suave, sim, na verdade, tão suave como as tábuas escuras
lá de cima.

O viajante que toca em nossas portas olha a profunda sala e diz com
nostalgia: sua penumbra

explica uma cestinha de pão que vira numa sepulcro, e depois boa-
-tarde, já me vou.
Porém tu pensas na visitação funesta, e no sabor salobre das águas

inundando as fauces do maribundo transido de silêncio, de solidão
e imagens tediosas.

Enquanto lá fora, no jardim, alguém oficia, lava de desgosto as fo-
lhas das árvores,

aqui na sala bailam finíssimas sombras, as serpente e os animaizinhos
das águas.

Mas eu digo: olha a água doce adormecida entre as tuas mãos, o que
diremos da água.

No copo adormecida a água sonha o teu rosto, fiel recorda o teu
nome, minha amiga, a nostalgia.

Eliseo Diego, LÁ FORA

O crepúsculo vem
com que cuidado. Nunca
o sentimos -- somente
quando as confusas mãos
tocam a velha palma,
as avencas. Dizias
algo querido, e calas
e vês essas incríveis
formas que disfarçaram
os objetos. Então
um balbuciar de leve,
após vasta carícia,
e total, da penumbra.
De repente consola
estar lá dentro, a salvo
de tudo no costume.
Ancião é o crepúsculo,
tão vaga sua memória,
sua candura, obscura.

Eliseo Diego -- PELOS ESTRANHOS POVOADOS

1.
Vamos passear pelos estranhos povoados
ungidos com a sombra leve dos jasmins
e o perfume da noite como recordação.

Iremos devagar entre os armazéns de sua vida,
os de envelhecidas telhas sonhando com o ar,
as meditadas nuvens, as pombas escuras e tranquilas.

Quem disse, a tarde vem de repente como a tristeza
quando invade o peito do homem como um antigo hino
assim a tarde crescia em suas igrejas.

Caminho desolado, tu, o que cruza as sombrias
e gigantescas árvores, apressa um pouco o passo, pois o campo
a essa hora traz seus medos, suas criaturas de queixa.
nunca viram o mar neste povoado.

2.
Nunca viram o mar, aqui é a noite
de flancos espinhosos e fatais
e o aroma profundo da estiagem.

Os biombos escondidos, as moradas
olham sozinhas a penumbra antiga
e na penumbra o jarro de florões murchos.

E a acre fumaça silenciosa chega
enredando-se ágil pelas vigas
do alpendre que sereno os aconchega.

Mais para lá das tábuas das bananeiras,
bem do outro lado sólido da terra,
espera a noite desvelada e pura.

A fumaça da casa, é só o que viram.

3.
Mais distantes às vezes que as augustas árvores,
frescos da penumbra que reúnem as águas
em seus parques ocultos, são os povoados.

Dos sedentos muros militares, erguidos
na margem misteriosa do campo, trêmulo
de uma secura antiga e verde marejada.

Quanta inquietude dava sempre
a silenciosa praia da intempérie
onde termina, tão lento, o povoado ermo.
Sumaumeira distante, barco, desabitada, livre,
roçada pelas nuvens com difícil espuma,
te despojas do tempo como de um traje usado.

Entretanto escutamos as profecias das águas
feitas por velhas espanholas mágicas
e temos medo da noite, sua corcunda de púrpura e sua marulhada.

Vamos passear pelos estranhos povoados.

Murilo Mendes -- DESPEDIDA DE ORFEU

É hora de vos deixar, marcos da terra,
Formas vãs do mudável pensamento,
Formas organizadas pelo sonho:
Cantando, vossa finalidade apontei.
É hora de vos deixar, poderes do mundo,
Magnólias da manhã, solene túnica das árvores,
Montanhas de lonjura e peso eterno,
Pássaros dissonantes, castigado sexo,
Terreno vago das estrelas;
Jovem morta que me deste a vida,
Proas de galeras do céu, demônios lúcidos,
Longo silêncio de losangos frios,
Pedras de rigor, penumbras d1água,
Deuses de inesgotável sentido,
Bacantes que destruís o que vos dei;
É hora de vos deixar, suaves afetos,
Magia dos companheiros perenes,
Subterrâneos do clavicórdio, veludações do clarinete,
E vós, forças da terra vindas,
Admiráveis feras de cetim e coxas;
Claro riso de amoras, odor de papoulas cinerárias,
Arquiteturas do mal, poços de angústia,
Modulações da nuvem, inúmeras matérias
pela beleza crismadas:
Cantando, vossa finalidade mostrei.
É hora de vos deixar, sombra de Eurícdice,
- Constelação frouxa da minha insônia -,
Lira que aplacastes o uivo do inferno,
É hora de vos deixar, golfo de lua,
Orquestração da terra, álcoois do mundo,
Morte, longo texto de mil metáforas
Que se lê pelo direito e pelo avesso,
Minha morte, casulo que desde o princípio habito;
É hora de explodir, largar o molde:
Cumprindo o rito antigo,
Volto ao céu original,
Céu debruado de Eurídice;
Homem, criptovivente,
Sonho sonhado pela vida vã,
Cantando expiro.

Murilo Mendes -- NATUREZA

Contempla estas montanhas lavadas
E a luz que desce em oblíqua dança.
Tudo chega de um mundo antiquíssimo
Onde encontraremos pedaços desajustados de fotografias:
recortes de pensamentos visuais
E um amor que não quer colaborar com a morte
-- Vasto pássaro bicando as montanhas lavadas.

Murilo Mendes -- O NASCIMENTO DO MITO

1

A menina de cabelos cacheados
Brinca com o arco na nuvem.

Escolho as sombras que bem quero
No perfil das árvores,

Conto as estrelas pelos dedos,
Faltam várias ao trabalho.
Desmontam o universo-manequim:
Alguém moveu Sírius de um lado para
outro,
A noite explode em magnólias.

Carregam a areia do mar
para a ampulheta do tempo.

Escuta as plantas crescerem
E o diálogo sinistro contínuo
das ondas com o horizonte.

2

Homens obscuros edificam
Em ligação com os elementos
O monumento do sonho
E refazem pela Ode
O que os tanques desfizeram.

Murilo Mendes -- O HOMEM E A ÁGUA

As mãos têm hélice, tempestade e bússola.
Os pés guardam navios
Aparelham para o Oriente
O olho tem peixes,
A boca, recifes de coral;
Os ouvidos têm noites polos e lamento de ondas.

A vida é muito marítima.

Murilo Mendes -- MURILOGRAMA A CAMÕES

Sim: lavrador da palavra =
Teto e pão da nossa língua =

Desde meninos mamamos
Nos rudes peitos da Lírica =

Livro central semovente
Que parte do particular

Até investir o alto cume
De onde o Todo se contempla.


***


Na tua página o movimento =
Rotação do substantivo

Sustentado pelo verbo.
Provocas a transformação

Da antiga cítara em órgão,
Mudando-se o eco em grito.

Levantam-se os versos =
nervos
Ligando a estrutura sólida.

Homem de carne e sentidos
teu elenco de femininos

Se enriqueceu a-vicenda
De Natércia a Dinamene

Diretas participantes
Ou mesmo oblíquas = da outra

Epopeia inda mais dura
Do que a marítima: Eros.


***


Só italiano e platônico?
Não, português e ecumênico.

A ti = lavrador da palavra
Que herdaste dos pluravós

Juntando-lhe a experiência
Da tua tensa humanidade =
A ti lavrador da palavra =
Teto e pão da nossa língua.

365 dias com poesia, 20 de maio de 2014 -- BRINQUEDO



BRINQUEDO

Brinco com o tempo,
Quando leio trago
O passado
Quando lanço um livro
Entrego um presente
Ao futuro

domingo, 18 de maio de 2014

365 dias com poesia, 18 de maio de 2014 -- Ab(MOR)surdo -- Poema inédito



Ab(MOR)surdo


Absurdo

Mutilação

Obscuro

Relação



(Poema conceitual -- querendo expressar como pinto, várias pinceladas  “erradas” que formam uma palavra, conceito de vida)

sábado, 17 de maio de 2014

365 dias com poesia, 17 de maio de 2014 -- NO MEIO



NO MEIO

um jovem poeta
diante da folha em branco pensa:

Por que irei escrever se ainda não tenho nada a dizer?


(e eu no meio...)


um velho poeta
confrontado com a folha em branco
pensa:

Por que irei escrever se não tenho espaço para o tanto
que tenho a dizer?