quarta-feira, 30 de abril de 2014

365 dias com poesia, 30 de abril de 2014 -- urso -- Poema inédito



urso

Ouvindo I Remember Clifford e lembrando de Fê

Eu me lembro
Tu te lembras?
Ele se lembra?
Me lembra alguém
Forte cheiroso e cabeludo
Um urso do bem
Meio zen
Espiritual espirituoso
Delicado e carinhoso
Safado com olhos espertos para apelidos:
Taíca Rato Cabeça Espanta Neném Caubi Pé Chato...

Eu me lembro! tu te lembras? ele se lembra de nós?
Por onde andas, safadão?

Olhe ore sopre por nós amizade e bondade nesse mundo de solidão

terça-feira, 29 de abril de 2014

365 dias com poesia, 29 de abril de 2014 -- pintador pincel -- Poema inédito



pintador pincel

Não quero planejar um quadro
Quero pintá-lo
E dos vários erros ir
Retirando pequenos detalhes
Que brinco chamar de verdades
Que poderão por mim ser consideradas exatas
Na medida falha de uma pincelada sem técnica sem planejamento mas com dor amor ódio chama água pingüim cão medalhas
Pinceladas que acabam sendo como todos os nossos atos com conseqüência e que acabam inventando uma seqüência de vida que nos define a partir do momento em que passam a existir
Sim, parece brincadeira, mas um quadro é um resumo da vida que o pintador escolheu viver

segunda-feira, 28 de abril de 2014

365 dias com poesia, 28 de abril de 2014 -- MEMÓRIA PICTÓRICA



MEMÓRIA PICTÓRICA

Bizantino olhar
Demonstra desafeto
Ao ingênuo pintar
Colorido de criança:
Também pode prestar
Para Guinardiante sentir,
Transformando vidas
Em autêntico ir e vir de balões
Eternos São Joões
ingenuamente delirantes
Transformando mágoas em flores
Matisseanamente coloridas
Cores desejadas
Na dicotomia da vida
Academicamente asfixiante
Por não aprofundar a dor
Sendo somente
Registro do não sentido
Nunca visto
Pelo olhar
Que deve ser infantil
Sem transparecer
A cultura do homem
Subentendida
Pelos capazes de perceber
A tênue linha
Entre o saber e o tecer
Das tramas pictóricas
(Sábias imagens)
Da memória…

domingo, 27 de abril de 2014

365 dias com poesia, 27 de abril de 2014 -- VERBORRÁGICO



VERBORRÁGICO

Li num filme assisti num livro ouvi no teatro vi num
Cd telespectei na internet conversei com o mouse…

Só os verbos me definem

sábado, 26 de abril de 2014

365 dias com poesia, 26 de abril de 2014 -- velocidade -- Poema inédito



velocidade

A Ron Mueck

Suas esculturas realistas nos mostram
Como somos como seremos
Grandes ou pequenos
Dedos unhas pelos
Juntos ou sós
Olhos
Do pó ao pó
Voltaremos...

(E não percebemos sorrindo e tirando foto...
E não percebemos que aqueles seres evidenciam nossa inércia de estátuas assustadas com a velocidade da vida real...)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

365 dias com poesia, 25 de abril de 2014 -- ENQUADRADO



ENQUADRADO

… tem três estágios
um enquadrado:
1 – rezar pela saúde do pintor;
2 – torcer para que a mistura de cores dê certo;
3 – reclamar que a moldura ficou muito apertada.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

365 dias com poesia, 24 de abril de 2014 -- chorinho -- Poema inédito



chorinho

chorinho
não é um choro pequenino
é um choro dolorido
choro de não querer chorar
chorinho é ao mesmo tempo um carinho
cafuné de lágrimas que tenta adoçar um pouco a vida que está a balançar
um chorinho é o início de solução quando conseguimos com as mãos começar a tentar arrumar a situação se é que há arrumação
um chorinho é a melodia tocada à noite que traz o brilho do dia em olhos cansados de tanto samba 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

365 dias com poesia, 23 de abril de 2014 -- ESPIRAL



ESPIRAL

a espiral barroca
de Fernando Pessoa
é tão agressiva
que
preciso de alguns dias
para continuar a ler
seus poemas-dilemas
preciso de tempo
para não enjoar
com nossas fraquezas…

terça-feira, 22 de abril de 2014

Miles Davis by Gil Evans

He is a lider because he has definite confidence in  what he likes and is not afraid of what he likes. A lot of other musicians are constantly looking around to hear what the next person is doing, and they worry about whether they themselves are in style. Miles has confidence in his own taste and he goes his own way.

365 dias com poesia, 22 de abril de 2014 -- clarão -- Poema inédito



clarão

Ao descobrimento

Esse país precisa de nome
Como preciso da fome
Para explodir de raiva
Sinônimo de erro
Sinônimo de próximo acerto
Em (má) criação
Dedos nervosos
Buscando a cor que clareie meus pensamentos
E descubra uma imagem saciada de mim mesmo

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Émile Zola, resposta ao diagnóstico do Doutor Toulouse

Caro doutor,

O senhor envia para minha leitura o trabalho que realizou sobre a minha individualidade física e moral e pede autorização para publicá-lo. Li os excertos, interessaram-me sobremaneira, lembrando-me o prazer que eu mesmo gozei nos tão longos e numerosos experimentos que efetuamos juntos; e , naturalmente, dou-lhe de muito bom grado a autorização que deseja, rubricando suas páginas como autênticas e verdadeiras.

Dou-lhe tal autorização, em primeiro lugar, porque só tenho um amor na vida, a verdade, e um só objetivo, produzir o máximo de verdade possível. Tudo que tende a produzir verdade só pode ser excelente. E que vivo interesse desperta um estudo como o seu, estabelecendo, sobre dados insofismáveis, mediante experimentos decisivos, a verdadeira natureza física e psicológica de um escritor ou de um artista! O fato é uma certeza sobre a qual nenhuma outra coisa pode prevalecer. Portanto, sua contribuição será definitiva. Embora o senhor não misture crítica literária, duvido que, depois de seu estudo, um crítico possa ignorar os documentos fornecidos pelo senhor sobre os temas submetidos aos seus experimentos.

E dou-lhe esta autorização igualmente porque nunca escondi nada, não possuindo tal inclinação. Vivi intensamente, repito, intensamente, sem medo, e acreditei que fosse bom e útil dizê-lo. Dos muitos milhares de páginas que escrevi, não me arrependo de nenhuma. Enganam-se redondamente os que pensam que o meu passado me constrange, pois continuo a desejar aquilo que desejei, e os recursos permanecem praticamente os mesmos. Meu cérebro é feito um crânio de vidro, doei-o a todos e não temo que alguém o leia. E, quanto ao meu farrapo humano, uma vez que o senhor o julga útil para alguma coisa, como ensinamento e lição, tome-o então: é seu, é de todos. Se exibe algumas taras, parece-me não obstante suficientemente saudável e forte para não me envergonhar além da conta. Aliás, o que importa? Aceito a verdade.

Por fim, não é sem um maligno prazer que lhe dou tal autorização. Saiba que seu estudo combate vitoriosamente a lenda imbecil. Não deve ignorar que, trinta anos atrás, fizeram de mim um labrego, um boi de carga, de couro grosso, detentor de sentidos rudimentares, cumprindo pesadamente sua tarefa, com a finalidade única e desprezível do lucro. Santo Deus!, eu, que desprezo o dinheiro, que nunca caminhei na vida senão pelo ideal de minha juventude! Ah! O pé-rapado que fui, trêmulo e doente à menor corrente de ar, debruçando-se todas as manhãs sobre sua tarefa cotidiana na angústia, construindo sua obra em meio à luta da vontade contra a dúvida! Quantas vezes não ri e chorei desse proverbial boi de carga! E se hoje rio, é porque me parece que o senhor enterrou esse boi e as pessoas de boa-fé não tocarão mais no assunto.

Portanto, obrigado, meu caro doutor. Obrigado por ter estudado e etiquetado meu farrapo. Acredito piamente que ganhei com isso. Se ele não é perfeito, é o de um homem que doou sua vida ao trabalho e empenhou, para o trabalho e no trabalho, todas as suas forças físicas, intelectuais e morais.

Muito cordialmente,


Émile Zola
Paris, 13 de outubro de 1896

365 dias com poesia, 21 de abril de 2014 -- Horta de meninos -- Poema inédito



Horta de meninos

A Toninho Horta

Da horta de harmonias
Entre Beatles e beatniks
(que não jazem, pois são jazz)
Nasce a fonte de destinos de meninos
As notas são carinhos
Sofrem mas sorriem
Bonitos sons de solidões
Compartilhadas dedilhadas em sins e lençóis de sis
E bemóis
Sóis para vidas de sombras de montanhas de silêncios...

domingo, 20 de abril de 2014

365 dias com poesia, 20 de abril de 2014 -- intenso vermelho -- Poema inédito



intenso vermelho

Vendo no MAM um quadro restaurado de Manabu Mabe...

Incêndio nas retinas
Restos na restinga
Cores de intensidade absoluta
De vontade bruta de dizer saber a importância do fazer
Sem se reter Sem se querer perturbar com algo que não seja queimadura
Nuvens azuis agredindo o fogo Amarelo-ouro pingado de vermelho
Ranhaduras do medo que temos do novo do intenso fervendo cor fervendo dor fervendo suor fervendo calor

sábado, 19 de abril de 2014

365 dias com poesia, 19 de abril de 2014 -- sersempre -- Poema inédito



sersempre

Vendo um quadro de Camila Coelho...

Flores de emoção
A artista cobra azul a dívida toda
Com a lágrima roxa
Lótus-sol
Solta linhas e som
Colore o amor
Com mãos-olhos
Olhe e veja
Há uma serpente indicando calor na
Selva de pedra da cidade em que vivemos salva pela
Flor da idade cuja ilusão é arte

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Miles Davis by Quincy Jones

When I first met Miles Davis, I was terrified. He was my idol, and he still is. Miles and I first met at the Downbeat Club when I was around seventeen or eighteen. Billy Hale was playing there with Earl May. Bebop musicians were all over the place, and all of a sudden I heard rhis unmistakable voice and I knew it was Miles. To put this in context, I had just done my first recordo with Lionel Hampton, and the whole time I was trying to sound like Miles. And then to meet him -- wow, intimidanting.

Miles played the way he was a human being, and he painted and drew that same way. He knew that painting was something that he had to do. He felt things deeply, wherther it be anger or amusemente. He had to expresse his feelings. He was an original, and when he felt like doing something, he did it. His creative self wouldn't let him turn his back on any sort of inspiration.

Miles was authentic, nothing slick.He played styles. His art was the same. He didn't want to think like everyone. He knew jazz had an attitude just like art did. He loved attitude just like he loved lines and color. When he drew faces and shapes, he drew heads in all different directions. I was always an experiment, achance to break boundaries. (...)

One of the last times I played with Miles was at Montreaux Jazz Festival in 1991. I had been trying to get him to play there for the previous fifteen years, and when he finally agreed, I was thrilled. When I saw images of his red trumpet and his monogrammed leather bag in this book, it immediately took me back to that time. The room lit up when Miles walked onto the stage at Montreaux. No one could explain MIles!s presence; it was magical. He hadn't played the music he played there in many years. Miles went with his instincts. And that night on satge, Miles proved why he had been a leader and a legend for fifty years. That festival was special in more ways than one, because Miles passed away a couple of months afterward.

I miss Miles every day. He was my friend, my brother, and my idol. He's still in my blood.

Miles Davis -- The Collected Artwork

One of the most influential musicians of the twentieth century, Miles Davis was a man of many talents. Around 1980, he turned to skecthing and painting to keep his mind occupied with something when he wasn't playing music. This hobby quikly turned into a serious passion, and Davis approached it with the same obsessive creativity he applied to music. The result is an impressive archive of unique and evocation visual work showcasing the varied skills of this legendary artist.

Throughout the 1980s, Davis studied regularly with New York painter Jo Gelbard, developing a distintic graphic style. Incorporating bright colors and geometric shapes, his art is reminiscent of work by Pablo Picasso as well as African tribal art, the historical influences he cited during interviews on the subject. Author Scott Gutterman sat down with Miles Davis himself before his death in 1991, and the artist's own commentary accompanies this remarkables showcase of his work.

A long-overdue celebration, Miles Davis: The Collected Artwork is a treasure for art lovers and music aficionados alike, who will appreciate a window into the life of this creative genius.



"The art of Miles Davis was much like
his music; innovative, erotic, provocative,
and bold! Exremely prolific in both his
compelling artwork and his extraordinary
music, he was a genius for the ages"
LIONEL RICHIE

365 dias com poesia, 18 de abril de 2014 -- Cem Anos de Solidão -- Poema inédito



Cem Anos de Solidão

À memória de Gabriel García Márquez

Sorvo solidão
Engulo lágrimas centenárias
Mágicas
Na possibilidade divina de vida
Plástica
Errática
Sorumbática
Emblemática
Enquanto poucos, tidos como loucos, correm atrás da felicidade possível
É incrível como quase todos adoram atrapalhar
Dados nos ímpares
Pares afastados
Porque na vida é difícil a coragem dum guapo
Sorrir para o azar

quinta-feira, 17 de abril de 2014

With Arms Wide Open -- Tradução


Well I just heard the news today
It seems my life is going to change
I close my eyes, begin to pray
Then tears of joy stream down my face

With arms wide open
Under the sunlight
Welcome to this place
I'll show you everything
With arms wide open
With arms wide open

Well I don't know if I'm ready
To be the man I have to be
I'll take a breath, I'll take her by my side
We stand in awe, we've created life

With arms wide open
Under the sunlight
Welcome to this place
I'll show you everything
With arms wide open
Now everything has changed
I'll show you love
I'll show you everything
With arms wide open
With arms wide open

I'll show you everything
Oh yeah
With arms wide open
Wide open

If I had just one wish
Only one demand
I hope he's not like me
I hope he understands
That he can take this life
And hold it by the hand
And he can greet the world
With arms wide open

With Arms wide open
Under the sunlight
Welcome to this place
I'll show you everything
With arms wide open
Now everything has changed
I'll show you love
I'll show you everything
With arms wide open

With arms wide open
I'll show you everything oh yeah
With arms wide open
wide open
Com os braços bem abertos
Acabei de ouvir as notícias de hoje
Parece que a minha vida vai mudar
Fechei os meus olhos, comecei a rezar
Lágrimas de felicidade caíram logo pelo meu rosto

Com os braços bem abertos
Sob a luz do Sol
Bem-vindo a este lugar
Vou-te mostrar tudo
Com os braços bem abertos
Com os braços bem abertos

Não sei se estarei preparado
Pra ser o homem que tenho de ser
Vou tomar fôlego, vou trazê-la pra junto de mim
Paralisamos deslumbrados, criamos vida

Com os braços bem abertos
Sob a luz do Sol
Bem-vindo a este lugar
Vou-te mostrar tudo
Com os braços bem abertos
Agora tudo mudou
Vou-te mostrar amor
Vou-te mostrar tudo
Com os braços bem abertos
Com os braços bem abertos

Vou-te mostrar tudo
Oh yeah
Com os braços bem abertos
Braços bem abertos

Se eu tivesse apenas um desejo
Somente um pedido
Eu torceria pra que ele não fosse como eu
Espero que ele compreenda
Que pode ter esta vida
E segurá-la pela mão
E apresenta-la ao Mundo
Com os braços bem abertos

Com os braços bem abertos
Sob a luz do Sol
Bem-vindo a este lugar
Vou-te mostrar tudo
Com os braços bem abertos
Agora tudo mudou
Vou-te mostrar amor
Vou-te mostrar tudo
Com os braços bem abertos

Com os braços bem abertos
Vou-te mostrar tudo
Com os braços bem abertos
Braços abertos

365 dias com poesia, 17 de abril de 2014 -- CAPA



CAPA

Se
Fosse
Fome
Comeria
Todos
Tudo
E me livraria
Só das capas…

quarta-feira, 16 de abril de 2014

365 dias com poesia, 16 de abril de 2014 -- URSO



URSO

se o crente mente para Deus conseqüentemente a
frente se aprofundará
se o poeta atleta pega ameba infesta a testa e a festa
terminará
se o roqueiro rói a roupa do Rei de Roma realmente
resta pouco para o ruim ruminar
se a uva de viúva me viu e uiva ufano e uso um uivo
urso para lha conquistar

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Indian Love Poetry




Biting my mouth in love play,
Since to talk would be to let go
My lord would speak only
With his hands

Kshetrayya


Morda meus lábios em brincadeiras de amor
Trate-me como um lago
Desabafe desejos em ondas com mãos de dono


(Versão livre: Marco Plácido)

365 dias com poesia, 14 de abril de 2014 -- SENTIMENTOS



SENTIMENTOS

A Alfredo Plácido, flamenguista roxo

Pintar
com sonhos
Esculpir
movimentos
Entalhar
sentimentos
agravá-los
com versos
Amar
por gestos.

domingo, 13 de abril de 2014

Arthur O. Lovejoy, sobre o moral

O fato principal é evidente. Todos nós consideramos o espetáculo da conduta humana em nossa época assustador de ser contemplado; todos concordamos que o mundo está numa confusão horrenda, e que se trata de uma confusão criada pelo homem; e não há tema de discurso público que seja atualmente mais corriqueiro do que o trágico paradoxo do espantoso avanço do homem moderno em conhecimento e em poder sobre o ambiente físico, e o seu completo fracasso até agora em transformar-se num ser apto a ser investido de tal conhecimento e poder.

William Hazlift, sobre a civilização

Não se pode perder de vista, entretanto, que o progresso do saber e do refinamento tem uma tendência a circunscrever os limites da imaginação e a podar as asas da poesia. O território da imaginação é, acima de tudo, o visionário, o desconhecido e o indefinido: o entendimento restitui as coisas às suas fronteiras naturais, privando-as da dimensão fantasiosa. Daí que as histórias do entusiasmo religioso e do poético sejam muito parecidas, e que ambas tenham recebido um choque apreciável oriundo do avanço da filosofia experimental. (...) Nunca haverá outro sonho de Jacó. Desde aqueles tempos, os céus se tornaram mais longínquos e dados à astronomia. Não é só o progresso do saber mecânico que se mostra nocivo ao espírito da poesia, mas também aos avanços necessários da civilização. (...) Passo a passo, a sociedade se torna uma máquina que nos transporta de modo seguro e insípido de uma ponta a outra da vida, tudo em confortável estilo prosa.

Oswald de Andrade, sobre as identidades nacionais

Tupi, or not tupi that is the question.

Isaiah Berlin, sobre as identidades nacionais

Este profundo conflito interno entre convicção intelectual e predileção emocional, por vezes uma sensação quase física, é uma enfermidade muito característica russa(...). Em alguma medida, este peculiar amálgama de amor e ódio é intrínseco ao sentimento contemporâneo russo (1947) sobre a Europa: de um lado, um respeito intelectual, inveja, admiração, desejo de emular e exceder; de outro, hostilidade emocional, suspeita, desprezo, um sentimento de desajeitamento, de trop, exclusão. Disso resulta a alternância entre uma excessiva prostração e uma agressiva desatenção em face dos valores ocidentais.(...) uma noção do Ocidente como sendo invejosamente autocontido, perspicaz, eficiente e bem-sucedido; mas, também, contorcido, frio, mesquinho, calculador e enclausurado, incapaz de uma visão ampla e emoções generosas, incapaz de um sentimento que por vezes se eleva em demasia e transborda do seu leito, incapaz de abandonar tudo e sacrificar-se em resposta a um singular desafio histórico, incapaz de alcançar um pleno florescimento de vida.

Joaquim Nabuco, sobre as identidades nacionais

Não se pode dizer desse país (Estados Unidos) que tenha um ideal. É o país prático por excelência, e que tem a admirável qualidade de, bem ou mal, governar-se a si mesmo. Não lhe falta manhood, mas tudo nele preenche um fim material. O americano é, acima de tudo, um homem positivo, em cuja vida a metafísica tem pequena parte; reconhece a cada instante que a vida é um business, que é preciso um lastro para não afundar nela; põe a arte, a ciência, a cultura, a polity, depois do que é essencial, isto é, do dólar, indo sempre ahead como a locomotiva, tratando a mulher com o maior respeito, mas na vida prática como uma obstruction, por isso entregando-a a ela mesma, ambicionando, acima de tudo, a riqueza de um grande operator de Wall Street, depois a influência de um boss, insensível à inveja, à má vontade, ao comentário, a tudo o que em outros países emaranha, complica e, às vezes, inutiliza grandes carreiras; nunca procurando o prazer para si, dando-se aos hóspedes em sua casa, como se dão brinquedos às crianças, superior às contrariedades, sóbrio de dor, calmo na morte dos seus, e tratando a própria apenas como uma questão de seguro.

John Von Neumann, sobre as identidades nacionais

Qual a diferença entre um inglês, um alemão e um italiano? Para o inglês tudo é permitido, exceto o que é proibido. Para o alemão tudo é proibido, exceto o que é permitido. E, para o italiano, tudo o que é proibido é permitido.

Persian Love Poetry




Everyone’s heart is broken one way or another
Whether by strangers or by friends
There is no objection if it is broken by a strangers,
But by the friend, why?

Nahid Yousefi


De um jeito ou de outro
Os corações acabam quebrados
Por estrangeiros ou vizinhos
Os ventos forasteiros não me magoam
Mas os amigos, por quê?

(Versão livre: Marco Plácido)

365 dias com poesia, 13 de abril de 2014 -- EX-CULTOR



EX-CULTOR

em sinfonias
te toquei
em melodias
molhei-me
de suor
em atípicas brincadeiras sonoras
musiquei solidão
em sozinhas folhas
esculpi uma pessoa

sábado, 12 de abril de 2014

Indian Love Poetry 2




How can someone separate you from me: your soul from mine?
Distance makes no difference,
The kite may float and fly where it will,
But, at all times, it is attached to someone´s hand.

Bihari Lal

Como alguém pode separar você de mim:sua essência minha essência?
A distância não importa
O papagaio voa leve e livre mas sempre volta para as mãos que o alimentam

(Versão livre: Marco Plácido)

365 dias com poesia, 12 de abril de 2014 -- Abracarte -- Poema inédito



Abracarte

Vendo um quadro de Cândida Boechat...

uma taç’orizonte
brancamente sonho
um pedaço de sorriso
trombone
um instante horizonte
marrom de
linhas setas e
curvas janelas

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Goethe, sobre as tecnologias de comunicação

Aquela serena, inocente, quase sonâmbula produção, por meio da qual tão-somente algo grandioso consegue prosperar, já não é mais possível. Nossos talentos jazem todos à vista do público. As críticas diárias em cinquenta lugares distintos, e as bisbilhotices que elas suscitam não permitem que nada realmente sólido seja criado. Quem não se mantém à distância de tudo isso, e não se isola com determinação, está perdido. O influxo maligno, quase sempre em tom negativo, crítico e estético, da imprensa periódica difundiu uma espécie de semicultura nas massas. Para o talento criador, contudo, isso equivale a um vapor nocivo, um veneno letal que destrói a árvore do poder criativo -- desde as folhas verdes ornamentais até as raízes profundas e fibras mais recônditas.Quão tíbia e domesticada se tornou a vida dos dois últimos esfarrapados séculos para cá. Onde encontrar hoje uma natureza original? Onde alguém com a coragem de ser verdadeiro e mostrar-se tal como é? Isso, entretanto, afeta o poeta, que se vê forçado a buscar tudo dentro de si, estorvado por tudo o que o cerca.

Marx, sobre o tempo livre

Quanto menos tempo uma sociedade requer para produzir trigo, gado etc. mais tempo ela ganha para outras formas de produção, material ou mental. Assim como no caso de um indivíduo, a multiplicidade do seu desenvolvimento e a satisfação dos seus desejos e sua atividade dependem da capacidade de economizar o tempo. Economia de tempo, a isso toda a economia em última instância se reduz.

Samuel Johson, sobre o consumo

Quando perguntaram a Sócrates: "Entre os homens mortais quel pode ser considerado o mais próximo dos deuses em felicidade?", ele respondeu: "Aquele homem que carece de menos coisas". Em sua resposta, Sócrates deixou a critério dos seus interlocutores saber se a falta de carecimentos que conduziria à felicidade significava a amplidão de posses ou a contração do desejo. E, de fato, existe tão pouca diferença entre eles que Alexandre, o Grande, declarou que aquele que tem um barril por moradia é o mais próximo do senhor do mundo e que, não fosse ele Alexandre, desejaria se Diógenes.

Camões, sobre o consumo

Vedes aqui, Senhor, mui claramente como Fortuna em todos tem poder, senão só no que menos sabe e sente, em quem nenhum desejo pode haver. Este se pode rir da cega gente; neste não pode nada acontecer; nem estará suspenso na balança do temor maus, da pérfida esperança.

Persian Love Poetry 2




Though I am old, hold me tight in your arms at night
So at dawn I will rise beside you as young man

Hafiz

Embora enferrujado, abrace-me à noite
Pois na madrugada, serei ouro em seu pescoço a envolver-te


(Versão livre: Marco Plácido)