sexta-feira, 11 de abril de 2014

Goethe, sobre as tecnologias de comunicação

Aquela serena, inocente, quase sonâmbula produção, por meio da qual tão-somente algo grandioso consegue prosperar, já não é mais possível. Nossos talentos jazem todos à vista do público. As críticas diárias em cinquenta lugares distintos, e as bisbilhotices que elas suscitam não permitem que nada realmente sólido seja criado. Quem não se mantém à distância de tudo isso, e não se isola com determinação, está perdido. O influxo maligno, quase sempre em tom negativo, crítico e estético, da imprensa periódica difundiu uma espécie de semicultura nas massas. Para o talento criador, contudo, isso equivale a um vapor nocivo, um veneno letal que destrói a árvore do poder criativo -- desde as folhas verdes ornamentais até as raízes profundas e fibras mais recônditas.Quão tíbia e domesticada se tornou a vida dos dois últimos esfarrapados séculos para cá. Onde encontrar hoje uma natureza original? Onde alguém com a coragem de ser verdadeiro e mostrar-se tal como é? Isso, entretanto, afeta o poeta, que se vê forçado a buscar tudo dentro de si, estorvado por tudo o que o cerca.

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