sábado, 31 de março de 2012

Projeto Portugal

A Beatriz


bia
mia
cisca
cisma
de ser linda
gata
fala
afaga
com as unhas faz declarações
olha forte
soca forte
ama forte
os pais, avós, tios, primos, irmão
e o padrinho
que se esforça mas nunca coçou seu narizinho lindo de princesa
projeto Portugal
ora, pois
com certeza

Beleza

não deixe confundir
olhos azuis
com seus sentimentos
às vezes
nos achamos feios
por dentro como numa noite nublada
às vezes a beleza atrapalha
não somos bonecos de palha
e queremos
uma mão
uma ação
um coração,
uma mãe
um cordão
um safanão
que afaga
mais ainda, abrace a todos bem apertado
que pareça bobagem não amar
ame
zangue
sangue
fale
até dormir de gostar
até brigar de gostar
até chorar de gostar
até gostar de gostar

gravidade

esperando uma criança uma mãe saberá a dor de dar a luz à Esperança

comida (poema água modificado)

o sal, tempero da idade, é que nos dá condição de guardar um pouco de água
água da mágoa saudade

o caldo

gostoso
o gosto
da dificuldade
se é fácil não é arte
é parte
que reparte um modo padrão

o caldo engrossa ao ouvirmos os nãos

Versão para a música de Hendrix -- LITTLE WING

Little Wing (Mundo Azul)

Um letra
Traz um suspiro
Tão profundo
que preciso
De uma palavra-mundo
que seja azul
De um azul-borboleta
Que voe daqui
E volte carregado
com
seu nome

Uma borboleta
Traz um suspiro
Tão profundo
que preciso
De uma asa-mundo
que seja azul
De um azul-letra
Que escreva
Como uma pena
Nosso nome
Na areia

sais

as crianças não sentem saudades porque ainda estão vivendo as saudades que sentirão

água

o sal na comida da idade é que nos dá condição de guardar um pouco de água
água das saudades

sexta-feira, 30 de março de 2012

energia

emergia
quando a luz acabou
na escuridão
não sou ninguém

deserto

...emirjo e
enervo,
concreto conceito

deserto,
submerso,
aceito.
certo
para os outros

Carlos Nejar, poeta (Breve história do mundo)

Habitei sótãos, porões, mulheres
sem pátria, como eu.
Queria o homem sozinho
na gruta e a gruta de alma
no homem. Mas que grutas
podem guardar um coração
soberano? Risquei com espada
na rocha o cume. E veio um
musgo e foi cobrindo de leis
a pedra. E como estava em névoa,
não distingui o rosto dos que vinham.
E as leis precisavam de umidade.
Depois poli as pedras para o fogo
e poli o fogo com o medo, organizei-me
contra os animais. E menos selvagens
não eram os que me rodeavam.
Enturmei-me aos cães e comecei
a trocar linguagem com humanos
que traziam sinais. Todos se entendiam
num sítio qualquer da infância.
mas por que só ela é capaz de conectar
os símbolos? E me aborreci com as
chispas de escuridão entre eles.
E cada palavra que emergia no impulso,
ao marulhar de trovões, tinha sementes
de povo. E a horta dos legumes
com a fala, era semente de povo.
mesmo que nunca a pudesse
entrever. E os problemas eram
puxados para fora dos rios
com os peixes. E ao se abrirem
as vísceras, cortavam-se as noites
para apanhar a moeda de uma estrela.
Quando se acostumavam com o sol,
alguns ousaram ver a ciência
pela fechadura. E com ferramentas
apertavam máquinas e elas também
as apertavam e os gritos não tinham
mais gargantas. E os fonógrafos
entupiram. Mas o progresso
gravava pelo avesso o tempo
e a vida não praticava nenhum idioma.
E se permuta silabava tratados
de comércio, decretos de líquen,
eu não podia mudar a civilização
por estar catalogada na infância.
Sim, as civilizações não sabem
nada umas das outras. E assim
não houve guerras, apenas cicatrizes
nas árvores com alguns extintos
nomes. E a palavra amor ficou
desapercebida, salvo por nômades
eremitas que bebiam na soluta boca
das nascentes. Não me molesto no pó.
E a gruta ficou povoada,
que principiei a sentir-me humano.
E não tinha dúvidas quanto a enterrar
depressa os mortos. Que os vivos
estavam sempre acreditando
nos escombros. O que é da morte,
é dos mortos. O que é do corpo
é da água. E não é a água
que nos faz mais leves,
é a alma que nos faz água.

dieta

música é produto
combinação de talentos com máquina
poesia é
musgo
se esconde na sombra
prefere água
de lágrimas das dificuldades da batalha da vida diária
e atrapalha
como atrapalha
aos inteligentes de ocasião
que se assustam
com a intensidade
e brilho da ilusão
entendida pelos poetas
como dieta de gordos

quinta-feira, 29 de março de 2012

Carlos Nejar, poeta (Sem estrela)

A morte ia comigo e eu, com ela.
E vi o seu ridículo vestido,
o andar desajeitado e sem sentido,
o rosto com penteado de donzela,


sendo tão velha, velha, no ruído
de suas meias e sapatos de heras.
Então não resisti e me ri dela,
caçoava de seus gestos confundidos.


E desta sisudez que nada espera,
mas sabe que na vida um só gemido
pode fazê-la emudecer. Insisto


em rir de sua passagem sem estrela,
sem grandeza nenhuma. E se resisto,
é porque está em mim quem vai vencê-la.

Carlos Nejar, poeta (A doma e sua danação)

Animal doméstico,
animal de festa e guerra,
homem,
preso a si mesmo pela cauda ridícula,
preso aos outros pelo movimento da pata,
não tens outra porta ou acomodação necessária
não tens outro tema ou teorema
a modular com as traças.


Teus pais te ngedraram para seres
doméstico.
Uma estrela guiou tua vinda para seres
doméstico.
Cresceste além da sede e da fome
para seres doméstico.
E quando pensaste atingir o infinito, com as
têmporas
ficaste enterrado num sótão doméstico.


Doméstico como os gatos e as moscas,
não pões asco de estar ali
a farejar os pratos
e cheirar por justiça nos corredores.


Doméstico e atado
pela coleira das convenções,
doméstico e fácil, satisfatório
em todos os assuntos de disciplina,
hábil na manipulação dos horizontes,
que fazer senão saber-se
passivamente doméstico,
enrolando-se nisso?


Articulas-te, entre a angústia e a esperança,
como o dorso numa e noutra coisa
e as pernas da ambição nos elétricos.


Animal doméstico,
dormes nos calendários
e a morte te desperta
no melhor da sesta.


Doméstico, até na morte doméstico.

Carlos Nejar, poeta (Soneto aos sapatps quietos)

Os pés dos sapatos juntos.
Hei-de calçá-los, soltos
e imensos, e talvez rotos,
como dois velhos marujos.


Nunca terão o desgosto
que tive. Jamais o sujo
desconsolo: estamos postos,
como eu, em chão defuntos.


Em vãos de flor, sem o riacho
de um pé a outro, entre guizos.
Não há mais demência ou fome.


Sapatos nos pés não comem.
Só dormem. Porém, descalço
pela alma, é o paraíso.

sóbrio

somo à solidão
sono
silêncio seco
sossegado

severo sinal

socrático

talento

os que não têm experiência
fingem acreditar
que a teoria
é tudo
como comecei a escrever na porrada
e descobri como se fazia fazendo
afirmo
nada substituí o talento
que é uma mistura de
dom
motivação
e trabalho

(teoria é quase a cereja do bolo)

poda

a saudade é dor, peso
do último fio de cabelo
até
o calo na unha do pé do dedo
mindinho
um torpor
um arvoredo
imenso
quase nos deixando na escuridão

mas pode ser podada por olhos de paixão

CHUVA, NÃO!

o segredo do sucesso é
ouvir pouco
trabalhar muito
e
torcer para não chover

mercador

cada um tem sua melodia

(e ela é linda quando minha)

se sua
parabéns
não sofro pelo seu sofrimento
apenas acompanho
o que já foi bem feito

mas ouço sempre do meu jeito

cesta

de repente comecei a escrever
tudo ia bem
até o momento que comecei a pensar concatenar as ideias em palavras

bom antiga árvore sendo encestada

dor, flor, cor

quero escrever até morrer
quero escrever até morrer de amor
quero escrever até morrer
quero morrer de escrever a dor
quero escrever até morrer
quero a flor de morrer de escrever
quero escrever até morrer
quero até cor de escrever sobre morrer
o amor
a dor
a flor
a cor
de escrever
e morrer de ser
quero

ato falho

quem não entender o que é isso

escrever com sorrisos marotos sobre nossas falhas

falha em tentar entender o que é amor

sorrisos

amor é ver a felicidade de uma criança fazendo um livro mesmo sem saber ler
escrevendo com sorrisos só aquilo que sente
sem precisar de letras, de vírgulas, de meias palavras...

doente

alguém já matou alguém por amor?
o amor não é completude
forte muque
saco de estrume para uma semente?
pode existir amor doente?

Pocket Show em 29/03/2012.

(Introdução)

1 -- Desafios;

2 – Sim;

3 -- Pedra;

4 – Constelação;

5 -- À Cecília;

6 -- O Alvo;

7 – Brigas;

8 -- Contra;

9 – Truques;

10 – Inútil;

11 -- Jaques Som;

Bis:

12 -- Papai me Empresta o Carro;

13 -- A Saudade/Blues do Medo.

rosto

não foi tão cedo
mas
dizem
foi no melhor momento
quando já tinha histórias
mágoas
memórias de coisas que pingavam em mim
comecei a escrever
aos quarenta e dois
e em quatro anos
uma vida se passou
recordou?
recordei
em papel amassado
construí um rosto
um livro-escultura de quem sou

crentes

uns querem ser árvore
sem nunca terem sido sementes?
isso é ser crente
numa realidade indigente!
gente
para dar frutos temos
primeiro
que nos regar

vivente

vivo nos teus olhos, quando me reconheces

sinto o gosto de sódio, na lambida de tua alma

adormeço melhor na tua respiração

acalmo o arrepio sentindo tua mão

respiro no teu ritmo, por isso vivo

Carlos Nejar, poeta (O que nos salta do dia)

Temos de ser ferozes.
O mundo é nosso rosto.
O que nos salta
do dia.


A morte distraída.


Ardemos ao tocar
cada objeto.
Temos de ser ferozes.
Ir sobrevivendo
pele a pele.


Tudo nos supõe
em resistência,
amando.

Carlos Nejar, poeta (Não somos apenas aquilo que existe)

Não somos apanas o que existe.
Há camadas que guerreiam.


Apenas o alargamento
de terra e raízes.
Rios correndo países
de paciência.


Apenas o estribilho
de línguas
vivas ou mortas.
Um pêlo, a brisa,
os corpos na água.


Inumeráveis
as gerações se conhecem,
proa de um rosto.
E nos parecemos
com o tudo que muda,
ficando.


Das coisas
tomamos o bordão,
o andamento.


Não apenas o que existe.
Também o que não existe,
somos.

flor-dor

não é que só aprendamos no sofrimento
é que sofrendo as dores não nos deixam esquecer do perfume das poucas flores que passamos a regar

designios

oro ora e agora é hora de orar
pedir aos céus
implorar ao mar
uma vida sem rotina
vívida
cristalina
vida cujas retinas
serão testemunhas de todo o brilho possível
brilho que nos fará suportar os desígnios
quentes
ou frios

falcão

...e os caminhos que me afastarm do ninho acabaram me fazendo voar sendo assim como não exaltar a experiência de sofrer para aprender a caçar

Narciso

observo
durante horas
o reflexo
das estrelas
que para mim são vida
nadando com a graça de uma criança
que ainda não esqueci

genuflexo

esse brilho nos meus olhos não é meu
é reflexo da ilusão
que ainda não me abateu
que ainda me permite rezar

estrelas estrelas

algumas estrelas são do céu, outras do mar
outras são estrelas
e nos ajudam a suportar
a distância
apenas
sendo estrelas

estrelinha

...lá
as estrelas
demonstram o céu
sabemos que ele existe
pelo reflexo
marítimo
simples assim
aqui
onde não deveria haver há
e nos indica
a paz
enquanto caminhamos
até
voarmos

quarta-feira, 28 de março de 2012

louco asceta

a chuva aperta meus dedos contra o peito para tentar não escrever só um tolo aceitaria um desígnio do destino sem saber para onde iria só um louco se deixaria levar por uma paixão em tintas só um louco poeta asceta comédia imprimiria sua devoção

desabafo



um desabafo escrito


não é poesia


é um sentimento menino


lindo mas


não é poesia


poesia


é aquilo que duvidamos e colocamos letras para tentar algum tipo de certeza

terça-feira, 27 de março de 2012

pau

num mundo que nos afastam pelos sobrenomes, fortunas, i-fones
escrevo
para apurar nossa humanidade de possíveis mordidos pelo cachorro morador da sarjeta
escrevo
sem possibilidade de falha

(mato a cobra e mostro o pau)

solução

as letras caindo dos olhos, e escrevo
os cortes nos pés doem, e escrevo
a garganta magoada com a tosse recolhida, e escrevo
a vertigem da altura encarada, e escrevo

escrevo por ser a única solução, e escrevo

Alexandre Brandão, poeta

é no sofrimento que o homem aprimora a sensibilidade.
torna-se mais humano.
aprende a sentir.
sofrimento é sentimento não descoberto.
e que pode ser aprimorado.

Carlos Nejar, poeta (Minha ciência, o universo -- fragmento 2)

Sou um homem
e uma pedra, um campo
tenso, uma montanha
de antúrios, uma paina
de angústias sobraçadas.


Já me ergui
dos dias, das semanas
como se o mar saísse
por detrás
de seus receios.


Sou homem
e uma fera castigada
de noites e açoites.


Amei, amante. E como
persistir amando antes
até o eterno amor, o eterno ontem,
e ser capaz de transmontar
o sol e o instante?


Servi, abdiquei, servi de novo.
Regressa um povo
como um relvado em mim
sem qualquer toldo.


E minha sede
é não secar de sede
e me exaurir de ver.

Carlos Nejar, poeta (Formoso é o fogo)

Formoso é o fogo e o rosto
da amada junto a ele.
No lume de seu corpo
tudo em redor clareia.


Depois o que era fogo,
é espuma que se alteia.
E o mundo se faz de novo
nas curvas da centelha.


Já não existe esboço,
mas desenhos, e teimam
-- unos e justapostos.


Já não existe corpo:
são almas que se queimam
no amor de um mesmo sopro.

Carlos Nejar, poeta (A foz e o curso)

Não sei de amor que amor me sabe a tudo
e dele o tempo move o seu contento
e não há perda quando amor sustento
e se desfaz a foz e o curso é mudo,


o curso é mais durável do que o mundo
e cerce o tempo: amor e banimento.
Acaba nos confins, da morte o cedro,
porém o amor aponta seu verdugo.


E amor não desalenta o que conserto,
por mais que o destemor nele se afronte
e natureza e amor é o mesmo vulto.


Não sei amor que amor me sabe tudo
e tudo convenceu-me de estar longe
e de longe o mais perto que carrego.

Carlos Nejar, poeta (Avos de abelhas)

Este Paiol recende a mel e avos
de abelhas sussurrando. Cada cousa
nomeia outra e outra, sem agravos.
E a hera pelo muro não repousa,


como um exame verde ou mariposas
aos jorros vesperais de fonte, favo.
E amar é só jardim para quem ousa.
E por te amar, na castanheira escavo


teu nome, Elza. Perto a mesa, o vaso
e a alegria dos cães correndo a sombra
ou a sombra correndo como onda,


antes de se espalhar. E se te abraso,
todo o Paiol se abre: uma gaiola
do mar que voa, amada, para a aurora.

Carlos Nejar, poeta (Abandonei-me ao vento)

Abandonei-me ao vento. Quem sou, pode
explicar-te o vento que me invade.
E já perdi o nome ao som da morte,
ganhei um outro livre, que me sabe


quando me levantar e o corpo solte
o seu despojo vão. Em toda a parte
o vento há de soprar, onde não cabe
a morte mais. A morte a morte explode.


E os seus fragmentos caem na viração
e o que ela foi na pedra se consome.
Abandonei-me ao vento como um grão.


Sem a opressão dos ganhos, utensílio,
abandonei-me. E assim fiquei conciso,
eterno. Mas o amor guardou seu nome.

Carlos Nejar, poeta (A idade da aurora)

Existirá algo imóvel maior que a escuridão?
Não tem artérias, nexos, fêmur, medula.
É um pescoço alongado. Sem a testa.
Pode a noite chocar-se na montanha. Ou ser
montanha o mar.

***

Amarra-se o sol na vontade do céu?
Amarra-se a morte?
A palavra era bela e ia nascer.
Mas a raiz apodreceu.

***


Valentia é ser.

Carlos Nejar, poeta (Lua sob a terra)

Serafim prenunciava
o que lhe era ditado
pela sua Palavra.
Que o amor tornava bela.
Ou às eferas mais vastas.

"A noite ensina as trelas
e a perceber escuras
fragâncias.

Quem aprende na noite,
sabe os seres. E tudo
o que ela veda.

Saber é ver
mais cedo.

Além, o desapego
não se contém, vivendo.

Se morre o sol, o grão
vai perecendo cego

Viver é estar à frente
da noite. Mesmo dentro."


Serafim apanhava
pelas orelhas, o mar.

SET LIST do show do dia 30/03 na Lapa

(Introdução)

1 – Desafios;

2 – Encantadas;

3 – O Alvo;

4 – Quase Sem Querer;

5 – Minas;

6-- Pedra;

7 – Don’t Stop Dancing;

8 – Constelação;

9 -- Contra;

10 – Complexa Vazão;

11 – Sweet Sina (nova);

12 -- Brigas;

13 – Crazy (nova);

14– Jaques Som;

(intervalo)

15 – Andarilho;

16 – Sim;

17 -- À Cecília;

18 – Cegos;

19 – Versos;

20 -- Inútil;

21 – Truques;

22 – Dias de Luta;

23 – Papai me empresta o carro;

24 -- A Saudade/ Blues do Medo.

segunda-feira, 26 de março de 2012

acinte

penso em tudo com ritmo
porque sem ritmo não é poesia é desabafo
penso em tudo
no ato
no fato
no galho
na fala
na falha
penso na arma em que poderei praticar o crime
de mostrar-lhe como somos...
(um acinte)

domingo, 25 de março de 2012

cafuné

invento um sorriso
para um rosto cansado
quem disse que não cansa escrever sobre o custo diário
de saber que a vida cansa pelas perdas
que sentimos dores nos pés com motivo
que precisamos de cafuné sem motivos

os meses

janeiros, jazem
fevereiros, fervem
marços, escassos
abris, anis
maios, de bolinhas
junhos, juntos
julhos, livres
agostos, sem desgosto
setembros, milheiros
outubros, duros
novembros, brutos
dezembros, redentores

if

se Deus existisse
Ele não mentiria para mim
me contaria tudo
não me iludiria sobre o fim

suculento

o tempo
não é o vento
não é o momento
é suculento
é a vida sendo
no piscar de olhos de um menino
rápido
que logo se vê homem
lento
e por isso sua preocupa

Pirados, românticos ou...

Em 1989, poetas chineses incitaram a Revolução da Praça da Paz Celestial, evento que ficou mais conhecido como Massacre na Praça da Paz Celestial ou Massacre de 4 de junho. O lema dos revolucionários era parte do poema PROCLAMAÇÃO do poeta Bei Dao que diz:

Não posso escolher mais do que o Céu
para não me ajoelhar na Terra
contrastando assim com a elevação do carrasco
que impede os ventos de liberdade.


Enquanto isso no Brasil os poetas são considerados...pirados, românticos ou viados.

professoras

...Dicionário de rimas?!
se pudesse não escrevia
só sentia sentia
mas
como explicar
às tias
esse negócio de sentimento?

maratonista

NÃO PRECISO DE RIMAS!
preciso
de
motivação e ritmo
para
a maratona da vida

infantes

...ela, a letra, acesa, incendeia
fósforo do ócio
perigoso negócio
da china
ou de qualquer outro lugar
desde que haja mar
o amor
aparece em instantes
lágrimas em infantes
doidos
para não suportar a maresia
de olhos calmos
apagados pela tristeza da vida

jasmim

transformas
afeto em segredo
secreto objeto sincero de desejo

entre carícias de jasmim
transformou-me
de menino a homem

um sim sempre será acolhido por um ouvido aflito

Han Dong, poeta chinês (Tua mão)

Com uma das mãos sobre meu corpo
vais dormir em paz
não consigo dormir, por isso
o peso leve da mão
aos poucos passa a ser de chumbo
a noite é longa
permaneces no mesmo lugar
essa mão só pode ser de afeto
talvez tenha outro significado secreto
Não ouso afastá-la
nem acordar-te de repente
quando me acostumo e me afeicôo a ela
em sonho tu a recolhes, súbito
e ignora tudo

Gu Cheng, poeta chinês (Origem)

os degraus da fonte
na cadeia de ferro passa suave o cavalo da floresta

lume
o azul do mar
soldados mais fortes no céu limpo

meus sonhos emergiram da água

a cadeia do sol, elo por elo
uma caixinha de madeira
trouxe o ar
e os gestos do peixe e do pássaro

num sussurro disse o teu nome

Yan Li, poeta chinês (Anzol)

Após esperar muitos anos
meu anzol
flutuou por si mesmo
no tanque estéril de peixes
Flutuou por mais anos
ainda sem outro desfecho
meu anzol acabou
por devorar-se a si mesmo

Bei Dao, poeta chinês (Céu claro)

O cavalo da noite galopa nas luzes da rua
em todo canto o som triste
sento-me na esquina dos séculos
xícara de café: um estádio
um jogo de futebol
torcedores pulam como corvos

rumores de falhas
como o sol da manhã


senil em ascensão
elevo-me para outro andar
sábios tocam tambores nas nuvens
um barco remenda o mar
por favor enlace este momento no horizonte
deixe o milho e as estrelas se entrelaçarem


os desesperados braços de Deus
giram na face de um relógio

Bei Dao, poeta chinês (Proclamação)

Talvez seja chegada a última hora
em que não deixo senão uma caneta
em testamento à minha mãe.

Não sou herói,
numa época ausente de heróis
apenas quero ser um homem.

O horizonte sereno
é uma linha que separa os mortos dos vivos.
Não posso escolher mais do que o Céu
para não me ajoelhar na Terra
contrastando assim com a elevação do carrasco
que impede os ventos de liberdade.

Dos buracos estrelados de balas
jorrará a madrugada em cor de sangue.

sábado, 24 de março de 2012

diamantes

se o mundo é cravejado de suntuosos insultos
por que não escrever uma palavra que cale fundo
e ponha seus olhos para brilhar?

transformares

...transformar...

transformar a dor em lar
transformar o mar em acalmar
transformar o olhar em amar
transformar o desgosto em outros

tranformar-nos
de sono em colosso
de suposto em gosto

transformar transformar transformar

transformares (sem uma gota d'água)

silvo

é improvável
mas não impossível

viver das letras

inexorável
um silvo
rítmico

augusto som de apito
me chamando

insustentável
labirinto

gameta

um gameta

um asceta

um atleta

um assecla

um cometa

um planeta

um sistema

planeta azul

uma flor não é maior
do que um menino
do que uma menina
não!

seu perfume, sim
seu perfume que perfuma nossa dor é maior sendo nossa imaginação de um planeta azul

bom combate

dura vida
feita de despedidas
menos flores
mais dores
acumuladas sem o perfume da ilusão
em criança
percebíamos a bondade
agora
nos assustamos com a maldade

ledo engano

deveríamos combater a dor com o amor

Like a roliing stone

...como uma pedra a vida é dura
e nos deixamos endurecer
talvez a desculpa é que saibamos que iremos morrer
talvez...

sexta-feira, 23 de março de 2012

pernas

dois poemas depois
já estava rabsicando todo o livro
de poetas portugueses
pós-Pessoa
todos somos
pessoas
pós alguma outra
e por isso
também temos
o direito de errar
com nossas próprias rimas

vida-do-mar

certos sossegos cegam
cobram juros porque negam
quem somos e quem poderíamos
nos tornar

(prefiro enfrentar as ondas vida-do-mar)

cedro

pedras
perdas
merdas
certas
medras
cedro?

dinossauro

infeliz daquele que não sabe a cor
de seu medo aquele que faz de
palavras sempre erradas
demonstração do
segredo espremido em ternos
escuros num calor do Rio
espremido em sorrisos
simpáticos de interesses
jurássicos

(como se o rabo do dinossauro fosse de brinquedo)

varão

fútil significado sutil
dúctil como
descarga
funil senil de caralho apertado
quadro do quatro no quarto
varonil

tisne

dizem haver rimas ricas
como cisne e tisne
(que não sei o que seja)
num português tão pobre e conhecido
não preciso me preocupar com isso

(as palavras não são escritas porque são bonitas)

peso e medida

desde quando
comecei a escrever
nunca mais
peguei um dicionário
é que as palavras saem
conhecidas
espremidas que estavam
com
peso e medida

galope

no silêncio da noite enquanto todos
dormem os poetas respiram
rimas possíveis numa sofreguidão
absurda acordam com as rugas
dos segredos adivinhados na
intuição do sono são cavalos
galopando disposição de reproduzir
aqueles sons pela manhã
sem se importar com o perigo de galopar

monumento-poema

onde estão os poetas que nos definem sem definhar?
onde estão aqueles que são nossas declarações de amor recolhidas?
onde escrevem em segredo nosso destino?
onde nos reconhecem sendo?
onde constroem esse monumento-vida-eterna-poema?

cão

...observando pessoas...

todas soltas
coxas mancas
de tanto se irritar
com a própria desídia

observo os animais tentando viver sem entender
e confesso que gostaria de poder me comunicar
mas não sei latir poesia

oca

contra o ócio criativo
são todos os caciques
da tribo capitalismo
todos
querem mandar no meu tempo
todos
engodo louco e feio
tatuagem de japonês de filme
quibe de árabe paulista
lista de amigos cariocas

(a oca me serve como toca e enrosca a flora em meus pensamentos naturais)

alerta

o mar é mais um estado de espírito
apesar da rima possível
fico com o significado
cabelo molhado
corpo suado
mente em alerta

paralelepípedo

como é voar se eu não tenho asas?
deve ser uma liberdade de chorar as manias?
deve ser uma vontade de gritar amar o paralelepípedo?
deve ser uma gastura da sonhar almoçar com a sogra numa tarde de Domingo?

deve ser lindo poder pousar...

Aê santa Qualé joelho (Alessandra Coelho)

Aê Santa Qualé joelho
é bão para brincar de roda
os garotos sãos
são levados da breca
adivinha a quem puxaram?
a uma garotinha linda
sem papas na língua
com olhar pidão de brincadeiras mil
adivinha quem vai ser feliz até o fim do Brasil?
adivinha quem vem jantar?
o papai amor já vai chegar e cantar uma canção
da cor azul dos ares que gosta de avistar
de cima
ensina a todos o valor da liberdade

Palmas

A Chico Anysio

quem disse que o artista morre?
sua obra sobrevive ao seu cheiro
alma lavada com o talento de dizer o mesmo de outro jeito
um basta à sofreguidão de levar a vida nas regras brandas de um dicionário sem paixão
quem foi que disse que um dia um humorista perderia a graça?
um palhaço também sabe fazer da desgraça a gargalhada
lágrima de pretensão
motor propulsor
paixão de palmas

paro de escrever
para em homenagem
fazer a única música possível

quinta-feira, 22 de março de 2012

Perdão, música nova (Letra: M. Plácido; Música: João Rafael Viana)

concentre a mente no momento presente
concentre a mente no presente

presenteie o momento presente com a mente
presentei o momento presente com a mente

no momento concentre a mente no presente
no momento concentre a mente no presente

ESQUEÇA O FUTURO!

PERDOE O PASSADO!

o movimento

...o tempo...
mistura de sentimentos

se corro esqueço de quem sou
esqueço o caminho para onde deveria seguir
se fico parado
espero o nada
e
o nada é o vazio...
o vácuo do caminho
e
minto dizendo estar satisfeito?

(o movimento é que define com que emoção vou me lembrar de mim)

Repertório do show MPB do dia 30/03/2012

(Introdução)

1 – Desafios;

2 – Encantadas;

3 – O Alvo;

4 – Quase Sem Querer;

5 – Minas;

6-- Pedra;

7 – Don’t Stop Dancing;

8 – Constelação;

9 -- Contra;

10 – Complexa Vazão;

11 – Sweet Sina (nova);

12 -- Brigas;

13 – Crazy (nova);

14– Jaques Som/Desire;

15 – Andarilho;

16 – Sim;

17 -- À Cecília;

18 – Cegos;

19 – Versos;

20 -- Inútil;

21 – Truques;


BIS:

22 – Perdão (nova);

23 -- Dias de Luta;

24 – Papai me empresta o carro;

25 -- A Saudade/ Blues do Medo.

violão

não me parece correto afirmar que o artista é um cara fora do lugar
ao contrário
penso ser um indivíduo totalmente ligado nas idiossincrasias próprias e dos outros quase enforcados pelas dificuldades da vida de tudo que nos torna abafados
a arte
vem da necessidade de colocar para fora nossas ansiedades advindas do medo maior que é morrer
e daí para as neuroses e doenças nervosas é um pulo
que eu não quis dar e por isso comecei a dedilhar as cordas do meu violão-emoção e estou aqui mais uma vez desabafando coisa muito necessária nesses dias de fingimento explícito

quarta-feira, 21 de março de 2012

Letra para Hendrix -- Little Wing (Mundo Azul)

Little Wing (Mundo Azul)

Um letra
Traz um suspiro
Tão fundo que preciso
De uma palavra-mundo que seja azul
De um azul-borboleta
Que voe daqui
Com meus pensamentos
Com o vento
Voe azul
Azul-seu-nome

Uma borboleta
Traz um suspiro
Tão fundo que preciso
De uma asa-mundo que seja azul
De um azul-letra
Que me escreva
Com certeza
Como o vento
Escreve na areia
Nosso nome

terça-feira, 20 de março de 2012

desígnio

...não é força
é respeito
pelos olhos
dos meninos que vejo
me vendo
o sabor de bocas nervosas com o exposto pai que só faz desejar
saber
ler
entender
escrever
palavras
que muitos outros não querem ouvir
cantar é apenas uma parte de existir

a parte mais fácil é fingir
e canto para espantar esse desígnio

Instrumento

Por que de um modo geral os artistas são contra a tecnologia?
Por quê?
Será que ainda é preciso explicar?
Um garoto desses do facebook
talvez não desconheça
mas vou realçar

Picasso precisou de quantos megabytes para pintar Guernica?
Da Vinci se atualizava com as fofocas em qual chat?
Camões escrevia à pena e que pena que morreu sem digitar uma única palavra...

Bom, poderia lembrar de Pessoa, Drummond, Chaplin...


Amigos a tecnologia é apenas um instrumento nunca irá ditar uma única gota de energia criativa

regra

essa-ligação-que-não-nos-priva-é-a-ligação-que-nos-liga-que-nos-mantém-vivos-melodia-perfeita-de-signos-definindo-quem-somos-para-nós-mesmos-quem-fomos-um-para-o-outro-e-não-há-regra-que-irá-nos- separar

segunda-feira, 19 de março de 2012

bala-conceito

ao poeta é dado o direito de errar
porque quando acertar
o acerto definirá a trajetória da bala-conceito-de-vida-que-nos-assoprará-a-ferida-de-viver

suspiro

Quem captura o suspiro?
Quem absorve o cheiro?
Quem observa o desespero?
Quem interrompe a queda da pétala e faz dela um instante em letras?


Aquele que não se esquece da importância de uma floresta

domingo, 18 de março de 2012

blues boy

um blues não é seco
é preciso
na sua economia de notas
na tessitura das cordas
vocais de um cantor sofredor
pela dor
de saber-se em dificuldades
de lares
de bares
de altares
malabares com o salário ínfimo
num coração de menino de circo

incenso

(poesia...)


...não é que só pense nisso
é que isso
é o mundo sendo
fervendo
aquiescendo
o instante único
incenso do senso
intenso laço com natureza
que somos nós
nos pertencendo

elefante (pedaço de letra)

um amor...
tão bonito
num filho de cinco

um amor
tão completo
sujeito e objeto

um amor
num instante
tamanho de elefante...

um amor
tão sincero
quente como ferro...


não pode acabar pois o mundo é completo
é imenso é complexo
quando amamos o convexo

o côncavo amor
é escondido na escuridão da dor
onde sou professor


o menino que fui escolheu onde sorrir
portanto estou cantando aqui

coxo

...enquanto descansam
duma semana cansada do mesmo
escrevo
escrevo sem perdão
(às vezes não me reconheço)
escrevo com lágrimas
algumas palavras são marcas e marcam a página como uma gota de sangue
mangue movediço
dum homem comum
pretendendo ser um poeta invulgar
palavras têm um lugar como todos nós
e
é essa missão que me propus claudicar

tênis conga

...a coragem de escrever...
(não sei se conseguirei descrever...)
a dor aguda no pensamento
sendo revelada
o encontro com uma calçada
laços
dos sapatos
os tênis conga se separando
um primeiro adeus assustado
a melodia de uma voz esquecida...
(difícil dia que começa com recordações...)

intuição

intenção e intuição
me guiam nesse mundo de ilusão
e
sigo alegre e atento com as unhas dos dedos sofrendo de vez em quando uma recaída
porque não é fácil testar seus próprios limites de talento e determinação
sigo sendo surdo aos reclames do mundo dos desatentos
sigo sendo cego para as dificuldades realçadas pelos que se armam de desculpas esfarrapadas para não tentar
sigo sendo mudo para conseguir ouvir minha própria melodia

Copacabana

o silêncio da manhã
me permite sentir o açúcar no ar

das recordações da infância me fartar de chutes na canela de brigas pela última colher de brigadeiro e a bronca do pai por ter arranhado o disco de vinil que nunca mais tocará a nota certa

a chegada da tarde traz o cheiro do arroz da vovó em Copacabana as flores tinham outra cor no olhar de menino que sentia ainda arder o sol em gotas do mar na areia sempre me lembrarei dessas passagens e isso completa sobremaneira minha vida
mas
quando penso em tudo que ainda irei fazer
descubro como é bom olhar em frente e ver a noite chegar

sábado, 17 de março de 2012

Gastão Cruz, poeta português

COM TUDO O QUE ESTREMECE DESTRUIDO

Com tudo o que estremece destruído
e se desprende ou ameaça o ar
quando tudo é visível
e as folhas na terra já cavaram

os inúteis abrigos
que do sol penetrados
do ar frio
nas valas desenvolvem os seus vastos

abismos preenchidos
com as folhas em fundos
abrigos reunidas ou que ainda

nas árvores o rude
inverno esperam fixas
nos medimos

exata

prefiro falar do antes
por desconhecer o depois
a vida sei
tem começo, meio e fim
como me prender
à eternidade do nada?
como falar do tempo sem hora exata?

insipiente

incipientes palavras
insipiente
poeta
que reza
pela sabedoria dos mestres
mas que se aquece na própria solidão
com a melodia seleta de sons da infância feliz

óleo

em poesia
não há mentiras entre dentes
há verdades escarradas
lugar
onde as letras são farpas
palavras navalhas
e orações não acalmam
ao contrário
exalam o óleo
da desconfiança
da vida real
que cansa

à favas

se os economistas entendem-se algo de alguma coisa
não haveriam mais juros do que muros
se os juízes entendem-se alguma coisa de algo
não haveriam mais autos do que saltos
se os políticos entendessem-se alguma coisa de alguma coisa
não teríamos mais carros do que favos

executivos

...deixa ver se eu entendi
só os executivos podem
planejar
executar
orçar
viajar
custear
debandar
aos poetas só cabe
desbundar?

alguma solidão

de quantas pessoas são os argumentos contrários a uma tragetória ímpar?
uns dizem ser milionários
outros demonstram ser otários
outros do rio
alguns de são paulo
e eu
surdo às adversidades
ouço minha melodia interna
e com ela faço música
para aos que ainda querem escutar
alguma solidão

marrento

o tempo
nada mais é
do que
o elemento
intenso
por vezes extenso
marrento e surpreso
quando o aproveitamos
fraudulento
quando nos enganamos e paralisamos

sexta-feira, 16 de março de 2012

trança

uma imagem define uma vida?
uma tira é uma pista?
um tira tira a notícia de minha insegurança?
quanto vale uma trança num sorriso para um palhaço infeliz?

Bernardinho

Dez anos de treino?
desculpe Bernardinho
acho
que dez mil poemas em três anos equivalem
acho
que uma semente bem cuidada vale uma árvore
acho
que um beijo bem dado vale mais do que mil palavras
acho
que uma mão no ombro na hora certa vale muito mais do que mil poetas!

quinta-feira, 15 de março de 2012

feno

algo que não sei o nome
existe
é como um calor de paredão
no verão
como um pingo de ar condicionado
que do susto produz um sorriso
como um gelado de tangerina em Baependi
como um suco de rimas de Drummond
como uma uva pisada numa vinícola do sul
como um tango argentino na Argentina
como uma menina afilhada soltando pipa em Paris

muitas vezes não é de fato

sendo apenas uma sensação
que nos leva adiante
outras sendo
um começo de intenção

amorosas crianças

somos crianças sempre seremos sempre serenos crianças amadas amas dedicam-se à infância educando com asas sempre seremos crianças levadas adultas histórias sem farsa se quisermos sonhar sendo felizes sempre seremos aprendizes sempre serenos crianças educadoras de adultos saudosos sempre seremos amorosas crianças que amam amar o amor de brincar

jornais

observando as manchetes dos jornais descobri que há anos as leio mas não incorporo em mim a maldade de páginas sanguinárias da realidade

carregador

mapas no meu rosto
rotas de fugas
as rugas
mostram o caminho trilhado
pelo susto
acumulado
em anos difíceis de perdas
pesadas

pedras carregadas

Caminho

À Naná Rossi

...hoje parecia que não queria escrever...
por várias vezes li o que tinha escrito
nem tão antigamente assim
e fiquei sem pensamento nenhum
fui ao face
concordei com algumas manifestações discordei de outras
quando me deparei
com um apoio tão bonito
relativo ao dia da poesia
que desabei
a escrever
e aqui estou
sabendo que o motivo que me levou a começar
foi querer mudar...
algumas homenagens foram feitas
de modo tão espontâneo que eu garoto nunca achei que um dia iria publicar algum texto que até tinha vergonha de chamar de poesia
sabe como é fui criado saindo na porrada com meus irmãos e arrumando confusão nas peladas da praia e realmente nunca me imaginei numa carreira de sentimento
foi quando senti a necessidade de expor tudo o que havia sentindo em relação à perda do meu irmão Frederico que tudo começou a fazer sentido e quando respirei não dava mais para parar minha vida já não tinha mais sentido sem poesia e se coragem eu tive de assumir isso foi pelo incondicional amor que recebi em todas as etapas da minha vida
mesmo assim corri o risco de ser taxado de maluco e fui e era para ser como alguém em sã consciência assume que prefere morrer ao ter de parar de escrever? e daí para a música foi uma rima necessidade primária de dar publicidade aos meus poemas que estavam sendo esquecidos recém nascidos quase sem ter respirado e tive a força e a sorte de contar com as pessoas certas nos lugares certos que me incentivaram e me apoiaram tanto que fiquei até com vergonha de pensar em parar agora ao terminar meu segundo CD e depois de ter por três longos anos preparado um show que mostrasse tudo o que sempre, sem saber, quis cantar estou pronto para recomeçar

apronto

por que corremos?

por que quem disse que o tempo estará presente quando dele necessitarmos?
quem poderá afirmar que chegará ao dia de amanhã com saúde para realizar algo?
quem dirá com absoluta certeza: daqui há dois anos irei aprontar!

terça-feira, 13 de março de 2012

presente tempo

ser criança é não crescer?
ser adulto é se perder?

o quê? não ouviu ou finge não perceber?

se cresço não aconteço na ilusão?
se cresço pareço um moço alto com um corpo novo sem solidão?

se permaneço preso ao passado não percebo o futuro?
se permaneço preso ao presente me sinto ausente de mim?

por que não plantar uma semente de brincadeira
cuidar da árvore sem responsabilidade
para do fruto ensinar o tempo para outra criança?

Lascaux

um poema
é o masculino
de
solidão
sólido
possível
numa vida de invenção

todos
se esquecem que sonhavam e tratam o poeta como se fosse ele o louco?

a única prova concreta da existência do homem é sua arte!

o segredo

...não se trata de
escrever
é apenas um subterfúgio
para não gemer
esconder
mesmo minimamente
o sofrer de viver
e
continuar
vivendo
sem esmorecer
sem se entregar à dor
da solidão de assumir
que nascemos sozinhos
e de algum modo desconhecido
morreremos sozinhos...

essa sabedoria no entanto tem de nos impulsionar,
esse o segredo

doce de manga

por sobrevivência aprendi os números os mundos quando sem saber almejava às letras inteiras serenas que acalmariam minha doce sofreguidão doce de manga sobra no lábio como oração

tardes de maio

em quantos olhares se resume uma existência feliz?
sempre nos recolhemos quando estamos tristes?
um simples abraço não dado às vezes encerra uma amizade?
quantas tardes de maio foram preciso para chegar a essas perguntas?

segunda-feira, 12 de março de 2012

pura poesia pura

todo o mundo o mundo todo deveria escrever reler nas próprias lágrimas as próprias palavras sem se preocupar em tingir-se em atingir sem se corrigir apenas escrever o pão, o ônibus, a conversa, demonstrando o tamanho da solidão que podemos compartilhar a qualquer hora...isso nos devolve à nossa melodia isso é pura poesia pura

casca

super fluido
não supérfluo
o fluxo do pensamento
no tempo da razão
superando idiossincrasias
meditando sobre manias
adquirindo o tempo da casca do argumento longevo

graxa

tempo, agruras e argumentos
são
contra a produção
de um passado novo
cheirando a bolo de razão

futuro cristalino
das memórias de menino
sendo lustrado com
a graxa
ilusão

domingo, 11 de março de 2012

Rainer Maria Rilke, sábias palavras (2)

(...)
No palco, se não for de forma tendenciosa ou enfática, pode ser anunciada a nova vida, ou seja, também ser transmitida àqueles que não aprendem seus gestos por impulso e força próprios.Eles não devem ser convertidos pelo esforço do palco. Mas pelo menos devem saber: isso existe em nosso tempo, bem junto de nós. O que já é felicidade bastante.

Ele tem quase o significado de uma religião, esse conhecimento: que, tão logo se encontre a melodia do fundo, não se está mais perdido em suas palavras e impreciso nas decisões. Há uma despreocupada segurança na simples convicção de ser parte de uma melodia, ou seja, possuir por direito um espaço determinado e ter um determinado dever numa obra vasta, na qual o menor tem o mesmo valor que o maior. Não ser supérfluo -- esta a primeira condição para um desenvolvimento consciente e tranquilo.

De toda discórdia e engano decorre o fato de que as pessoas procuram o que há de comum em si, em vez de fazê-lo nas coisas por trás de si, na luz, na paisagem, no começo e na morte. Assim, perdem a si mesmas e não ganham nada com isso. Misturam-se por não poderem, de fato, unir-se. Mantêm-se juntas e mesmo assim não podem pisar firme, pois ambas oscilam e são fracas; e neste recíproco querer apoiar-se gastam toda a sua força, de modo que, exteriormente, não se pode pressentir sequer a batida de uma onda.

Com Neruda

Há amor quando o cheiro de sal não afasta nossos olhos de mar quando acabar é apenas um verbo e não um sentimento há amor quando dedos emitem o calor de argumentos de sorvetes de beijos quando o céu é sempre azul não importando o cinza do mar há amor quando o voo do pássaro passa a ser uma desculpa para a ternura de sentir seu perfume na maresia há amor quando vejo nas marcas do pescoço uma vida sendo vivida sem explicações sem duras desculpas da falta de tempo curtidos sapatos desgastados por caminhadas de mãos dadas fazem do amor um sobrevivente numa ilha de coqueiros ilusão compartilhada que um poema de Neruda nos deu em oportunidade

dois gatos

nas fotos penduradas diante desse computador veio uma dor pelo passado que passou tão rápido que trouxe bigodes a dois gatos que já não miam cantam o arrepio dessa louca vida solitária vida que temos de primatas piratas cibernéticos de palavras sem rouquidão

sérvios

senhor solitário sempre certo segue somente seu silvo sigo sendo servo sincero sibilando sucessos sérvios sufocados

batalha

...às vezes chateado
com o excesso de peso...
às vezes me excedo
e cresço em explicações solitárias
penso tanto e não escrevo
depois me arrependo das ideias desperdiçadas...
sempre é uma batalha começar
há a preguiça a vigília noturna
há dissabores e alguns calores
que não cessam
mas
sempre me vejo tranquilo
porque todos os dias
faço o melhor que posso
o melhor que possuo
sempre está sendo entregue em rimas

(e não me arrependo de ter começado...)

Segundos livros, destaques do PENSAMENTOS EM MOVIMENTO - Selvageria

SELVAGERIA

A latente selvageria do homem
Selvagem agressividade
Talvez
seja o motivo imanente
que tenha feito o menino correr
para escrevendo
se proteger
talvez
seja esse o motivo tão repentino
de tão desatinada produção
falar ao coração deve ser bom
mas não pode nem deve
ser a última explicação
homenagem a meu irmão
coragem de expulsão
dos demônios, exteriores
coquetel de solidão, interior
mais um pouco de vaidade
(disse vaidade!)
Compuseram a receita
Agressivamente romântica
Desse escrevinhador
Que vos escreve
Selvageria bacana
Ingenuidade quintana
Drummondiana
a serviço da
Pessoa
que em frente a vós
se amolece
no ritmo do mar
a pretender
camonianamente
afrontar vosso olhar fremente
para placidamente
ganhar mais um amigo
a proteger o dolente menino
que se esconde a escrever
freqüentes versos
sobre o amor
que sente
(invasor)
por habitar
sem se desculpar
o corpo do homem
selvagem!

Segundos livros, destaques do PENSAMENTOS EM MOVIMENTO - Plásticos Enigmáticos

PLÁSTICOS ENIGMÁTICOS

Senhores
Artistas
Plásticos
São plásticos
Não nos empulhem
Com privadas de cabeça para baixo
Porque pode ser que não entendamos de arte
Mas também não pensem que somos idiotas
A arte Moderna
Na opinião desse integrante
Do público não entendedor de arte conceitual
Deveria se voltar para o tradicional
Seria moderna quando voltasse a despertar
Uma coisa espetacular para alguns deles desconhecida
A antiga sensação de emocionar o espectador
Chocar
Não é emocionar
Propositar o não entendimento
Desculpem
Não dá para aturar
Façam algo novo
Com qualidade
Não pintura de macaco pré-histórico
Algumas obras
se comparadas às pinturas rupestres
Encheriam de vergonha os neandertais
Por imaginarem-se
mal evoluídos na andança Darwiniana
Então vamos combinar
Pela milházima vez
Não façam dos nossos olhos penicos
Nos tratem com o devido respeito
Tentem aprender com os grandes mestres
A produzir algo que fale às nossas emoções!

Segundos livros, destaques do PENSAMENTOS EM MOVIMENTO - Escultura

ESCULTURA

Início
Emdifnvobmdksgnjudskslslidfnf
Ptkfidgm vlcvistafsbdmcldusysh
Mdjfopttlmnagtsudfllff
Mdyfbfmmv
Eidjncncnc
]dmdjkf
Dovvple
Kdlffç

Meio
Jdnfvlf
Estoutentandoarrumar
Mekdhjslçmfnvj
Amnhdudepç
Maisnãoseinoquevaidar
Mdjchk

Abcdefghijlmnopqrestuvxz
Consegui!
fim

Segundos livros, destaques do PENSAMENTOS EM MOVIMENTO - Cegueira

CEGUEIRA

Cá estou
Cego
A sentir e ouvir
Histórias de desamor
Ignomínia
Maldade
Descobri com pavor
Do que nós humanos
Somos capazes
Em qualquer idade
Quando a situação aperta
Fique alerta
Se não vão querer
Comer seu coração
Os desalmados
Necessitam
da nossa ingenuidade
da nossa coragem de fazer
para dela se alimentar
e tentar viver
uma vida menos sofrida
menos poluída
por seus pensamentos torpes
alva cegueira
em um mundo escuro e feroz
habitado por pessoas
cujo sentimento frio e atroz
passa a ser o desejado
para manter a tênue sensação
de que sem razão
fica menos difícil sobreviver
(fraca afirmação
para quem vai morrer
de qualquer modo)
escolher não se enamorar
pela vida e pelas pessoas
que são encaradas como inimigas
ou amigas para o deleite do sexo sem prazer
apenas por medo de morrer
Quem está cego
Eu que enxergo
e pago para não me aborrecer?
Ou você
Que não quer enxergar
Para não dissipar
a obscura sensação
de prazer?

Segundos livros, destaques do PENSAMENTOS EM MOVIMENTO - Bacon

BACON

A violenta realidade
Pictoricamente
Cinematográfica de Bacon
Exerce fascínio
Tão grande
Que de gigantes
Nos fazemos
Para tentarmos entendê-lo
Nas suas mórbidas faces
Descarnadas
Somos mutantes
desalmados
Se não ampliarmos
Descarados
Nossa mente senil
Ao olharmos
Estupefatos
Trípticos cinematográficos
De artista
Tão violentamente brutal
Afinal
Mesmo sabedores
Da complexidade do seu imaginário
Não devemos
Deixar de nos sentirmos
Ultrajados
Com tão dura realidade
Ao constatarmos
Sermos nós
Os enquadrados
(Parados
no tempo)
pela imagem
em movimento!


(POEMEU FEITO APÓS LEITURA SOBRE O PINTOR INGLÊS FRANCIS BACON, FAMOSO PELOS TRÍPTICOS, QUE ME LEVARAM A LANÇAR 3 LIVROS SIMULTANEAMENTE)

sabores poéticos

experimentando sabores
curando dores
salivando flores
plantando amores
tudo
com a palma da mão
tudo com a força
(poética)
de uma ilusão
(de palavras)

Segundos livros, destaques do INTENSAIDADE - Ensinamentos

ENSINAMENTOS

Não se engane
Você chama a roda de roda
Porque te ensinaram
Que o nome daquele objeto
É roda
Não se engane
Você chama a cadeira de cadeira
Porque te ensinaram
Que o nome daquele objeto
É cadeira
Não se engane
Você chama o machado de machado
Porque te ensinaram
Que o nome daquele objeto
É machado
E o amor, quem te ensinou?

Segundos livros, destaques do INTENSAIDADE - Punk Poema

PUNK POEMA


“Sexo e caratê na minha TV...
sexo e caratê, sexo e caratê,
sexo e caratê, sexo e caratê!”
Grande Plebe Rude
Punk na veia
Mal-comparando
É como escrevo
Direto sem muita frescura
Às vezes saem coisas de amor
Outras de dor
Aqui e ali
Pitadas de sexo, caratê
Violência
Amores perros
Pero no mucho, amor!
Raiva, ira, alegria
Mais tristeza, sangue, suor
E muitas, muitas lágrimas
De tudo que quis e não tive
Tudo impresso
para ninguém esquecer
Que amar é sofrer
Que poucos dão o perdão
Que a vida acaba sendo
um pouco só de
Sexo e caratê!

Segundos livros, destaques do INTENSAIDADE - Nomes

NOMES

O relacionamento começou
Já faz algum tempo
Duas pessoas
Se querendo
Sem saber como levar a vida
Com emoção
Como fazer
para deixar de se estressar
com as regras
impostas pela vida
se sentido confusas
absurdas sensações
insatisfações obtusas
demonstrações desorientadas
uma era regrada
como se tivesse estudado em colégio de freira
a outra depravada
livre para voar
e se dar
doar até cansar suas emoções
livres sensações obtusas
absurdas insatisfações com o ritmo da vida
como chegaram até aqui
todos desconhecem
o nobre desejo
confuso ensejo
de caminharem para chegar
nesse momento
ocasião de decidir
seguir em frente
para contar
um pouco da história
de suas vidas juntas
começaram a divergir
não conseguiam interagir
para arrumar a confissão
de como e porque se amavam
decidiram sortear
um modo de começar a falar
e sem conseguirem estabelecer
uma finalidade
e também para não revelar a idade
decidiram
só seus nomes contar:
crônica e poética!

Segundos livros, destaques do INTENSAIDADE - Choro Impresso

CHORO IMPRESSO

O choro impresso
Não é melhor
nem pior
que nenhum outro
Todos são sofridos
Tem o choro chorado
choro molhado
choro mastigado
choro apertado
choro fadigado
choro fadado
ao fracasso
ao sucesso
O reverso da moeda
é quando se dá
Da pessoa
não se aceitar
Chorar
Amar
Pois
Amar é sofrer
Chorar é sofrer
Sofrimento é para todos
“ seja rico,
seja pobre
o velhinho (sofrimento)
sempre vem...”
Não dá pra segurar meu irmão
Solte o choro de sua emoção
Esvazie o peito
Chore até se acabar
Para depois recomeçar
Mais forte e veloz
A praticar
Tudo que a vida estava
esperando para te mostrar
mais não uma espera à toa
ela precisou de paciência
para te ver crescer
amadurecer
para poder chorar
o choro impresso do poeta!

Segundos livros, destaques do INTENSAIDADE - Camões e Eu e Camões

CAMÕES E EU E CAMÕES

Olhando vossa inclinação divina
Tão decantada e prezada
Raramente presente
Na boca dos pequenos
Das artes bélicas
Que viram em largos anos, largos meses
Os portugueses e ingleses
Sonhando
Imaginando
Tua presença de musa
Medusa
Com sangue fervente
Vinda de um império preeminente
Ando com passo diligente
Com toda ambição
Do não vencido
Para te encontrar
Levando minha frota
A navegar
Na parte mais remota do
Teu mar!

Segundos livros, destaques do DECLAMADOR DE SONHOS - Precisar Chorar

PRECISAR CHORAR

Mil vezes chorei
Passei a acreditar
Não precisar sonhar
Mil vezes te amei
Sonhei acreditar
Não precisar chorar
Mil vezes acreditei
Que em mim sonhar iria acabar
Preciso sonhar
Preciso acreditar
Preciso chorar

Segundos livros, destaques do DECLAMADOR DE SONHOS - Estofador

ESTOFADOR

Senhor
Sou um humilde estofador
Vivia de estofar
Cadeiras e sofás
Que serviam para mobiliar
As casas das pessoas com posses
Sem pose
peço ao doutor
uma chance
para rever meu amor
voltando para minha cidade
do interior
do Rio de Janeiro
talvez em fevereiro
já tenha condições de reatar
minha vida com Adélia
paixão da minha simples
mas preciosa vida
querida
que sempre me deu forças
para trabalhar e brigar
pelos meus simples sonhos
de simples estofador
que estofa
sofás e cadeiras
das casas das pessoas com posses
sem porém
ter um lar
onde morar...

Segundos livros, destaques do DECLAMADOR DE SONHOS - Enigmático

ENIGMÁTICO

Plácido
Seu toque
no meu rosto
Sensação de vazio
Se esvaindo
Tenho vontade de chorar
Por não te merecer
Enigmático
A pensar
naquilo
que sei dever
te dizer
Flácidos
Músculos
não conseguem
me impulsionar
para dizer que
ainda te amo
Contínuos toques
Estoques vários
Atingindo meu coração
Por falta de coragem
Para perguntar
O que sentes
Mentes
Desconexas
Sem saber
Para onde ir
Quem comandará
Nossa direção
Nesse
Bólido
Possante
em alta velocidade
para o agitado
final
do nosso
tempo!

Segundos livros, destaques do DECLAMADOR DE SONHOS - Desvantagens Categóricas

DESVANTAGENS CATEGÓRICAS

Qual é a vantagem de saber tudo sobre orquídeas
Se você nem tem uma margarida para regar
Qual é a vantagem de conhecer diversos países
Se você desconhece a situação dos moradores do morro ao seu lado
Qual é a vantagem de saber tudo sobre jazz
Se você não se emociona com o barulho das crianças brincando
Qual é a vantagem de saber sobre os pintores renascentistas
Se você não pinta com lápis de cera com seu filho
Qual é a vantagem de escrever
Se você não quer se mostrar
Demonstrar teorias e conspirações
Desejos e frustrações
Qual é a vantagem?

Segundos livros, destaques do DECLAMADOR DE SONHOS - Branco

BRANCO

Puro sentimento
de desalento
me invade
quando ao acordar
vejo o relógio e constato
ter passado em branco
toda a madrugada
não foi a primeira vez
nem será a última
que passo em claro
olhando pro armário
sem ter idéia de nada
para fazer nem escrever
os minutos não passam
e eu alvo e cândido
fico no meu canto
desejando
desejando
poder tecer as tramas
de um tapete imaginário
que me levasse rumo ao mágico
mundo da emoção
imaginação fervente
incandescente
toma conta de mim
isso me tira do sério
despautério
acreditar
ter condição
de daqui do meu chão
poder fazer
você voar
nas asas
da minha
imaginação!

Destaques dos três primeiros livros -- Próprio Amor (Próprio Amor)

PRÓPRIO AMOR

Como diminuir
O amor
Que sinto
Por mim
Próprio amor
Apenas por mim sentido
Encarregado de me levar a algum lugar
Um lugar
Que não sei
Nunca saberei
Aonde vai dar
Sujeito estou
A morrer de próprio amor?
Desígnios de algo maior
Com o qual não sei lidar
Amar
Lutar (adiantará?)
Comandam meu
Amor-próprio
me ajude a navegar
sem adernar
sem me sufocar
em meu próprio querer
Querer-te
A ti como quero a mim
É a parte mais difícil
Deslembrar
Da minha história
Pode parecer bonito
mas é mentiroso
Deslumbrar-me
Com a sua história é mentiroso
mas parece bonito
esmiúço meus sentimentos
sobre nós
e não encontro resposta
Então, pergunto-te
Como teu amor-próprio
Conviverá com o meu próprio amor?

Destaques dos três primeiros livros -- Próprio Amor (Perguntas sem Respostas)

PERGUNTAS SEM RESPOSTAS

Como amanhecer sem você?
Como entardecer sem saber qual meu lugar?
Como anoitecer sem prazer?

Como amanhecer sem prazer?
Como entardecer sem sentir o sabor de seu beijo?
Como anoitecer sabendo não mais te ter?

Como amanhecer sabendo não mais te ter?
Como entardecer sem saber pra onde olhar?
Como anoitecer sem o calor do teu corpo?

Como amanhecer sem o calor do teu corpo?
Como entardecer sem te encontrar na multidão?
Como anoitecer sem paixão?

Como amanhecer sem paixão?
Como entardecer achando nunca mais te ver?
Como anoitecer vendo cada vez mais de perto o amanhecer?

Como amanhecer sem anoitecer?
Como entardecer sem amanhecer?
Como anoitecer sem entardecer?

Destaques dos três primeiros livros -- Próprio Amor (Flash-Back)

FLASH-BACK

Terminando essa oração
A tudo e a todos que me fizeram escrever
Com amor e ódio!
Escrevendo com paixão
Homenagem ao meu irmão
Emoção com tudo que já tinha lido e ouvido (deve ser a meia-idade)
Me emocionando com o nascimento
Trocando impressões sobre a vida com meu amigo Luiz
Descoberta do samba, com todos os feras: Arlindo, Exalta, Revelação
E os mestres, Cartola, cavaquinho, da viola e da vila
Coleção de CDs de Jazz and Blues
Stevie Ray Vaughan , Clapton e BBKing, por óbvio
Almodóvar, alguns filmes italianos e pouquíssimos franceses
Ouvindo a nova MPB, Lenine, Moska, Baleiro, Vander Lee,
E os meus contemporâneos do Brock: Paralamas, essencialmente
Lendo Ruben Fonseca
Sabendo dos novos poetas, tipo o filho do fulano
Ouvindo Jazz, principalmente Miles Davis e lendo sobre
Matisse e Picasso
Lendo Drummond e escutando Djavan e Rita Lee
Led Zeppelin, Deep Purple
Construindo a casa e a vida
Pai e marido, com as suas obrigações
Ouvindo música e namorando
Ítalo Rossi, em Artaud
Dez anos jogando bola e ouvindo música
Ouvindo sobre teatro com Handrey
Fantasiando como seria o teste
para Pedrinho do Sitío do Pica-pau amarelo
que acabei não fazendo (acho que passaria!)
Fantasiado de Tio Sam no Baltazar Bernardino, aos 8 anos...

Destaques dos três primeiros livros -- Próprio Amor (Choro da Menina)

CHORO DA MENINA


Morna maré
Mar aberto
Brinquedo boiando
Lembra criança chorando
Amores adiados
Desejos
Adormecidos
Pais
Avó Menina Mulher
Boiando aberta
Brincando morno
Lembra maré
Criança adormecida chorando
Mar de desejos adiados
Desejos boiando chorando
Amores mornos adormecidos
Clamando
Esperando o choro da menina
Que só expiará a culpa que não tem
Quando se afogar em lágrimas
Ajoelhada e
Gritar aos céus
Amar
Desejos
Adormecidos
Pais
Avó Menina Mulher!

Destaques dos três primeiros livros -- Próprio Amor (Amores)

AMORES

O amor pode ser sentido
De várias formas
e nas várias idades
do ser humano
tem o amor do garoto pela garota
mais bonita da escola
ou talvez
a mais bonita para ele
tem o amor
do aluno pela professora
tem o do professor
pela professora ou diretora
tem o amor entre adolescentes
com muito chiclete e rock and roll
tem amor de jovens
com muitas brigas
pela quantidade dos envolvidos
tem amor adulto
que acaba em casamento
olhando o firmamento
esperando a chegada de um BB
que não é o BB king, rei do blues.
Tem amor de idade avançada
A terceira idade
A melhor idade para ir para o céu
Comer pastel e amar quem se quer
Sem cobranças
Taxas ou impostos
Apenas lugar
Para se amar pelo amor
Sentido
Amor por amor
Amor-próprio
Amor a Deus
Amor, adeus!

Destaques dos três primeiros livros -- Oculto (Sinais)

SINAIS

Espaço
preciso de espaço
para respirar
para comprovar
a importância da minha existência
não me sinto
tranquilo
rodeado por vocês
com os quais
não quero
não preciso
estar
me juntar
abafar
o grito
preso
Admito
tenho inveja
do espaço
por vocês alcançado
não quero me sentir
apertado
sufocado
quero ter
reconhecido
meu valor
simplesmente
pelo que sou
;

Destaques dos três primeiros livros -- Oculto (Precioso Amor)

PRECIOSO AMOR

Ouro, prata e bronze
metais
menos preciosos que ti
para ti
sempre
terei amor
eterna
província
(cis)platina
da vida minha
Ouro é o amor que enlaça teu coração
Prata e o adorno que sou para sua emoção
Terra rara
Cobre
do meu coração
de ferro
A sensação
de nunca
te fazer sofrer
Nobre
razão
do meu viver!

Destaques dos três primeiros livros -- Oculto (Noites mal dormidas)

NOITES MAL DORMIDAS

Noites mal dormidas
Por amor
Noites mal dormidas
Por cuidar
sem se incomodar
com nada
Noites mal dormidas
Sem se levar em consideração
Como agradecer
A quem se preocupou
Sem se importar
Em estarmos juntos
No futuro
Como agradecer
As noites de sábado mal dormidas
Sem estarmos nos amando
Os domingos pela manhã
Com atenciosos beijos e abraços de saudade
Agradecer
À pessoa
Que me fez chegar
pensando
é o mínimo
e muito difícil
assumir
o amor incondicional
peço perdão se demorou
mas antes tarde do que nunca
Mãe, te Amo!

Destaques dos três primeiros livros -- Oculto (Navegação)

NAVEGAÇÃO

Marco
de tinta
No rio
Calmo
Plácido
Dos seus sonhos
Navego
com meu barco
pelas bordas da folha
com medo de sair
dos limites a nós
impostos
pela vida!

Destaques dos três primeiros livros -- Oculto (Minha Linda Beatriz)

MINHA LINDA BEATRIZ

Eu gostava
Que tu fosses ao parque comigo, dindo
Eu gostava
Que tu comprasses gelado para mim, dindo
Eu gostava
Que tu me visses
quando eu estivesse a andar de patinete, dindo
Eu gostava
Que tu me desses toalitas para me limpar, dindo
Eu gostava
Que tu me levasses para assistir o kung fu panda, dindo

Minha linda,
Pare de tirar macaquinhas do nariz
Minha linda,
Venha limpar a boca
Minha linda,
Cuidado para não cair na areia
Minha linda,
Não ponha o papel no chão
Minha linda,
Eu vou ao cinema com você

Dindo, eu gostava que tu parasses de chorar
Minha linda,
Anda cá
Para eu te abraçar
E dizer que eu choro
Por já sentir saudade de você
Saudade, palavra que eu gostava que não existisse!

Destaques dos três primeiros livros -- Dentro de Mim (Poemas)

POEMAS

Os poemas jorram de mim
O difícil é explicar
o porquê das roupas molhadas
quem entenderá
o motivo de tantas letras penduradas
por todo o meu corpo
é impossível explicar
aos que não têm
tempo
para pensar
na importância do sofrer
para crescer
e se dar atenção
Já não quero agradar
Procurando explicações
onde só há emoções
e sentimentos
a recolher
impostos
apenas pelo bem-querer
ao próximo
e a mim mesmo
então
ficamos desse jeito:
estou molhado de tanto chorar...

Destaques dos três primeiros livros -- Dentro de Mim (Jazz and Blues)

JAZZ AND BLUES

Sexo, drogas e rock and roll
Era o lema dos doidões de ocasião
Jazz and blues, lema dos eternos loucos
Dispostos a tudo por amor
Se blues é saudade
Jazz é ansiedade
Já dizia o poeta
Loucos não têm idade
Para aprontar das suas
Assumem a própria fúria
De manifestar suas vontades
Dar cabo dos acepipes
Do banquete que é a vida
Ciúmes são tirados de letra
Qual tabela entre craques
Zico, Riva e Sócrates
Invadindo a área alheia
Para desespero dos zagueiros
Grandalhões
Sem ginga
Sem paixão
Pelo grande esporte bretão
Em que lugar em
Que se plantando tudo dá
Consegue-se formar
Guinga, Baleiro, Buarque
Veloso, Gil e Jobim?
Criadores de grandes melodias
Em harmonias jamais copiadas
Dominguinhos é uma parada
tocando o tal do jazz
Botou no chinelo os gringos
com graça
Sem esforço e compaixão
Quem mandou aprender com o rei do baião?
Grande país em que se
Plantando lirismo tudo dá!

Destaques dos três primeiros livros -- Dentro de Mim (Frederico)

FREDERICO

Depois que você partiu
Difícil foi prosseguir
Mas continuar é preciso
Como é preciso amar
Como é preciso ensinar uma criança a andar, falar, comer...
Como é preciso aprender a caminhar
Sem rumo e sem vontade.
Só.
Depois que você partiu
Difícil foi prosseguir
Nada se mostrava
Interessante era
Pensar em você aqui
Junto aos seus
Que sempre te quiseram --
Querem, por perto
Apesar de quase sempre
Negar a palavra
Do afeto
Esquecida.
Lágrimas vertidas
Enxugadas em sangue e suor.
Sem você tudo mudou
Todos estamos
Condenados a esperar
o enlace final
que a seu tempo chegará
Então aprenderemos
Juntos
A amar, caminhar, navegar....
Com prumo e com coragem
Rumo a você.

Destaques dos três primeiros livros -- Dentro de Mim (Fim ou Início)

FIM ou INÍCIO

Depois de escrever
Sentimentos e emoções
Erros e acertos
Na caminhada
Da vida
Sinto-me vazio
Porém feliz!
Chorados todos os
Que se foram
Amados
os que ficaram
Nada resta a fazer
Se não recomeçar
Escolher
novos caminhos
Repensar
Valores
Testar
novos sabores
Retirar
Os espinhos
Das flores
Que trago em mim!

Destaques dos três primeiros livros -- Dentro de Mim (Estações)

ESTAÇÕES


Fruta
Madura
Manga
Sorvida
Boca
Molhada
Primavera e Verão!
Suspiro
Beijo
Partido
Sofreguidão!
Mãos
Dadas
Pernas
Cruzadas
Fôlego
Suspenso.
Tensão!
Primavera
Outono e Inverno,
Nascimento e
Morte
Choro
Vida
Saudade!
Corrida
Sorriso
Juntos
Na chuva
Trovão!
Cabelo
Despenteado
Arrepio,
Choque
De corpos
Atraídos
Toda estação!

dura lição

...o caminho é...
o caminho é...

não há caminho
se não há lembrança do ninho
o passarinho
antes lembra do tamanho do bico da mãe
depois da minhoca amassada
antes de voar
temos de aprender a voar
os livros
não nos ensinam nada
a prática
é amiga da perfeição
antes de voar temos de ir ver a dureza do chão

(aqueles que se esquecem disso nunca se iluminarão da luz da lua numa noite de ilusão)

sábado, 10 de março de 2012

risadas

minha solidão é minha
mais pode ouvir a sua
não pode no entanto se apropriar de tudo
pode
bailar
beijar
balançar
até adorar, talvez
mas
nunca irá levá-la de você
sua solidão é sua, não minha
minha solidão é minha, não sua
ambas são melodias
que só tocam nos ouvidos dos donos
são adornos, tatuagens sonoras
que carregamos
sem misturas
mas
com afeto podemos
nos tocar
nos amar
nos acasalar
fazendo
poesia e melodia
das risadas gostosas
dos suspiros sonoros
que rimos

motorista

...não sei o que quis dizer nesse outro poema...
mais sei que quis dizer algo

(mais importante do que dizer
é querer dizer
mais importante do que viver
é querer suportar o peso da vida
mais importante do que amar é querer amar

querer é algo tão forte que nos habilita a viver)

melodias

...ouve?

...escuta?

essa melodia
é a da luta diária
canção
do dia a dia
que nos nina
que nos incita a lutar

...imagino...

...imagina?

a dificuldade de suportar
a dança feroz da vida
sozinhos

nunca!

nascemos para dividir nosso destino!

Rainer Maria Rilke, sábias palavras

(...)
Lembre-se de pessoas que você encontrou juntas, sem que tivessem ao redor de si uma hora compartilhada. Por exemplo, parentes que se encontram em torno do leito de morte de uma pessoa realmente amada. Aí uma pessoa vive nesta lembrança, e a outra, naquela lembrança profunda. Suas palavras passam umas pelas outras, sem que saibam uma da outra. Suas mãso se desencontram no primeiro embaraço -- até que a dor por trás delas se amplie. Sentam-se, abaixam a cabeça e silenciam. Sobre elas, um rumor como na floresta. E estão próximas umas das outras, como nunca antes.

Do contrário, se uma dor forte não calar de pronto as pessoas, uma escuta mais da poderosa melodia do fundo a outra menos. Muitas nem sequer escutam mais. São como árvores que esqueceram suas raízes e então acham que o rumorejar de seus galhos é sua força e sua vida. Algumas pessoas não têm tempo de ouvi-las. Não toleram nenhuma hora ao seu redor. São pobres apátridas que perderam o sentido da existência. Batem as teclas dos dias e tocam sempre o mesmo tom monótono e perdido.

Se quisermos, portanto, nos iniciar nos segredos da vida, é preciso pensar em dois aspectos:
Um deles, a grande melodia, da qual participam coisas e aromas, sentimentos e passados, crepúsculos e desejos; e então: as vozes de cada um, que completam e aperfeiçoam todo esse coro.
E para fundar uma obra de arte ( ou seja: uma imagem da vida mais profunda da vivência, mais do que de hoje, sempre possível em todos os tempos) será necessário relacionar corretamente e equilibrar as duas vozes: uma, a daquela hora em questão, e a outra, de um grupo de pessoas dentro dela.
(...)

Sobrinho

A Bernardo

sobrinho poeta eu queria te dizer que a vida é fácil mas não é e sei que você já sabe quando ainda não deveria saber não lhe ensinarei a dor da distância pois ela já está em você e seus olhos de fado não me deixam mentir mas seu sorriso de garoto lindo é um aviso de sua coragem sinal de que tudo se arranjará com a vontade dos fortes que você traz no peito suas palavras de poeta menino são um sino badalando sempre para mim saiba que também tenho medo e compartilhamos esse segredo vivendo de olhos e ouvidos atentos um para o outro como dois amigos que não podem se abraçar mas que sabem que podem lutar e seguir a vida juntos para sempre enquanto o sempre existir em nossas rimas

sexta-feira, 9 de março de 2012

Dante

ontem descobri que um livro feito de palavras erradas com a paginação trocada pode ser tão importante quanto qualquer obra de Dante tão grande quanto qualquer elefante tão enorme quanto qualquer jiboia no bote um livro feito com o carinho de uma criança que ainda não sabe escrever mas já sabe o tamanho do que queremos ler

cubo

...noves fora, raiz cúbica...
tanta preocupação com números de telefone da conta do banco do saldo da poupança enquanto nossos sonhos são imagens da infância época em que brincávamos mais com a caixa do que com o brinquedo época que um dinossauro era uma barata época de felicidade por ingenuidade resgatada pelos artistas em suas obras de arte

musa

o aceno da hipotenusa
tagenciou em mim
um acesso
de cosseno
sendo
cateto

ingredientes

uma declaração, qualquer que seja, precisa de palavras

uma declaração de amor não precisa de palavras
pode ser exata com os ingredientes
olhos sem tempo
perfume de desejo
sussurro de vento
queixos suculentos
corpos ardendo
mãos e pés acessos

aceno

...insuportável
o calor
o pavor
o ardor
o cobertor
o sabor
o favor
o suador
o aceno

quinta-feira, 8 de março de 2012

Amém

Às mulheres

um dia
um homem entenderá
a missão divina
de repartir o fruto
tendo antes carregado-o
então
a partir desse entendimento
conseguirá atingir um mínimo de sabedoria de mãe
para conseguir amar
antes
de conhecer quem

a m (or)

antes do voo
o casulo
indicava o processo de transformação
antes da mentira
deslavada
a boca sorria
indicando a ferida
antes da palavra
a letra
a e o m já indicavam
o sentimento
da escrita

so mente

sempre sempre há um somente
sempre um só mente a si
sempre há alguém só
sempre a mente tende a mentir para si
a mente sempre sente e sente e como sente a solidão do sentir

bocas

devo ir
devir
devoto à imaginação
superar
o azul do céu
superar a exaustão da solidão
e produzir
toneladas de desejos
em bocas sem beijo

quarta-feira, 7 de março de 2012

borboleta

aqui
é
escuro

luzes
me incomodam

o aperto
é
de certo modo necessário

um pingo numa letra
por vezes é um estuário

às vezes balanço
avanço
pensamentos
voam
e me aquecem

o som a sombra
o certo o incerto
tudo
valoriza minha solidão

e desde que comecei a me entender
acredito acredito acredito
piamente
no devir

só assim devo atingir o sol
sendo natureza

perfume

...é uma mistura de paz
e quais
são as razões que nos fazem ter de fazer
escrever é uma mistura de tudo o que vivemos
sorrisos
sóis
chuvas
sentimentos
olhares
gostos
turvos pedaços de mundo
e ao menos temos essa válvula de escape
perfume da solidão
que adorna nossa ilusão de continuar

terça-feira, 6 de março de 2012

cafuné

À Rilke

Quando Rilke disse ao jovem poeta ser necessário saber o tamanho da vontade de escrever e de que também era preciso se acostumar com o tamanho da própria solidão, pois o poeta escreve sobre o passado -- com a coragem da criança que desconhece o sabor da vingança -- para o futuro, tempo temido pelos duros de coração, tudo se aclarou e passei a entender que explicações não são devidas...o poeta apenas lambe as próprias feridas e segue escrevendo e inventando um modo próprio de se balançar em cafuné.

o trabalho

não me importo se repito
a calça
se as meias são sempre
marrons
iguais aos sapatos
troco de camisa todos os dias para ir para o trabalho
(isso eu sei)

sei o caminho e o barulho de casa e o tamanho do amor que me faz retornar

dúvidas

as pessoas conseguem entender o que querem
ou só querem aquilo que não entendem?
desculpe perguntar
é que fui treinado a me perder
e agora
de uns tempos para cá querem que eu ache
sobre coisas que ainda não consigo entender
as pessoas se ferem com o que não entendem
e não entendem aquilo que não querem entender?
pergunto para não responder?

segunda-feira, 5 de março de 2012

verdejo

quem lista idiossincrasias?
o artista
quem quer o telefone da poetisa?
o artista
quem quer se ver pelo espelho sem medo?
o artista
quem aprendeu a rimar verde com desejo?
o artista

força motriz

poderia estar num bar
olhando a paisagem
barata
poderia estar matando insetos num banco de praça
poderia ter escolhido fingir de louco
poderia amassar um dedo ficando coxo

nada fiz
e na escrita
inventei uma força motriz

lobo

...preciso...
preciso mais de olhos do que de boca
me alimento das lágrimas que não querem parar
todo dia é uma viciante alegria de
ter com quem conversar
e verso e anverso e diverso sem parar
me alimento de letras
me alimento da luz das estrelas
que inventei para mim
brinco de acreditar
sendo assim
não tenho vontade de dormir
só desejo me cobrir da lua
esperando fazer do uivo do lobo
canção

atávico

quanto de passado está presente em mim?
quanto carrego para o próximo passo?

esse peso que sinto é
das pernas cansadas
ou do medo atávico?

espetáculo

enquanto nada acontece
aconteço em mim
enquanto nado
penso
enquanto pedalo
canto
enquanto corro
solto
todos os neurônios
e
treino
a vonatde de não ter fim

frutífera

o passado me deixou um patinete
presente
que me derrubou
e me deu tempo de pensar
em plantar
uma árvore frutífera

o fruto

uma criança
vendo o fruto
do futuro
plantado

o poeta
se dá de presente
a esperança

ternura

sua sombra é um som na minha
decisiva pintura
que esculpe em mim
ternura

marinheiro

pelo cheiro pelo som pelas sombras

costumo andar observando a possibilidade das coisas

enfrento o medo com olhos fechados de desejo

ilhas

uma ação, uma intenção
é uma necessidade ímpar de não me acostumar
com o cheiro de maresia
do mar
de minhas retinas?

estouro

toda luz nasceu de um estouro
de absurdo louvor?
custo do protetor?
de algo que tememos pensar o nome?
no escuro não há custo?
não há o som de sombras?

maçã

Deus se afastou de mim
quando amadureci
caí
aos pés da natureza
e a certeza de ter de voltar
me fez
ter coragem
de tentar
escrever minha história

hóstia

em alguns momentos chegamos cedo
em outros tarde
arde a cura da vida pela arte
consciência plena
de nossas humanidade e carências
de nossas amizades, poucas
e
amenas cenas de desatenção, muitas
uvas no vinho pisado sem comunhão

Rainer Maria Rilke, poeta

O artista é sempre este: um dançarino cujo movimento se rompe na opressão de sua cela. O que não tem espaço em seus passos e no impulso limitado de seu braços, vem na extenuação de seus lábios, ou precisa arranhar nas paredes, com dedos feridos, as linhas ainda não vividas de seu corpo.

domingo, 4 de março de 2012

obra de arte

uma obra é de arte
quando há
consciência e controle
consciência
é a ciência de entender as partes de um todo
qualquer todo humano transmitido pelo artista
gera uma obra quando ele sabe para onde está guiando a sua emoção, quando ele tem o controle da situação

ela e eu

ela
na
tela
não é ela
sou eu
pintando
ela
que inventei para mim
eu
na tela
não sou eu
sou seu
poema que inventei para te conquistar

Ao amigo Weber

JAZZ AND BLUES

Sexo, drogas e rock and roll
Era o lema dos doidões de ocasião
Jazz and blues, lema dos eternos loucos
Dispostos a tudo por amor
Se blues é saudade
Jazz é ansiedade
Já dizia o poeta
Loucos não têm idade
Para aprontar das suas
Assumem a própria fúria
De manifestar suas vontades
Dar cabo dos acepipes
Do banquete que é a vida
Ciúmes são tirados de letra
Qual tabela entre craques
Zico, Riva e Sócrates
Invadindo a área alheia
Para desespero dos zagueiros
Grandalhões
Sem ginga
Sem paixão
Pelo grande esporte bretão
Em que lugar em
Que se plantando tudo dá
Consegue-se formar
Guinga, Baleiro, Buarque
Veloso, Gil e Jobim?
Criadores de grandes melodias
Em harmonias jamais copiadas
Dominguinhos é uma parada
tocando o tal do jazz
Botou no chinelo os gringos
com graça
Sem esforço e compaixão
Quem mandou aprender com o rei do baião?
Grande país em que se
Plantando lirismo tudo dá!

principiante

da dificuldade de dar vida às palavras exerço em mim um fascínio esqueço do frio que sinto em minhas mãos trêmulas emulo um signo masculino e penso no poder do tronco quando derrubado penso em tudo de errado e vejo que escrever é apenas um ato de vontade falho como todos os outros e me sentindo leve começo

Wislawa Szymborska, poeta polonesa

Sob uma estrela pequenina

Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na
memória.

Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por
segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco
de minuetos.
Me desculpe a gente nas estações pelo sono das cinco da
manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas
pequenas.

Verdade, não me dê excessiva atençao.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não poder estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada
uma.

Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro a caminho para mim mesma.
Não me julgue má, fala, por tomar emprestado palavras
patéticas,

e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.

ignorante

de temperamento expansivo
eu não sei a hora das coisas:
não sei a hora de começar a contar uma história
não sei a hora de parar
não sei a hora de comprar comida
não sei a hora de esquentar
não sei a hora de dizer amar
não sei a hora de suspirar
não sei a hora da despedida
não sei a hora da despedida

sábado, 3 de março de 2012

Pensamentos

O espelho reflete o que é real? Esse humano suando sou eu?
Meu nome é meu, o seu é teu e quem sabe verdadeiramente disso?
A nuvem é um instante depois do choro que parece bobo se não é nosso.
Vou me descobrindo e acolho remorsos...
Vou me desnudando em olhos que não sabem, nem querem saber, quantos sou
Repouso num átimo de solidão para ser sol da sua manhã
E continuo de dia pensando ilusão
O esgoto, meu esforço, esgota suor, disfarçado de medo por saber-me eterno só enquanto duro em seus pensamentos

Heartless

a remela nas manhãs é um pouco do mundo...
uma poesia
completa da ousadia de viver
como se o dia fosse eterno
no milagre
repetido
de uma emoção
que nasceu da falta de um coração

face a face

a face escondida num travesseiro
vermelho
a face ruborizada da vergonha palha
por não tentar
a face no face arde de tanta informação
sem noção do que devo fazer
faço
para não dever a mim a tentativa

no sol

lendo poetas portugueses
me veio à mente
que um crente quando descrente corre o perigo de soltar letras incertas amar palavras secretas por medo da excomunhão são somos todos os cegos os certos os brancos os negros contra o tempo todos corremos contra o tempo todo por sabermos...
Não poderíamos curtir o couro no sol dos nossos erros?

passarinhos

ninguém quer brincar comigo
aí brinco sozinho
rimo rio limo frio
desfio desafio
as letras são penas de ninho
as sentenças pernas de passarinhos
que todos deveríamos ser

para voar é necessário sonhar

desafios

se sou louco por não gostar de pouco
o que posso fazer?
se não tenho pretensões prefiro morrer
de fome
de sede
de escassez de sonhos
torpes
burgueses
que sejam mas
sonho
e não sou nem quero ser padeiro chef de nada muito menos de uma cozinha quente de um restaurante qualquer
um pode querer
e quero e corro e cuido de tudo para não queimar-me em desafios

Crazy -- Seal (nova música)

In a church, by the face
He talks about the people going under

Only child know

A man decides after seventy years
That what he goes there for, is to unlock the door
While those around him criticize and sleep
And through a fractal on a breaking wall
I see you my friend, and touch your face again
Miracles will happen as we trip

But we're never gonna survive, unless
We get a little crazy
No we're never gonna survive, unless
We are a little crazy

Crazy yellow people walking through my head
One of them's got a gun, to shoot the other one
And yet together they were friends at school
Ohh, get it, get it, get it, get it no no

If all were there when we first took the pill
Then maybe, then maybe, then maybe, then maybe
Miracles will happen as we speak

But we're never gonna survive unless
We get a little crazy
No we're never gonna survive unless
We are a little crazy
No no, never survive, unless we get a little bit
Oh, a little bitOh, a little bit
OhOhAmanda decides to go along after seventeen years

Oh darlin'In a sky full of people, only some want to fly
Isn't that crazy
In a world full of people, only some want to fly
Isn't that crazy, crazy
In a heaven of people there's only some want to fly
Ain't that crazy
Oh babe, oh darlin'
In a world full of people there's only some want to fly
Isn't that crazy, isn't that crazy, isn't that crazy, isn't that crazy

But were never gonna survive unless, we get a little crazy
No were never gonna to survive unless we are a little
But were never gonna survive unless, we get a little crazy
No were never gonna to survive unless, we are a little, crazy
No no, never survive unless, we get a little bit

And then you see things
The size of which youve never known before
They'll break it

Someday, only child know

Them things
The size of which youve never known before

Someday...Someway...Someday...Someway...Someday...Someway...Someday...
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jogo de pôquer

...é o estudo das horas,
das palavras tortas que definem os recheios que todos temos
é um gosto amargo de fel misturado com o mel de belas recordações
é um mundo azul em horas cinzas de incertezas bestas pelo que nascemos sabendo
é um tolo sentimento de menosprezo quando somos deuses do belo exercício do raciocínio
poesia é tudo isso e muito mais
um ás na manga num jogo (da vida) de pôquer, antes da derrota que virá

António Ramos Rosa, poeta português

A palavra

A palavra é uma estátua submersa,um leopardo que estremece em escuros bosques,uma anémona sobre uma cabeleira.Por vezes é uma estrela que projecta a sua sombra sobre um torso. Ei-la sem destino no clamor da noite, cega e nua,mas vibrante de desejo como uma magnólia molhada.Rápida é a boca que apenas aflora os raios de uma outra luz. Toco-lhe os subtis tornozelos,os cabelos ardentes e vejo uma água límpida numa concha marinha. É sempre um corpo amante e fugidio que canta num mar musical o sangue das vogais. de Acordes(1989)

Ruy Belo, poeta português

TEORIA DA PRESENÇA DE DEUS

Somos seres olhados
Quando os nossos braços ensaiarem um gesto
fora do dia a dia ou não seguirem
a marca deixada pelas rodas dos carros
ao longo da vereda marginada de choupos
na manhã inocente ou na complexa tarde
repetiremos para nós próprios
que somos seres olhados
E haverá nos gestos que nos representam
a unidade de uma nota de violoncelo
E onde quer que estejamos será sempre um terraço

a meia altura

com os ao longe por muito tempo estudados
perfis do monte mário ou de qualquer outro monte
o melhor sítio para saber qualquer coisa da vida

lança

...o verbo se fez carne
e a carne se fez ventre
erro do de repente
fremente
sede
de vingança

lança

windows

um novo livro é uma nova possibilidade um novo começo
não há por quê se falar em ficar parado porque está lendo
um novo livro
é um rebento cheirando a leite de oportunidades uma nova janela um novo uni-
verso
uma invenção de Einstein
ou
um simples pião
de criança
querendo brincar de viver

sexta-feira, 2 de março de 2012

o quadro

esse azul é um antigo conhecido meu
esse amarelo
é um espectro
seu
o vermelho é o medo que sentimos da proximidade
do outro de descobrirem todos nossa intimidade
e arde arde muito fazer arte com todas as sílabas todas as complexidades de um humano que vê um balé nesse quadro que vê a vida inteira se desconstruindo em parte pelas facilidades que chamam arte moderna que vê artista com um pires uma tigela mendigando atenção que vê em toda a ação uma correspondente emoção passada de pés amarrados no presente fingimos não ter passado assim tudo é mistura de tintas sem explicação sem vontade de viver a ilusão que move a vida


(poema baseado na emoção gerada pelo quadro postado)

os egos

onde estão os egos
que me cegam?
que me sigam?
onde estão os cegos
que me erram?
que me irritam?
com a mania surda de ter opinião
sobre tudo o que não entendem
sobretudo sobre o mundo dos que pretendem

gosto de pedra

ilha
de indagações
ego
de constatações
cego
de constelações
sigo sendo eu
mesmo
tendo
de provar
tudo a todos
gosto do gosto
de pedra
queimando mãos

quinta-feira, 1 de março de 2012

SET LIST final

1 -- Sim;

2 -- Pedra;

3 -- Constelação;

4 -- À Cecília;

5 -- O Alvo;

6 -- Brigas;

7 -- Andarilho;

8 -- Desafios;

9 -- Cegos;

10 -- Minas;

11 -- Contra;

12 -- Truques;

13 -- A Saudade e Blues do Medo.