quinta-feira, 29 de março de 2012

Carlos Nejar, poeta (A doma e sua danação)

Animal doméstico,
animal de festa e guerra,
homem,
preso a si mesmo pela cauda ridícula,
preso aos outros pelo movimento da pata,
não tens outra porta ou acomodação necessária
não tens outro tema ou teorema
a modular com as traças.


Teus pais te ngedraram para seres
doméstico.
Uma estrela guiou tua vinda para seres
doméstico.
Cresceste além da sede e da fome
para seres doméstico.
E quando pensaste atingir o infinito, com as
têmporas
ficaste enterrado num sótão doméstico.


Doméstico como os gatos e as moscas,
não pões asco de estar ali
a farejar os pratos
e cheirar por justiça nos corredores.


Doméstico e atado
pela coleira das convenções,
doméstico e fácil, satisfatório
em todos os assuntos de disciplina,
hábil na manipulação dos horizontes,
que fazer senão saber-se
passivamente doméstico,
enrolando-se nisso?


Articulas-te, entre a angústia e a esperança,
como o dorso numa e noutra coisa
e as pernas da ambição nos elétricos.


Animal doméstico,
dormes nos calendários
e a morte te desperta
no melhor da sesta.


Doméstico, até na morte doméstico.

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