domingo, 30 de junho de 2013

Perdão, próxima música


Perdão

 

 

concentre a mente no momento presente
concentre a mente no presente                                     X2

presenteie o momento presente com a mente
presenteie o momento presente com a mente            X2

no momento concentre a mente no presente
no momento concentre a mente no presente

ESQUEÇA O FUTURO!

PERDOE O PASSADO!

Sombras, próxima música


Sombras (Letra: Tom Marques; música: Marco Plácido)

Procuro sombras
talvez silhuetas seu contorno
me faça enxergar
o óbvio do que sinto 
do que penso

mas sei que pra onde
quer que eu olhe 
vejo sua sombra                                                    
vejo você
vejo sua sombra
vejo você

Talvez procure formas 
formas imperfeitas de dizer
você sabe o que penso
o quero dizer e às vezes não consigo
sombras do que sinto
sinto por você                                             
sombras do que sinto
sinto por você


Procuro sombras
talvez silhuetas seu contorno
Talvez procure formas 
formas imperfeitas

A voz, próxima música


A voz

Agora te entendo
agora também já tenho segredos
ouço a voz do vento
(sua voz fina)
buscando meus pensamentos...

(agora já sei por quê escrevo)

agora já consigo chorar
escrever aquelas palavras tão duras
de vidas
desgastadas que para os outros são cascas
e para nós outros
são
Minas...

365 dias com poesia, 30 de junho de 2013 -- GRAVIDEZ


GRAVIDEZ

Por que você é pego de surpresa com a gravidez de sua filha ou da namorada do seu filho?
Provavelmente porque você não estava atento(a) aos claros sinais de animação dos namorados!
E porque você não estava atento(a)?
Porque não tinha tempo para tomar conta da menina ou do rapaz, ocupado (a) que estava enfrentando os desafios da vida! (METÁFORA)
Então...
Isso também aconteceu com a Dilma, de agora em diante chamada apenas de Presidenta.
A presidenta se assustou com as manifestações por que:
(a) queria viajar?
(b) tinha de ouvir o mestre, nos assuntos de Estado?
(c) estava preocupada com a outra candidata?
(d) estava preocupada em maquiar os dados econômicos para ganhar votos para a reeleição?
(e) todas as respostas anteriores.
A presidenta-candidata estava uma graça fazendo o dever de casa...(IRONIA)
E quando a merda fedeu, sem fôlego, apresentou um plano de ação tão frouxo que no primeiro dia após o desastre voltou atrás e fez reuniões pregando uma reforma política.
Pior, parece que os estudantes do MPL (Movimento pelo Passe Livre) saíram de uma reunião, marcada às pressas, decepcionados com o seu total despreparo.
Então, se ela não entende minimamente dos assuntos inerentes ao ato de governar, fomos nós que escolhemos mal...
Despreparo dela como eleita e nosso como eleitores!
Aliás, despreparo sem explicação, pois tem ela, com ou sem o mestre, dez anos de exercício do poder e nosso, porque adoramos acreditar em soluções mágicas! Por isso, Collor de Mello foi eleito, lembram dele?!
E nesses dez anos o que foi feito?
Se a classe média que estuda mais não tem noção daquilo que lê, imagina o povão que passa de ano nos colégios caindo aos pedaços de nosso país...O país se transformou numa indústria de bolsas!
Royalties do petróleo e do Pré-sal?
Apoiar o Cabral, Maluf, Collor, Sarney?
Lutar pela absolvição dos envolvidos no mensalão?
Importar médicos para um sistema de saúde falido?
Difícil situação é a nossa que não vemos qualidade de liderança em quem nos representa e teremos que fingir não ver o completo caos em que estamos metidos a bem da tímida democracia que tentamos salvar...Bom, mas fingir é nosso talento... (IRONIA)
E a oposição ao PT?
TODOS os partidos, todos estão sem propostas porque só tinham como objetivo uma vaguinha no Ministério para angariar trabalho, ops!, verbas, motivo dos trinta e oito ministérios.

Dilma, desculpe, mas engravidar é a parte mais fácil do trabalho! (IRONIA)


Niterói, 30 de junho de 2013.

sábado, 29 de junho de 2013

365 dias com poesia, 29 de junho de 2013 -- cor flor amor dor

cor flor amor dor

A COR POÉTICA QUE BAILA É chagall
matisse É A COMBINAÇÃO DA FLOR
cézanne O AMOR PEDRA
ENQUANTO picasso É O GRITO DE DOR NO DESENHO

sexta-feira, 28 de junho de 2013

365 dias com poesia, 28 de junho de 2013 -- Clave de sol

Clave de sol

A Nietzsche

A poesia nasce
Entre o embate
Do corpo falível
Com a vontade de sol
Impossível
Que trazemos no peito

quinta-feira, 27 de junho de 2013

365 dias com poesia, 27 de junho de 2013 -- Dante

Dante

 

ontem descobri que um livro feito de palavras erradas com a paginação trocada pode ser tão importante quanto qualquer obra de Dante tão grande quanto qualquer elefante tão enorme quanto qualquer jiboia no bote um livro feito com o carinho de uma criança que ainda não sabe escrever mas já sabe o tamanho daquilo que queremos ler

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Nietzche, sobre arte

Na consciência da verdade, uma vez considerada, o homem vê então, por toda parte, apenas o aspecto horroroso e absurdo do ser...Aqui, neste supremo perigo da vontade, abeira-se, como feiticeira da salvação e da cura, a arte; só ela pode transmutar aqueles pensamentos nauseantes sobre o horror e o absurdo da existência em representações com as quais é possível viver: são elas o "sublime", como domesticação artística do horrível, e o "cômico", enquanto descarga artística da náusea do absurdo.

365 dias com poesia, 26 de junho de 2013 -- passas



passas

A Newton Rezende

O tempo
Em pranchas
De pinho
De cedro
De tempero
Quieto
Em óculos
Inebriantes na falsa
Calma do tempo
Das barcas
Noivas
Fantasmas
Colorindo Arranhando
Olhos Planos
Chagallianos
Redescobrindo o presente
Em placas, águas
Passadas
Todas amassadas

Passados somos quando nos adiamos


terça-feira, 25 de junho de 2013

365 dias com poesia, 25 de junho de 2013 -- ACQUA


ACQUA

Intenso
Sendo
Globo ocular
Da verdade
Que arde
E
Sempre arderá
Porque aprendemos a fingir
E é essa a armadilha
Que vai nos magoar
Deixamos de saber quem somos
Porque sorrimos
Tanto
Tão
Fingido
Quase sempre
Que esse reflexo de rugas
Tem de ser maquiado
E será
(por lágrimas)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

365 dias com poesia, 24 de junho de 2013 -- Borboleta


Borboleta

A Juliana Dargam

Menina cafuné
O caminho começa no silêncio
No desastre que somos
De arremedos
Nos livrando de sonhos por tentá-los
Ate desate
Seja camaleoa
Ou não
Tente sem medo
Porque é da tentativa e do erro
Que passamos a borboleta
Inventando uma vida colorida
Pela vontade de enxergá-la

domingo, 23 de junho de 2013

365 dias com poesia, 23 de junho de 2013 -- Sarados


Sarados

À Vinícius Plácido, 20 anos

Sincero ser
Suplico seu sono
Simples soluço
Simples sinal
Sonoro
Sou seu
Saiba
Sempre serei
Seu
Sinto
Ser seu sendo
Sincero
Somos seres
Serenos, não
Similares
Sempre seremos sons sincronizados
Sorrisos seriais

sábado, 22 de junho de 2013

Set List do POCKET SHOWS de 2013


1 -- Contra;

2 – Brigas;

3 – Desafios;

4 -- À Cecília;

5 – Choro da Menina;

6 – Loucos;

7 – O Alvo;

8 – Sim;

9 – A Saudade/Blues do Medo;

10 – Truques;

11 – Jaques Som;

Crazy.

365 dias com poesia, 22 de junho de 2013 -- estrume

estrume


crenças
próprias lendas
administradas com fervor
lágrimas produzidas pelo temor
de dar direção
errada
quando o erro
é o estrume do produto final
eu flor

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Clarice Lispector, sobre o ato de escrever

Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto -- e o mundo não está à toa, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras -- quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.

Paciência da aranha formando a teia. Ademais fico perturbada por enxergar mal no claro-escuro da criação. Fico assustadiça com o relâmpago da inspiração. Eu sou medo puro.

365 dias com poesia, 21 de junho de 2013 -- a beleza do grito

a beleza do grito


uma criança
às vezes
é um arrepio
porque seus olhos
ofendem
pelo: "acredito"
que gritam
e por isso nos ofendem de credo
desacreditados que estamos
de tanto levar porrada da vida
e por isso não conseguimos mais enxergar a beleza do grito

quinta-feira, 20 de junho de 2013

365 dias com poesia, 20 de junho de 2013 -- jardineiros

jardineiros


não somos poetas
porque escrevemos
somos poetas
porque cativamos
sentimentos
plantamos palavras
colhemos aflitos
olhares bem-vindos
mesmo sem ter escrito um poema
um menino ao tentar entender outra solidão
já é poeta
das palavras não escritas
mas poeta
das palavras não ditas
mas poeta
pela intenção de estender a um olhar calejado
um tênue sorriso
como princípio

quarta-feira, 19 de junho de 2013

365 dias com poesia, 19 de junho de 2013 -- GRITO!

GRITO!


À garotada manifestada

Ninguém conseguirá
Ninguém conseguirá aplacar a voz
Ninguém conseguirá aplacar a voz que fala o que sente
Ninguém conseguirá aplacar a voz que fala o que sente e que geme verdades
Ninguém conseguirá aplacar a voz que fala o que sente e que geme verdades e inventa possibilidades
Ninguém conseguirá aplacar a voz que fala o que sente e que geme verdades e inventa possibilidades e que ninguém calará porque o calo está sendo curado
Ninguém conseguirá aplacar a voz que fala o que sente e que geme verdades e inventa possibilidades e que ninguém calará porque o calo está sendo curado e o calo somos nós magoados
Ninguém conseguirá aplacar a voz que fala o que sente e que geme verdades e inventa possibilidades e que ninguém calará porque o calo está sendo curado e o calo somos nós magoados e pingando respeito e amor-próprio
Ninguém conseguirá aplacar a voz que fala o que sente e que geme verdades e inventa possibilidades e que ninguém calará porque o calo está sendo curado e o calo somos nós magoados e pingando respeito e amor-próprio e querendo sarar e querendo purgar nossas culpas
Ninguém conseguirá aplacar a voz que fala o que sente e que geme verdades e inventa possibilidades e que ninguém calará porque o calo está sendo curado e o calo somos nós magoados e pingando respeito e amor-próprio e querendo sarar e querendo purgar nossas culpas sem culpar os outros com desculpas
Ninguém conseguirá aplacar a voz que fala o que sente e que geme verdades e inventa possibilidades e que ninguém calará porque o calo está sendo curado e o calo somos nós magoados e pingando respeito e amor-próprio e querendo sarar e querendo purgar nossas culpas sem culpar os outros com desculpas não querendo culpar os outros com nossas culpas de apatia esdrúxula, que agora GRITOU!

terça-feira, 18 de junho de 2013

365 dias com poesia, 18 de junho de 2013 -- Poetas azuis

Poetas azuis


À Bernardo Souza

Sobrinho
Vejo em você um menino
Que tem a oportunidade de não esperar
Amadurar para tecer em letras
Poemas que possam curar
De alento
Corações vazios de silêncios
Não se importe em arriscar
Se precisar te dou a mão
Da ilusão
Para que no voo possamos molhar a paisagem cinza
Embelezando-a com palavras azuis

segunda-feira, 17 de junho de 2013

domingo, 16 de junho de 2013

365 dias com poesia, 16 de junho de 2013 -- PSOL, PT e ARENA

PSOL, PT e ARENA

A Paulo Leminski


Desde que o PSOL
Virou o PT
E o PT virou a
ARENA
Navegando em navios piratas
Praticando a explícita pilhagem
Em mares nunca dantes navegados
(Como sempre gosta de frisar o comandante)
Com cofres públicos sendo esvaziados
Na nossa cara
A garotada passou a prestar a atenção
Na diferença
Entre o que se faz e o que se fala
E enjoada
De ser mal tratada
Geral esperou o momento em que câmeras do mundo todo
Estariam no Brasil
Para mostrar aos habitantes do globo
Que somos o país do futebol, pais do PAC
Mas não somos otários
Parabéns aos jovens futuros políticos do país
Só espero que vocês
Como os antigos guerrilheiros
Não se vendam ao sistema
Plim plim
Volto depois dos comerciais...

sábado, 15 de junho de 2013

SET LIST dos shows de 2013


1 -- Contra;

2 – Brigas;

3 – Minas;

4 – Little Wing;

5 – Desafios;

6 -- À Cecília;

7 – Andarilho;

8 – Choro da Menina (com Renata Rubim);

9 – Pedra;

10 – Constelação;

11 – Cegos;

12 – Sweet Sina;

13 – Loucos;

14 – O Alvo;

15 – Sim;

16 – A Saudade/Blues do Medo;

17 – Truques;

18 – Jaques Som;

19 – Não Vá Embora (com Renata Rubim);

20 – Crazy.

365 dias com poesia, 15 de junho de 2013 -- mergulhador

mergulhador


Depois de ler Soneto de Amor Total, de Vinícius de Moraes

Canto o amor que amo tanto
Verdadeiro amor é o que arde
Amo, como amigo, como amante
Essa é a dura realidade
Amo a liberdade de amar-te, calmo, excitante
Fogo de palha, cativante,
Na lágrima da saudade que é eternidade
A cada passo, sem mistério, sem virtude
Como um bicho deixo pegada
Maciça e permanente
Pedra-imã pungente, rocha de dor de lágrima
Quiça um dia cansado de amar-te tanto
Mergulhe para mar virar e terminar de te molhar

sexta-feira, 14 de junho de 2013

LEMINSKI, manchete

CHUTES DE POETA
NÃO LEVAM PERIGO À META



eu queria tanto
ser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito

eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões

em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois

LEMINSKI, oração de pajé

que eu seja erva raio
no coração dos meus amigos
árvore força
na beira do riacho
pedra na fonte
estrela
na borda
do abismo



moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia



dia
dai-me
a sabedoria de caetano
munca ler jornais
a loucura de glauber
ter sempre uma cabeça cortada a mais
a fúria de décio
nunca fazer versinhos normais



ver
é dor
ouvir
é dor
ter
é dor
perder
é dor

só doer
não é dor
delícia
de experimentador



lembrem de mim
como de um
que ouvia a chuva
como quem assiste a missa
como quem hesita, mestiça,
entre a pressa e a preguiça



furo a parede branca
para que a lua entre
e confira com a que,
frouxa no meu sonho,
é maior do que a noite



como um coto caro ao roto
incrédulo tiago
toco as chagas
que me chegam
do passado
mutilado

toco o nada
aquele nada que não para
aquele agora nada
que tinha
a minha
cara

nada não
que nada nenhum
declara tamanha danação



tanta maravilha
maravilharia durar
aqui neste lugar
onde nada dura
onde nada para
para ser ventura



sim
eu quis a prosa
essa deusa
só diz besteiras
fala das coisas
como se novas

não quis a prosa
apenas a ideia
uma ideia de prosa
em esperma de trova
um gozo
uma gosma

uma poesia porosa


LEMINSKI, o velho leon e natália em coyoacán

desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia
o céu vai estar limpo e o sol brilhando
você dormindo e eu sonhando

nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia
apenas você nua e eu como nasci
eu dormindo e você sonhando

não vai ter multidões gritando como em petrogrado aquele dia

silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando

nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia
nada como um dia indo atrás do outro vindo
você e eu sonhando e dormindo

borboletras douradas


O dourado dum mar de borboletras
Conseguiu arrancar-me rimas
Senti
Partes de lágrimas se soltarem
E ao voarem viraram palavras
Palavras ao vento
Que somos nós querendo voar
Na esperança ímpar
De achar um lugar

365 dias com poesia, 14 de junho de 2013 -- (óculos com reflexo)

(óculos com reflexo)


Duma imagem do facebook

somos quatro
no mínimo quatro
duas pessoas e dois reflexos
em óculos
somos parciais
totais em suspiros
cínicos na mente
ciclo indigente
anormal

(temos oito pernas
oito braços
quatro corações
e onde estão todos?)

onde estão todos...?
quem realmente somos?
onde me encontro?
abaixo das minhas expectativas?
acima das minhas possibilidades?

quarta-feira, 12 de junho de 2013

LEMINSKI, luto por mim mesmo

a luz se põe
em cada átomo do universo
noite absoluta
desse mal a gente adoece
como se cada átomo doesse
como se fosse esta a última luta

o estilo desta dor
é clássico
dói nos lugares certos
sem deixar rastos
dói longe dói perto
sem deixar restos
dói nos himalaias, nos interstícios
e nos países baixos

uma dor que goza
como se doer fosse poesia
já que tudo mais é prosa

LEMINSKI, o ex-estranho

passageiro solitário
o coração como alvo,
sempre o mesmo, ora vário,
aponta a seta, sagitário,
para o centro da galáxia

LEMINSKI, transpenumbra

tempestade
que passasse
deixando intactas as pétalas
você passou por mim
as tuas asas abertas
passou
mas sinto ainda uma dor
no ponto exato do corpo
onde tua sombra tocou
que raio de dor é essa
que quanto mais dói
mais sai sol?

LEMINSKI, sintonia para pressa o presságio

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

LEMINSKI, um bom poema

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

LEMINSKI, amar:armas debaixo do altar

para frei betto e frei leonardo boff


santa é a gente
quando lá fora faz frio
e aqui dentro está quente
-- entre! Digo eu,
hora de ser igual,
hora de ser diferente,
entre você e entre

LEMINSKI, take p/bere

foi tudo muito súbito
tudo muito susto
tudo assim como a resposta
fica quando chega a pergunta

esse isso meio assunto
que é quando a gente está longe
e continua junto

LEMINSKI, sei lá

vai pela sombra, firme,
o desejo desespero de voltar
antes mesmo de ir-me
antes de cometer o crime,
me transformar em outro
ou em outro transformar-me
quem sabe a obra de arte,
talvez, sei lá, falso alarme,
grito caindo no poço,
neste pouco poço nada vejo nem ouço,
mais mais mais
cada vez menos

poder isso, sinto, é tudo que posso,
o tão pouco tudo que podemos

LEMINSKI, rimo e rimos

Passarinho parnasiano,
nunca rimo tanto como faz.
Rimo logo ando com quando,
mirando menos com mais.
Rimo, rimo, miras, rimos,
como se todos rimássemos,
como se todos nós rissemos
se amar fosse fácil.

Perguntarem por que rimo tanto,
responder que rima é coisa rara.
O raro, rarefeitamente, para,
como para, sem raiva, qualquer canto.
Rimar é parar, parar para ver e escutar
remexer lá no fundo do búzio
aquele murmúrio inconcluso,
Pompeia, ideia, Vesúvio,
o mar que só fala do mar.

Vida, coisa, pra ser dita,
como é dita este fado que me mata.
Mal o digo e já meu dito se conflita
com toda a cisma que, maldita, me maltrata.

LEMINSKI, enchantagem

de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima

de tanto fazer tudo
                              parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito

pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito

que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar

tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade

o pau na vida
o vinagre
vinho suave

pense e te pareça
senão eu te invento por toda eternidade

365 dias com poesia, 12 de junho de 2013 -- romA

romA


omA
legnA
otiuM
orueQ
ratirG
ossI
...saM
O
romA
eveD
reS
odadraugseR
oiF
eD
odiceT
eD
aieT
eD
ahnarA
na
atevaG
dodadrauG
oãtnE
omoC
?lo-êzaF

!hA
áJ
..!ieS

À Angélica Plácido

terça-feira, 11 de junho de 2013

365 dias com poesia, 11 de junho de 2013 -- sorryso

sorryso


Nunca vi tanta tristeza
Nos olhos de um menino que não sabia que eu o via
E ouvia as histórias que ele não conseguia contar
Porque estava tentando sobreviver
Ao invés de sonhar
Tentava sobreviver
Como tentamos todos
Tolos quando esquecemos de ouvir
O barulho de gemido que emitimos
Ao fingirmos um sorriso

segunda-feira, 10 de junho de 2013

365 dias com poesia, 10 de junho de 2013 -- sombra de humanidade

sombra de humanidade


a bondade
de bonde foi embora
para uma rua de paralelepípedos
de Santa Teresa
se escondeu
do mundo de hoje
como uma criança (não) se esconde
da mula-sem-cabeça do saci pererê ou da cuca
tentando sobreviver
em lágrimas
procurou se esfriar
em palavras
tentou traçar um mapa
que a levasse
àquela árvore
que ouvia a avó contar
frondosa natureza
que salvou com sombra sua humanidade
marcada em lembranças

domingo, 9 de junho de 2013

365 dias com poesia, 09 de junho de 2013 -- Inferno

Inferno


Ouvindo Invierno Porteño, de e com Astor Piazzolla

Quantas emoções resistem a um aperto no peito
Dum abraço sofrendo?
Em quantos suspiros definimos nossos riscos de vida?
Sabedores da malícia quando poderemos deixar de duvidar?
É certo sempre querermos acertar?
Uma melodia nos incita ou só sofremos quando queremos?
Quando iremos parar de apostar contra nossos desejos?

sábado, 8 de junho de 2013

365 dias com poesia, 08 de junho de 2013 -- cáries

cáries


difícil transformar segredos
em palavras
como tais
preferem ficar
incógnitos
pingando autocomiseração
quando expostos
são como ossos quebrados
dentes cariados
à exposição
fatos concretos
demais corretos
na conta corrente do poeta
que esfrega a testa com a preocupação de estar entregando ouro ao bandido deixando como todos de mentir para se nutrir do néctar da verdade
que ilustra o tamanho da arte que é entregar-se ao ato de desvendar-se

sexta-feira, 7 de junho de 2013

365 dias com poesia, 07 de junho de 2013 -- formigas gigantes

formigas gigantes


toda vez que estou desanimado leio alguns poucos comentários sobre o meu trabalho de amigos diletos quase secretos diante da massa de ignorância que nos permitimos aturar e são esses pequenos gestos de sombra de prédios que me soerguem me tornam um gigante pensando no tamanho das formigas que somos quando nos deixamos desperdiçar em migalhas

quinta-feira, 6 de junho de 2013

365 dias com poesia, 06 de junho de 2013 -- bailarina

bailarina


À Maritza Rodrigues

Calma
Bailarina
Sabedoria fria
Em olhos descobertos
Para descobertas
Cabelos ao vento em música de momentos
Intensos
Raiz de cruz
Pés nus
Para a dança da vida

quarta-feira, 5 de junho de 2013

365 dias com poesia, 05 de junho de 2013 -- e-ternos

e-ternos


Esse jardim que vejo daqui não é eterno
Mas é terno
Cheio de flores azuis
Que brinquei com Quintana
Disse a ele:
“Mário, estuário
Menino levado
Rei dos azuis metais em dedos de asas
De passarinho que declara o tamanho
Da vida
Num encontro de pequenas rimas...”
E ele respondeu:
“Marco, nada plácido
És amargo e ácido
Na medida em que seus olhos ariscos de menino
Tentam suplantar o risco...doce azul...”

(...e entre flores continuo a plantar conjunções!)

terça-feira, 4 de junho de 2013

365 dias com poesia, 04 de junho de 2013 -- regador

regador


Na árvore em frente à minha varanda
Borboletas brincam de flor
Folhas brincam de cor, verde
Eu brinco de dor, sempre
Escrevendo até não resistir e dormir
Para sorrindo inventar

Borboletras, flores, verdes e dores dolorindo só um pouquinho

segunda-feira, 3 de junho de 2013

365 dias com poesia, 03 de junho de 2013 -- Amém quente

Amém quente


Somente acredito em Deus quando olho
O céu
Adoça meu olhar
Aguça o modo de enxergar a linha do horizonte e lembrar para qual horizonte quero
Nadar
Ter coragem de esperar uma estrela cadente, boiando
Um pedaço de macarrão ao dente, falando
Um deus salgado experiente, rezando
Que
Espanta
Espanta pela falta de possibilidade
Enganado?
Quase sempre para todo o sempre?
Amem quente antes que o mundo acabe

domingo, 2 de junho de 2013

365 dias com poesia, 02 de junho de 2013 -- quintal do céu


quintal do céu

Rubem Braga
Amava
A cor, o mar e o silêncio
Entrava nas palavras
Que eram suas
Por vontade de exercê-las
Ódio aos proxenetas
Pequenos aproveitadores da crença alheia
Tinha amor pela natureza
Que elegeu azul
Nos olhos de suas musas
Mulheres com sabor de
Suco da fruta desejo
Que plantava em seu quintal do céu



365 dias com poesia, 01 de junho de 2013 -- susto


susto

(Provavelmente
O motivo
É o susto...)

Quando crianças não conhecemos a vida
Brincamos de ser pessoas
Aprendendo as coisas necessárias
As mais importantes
Mas não conhecemos
Normalmente
As grandes dificuldades...

Ao descobrirmos
Minimamente como a vida funciona
Levamos um susto
E é o primeiro passo depois do susto
Que indicará quem somos
Uns ficarão paralisados
Outros viajarão na maionese
E há ainda aqueles
Que escreverão
Cantarão
E
Pintarão o susto

Não há medida certa a ser tomada
Há apenas o jeito com que iremos lidar com a vida já assustados...



Marco Plácido, DOR

A Fernando Pessoa



Sendo dor

sinto os dedos tremerem

os dedos do poeta que geme

a sabedoria de sentir-me presente



os leitores sentem-me latente

dor do poeta entristecido

pela existência que finge

em pingos



que espremo sendo razão

nas calhas de roda

comboio de corda

do poeta que se chama coração

Carlos Drummond de Andrade, Sonetinho do falso Fernando Pessoa



"Onde nasci, morri.

Onde morri, existo.

E das peles que visto

Muitas há que não vi.



Sem mim como sem ti

Posso durar. Desisto

De tudo quanto é misto

E que odiei ou senti.



Nem fausto nem Mefisto,

À deusa que se ri

Desse nosso oaristo, (conversa íntima)



Eis-me a dizer:assisto

Além, nenhum, aqui,

Mas não sou eu, nem isto.".

Fernando Pessoa, AUTOPSICOGRAFIA



O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.



E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.



E assim nas calhas da roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.