quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 31 de dezembro de 2015 -- sementes de gente

sementes de gente

A Angélica Plácido

Em silêncio penso nas notas nas folhas nos buquês
Nos poemas que plantei com mãos de medos revelei
Tantos segredos quantas lágrimas foram choradas
Entreguei parte de mim mandei buscar perfume de jasmim (onde?)
E ouvindo jazz adiei a partida que talvez já tivesse chegado se não tivesse começado

Depois do começo o meio de vida a fim de continuar me enganei imaginando a quantidade de pessoas que olhariam meus filhos (poucos foram lidos...) mas a intensidade das poucas palavras amigas demonstraram os poucos amigos verdadeiros que tenho e se tenho foi por merecimento deles e de mim o perfume de jasmim não nasce de macieira e nem de peras ele é feito e nasce do momento da criação da imaginação que usa mãos e letras para plantar sementes de gente

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 30 de dezembro de 2015 -- POESIA FOREVER

Eu gostava que ela me amasse
E amando me colocasse no colo e me fizesse cafuné
Eu gostava que ela me fizesse toda noite massagem nos pés
E me desse um gomo de tangerina das antigas toda vez que eu estivesse triste
Eu gostava tanto de saber como é viver cada esquisitice como se conseguisse viver sendo ainda mais esquisito...
Eu gostava que uma salamandra ficasse quieta na parede e que um lagarto não botasse a língua pra fora sempre
Eu gostava de tanta coisa diferente mas a vida é do jeito que é e ela empurra a gente para fazer coisas sempre iguais e dessa igualdade vem a rotina que é uma vida sem rimas e sem rimas eu não quero viver


POESIA FOREVER

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 29 de dezembro de 2015 -- e-ncrenca

e-ncrenca

Todos criados e abençoados
Escolhemos pecar
Pelo prazer de errar nos tornamos humanos
E são nossas falhas que mesmo cheias de receio
Acabam nos ensinado muito mais sobre nós mesmos

E seguimos temendo a incerteza diante do tamanho da encrenca que é morrer?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 28 de dezembro de 2015 -- derrota

derrota


a imensidão do silêncio cobra seu preço
tento o tempo todo tento
descobrir o segredo
o som da última gota de palavra
que me derrotou em lágrimas 

domingo, 27 de dezembro de 2015

Philip Levine -- A Sleepless Night (Uma Noite em Claro) Traduzido por Wagner Miranda

A Sleepless Night
April, and the last of the plum blossoms
scatters on the black Grass
before dawn. The sycamore, the lime,
the struck pine inhale
the first pale hints of sky.
An iron day,
I think, yet it will come
dazzling, the light
rise from the belly of leaves and pour
burning from the cups
of poppies.
The mockingbird squawks
from his perch, fidgets,
and settles back. The snail, awake
for good, trembles from his Shell
and sets sail for China. My hand dances
in the memory of a million vanished stars.
A man has every place to lay his head.
Philip Levine
_________________________________
Uma noite em claro
Abril, e a última das ameixeiras
se espalha sobre a Grama negra
antes do alvorecer. A sicoma, o limão,
e o pinheiro arrebatado inalam
as primeiras alusões lívidas, do céu vindas
Um dia de ferro,
penso, ainda está por vir
ofuscante, a luz
é gerada no pecíolo das folhas e flui,
ardente pelos copos
das papoulas.
O pássaro-das-cem-línguas grasna
de seu poleiro, inquieta-se
e enfim sossega. O caracol, para sempre
desperto, em sua Concha estremece
e navega em favor da China. Minha mão dança
em memória de um milhão de estrelas desaparecidas.
Todo lugar é lugar para a mente de um homem descansar.
Traduzido por Wagner Miranda

365 dias com poesia, 27 de dezembro de 2015 -- plantação

plantação

Hoje
Pensei escondido
(tanta gente falando
para tão poucos ouvidos):
Não queremos escutar
Porque não queremos mudar
Dizemos gostar de esportes
Mas não perdoamos as derrotas

Esquecendo que são as derrotas que nos plantam histórias

sábado, 26 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 26 de dezembro de 2015 -- epitáfio

epitáfio

Tranquilo quanto à necessidade nenhuma das pessoas
Sobre poesia é uma manifestação atávica
Faz parte do ato de respirar
Quando parar como um ato reflexo espero o outro

Com suas últimas lágrimas cercadas da falta de palavras

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 25 de dezembro de 2015 -- canção do Tom

canção do Tom

Um dia
Quem sabe
Um dia conseguirei ser ouvido
E espero que meus filhos ainda estejam vivos para saber que eu deixei um 
Jardim feito com um

Mar de lágrimas tão bonito e simples quanto uma canção do Tom

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 24 de dezembro de 2015 -- menino-signo

menino-signo

Onde está aquele menino que prometeu me salvar
De mim
Dos outros?
Tolo(s)?
Me salvar de uma vida para qual outra?
Me salvar de tudo?
Do todo?
Do frouxo aprendizado
Rarefeito ar de mentiras?
Da experiência em que me apoio em vão?

Onde está onde estou onde estão?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 23 de dezembro de 2015 -- coração de poeta

coração de poeta

Esperando a primeira frase...

Aquela que vem soprada,
Suspiro de lábios molhados descrentes do Homem,
Palavras que vêm quentes silvando solidão.

Esperando a primeira frase...

Aquela que é dada com carinho nas mãos da criança levada adulto com

Coração de poeta que precisa do azul do céu como sopro de crença

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

fatia

fatia

Quando dois olhos olham e não se falam
Agarrando o silêncio como uma vantagem desejada
Algo em algum lugar um voo de pássaro que seja
Vira arte
Da angústia do tempo que não foi
Do beijo que não foi
Do carinho de mãos que se foram...


É de tudo que ficou faltando que se faz um pequeno poema...

365 dias com poesia, 22 de dezembro de 2015 -- O ECO

O ECO

O eco da palavra
AMOR
é
ROMA?

O eco da palavra
SENTIR
é
MENTIR?

O eco da palavra
PAIXÃO
é

REFLEXO?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 21 de dezembro de 2015 -- aço

aço

Aos meus filhos: Vinícius, Victor e Thiago

Me criei para árvore
Não para bonsai
Odeio sombra
Gosto do ombro roçando a dificuldade
Gosto do gosto acre da carne ocre da manhã maçã inventada
Da roda inventada da romã inventada tiro um pedaço e asso
No carvão do coração...

E aço! Quebro o silêncio no espaço!

domingo, 20 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 20 de dezembro de 2015 -- destino

destino


tanto tempo perdemos em querer que a vida se modifique para agradar às nossas vontades que em anos serão outras se é que lembraremos quais foram e assim seguimos brigando com a vida com as pessoas desastradamente envolvidas em episódios esparsos como idiotas que somos quando não conseguimos nos livrar dos condicionamentos que acabamos recebendo de pais mães professores amigos atores de televisão que fingem saber todos fingem saber porque se soubessem saberiam que a cada um é dado um destino (que segue sendo produzido) que a princípio nunca será aquilo que pensaram para si ou para mim

sábado, 19 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 19 de dezembro de 2015 -- corte

corte

morte
corte no sentido da vida
corte que dá sentido à vida
se fôssemos imortais
o que precisaríamos fazer?
cantaríamos?
enfilharíamos?
planejaríamos o quê para quem?

a vida planejada pela natureza (infelizmente) é perfeita na sua finitude poética 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 18 de dezembro de 2015 -- Estelas

Estelas

À memória de Bertha Plácido .

Pequena estrela
Saiba
Você não nos deixou
Você está no seu lugar
Brilhando
No céu que você criou

Dentro de nós

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 17 de dezembro de 2015 -- restos

restos

(Difícil admitir:
Mas são as perdas
Que valorizam o restante de tempo que temos
Por isso um sorriso não é inconsciência

É apenas uma escolha...)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 16 de dezembro de 2015 -- crueldade

crueldade

Para praticar e suportar
Vivemos
Vendo as plantas, sem entendê-las
Vendo o sol, sem agüentá-lo
Vendo as raízes, sem mastigá-las
Vivemos seguindo quase sempre sem direção
Apenas vamos vivendo
Engolindo o vento
Cuspindo vontades
Vomitando indecisões
E quando abrimos os olhos, quando abrimos os olhos,
Às vezes parece que o tempo foi ontem
Que os sonhos de hoje não serão os de amanhã
E o que fazer com a experiência de não ter praticado e apenas ter suportado

A vida?

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 15 de dezembro de 2015 -- pobres de espírito

pobres de espírito

Um motorista de táxi
Esboçou uma lágrima
Quando falei que queremos ser ouvidos
Lembrou-se de um tempo em Paris
Que sofreu em francês
E dum amigo português que agora
Rico diz ser bem tratado porque o dinheiro fala mais alto
Para muitos ouvidos
Então

Não somos escutados por que não somos ricos?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 14 de dezembro de 2015 -- homem sombra homem sonho

diz um sábio
a vida é a sombra de um sonho fugaz
então pergunto
o homem é a sombra dum sonho fugaz?
ou
a vida é a sombra dum homem fugaz?
ou
o sonho é a fugacidade do homem sombra?

domingo, 13 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 13 de dezembro de 2015 -- recor(d)ações

recor(d)ações
 
Ontem pensei pensei cansei dormi
Ontem tentei tentei tentei e não consegui
Hoje hoje está claro claro claríssimo
Tem dias que devemos ficar em silêncio
Para escutar nossos batimentos

sábado, 12 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 12 de dezembro de 2015 -- Era de aquário

Era de aquário
 
Preciso saber se esse sol que está me queimando
São os olhos do sol do deus verdadeiro
Aquele que criou a terra e tudo mais em seis dias
Preciso saber de tudo pois vivo sem nada saber
Quando e por que nasci?
Se isso tudo é para mim ou por que não?
Se tenho responsabilidade para com os outros que irão herdá-la?
Se essa era é a da terra ou a de aquário?
Sendo humano nado pela vida desarmado?
Sorrindo desalmado?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 11 de dezembro de 2015 -- Idade de árvores

Idade de árvores

Crio criaturas
Sombras
Em tintas frias
Sorrisos na vermelhidão
Suo cismas sofro solidão
Mãos procuram tintas
Ritmos sumindo com a bateria
De corações atormentados que sorriem falso
Rimas risos rinite narinas procurando ar
Amarelo dengue azul freqüente
Ajuda a escrever rimas rumo à expiração
Inspiro certezas vomito confusão
Mental confissão de que precisamos de nós

Para contarmos nossas idades de árvores

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 10 de dezembro de 2015 -- sentiventos

sentiventos

na vida as coisas têm tempo e prazo
tempo para acontecer
e prazo para acabar

uma flor não nasce no mar
uma ave não voa sem asas

o sal salga pelo paladar
o doce para acalmar

tudo tem vez e lugar
tudo existe pelo nada
que sentimos
quando estamos
sem direção na crença

absurda da verdade absoluta

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 09 de dezembro de 2015 -- quadrifícios

quadrifícios

Quadros devem ser pintados e pendurados
A dor de ouvir a opinião alheia existe e deve ser afrontada
Quanto mais se quiser aprender a ouvir menos ela doerá e aí será uma dádiva
Pois de muitas opiniões contrárias se tirará algo de positivo um novo começo Um indício de caminho e no fim sempre estamos evoluindo dentro daquilo que Pretendemos comunicar

Pois se fosse para esconder não precisaríamos começar

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 08 de dezembro de 2015 -- enguias

enguias

Não se trata de dizer acreditar ou não em deus
Quando nos tratamos como formigas como se nada pudéssemos fazer
Sonhar comprar viajar
Ficando quietos em nosso canto como enguias (com guias de cientistas) a espreitar a vida
A próxima vítima na verdade somos nós mesmos
Que por medo fingimos acreditar em algo maior

Para reafirmar nosso tamanho menor que justifique nossa apatia

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

365 dias com poesia, 07 de dezembro de 2015 -- Grito de alerta

Grito de alerta

Quando o bluesman toca
Todos nos tocamos que a simplicidade pode ser decisiva
Quase definitiva
Em poucas e toscas palavras o cantor canta a verdade
Que sangra sangue azul
Dum blues retiro o mesmo sofrimento dum fado dum samba de roda

Todos sofremos por lágrimas todos queremos sorrisos só não sabemos em qual Liquidação comprar momentos que nos façam nos enganar e nos enganando continuar a ter um mínimo tempo de parar para escutar outr’alma que está a gritar por atenção

domingo, 6 de dezembro de 2015

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: NÃO SIGAS QUEBRANDO A CABEÇA MENINO

(50) NO TE SIGAS ROMPIENDO LA CABEZA MUCHACHO (61)

 


Le solía decir su señora madre
Las poesías no las lee nadie

da lo mismo que sean buenas o malas


Discurso de Cartagena -- 1993.

NÃO SIGAS QUEBRANDO A CABEÇA MENINO

 

Sua mãe costumava lhe dizer

As poesias ninguém as lê

 

dá no mesmo se são boas ou más

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: EPITÁFIO

(49) EPITAFIO (40)

 


De estatura mediana,
Con una voz ni delgada ni gruesa,
Hijo mayor de un profesor primario
Y de una modista de trastienda;
Flaco de nacimiento
Aunque devoto de la buena mesa;
De mejillas escuálidas
Y de más bien abundantes orejas;
Con un rosto cuadrado
En que los ojos se abren apenas
Y una nariz de boxeador mulato
Baja a la boca de ídolo azteca
-- Todo esto bañado
por una luz entre irónica y pérfida --
Ni muy listo ni tonto de remate
Fui lo que fui: una mezcla
De vinagre y de aceite de comer
!Un embutido de ángel y bestia!

Poemas y antipoemas -- 1954.

EPITÁFIO

 

De estatura mediana,

Com uma voz nem fina nem grossa,

Filho mais velho de um professor primário

E de uma modista de sobrado;

Fraco no nascimento

Ainda que devoto da boa mesa;

De bochechas esquálidas

E de abundantes orelhas;

Com um rosto quadrado

Em que os olhos se abrem apenas

E um nariz de boxeador mulato

Sobre uma boca de ídolo asteca

-- Tudo isto banhado

Por uma luz entre irônica e pérfida –

Nem muito esperto nem completo idiota

Fui o que fui: uma mescla

De vinagre e de azeite de comer

Um embutido de anjo e besta!

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: RIDÍCULA VERDADE

(48) RIDÍCULO VERDAD?* (44) 

 

Todas as cartas de amor são
Ridículas

Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas

As cartas de amor, se há amor
Têm de ser
Ridículas


Aunque no vengo preparrado -- 1997.

 


·         Poema escrito em portuguêspelo poeta

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: IMAGEM DE OURO

(47) IMAGEN DE ORO (03)

 


En un lejano pueblo de la Mancha
vivió la más purísima persona
un hidalgo de flauta azul por boca
y de ruda luciérnaga en el alma.

Fue don Quijote el cónsul de la espada
y el doctor incansable de la rosa
en su mente volaba la paloma
como vuelta la luz en la esmeralda.

Nunca temió morir y nunca nada
le detuvo y según cuenta la historia
su corazón era una copa de agua. (taça d’água)

Nunca falló su ronca voz de nácar
y como en lo perfecta era una hoja
sólo la muerte pudo marchitarla.


8 nuevos poetas chilenos -- 1939.

IMAGEM DE OURO

 

No povoado distante de la Mancha

viveu a mais pura pessoa

um fidalgo de flauta azul por boca

e rude vaga-lume n’alma.

 

Foi dom Quixote cônsul da espada

e doutor incansável da rosa

em sua mente voava a pomba

como a luz em volta da esmeralda.

 

Nunca temeu morrer e nunca nada

Lhe deteve e segundo conta a história

Seu coração era uma taça d’água.

 

Nunca falhou sua rouca voz de pérola

Ela era perfeita como uma pétala

Só a morte poderia machucá-la

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: SUICÍDIO VIOLENTO

(46) SUICIDIO VIOLENTO (6)

 


Me muero por mi corbata
de rosa de sombra ardiendo,
si quiero que te lo diga,
me muero porque te quiero.

Sobre mi corbata reman
navios de mar y sueño,
de mi camisa levanta
gaviotas de luz el viento.

Me pongo con mis dos manos
el ancia del marinero,
farol de sangre revuelta
clavado en el pecho tengo.

Me muero porque me gusta
mi gorra de terciopelo,
y porque tengo un navio
de náufragos en el pecho.

Con esta corbata luna
te pego porque te quiero,
si quieres que yo me mate
me ahorco con tu pañuelo.


Cancionero sin nombre -- 1937.

SUICÍDIO VIOLENTO

 

Morro por minha gravata

de rosa de sombra ardente,

se quer que te diga,

morro porque te quero.

 

Sobre minha gravata remam

navios de mar e sonho,

de minha camisa se levantam

gaivotas de luz ao vento.

 

Uso minhas duas mãos

ânsia de marinheiro

farol de sangue revolto

cravado no peito tenho.

 

Morro porque gosto

do meu gorro de veludo

e porque tenho um navio

de náufrago no peito.

 

Com esta gravata lua

te pego porque te quero,

se quer que me mate

me enforco com teu lenço.

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: ALGUÉM ATRÁS DE MIM

(45) ALGUIEN DETRÁS DE MÍ (12)

 


lee cada palabra que escribo
por encima de mí hombro derecho
y se ríe desvergonzadamente de mis problemas
un señor de bastón y levita

miro pero no veo que haya nadie
sin embargo yo sé que me espían


Emergency poems-- 1972.

ALGUÉM ATRÁS DE MIM

 

lê cada palavra que escrevo

por cima de meu ombro direito

e ri desavergonhadamente de meus problemas

um senhor de bengala e sobrecasaca

 

olho mas não o vejo não há ninguém

no entanto eu sei que me espia

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: SUPONDO QUE SEJA UM HOMEM PERFEITO

(44) SUPONGAMOS QUE ES UN HOMBRE PERFECTO (17)

 


supongamos que fue crucificado
supongamos incluso que se levantó de la tumba
-todo eso me tiene sin cuidado-
lo que yo desearía aclarar
es el enigma del cepillo de dientes
hay que hacerlo aparecer como sea


Emergency poems -- 1972.

SUPONDO QUE SEJA UM HOMEM PERFEITO

 

Supondo que foi crucificado

Supondo inclusive que se levantou da tumba

- tudo isso dito sem cuidado-

o que desejaria decifrar

é o enigma da escova de dentes que

há de aparecer como seja

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: XLVI PALAVRAS TEXTUAIS

(43) XLVI PALAVRAS TEXTUALES (55)

 


este país no tiene remedio
saben que son imbéciles y sonríen
Satisfechos
                 los pobres infelices
Tropa de sifilíticos alcohólicos
Por un hombre de buenos sentimientos
Un millón de huasos macucos

Ésa es la proporción
Especialistas
En herir al prójimo x la espalda
Nunca atacan de frente los cobardes
La puñalada siempre x la espalda
Pero a mí no me van a destruir
Estos mediocres
                         estos alacranes

Estos reptiles de ojos vidriosos

Tengo alas sras & sres
A París
            a Madrid
                           adonde sea
Lo + lejos posible
                            Para siempre!
No me quedo ni un día + aquí

Música maestro!...


Discurso de Cartagena -- 1993.

XLVI PALAVRAS TEXTUAIS

 

este país não tem remédio

sabem que são imbecis e sorriem

Satisfeitos

                        os pobres infelizes

Tropa de bêbados sifilíticos

Para um homem de bons sentimentos

Um milhão de índios matutos

 

Essa é a proporção

Especialistas

Em ferir ao próximo x espada

Nunca atacam de frente os covardes

A punhalada sempre vem x costas

Mas não vão me destruir

Estes medíocres

                                   estes escorpiões

 

estes répteis de olhos vítreos

 

Tenho asas sras & sres

Em Paris

                        Madri

                                   Onde seja

O + longe possível

                                   Para sempre!

Não nem + um dia aqui

 

Música maestro!...

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: O ÚLTIMO BRINDE

(42) ÚLTIMO BRINDIS (27)

Lo queramos o no
Sólo tenemos tres alternativas:
El ayer, el presente y el mañana.

Y ni siquiera tres
Porque como dice el filósofo
El ayer es ayer
Nos pertenece sólo en el recuerdo:
A la rosa que ya se deshojó
No se le puede sacar otro pétalo.

Las cartas por jugar
Son solamente dos:
El presente y el día de mañana.

Y ni siquiera dos Porque es un hecho bien establecido
Que el presente no existe
Sino en la medida en que se hace pasado
Y ya pasó...,
                   como la juventud.


En resumidas cuentas
Sólo nos va quedando el mañana:
Yo levanto mi copa
Por ese día que no llega nunca
Pero que es lo único
De lo que realmente disponemos.

Canciones rusas -- 1967.

O ÚLTIMO BRINDE

 

Querendo ou não

Só temos três alternativas:

O ontem, o hoje e o amanhã.

 

E nem sequer três

Como disse o filósofo

O ontem foi ontem

Nos pertence só na recordação:

Da rosa que já se desfolhou

Não se pode tirar mais nenhuma pétala.

 

As cartas por jogar

São somente duas:

O presente e o dia de amanhã.

 

E nem sequer dois Porque é um fato bem conhecido

Que o presente não existe

Senão na medida em que se fez passado

E já passou...

                        como a juventude.

 

Em resumo quantas

Vezes nos caem as manhãs:

Eu brindo com minha taça

A este dia que nunca chega

Por ser único


O único de que realmente dispomos.

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: SÓ PARA MAIORES DE CEM ANOS

(41) SÓLO PARA MAYORES DE CIEN AÑOS (28)


Sólo para mayores de cien años
Me doy el lujo de estirar los brazos
Bajo una lluvia de palomas negras.

!Pero no por razones personables!

Para que mi camisa me perdone
Faltan unas cuarenta primaveras
Por la falta absoluta de mujer.

Yo no quiero decir obscenidades
Las groserías clásicas chilenas
Si la luna me encuentra la razón
Eternidade en ambas direcciones.

Por la falta absoluta de mujer.

!O perdonan las flatas de respeto
O me trago la sangre de narices!

Hago volar las reliquias al sol
Estornudo con gran admiración
Hago la reverencia con dolor
Esa misma que hice en Inglaterra
Un ataúd que vomitaba fuego.

Yo doy diente con diente en las esquinas
Qué seria de mí sin ese árbol
A disfrutar del espasmo sexual.

Disimulo mis llagas a granel
Yo me río de todas mis astucias
Porque soy un ateo timorato.

Yo me paso de listo por el cielo
Sólo quiero gozar un Viernes Santo
Para viajar en nube por el aire
En dirección del Santo Sepulcro.

Sólo para mayores de cien años
pero yo no me doy por aludido
Porque yarde o temprano
Tiene que aparecer
Un sacerdote que lo explique todo.


Versos de salón -- 1962.


SÓ PARA MAIORES DE CEM ANOS

 

Só para maiores de cem anos

Me dou o luxo de esticar os braços

Sob uma chuva de pombos negros.

 

Mas não por razões pessoais!

 

Para que minha camisa me perdoe

Faltam umas quarenta primaveras

Pela falta absoluta de mulher.

 

Eu não quero dizer obscenidades

As clássicas grosserias chilenas

Se a lua encontra a razão

Eternidade em ambas as direções.

 

Pela falta absoluta de mulher.

 

Me perdoem a falta de respeito

Mas trago sangue nas narinas!

 

Faço voar relíquias ao sol

Espirro com grande satisfação

Faço reverência com dor

Essa mesma que fiz na Inglaterra

Um caixão que vomitava fogo.

Bato dentes com dentes nas esquinas

O que seria de mim sem essa árvore

A desfrutar do espasmo sexual.

 

Dissimulo minhas chagas a granel

Rio de minhas astúcias

Porque sou um ateu timorato.

 

Me faço de fácil para o céu

Só quero gozar mais uma sexta Santa

Para viajar numa nuvem pelo ar

Em direção ao Santo Sepulcro.

 

Só para maiores de cem anos

Mas não me dou por incluído

Porque cedo ou tarde

Tem que aparecer

Um sacerdote que explique tudo.