quarta-feira, 31 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 31 de agosto de 2016 -- Receita de jardim

Receita de jardim

A luz incômoda do sol
Cega o poema
Que necessita de muito pouca luz para sobreviver
A água já está providenciada em lágrimas dos leitores que não o deixam morrer
Os nutrientes são inventados pelas calejadas mãos do poeta que precisa para escrever sofrer

terça-feira, 30 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 30 de agosto de 2016 -- Sol e frio

Sol e frio

Num dia de sol
Os olhos cegam
E não é de paixão
Cegam pela luminosidade
Ardência esquisita que impede a visão
Num dia de sol é como se a alegria estivesse sorrindo na praia
Enquanto trabalho meus longos suspiros nas águas de minhas recordações
Rio caudaloso e frio que me leva com capricho para distantes paragens

(num dia de sol na verdade atrapalham-se em mim miragens)

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 29 de agosto de 2016 -- ÍNDIOS

INCRÍVEL!

Cada pessoa tem uma melodia
(descobriram os estudiosos dos índios)
Simples melodia do calor dum corpo que sofre
Com o sol
Com a chuva
Com a matança das florestas
A natureza madrasta se vinga de nossas piores mentiras...

(Mentiras alinhavadas em planos de construção de cidades vazias porque sem a genuína emoção de se escutar cantando a dança da chuva que no fundo alimenta a pequena semente de árvore que somos todos nós)

ÍNDIOS

domingo, 28 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 28 de agosto de 2016 -- Tocando o gado

Tocando o gado

Poema feito da visão de pintura feita com o pé por Moacir Ferraz

O boiadeiro toca o gado
Como o sacristão toca o sino
Como o guitarrista toca a guitarra
Com energia
Sem energia não somos nada
Apenas corpos sem almas
Apenas olhos sem ter o que dizer
Sem energia somos pilhas usadas
Calças desgastadas por bancos de jardim sem pombos que nos ensinem a voar
Sem energia não há sonhos sem sonhos não há ilusão e sem ilusão não há vida (que mereça um quadro)... 

sábado, 27 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 27 de agosto de 2016 -- pequenos sonhos II

pequenos sonhos II

À professora Helena Vicari, que por cartas conheceu Drummond

De seus olhos não saíam lágrimas
Caíam palavras
Sua felicidade se completava com uma carta
Palavras datilografadas pelo poeta
Ele ria (ela chorava) vivia em rimas
Se nutria dos sonhos e das lágrimas que cultivava como rosas
Ela vivia (ele rebeldia) com medo em desespero esperava os correios
A cada palavra engolia e sorria um sorriso que lhe fora negado
Infância de rezas e falta de abraços
A vida seguia no ritmo dum poema longo
Contradição explícita porque não existe poema longo
Ele é formado de pequenos poemas curtos
Como a vida é formada de pequenos sonhos 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 26 de agosto de 2016 -- Cumplicidade

Cumplicidade

Poema feito da visão de pintura feita com a boca por Thomas Kahlau

Dois velhos num jardim comemoram a vida
Casacos
Azul e vermelho os protegem da dor
O jardim florido é como uma declaração de amor
Do amor que ainda está vivo e sempre esteve desde o choro da primeira semente (lágrima de árvore...)
Primeira esperança branda de continuar
Nascemos para o amor da esperança
Maçã que nos nutre por inteiro enquanto de mãos dadas suspiramos procurando o cheiro de nós mesmos

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 25 de agosto de 2016 -- NEXO CAUSAL

Esqueçamos os livros
Eles não atendem nossas expectativas
Queremos o mundo e o mundo não cabe numa capa dura
O mundo é fumaça de pensamentos em movimento
Não tem como ser acondicionada
Esqueçamos os livros
Não porque eles não sirvam mais mas sim porque eles não têm como nos conter
Sejamos senão livres pelo menos independentes
Criemos nosso próprio vocabulário
Sem palavras, que seja
Sem nada que nos impeça de errar
Sem amarras
Cresceremos ainda mais como pessoas quando ao invés de citar
Inventarmos um novo dialeto e ventarmos seu significado aos quatro ventos
Como um assobio sem nexo
Como aquela sensação intensa e fugaz do sexo



NEXO CAUSAL

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 24 de agosto de 2016 -- Luneta

Luneta

...e de luneta o jovem profissional me vê
E ao virar trinta graus não mais me encontra
E grita o absurdo de eu ter sumido em segundos
E diz que isso é o típico mau exemplo dum homem antigo...

(E se esquece que se quisesse me ver de perto retiraria o olho da luneta, abriria o outro, e veria que o mundo é muito maior que a sua vontade de me acertar e que eu ainda estou ali esperando esperando esperando...talvez a experiência dele chegar...)

terça-feira, 23 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 23 de agosto de 2016 -- Espelho

Espelho

Elke Maravilha, sorria em paz

Elke explica
Em grego antigo
Espelho é ídolo.
Elke falava oito idiomas
Sem contar grego antigo e latim
Que não são falados
Dez no total...
Em seus risos escancarados
Tecia comentários sobre Sófocles Platão
Alexandre, o Grande Leônidas
Sabia muito de filosofia
Mas escolheu por tática
Ser palhaça
E entre risadas
Nos ensinava a ser nós mesmos
Maior e mais difícil ensinamento de ser apreendido
Pois adoramos ficar olhando escondidos
O rabo do vizinho

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 22 de agosto de 2016 -- SUPERNATURAL

SUPERNATURAL

A Victor Plácido, aos 20 anos

Se liga moleque
Você é teimoso pra caceta!
De tudo reclama sempre ciente de seu espaço mas
Adora invadir o meu
Pega meu alicate
Meu lugar na cama
Quer que eu descasque laranja...
Só fica sem graça quando vejo no seu pescoço o resultado
Das saídas na Cantareira e pergunto se você está vendo
SUPERNATURAL
(as vampiras devem andar lá por aquelas bandas...)

TE AMO, prego!

domingo, 21 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 21 de agosto de 2016 -- Mi casa Su casa

Mi casa Su casa

Cada pingo de riso deve ser escrito
Cada gota de lágrima deve ser contada
As palavras não servem para quase nada
Se não estão registrando experiências

Um poema não é um poema
É um monte de sentimentos embutidos
Que estão prontos para serem novamente consumidos
Depois de cuspidos ou esculpidos
Poemas são
Cupidos formando um casal

Meus sonhos seus sonhos

sábado, 20 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 20 de agosto de 2016 -- APPLE PIE LIFE

APPLE PIE LIFE

O mesmo tempo em que sorrio poderia chorar
Uma letra que forma uma palavra duma oração
De vez em quando estraga uma sentença
Aquele instante antes do beijo que se perde em esquecimento
Um minuto de muito é pouco
Um segundo de pouco é muito
Enquanto teimo em escrever poderia esconder
Se não pinto não sei sobre a dor de não saber
Se não canto não entendo do colorido do som
Se não rimo espremo em mim dor...

E assim passa a vida determinada pelas escolhas
Que podem ser simplesmente divinas
Ou divinamente espremidas

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 19 de agosto de 2016 -- Flores no campo

Flores no campo

Poema feito da visão de pintura feita com a boca e o pé por Stanislaw Kmiecik

Lá no fundo a floresta nos espera
Verde fechada misteriosa
Aqui na frente flores
Rosas e violetas
Escondem uma casa
Que não sei de quem é
Nem quero saber
Por medo
Prefiro o segredo
E quero acreditar que a floresta guarda muitas surpresas outras
Muito mais agradáveis
Nessa imensidão de verde (afirmo sem saber)

Há liberdade

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 18 de agosto de 2016 -- Pôr do sol

Pôr do sol

Depois de ler “O amor nos tempos do cólera”, de Gabriel Garcia Marquez

O amor no olhar daquele menino não envelheceu
Apesar dos cinquenta e tantos anos de espera
A espera valeu a pena
(A menina viúva se entregou ao poeta, que acreditou no amor que inventou em cartas...)
Dois seres humanos
Navegando amor
Rindo amor chorando amor
Cheirando a amor
A dor da velhice não os impediu de exercer esse sentimento
Tão intenso e sem arrependimentos e comendo berinjelas
Viajaram e num rio se esqueceram em si
Cada um sendo o outro
Cada um sendo aquilo que tinha escolhido para si
E assim os dois em sonho
Se transformaram em um único
Pôr do sol

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 17 de agosto de 2016 -- Esperanço III

Esperanço III

O poeta já disse
Um filho é um antídoto contra toda a solidão possível
Aí vem o chato e diz
Mas os filhos crescem e vão embora
Aí o chato poeta respondo
Sim, ora, e o tempo em que eles te ensinaram a olhar outro ser humano e aprender para ensinar sobre a esperança?

terça-feira, 16 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 16 de agosto de 2016 -- Casal de araras

Casal de araras

Poema feito da visão de pintura feita com a boca por Juan González

Duas araras conversam
Sobre como é ter o vermelho como manto
Como é ter o verde como esperanço
Como é ser ave e poder conversar
Duas araras têm o que dizer?
Sabem sobre o que falar?
Duas araras traçam seu destino no bico enquanto parados diante do quadro desejamos algo...


(Em silêncio, parece que duvidando da nossa capacidade de desejar...)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 15 de agosto de 2016 -- Lóki

Lóki

A Arnaldo Baptista

Um menino com um sorriso
Descobriu as lágrimas
Descobriu a vida e
Se viu diante de um dilema
Continuar criança numa vida de artista
Ou viver a vida repleta de despedidas
Não aguentou a primeira do amor de sua vida
(Rita was gone and now I’m a mad man
I am not a rocket man
“Não sou feito de pedra
Sou humano
Um simples homem...” )
Como continuar
Como continuar, se perguntava
E respondeu virando pássaro
Desejando o céu se esqueceu em si
Abandonado abandonou-se...
Mas se salvou com o amor de uma fã
Que o permitiu ver muito mais (do que): o além
E ele viu que era tudo aquilo que sonhou
E se libertou...
(continuou cantando sendo criança apesar do grisalho de seu sorriso):
“Dizem que sou louco
Por pensar assim...
Mas louco é quem me diz que não é feliz:

Eu sou feliz!”

domingo, 14 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 14 de agosto de 2016 -- POUPAS DE VIDA

POUPAS DE VIDA

A Jorge Plácido

O que é ser pai?
Cuidar do rebento
Que pequeno arrebenta nossos ouvidos com fome?
Amá-lo sem estragá-lo?
Trabalhar mais estudar mais viver mais para ensiná-lo?
O que é ser pai?
Ainda estou aprendendo...
Mas de uma coisa eu sei
Ser pai é também poupá-los das agruras da vida para não assustá-los antes do tempo 

sábado, 13 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 13 de agosto de 2016 -- RIO DOCE



RIO DOCE

Água doce que acaba em sal
Rio que procura o mar
Procuro tuas rotinas

Vens serpenteando municípios
Espremendo desde o princípio segredos
Acabando com rotinas ribeirinhas
Pela curiosidade que trazes aos que admiram o reflexo da lua

Tuas margens nuas
Não mais existem
E por isso estou tão triste
Triste por não poder inventar
Em palavras teu meu caminho para o mar
Às vezes nem as palavras conseguem ultrapassar o limite entre
O sonho e a realidade
Às vezes fica muito pesado carregar-se em arte
(às vezes só as lágrimas para lembrar-te)

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 12 de agosto de 2016 -- Oásis

Oásis

Os dias e as noites tinham a mesma cor
Meus olhos de sombra viam a luz como pintura
Rabiscos fixos dançavam pelos fios de algodão da cortina       
Um pedaço de gesso me lembrava uma escultura
Que acabara de ver num museu do Rio
Lágrimas escorriam
Lágrimas escorriam
E onde se escondiam?
Na minha memória, esse oásis de mistério que cultivo quase como se fosse um sorriso

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 11 de agosto de 2016 -- Olhos preenchidos

Olhos preenchidos

Vendo um post de Jeannette Priolli

a solidão é amiga íntima do artista
como se fosse sua sombra
que suspira ilusão
como se fosse uma irmã
que fizesse cafuné e massagem nos pés
como se fosse uma prima
que amasse o poeta apenas pela rima
a solidão somos nós olhando nossos olhos preenchidos de amanhãs

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 10 de agosto de 2016 -- LA VIE EN ROSE

LA VIE EN ROSE

Me diga palavras de amor
Estou precisando
De palavras

As minhas acabaram
Se foram e parece que não voltarão mais
Se foram como os meus sonhos
Se foram e levaram um pouco da esperança que ainda restava

Meu sorriso de criança há muito também se foi
Estou só
Lendo cantando falando baixo para não incomodar
Para não incomodar...

(O mundo é dos que incomodam ou
Dos que aceitam ficar em silêncio?
pergunto em silêncio, porque acredito que não virá resposta...)

terça-feira, 9 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 09 de agosto de 2016 -- Bela paisagem

Bela paisagem

Poema feito da visão de pintura feita com o pé por Fernando Reis

Daqui de longe
Vejo gaivotas ilhas coqueiros
Quase um paraíso tropical
Que conheço de filmes
Daqui donde estou estou desacostumado com algo que se possa chamar de paraíso
Desde o princípio feliz mas agora desconfiado das belezas naturais que transformamos em charco (essa a perda, com a idade desconfiamos de tudo e depois não sabemos mais o que é verdade)
Daqui de longe gostaria de poder acreditar que essa paisagem não foi pintada... 

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 08 de agosto de 2016 -- SOaRTE

SOaRTE

Vendo um post do Gift-ARTE

só a arte
transforma o quase nada
em um mundo de cores azuis
transforma a dor do homem em amor
transforma uma lagarta em borboletra
só a arte transforma o sonho em possibilidade
nada divina
até cretina de se achar um pouco deus
e por se julgar deus
ter de aprender a perdoar

domingo, 7 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 07 de agosto de 2016 -- Mulheres de cinzas

Mulheres de cinzas

Depois de ler o livro de Mia Couto

Imani
Cinza
Viva
Princesa que enterrava estrelas
Desejava o desejo
Ser mãe (natureza?)
Germano
Soldado poeta
Português
Assustado pela solidão
Escrevia cartas
E desejava a princesa de quinze anos
E não entendia porque não sabia
Se sua mãe estava viva...

Só as mulheres precisam passar desapercebidas
Como sombras como cinzas
Na guerra (do dia-a-dia)?

sábado, 6 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 06 de agosto de 2016 -- Caminhando na praia

Caminhando na praia

Poema feito da visão de pintura feita com a boca por Cristóbal M. Toledo

Uma donzela na praia espera
Espera por quem?
Pelo pai filho espírito?
Espera pelo ser amado alado magoado?
Espera vendo o mar dum verde intenso
Espera tensa
A donzela espera por que tem de esperar
E esperando reza?
E esperando quebra o encanto?
E esperando canta?
E esperando segue sua sina...

A donzela da sombrinha rosa deve estar esperando a esperança voltar... 

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 05 de agosto de 2016 -- CROSSROADS II

CROSSROADS II

Aos punks das periferias feridas

Não tenho medo de assombração (os mortos não fazem mal a ninguém)
Mas não gosto de encruzilhadas
Cada etapa deve ser vivida como cada etapa deve ser produzida
Poema é poema
Quando limitado pela melodia é letra de música
Cantar não é declamar declamar não é atuar
Gosto do poema lido sem fru-fru (João Cabral já falava isso)
E quando pinto pinto tentando uma combinação harmônica entre as manchas e as cores
Tudo inventado sim
Mas sem muitas misturas que possibilitem desculpas
Não faço o livro de poemas e fotos que não é um livro de poemas e fotos
Faço um livro de poemas que são poesia
Um disco de músicas que contém músicas
Faço um quadro com tintas pintadas, manchas da saudade disfarçadas, mas não faço arte plástica...sou pintador
Nada de inventar encruzilhadas que para mim são apenas desculpas esfarrapadas

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 04 de agosto de 2016 -- Homem-deus

Homem-deus

Os religiosos dizem que importante é Deus
Os ateus dizem que é o homem
Aí penso que
Importante é a
Natureza
Daquele que existe e a trata como se fosse parte de sua criação

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 03 de agosto de 2016 -- Pequena infância

Pequena infância

Poema feito da visão de pintura feita com a boca por Ruth Christensen

Crianças veem num jardim
Um cachorro brincar com um gato
Os balões coloridos que seguram estão quase fugindo pelo entusiasmo
Uma ri segurando flores e deixa escapar o encanto
Enquanto penso o que escrever elas apenas acreditam na brincadeira
Essa a diferença fundamental entre nós
Eu preciso da crença delas
E elas não precisam saber o que estou fazendo para viver

terça-feira, 2 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 02 de agosto de 2016 -- Esfinge

Sobre a areia surge a imensidão do mar
Meus olhos despreparados sorriem dessa imagem definitiva
Diva divina paisagem
Que está a me enfeitiçar
Tantos foram os momentos de sombra
Quantos serão os de queimadura
O sal na pele dura me fará lembrar
Minhas retinas puras lacrimejaram de tanto te olhar
“O mar quando quebra na praia é bonito é bonito”


Esfinge 

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

366 dias com poesia, 01 de agosto de 2016 -- A DAMA E O VAGABUNDO

A DAMA E O VAGABUNDO

Aos cinquenta e um anos...

ser
mais parecido com um mendigo
é o poeta
que perambula pelas ruas
mendigando histórias de vida e olhares
para se certificar de que não está parado
com suas letras que não têm espaço
num mundo capitalista babaca
em que só tem valor o que tem preço
e o apreço não dividido é o que o fascina
e o faz catar lixo no precipício de seus sonhos
e o faz falar sozinho procurando o eco de suas ilusões
e o faz pintar letras em muros de heras que crescem no desespero da solidão compartilhada