quarta-feira, 30 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 30 de novembro de 2016 --

Os anos vão se acumulando
E o peso das despedidas também
Não quero mais essa rotina de rimas cinzas

Estou tentando me livrar de parte de mim que não quer sorrir

Muito difícil
Extremamente difícil
Somos nossas memórias
E elas sangram

Pingam no papel sonhos
Da saudade que sentimos em
Gomos da

Árvore-vida

À memória de Bertha Plácido

terça-feira, 29 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 29 de novembro de 2016 -- Iludidos

Iludidos

“Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais”

Olhos nos olhos
Vida na vida
A escuridão da ferida
Tinge de tinta sangue os signos
Momentos simples viram fantasias
Cada dia, único dia
Cada sangria, suco de vida
Cada uva, prova que é possível plantar e
Das sementes inventarmos a alegria
Euforia em olhos nos olhos
Em bocas nas bocas
Iludindo-nos iludimos
E da ilusão nascerá
Sim
O sol nascerá em nossas retinas


(E é esse calor que precisamos para te esquecer: morte: palavra proibida) 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 28 de novembro de 2016 --

aquelas letras espremidas num papel amassado
se tiverem verdade
são poesia
e nunca mais deixarão de ser
porque um dia alguém vai ler
e será a coisa mais linda um ex-humano se comunicando anos depois
com um ser vivo
quase uma árvore
poderia dizer
um fruto sendo deixado e consumido
transformando realidade em sonho   


(ponho as mãos nos olhos e já posso dormir) 

domingo, 27 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 27 de novembro de 2016 -- carvoeiro

carvoeiro

Dizem que morremos
MENTIRA!
Só morrem aqueles que não deixam lembranças
Vocês se lembram do sorvete na esquina da praia com os avós?
No cinema no circo no jogo de futebol...
Eles não morreram estão em nós, inclusive
Ardem todos os dias dentro de mim
E a raiva com que escrevo pingando pelos olhos sentimentos me ajuda a sentir Seus cheiros
Como um incêndio presente nas narinas
Sinto tudo e tudo o que vivi me pertence e irá pertencer àqueles que quiserem 
Lembrar do calor das minhas palavras

sábado, 26 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 26 de novembro de 2016 -- A.M.O.R.

A.M.O.R.

Em tudo veem amor
Em tudo veem ódio
Em tudo veem sexo
Em tudo veem paixão
Desconhecem que no amor cabem todas as possibilidades
Amor

Movimento (que pode ser sexo, arte, fuga...)

Ode ao ex-ódio e

Raiva, que é a rara idade viciada em fazer arte

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 25 de novembro de 2016 -- Sombra de pétala

Sombra de pétala

Quanto tempo
Falta
Quanto tempo...
Para que a chuva pare de ameaçar as pétalas da minha rosa
Poesia tão singela e seca
Não precisa ser hidratada
Segue sendo o que sempre foi
Folha seca
Caindo leve
Ocupando apenas o espaço
Que deve ocupar


Faz sombra na terra me deixando rimar  

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 24 de novembro de 2016 -- REMADOR

REMADOR

Mesmo de modo disfarçado
Que às vezes pode até parecer tiração de onda
Um poema fala muito mais das derrotas
Do que das poucas vitórias
Até porque  derrotados
Já somos desde o nascimento
Pela falta de consciência da derrota final
Que nunca sabemos quando chegará
Então apuremos os ouvidos e passemos
A escutar mais a harmonia e menos a melodia das palavras escritas


(O grito do remador que pode parecer de prazer na verdade é de dor...)

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 23 de novembro de 2016 -- Buquê de oração

Buquê de oração

Ainda ontem conseguia lidar maravilhosamente bem com as palavras
Como se elas me pertencessem

Hoje em dia parece que desacreditei delas e está muito mais difícil formar uma frase em que eu acredite
Por isso fiquei triste porque com o poder que tinha com as palavras me sentia um jardineiro
Plantando sentenças onde só havia barulho
Como se cada palavra fosse uma semente
E cada buquê uma oração
Num mundo de ódios e incêndios
Plantava cheiros e cores e
Sentia o silêncio das flores crescendo
Como meu segredo


A Angélica Plácido

terça-feira, 22 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 22 de novembro de 2016 -- nadador II

nadador II

É na água que não tenho peso
Não tenho passado

Na água fico iluminado
Pela ilusão

Cada braçada um esforço
Que nunca será em vão
Porque estou vivo e fazendo e acontecendo

Preparo físico para rimar cantar pintar
E continuar
Pingando necessidades e sonhos

Alívio químico de sentir em mim a gelatina da vida

Na água sou mais forte porque preciso respirar para nadar
Preciso respirar...

Na água sem passado
Sou inteiro
Um presente intenso
Um esquecimento de futuro
Simples molhado seguro

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 21 de novembro de 2016 -- irmã siamesa

irmã siamesa

A Nuno Mindelis

Quem gosta de blues
Não gosta da alegria
Barata dos axés, disfarçados em sertanejos, que andam por aí
Quem gosta de blues
Gosta de fado de samba de roda
Gosta de sorrisos
De risos escancarados
Só se vierem por nervoso d’alguma notícia ruim

Quem gosta de blues saca de longe olhos marejados
É quase um caçador de momentos magoados
Apenas disfarça e finge não estar ligado na mágoa alheia porque às vezes não tem intimidade com o magoado

Quem gosta de blues não tem como não engolir a seco na primeira nota duma guitarra afinada em desilusão

Quem gosta de blues tem paixão por poesia mesmo que não leia não saiba não queira saber
Porque a poesia é muito mais parecida com o blues do que se pode imaginar
A poesia aliás é sua irmã siamesa 

domingo, 20 de novembro de 2016

princípios



Em gotas de palavras
Gotejo lágrimas
Rima fácil de difícil escrita
Tantos já tentaram sofrer sem saber como não marejar
Poucos conseguiram passar da primeira linha...
Dos que conseguiram alguns resultados pífios
Demonstraram o tamanho do desafio

Escrever o que todos sentimos do jeito que todos mentimos é uma questão menos de talento e mais de princípios

LENHA


 

Tirante

As declarações de princípios

Dos inícios de alguns poemas

O resto

É rio que

corre solto

 


É pedaço de lenha na correnteza

tempestade


 

Olho para o espelho e leio meus pensamentos:

"Não fique com medo, envelhecer é a única maneira de não morrer por isso faça amor não plante tempestade, a idade combina com experiência cheire sua essência extrato de sorrisos, querido!".

namoro


 

uma muda
olhou-me de soslaio
tentando alcançar-me
mal sabe
a dificuldade
de fazer-se
á
r
v
o
r

casca


 

super fluido

não supérfluo

o fluxo do pensamento

no tempo da razão

superando idiossincrasias

meditando sobre manias


adquirindo o tempo da casca do argumento longevo 

cadente



Sem abraço, o solitário sonha em ser estrela,

Para, acompanhado, ser constelação, e poder se jogar e ver alguém fazer um pedido...

A folha



...o sol amplia a luz do dia
alegria em forma de quentura
semeio a semente dura de preguiça que trago
penso na árvore
e a esmago
fazendo suco de verde
consistência
que logo virará caldo
marrom verdade
que me dará
a tão desejada folha

que será despida em poema

suor



Saber de cor a cor da flor
A dor do amor
O expor o suor em lágrima
Página antiga lida entre dentes
Sempre sentir sorrir do
Gosto de sorvete de lábios de agosto
Frementes

Implorando de cor a dor da cor da flor do amor

Idade de árvores



Crio criaturas
Sombras
Em tintas frias
Sorrisos na vermelhidão
Suo cismas sofro solidão
Mãos procuram tintas
Ritmos sumindo com a bateria
De corações atormentados que sorriem falso
Rimas risos rinite narinas procurando ar
Amarelo dengue azul freqüente
Ajuda a escrever rimas rumo à expiração
Inspiro certezas vomito confusão
Mental confissão de que precisamos de nós

Para contarmos nossas idades de árvores

outonal



flor do amor
cor da terra
sorte no sal da pedra
simples soluço do mundo
vento vermelho
veias fervendo jornadas


(vida)

Penínsulas



O mais bonito da arte
É o registro do esforço entre o sonho e a realidade
Efetivamente não nascemos para vivermos do tamanho que a vida real nos impõe
Uns abusam do álcool outros do exercício físico outros dos livros alguns das tintas na busca incessante de pretenderem crescer
Do espelho fogem como o diabo da cruz
Para não correrem o risco de se verem do tamanho físico que têm (alguns até são grandes mas o espaço que ocupam é pequeno)
Como somos por dentro?
Alguém quer saber?


(Somos ilhas ou penínsulas?)

blue



preciosa
pedra de
sofisticação...
(que bate em um coração...
blues...)
mágoa sólida em
rocha azulada


alma insólita

366 dias com poesia, 20 de novembro de 2016 -- O SOM DAS PALAVRAS

O SOM DAS PALAVRAS

Como se chama aquele sentimento de pertencimento?
Sonho
Alucinação
Amor
Paixão

Como se chama a mão que te faz cafuné durante um sono de arrefecimento?
Sonho
Alucinação
Amor
Paixão

Como se chama a chama que nos impulsiona a todo o dia preparar uma obra de arte fadada ao esquecimento que é o seu cimento?
Sonho
Alucinação
Amor
Paixão 

sábado, 19 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 19 de novembro de 2016 -- Grey day

Grey day

Um dia cinza é um dia ideal para a poesia
Ele traz uma angústia que acaricia quem precisa ser triste
Vocês sabem a tristeza existe e como um gata precisa ser acariciada
Tratada com o carinho de um menino que espera acordar do sonho rindo da ilusão
A tristeza é o ganha-pão dos poetas que muitas vezes ficam felizes ao poder conquistá-la
E amá-la ao rimá-la 

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 18 de novembro de 2016 -- invasores

invasores

Búzios com chuva...
pingos que afastam o sol...
sombras
frio
tempo de ouvir o vento...
e o vento me diz tanto
tento lembrar de todas as coisas
sopradas pela natureza
naturalmente um riso sem graça
por não conseguir captar
as pequenas rotinas
que nos definem
e se nos definem
são o que somos
habitantes invasores das dores que não querem calar

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 17 de novembro de 2016 -- Árvores X pássaros

Árvores X pássaros

Incidindo sobre nós há o tempo
Tempo que com o tempo nos escraviza fisicamente
Ele nos arranca sorrisos
(nos fazendo menos meninos)
E nos obriga a brigar contra o vento...
(temos que brigar contra algo no intuito de enganá-lo?)

O tempo e o vento
Sempre combinam de inventar dificuldades e
Ficamos parados
Parecendo árvores quando nascemos para pássaros

Essa talvez a maior maldade da vida

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 16 de novembro de 2016 -- mariposa

mariposa

o que dói
não é a dor que dói
o que dói é o eco que não sói
que não foi
que não sai
que não vira saudade

porque quando vira é arte e sou eu

o que dói é o que não sou eu
o que não é meu
o que não se transforma e não voa


borboleta que voa à noite na tempestade não tem sombra 

terça-feira, 15 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 15 de novembro de 2016 -- MMA

MMA

A Paulo Della Nina

A corrida começa
E não é com
O nascimento nem com
A tomada de tempo
É com
A tomada de consciência
Quando devemos mostrar
Se realmente acreditamos na esperança
Na esperança
De acreditar ter tempo para fazer algo

É com a consciência desse
Tempo emocional
Que a porradaria começa

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 14 de novembro de 2016 -- HIT SONG

HIT SONG

A Jorge Veloso

Éramos jovens e felizes

(Não sabíamos que o Guns iria acabar
Aliás não sabíamos que tudo poderia acabar)

Ondas na praia eram os desafios
Poucos fios nas muitas roupas nem eram notados
Sorrisos futebol na areia e a volta para casa garantida pelo trabalho dos pais

E assim seguimos até a vida adulta
Que começa quando descobrimos o valor da manteiga e do vidro de palmito
Qual era a música que escutávamos no rádio nas poucas vezes que estávamos tristes?

Agora aquela música não toca mais

Agora aquela música não toca mais

Por que não toca mais?

domingo, 13 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 13 de novembro de 2016 -- FACELESS MAN

FACELESS MAN

Aquele homem sem nome sem rosto sem siso

Está onde?
No espelho nas ruas aqui dentro?

Aquele homem que tem um sorriso nervoso e covinhas está tentando comunicar o quê? a quem?
Estranho modo de dizer estar vivo
Muito estranho...

Aquele homem canta uma solidão tão doída que dói até num surdo?

Aquele homem pinta tão colorido mas não encobre o frio de suas mãos?

Aquele homem rima simples mas é tão dolorido que dá para ouvir daqui seus soluços de amor?

Aquele homem sem nome sem rosto sem siso

Está com fome?

sábado, 12 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 12 de novembro de 2016 -- CAVALO DE AÇO

CAVALO DE AÇO

Olho para cima e na escuridão espero respostas
A lua quase me provoca um uivo
Mas me esqueço por segundos e lembro de tudo o que me levou a olhar para o alto
Esperar nunca é bom porque esperar é apenas esperar não é tentar
Mas o primeiro passo da tentativa muitas vezes leva uma vida inteira
Uma vida inteira sendo vivida em pequenos pedaços de medo
Pizza de segredos
Como se estivéssemos enganando alguém que não fosse nós mesmos...
E aí
Ficaremos cantando enganados: “Deixa a vida me levar...”
Ou seguraremos a rédea e cavalgaremos no pasto
Dessa vida sem limites para os desesperados?

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 11 de novembro de 2016 -- Quintana

Quintana

Lendo uma frase no facebook de Sílvia Tavares

“Uma vida não basta ser vivida: ela precisa ser sonhada”
... e sonhada vira quantas outras vidas?

O sonho do sonho pode ser real
Basta fechar os olhos e acreditar
Na mula-sem-cabeça no João no Tom no Batman

Querer acreditar é quase como ganhar a primeira batalha
De não se deixar levar pela angústia da impossibilidade
Verdadeira maldade que os experientes fazem com os novatos

Sonhemos o sonho do sonho magnetizado
Sonhemos para poder viver o sonho
Vivamos a realidade suspirando seu cheiro
Meigo retorno à criancice de outrora

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 10 de novembro de 2016 -- paradoxos

paradoxos

Vendo num post do GIFT-Arte seres humanos girando

...e o mundo da roda gira
e a roda do mundo nos transforma em mecanismos de uma vida sem fantasia
a arte precisa
precisa existir
para nos restituir a glória
dum passado em que éramos deuses
sem nome
sem rosto
sem palavras... 

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 09 de novembro de 2016 -- DOMINGOS DA GUIA (Divino)

DOMINGOS DA GUIA (Divino)

A John Coltrane

Um sopro de vida
Um sopro divino
Como Ele conseguia suplantar tanta dor?

Toda a dor que sentia é nossa também
A dor da incompreensão
A dor da maldade
A dor da luxúria
A dor da coragem de se lançar e assoprar mesmo sem fôlego
A dor do sufoco de saber-se solidão e tentar lidar com isso com a emoção do desespero com tempero de lucidez e esperança?

Como ter lucidez com esperança?

Com quantas notas se janta a fome de viver?

terça-feira, 8 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 08 de novembro de 2016 -- Ícaro e a tentativa

Ícaro e a tentativa

Queimou os olhos por olhar o sol
Mas voou

Só seu reflexo no mar
Já valeu a tentativa, pensou

Fraturou os braços
Mas se sentiu
Abraçando o mundo...

(e nós que ficamos aqui embaixo catando coquinhos
Quando aprenderemos a suportar
O peso da tentativa?)

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 07 de novembro de 2016 -- WALKING DEAD

WALKING DEAD

...é simples assim
um poema
é quase uma oração ao dilema
entre
viver sentindo a dor de viver
ou
fingir não sentir e viver
sorrindo
andando
como um zumbi
sem saber quando será consumido pelos caçadores de seriados 

domingo, 6 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 06 de novembro de 2016 -- SAUDOSA MALOCA

SAUDOSA MALOCA

A Adoniram Barbosa

Ainda ontem estive aqui
Olhei para os lados e não te vi
E não foi por mal
Não te vi porque estava tentando me enxergar
Ato dificílimo de ser conseguido
Tudo que ouvimos vimos e vivemos
Quase que conspira contra a capacidade de sabermos quem somos
Muitas vezes ou quase sempre porque ficamos acompanhando a vida dos outros nos esquecendo de viver a nossa

Saca aquele papo da saudosa maloca do Adoniram?

sábado, 5 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 05 de novembro de 2016 -- MICHEL TELÓ

MICHEL TELÓ

Falam do amor com entusiasmo por desconhecê-lo
Confundem amor com vontade cega
O amor às vezes traz pouco sorriso
É mais fácil espremê-lo
Entre dedos numa noite de saudade

Falam com paixão do amor por desconhecê-lo
Como se fosse um pássaro que pudesse ser colocado numa gaiola
E fosse cantar depois de preso
Falam do amor enquanto na vida que está lá fora está chovendo
Chovendo calúnia inveja e insensatez...


Os jovens são belos pela paixão que sentem em tê-lo

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 04 de novembro de 2016 -- pitada

pitada

A Louise Woollie

Calmo e emocionante
O som
Intenso
Asfixiante
De Lousie Woollie
Expressa o andamento dum rio
Caudaloso mas não frio
Simples e precioso
Requintado
Como um vinho tinto português
Que desce pela garganta provocando passados
Tímido sem ser piegas
Límpido sem ser a entrega de uma rosa
Está mais para a conquista duma selva de possibilidades
Harmônicas
Orfeônicas
Supersônicas


(Lousie tem pitada de poesiazz)

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

366 dias com poesia, 03 de novembro de 2016 -- prêt-à-porter

prêt-à-porter

um poeta nunca está só
porque traz consigo
o cheiro do ninho
cativa lembranças de que faz rimas
tece tecidos de algodão de linho
da semente
que inventou plantar
que inventou preparar em linhas
e que inventou costurar...


a vida escrita é mais fácil e justa

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

soldados


 


onde estão os generais que ganhavam guerras com declarações de amor de canhões?
eles se foram por que morreram ou por que nós acabamos com sua munição?
eles se foram deixando saudade de pólvora?
eles nos deixaram mesmo ou somos soldados soldados em memórias de pátrias amadas? 

INFERNO


 

IN(seguro)

           
(en)FER(mo)

     

                                               NO (escuro)

milagres



Somos milagres de Deus?
Sua imagem e semelhança?
Se somos
Por que aceitamos nossa diminuta dimensão?
Por que esperamos por tudo?
Por que ficamos parados olhando a vida acontecer?
Se somos semelhantes a Ele
Deveríamos ter a coragem de fazer coisas evoluídas
Ajudar ao próximo
Correr uma milha
Pintar uma saída
Andar de bicicleta com um neto
Ler um livro para um amigo doente
O que fosse
Sem temer nada nem ninguém
Seríamos como anjos de asas guiados
Pelo poder divino
A nós emprestado
Sem cobrança
Sem juros

Já com o perdão embutido em caso de algum tropeço 

Vaticano


 

sinceros manifestos anexos
incertos medos credos
panfletos negros indiscretos
coretos desconexos sexos
cruzes e credos perto
dentro do Vaticano

perplexo 

sanhaço



(vendo um caminho...)

caminhas?
caminho?
olhando agora de longe o ninho
tentando não esquecer das pegadas
que me trouxeram até aqui
o cheiro da macarronada
desperta em mim uma lágrima de recordação
um amigo me olha de um jeito estranho
como se eu fosse seu pai irmão
como se eu falasse sermão
sei não
nem quero nesse momento saber
mas aquele olhar desconfiado
fincou uma desconfiança
uma esperança de mudar
ser mudo
ser muda
semear em mim um silêncio de versos
palavras sem rimas mas com peso
desejos sem bateria de escola de samba
sem pele de manga
sem asas sem aço sem marcas
sanhaço tentando cantar uma nova melodia
Silenciosa...

(como uma cobra? sobra?)