segunda-feira, 31 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 31 de agosto de 2015 -- olha setembro

olha setembro

olha setembro está chegando está cegando de vontade de saber quanto tempo ainda falta para saber quem sou e o que estou fazendo aqui
olha setembro está batendo na porta e ainda olho desconfiado o que sinto? Como posso desconfiar de mim?
Sendo assim acho melhor inventar uma melodia triste e não colocar palavras para tentar despistar a falta de alegria?

olha setembro está chegando cegando ensurdecendo-me de melodias que rimo e sorrio sem som 

domingo, 30 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 30 de agosto de 2015 -- viventes

viventes

Quando rabiscávamos nas cavernas
Pinturas rupestres eram a tentativa do mistério?
Afirmação dos atos necessários à sobrevivência psicológica? ou apenas
Primeiros pensamentos, manifestação da arte inerente a todos os seres viventes?

sábado, 29 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 29 de agosto de 2015 -- madrugadas

madrugadas

Quando ouço cada pensamento
Como uma gota na torneira enguiçada da pia da cozinha
Algo está errado
Algo está silenciosamente extremado
Não posso estar me sentindo tão triste
Com sorriso de esfinge
Como se o Egito fosse aqui dentro de mim
Preciso urgentemente dum rio Nilo
Dum pedaço de ilusão
Dum sorriso duma sensação de nordeste
Um sol, estrela que brilhe e me ensine
De novo quem sou para mim
Aquele menino que com raiva pariu um jardim
De rimas melodias e tintas

Aquele menino não se pode deixar encharcar pelo frio inculto das madrugadas

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 27 de agosto de 2015 -- tempestade

tempestade

Cansado de ter de explicar...
Alguns andam em círculos
Outros ficam parados
Espreitando o sorriso...


(a arte é um sofrimento sadio vontade de abrigo depois da tempestade interna que não para de chover palavras)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

terça-feira, 25 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 25 de agosto de 2015 -- tatuagem

o sorriso tatuado no rosto de quem não sabe o que é alegria

o pingo de tinta vermelha na camisa branca do homem que não sabe onde está a tela

a memória falha de quem já não sabe mais onde está

o azul dum lago imaginário no olhar de quem não sabe parar de ser Narciso

domingo, 23 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 23 de agosto de 2015 -- lua e sol

quando triste
ouço um roque
a forte batida me provoca
me põe a sorrir do barulho
me livro do susto e faço muque diante do espelho

os roqueiros são crianças grandes que acreditam na força do sol


quando estou feliz
ouço blues
a angústia crua me provoca
me põe a soluçar rimas
me livro de mim e faço beiço diante do espelho

os blueseiros são crianças grandes que acreditam na força da lua

sábado, 22 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 22 de agosto de 2015 -- pimentinha

victoreutinhafeitoumpoemabembonitodisfarçadoparadizerqueteamomasmeucomputadorenguiçoueagoratenhoquefalardenovoeaproveitoparaserexplícito:
TE AMO FILHO, CONTE SEMPRE COMIGO!

A Victor Plácido, 19 anos

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 21 de agosto de 2015 -- strong

entardece

a luz evanesce

o sol é só lembrança

a cor alaranjada me lembra a esperança...

todo dia quando amanhece acordo curioso sobre a cor azul do céu

o cinza me entristece

como se eu precisasse do sol para sorrir

sim é assim que me sinto:

forte com luz

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 20 de agosto de 2015 -- ramo de cor

ramo de cor

Todos que cantam encantam?
Todos que gritam se escutam?

Todos que pintam ilustram?
Todos que se sujam se culpam?

Todos que riem rimam?
Todos que amam sangram?


Todos que se esquentam semeiam um ramo de cor?

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 19 de agosto de 2015 -- outra face

outra face


em alguns momentos somos nosso próprio veneno
desaprendemos os passos passados
por medo das consequências
nos encolhemos
e temos motivo de vergonha:
não nos perdoamos
(não viramos a outra face)
não domamos a sombra
que anoitece nossos olhares
sóbrios de oportunidades... 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 17 de agosto de 2015 -- barco, âncora e vela

barco, âncora e vela

Alguns perguntam
Se o passado é âncora ou vela
Acho que o passado é o barco
A âncora e a vela
Precisamos dele para saber quem somos (âncora)

E continuar navegando (barco) com a força necessária dos nossos sonhos (vela) 

domingo, 16 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 16 de agosto de 2015 -- pátria amada

pátria amada

É como se o país vivesse entre o canto dos funks e o trinado dos sertanejos discussão metafísica entre um metaleiro e um orquestral lixeiro sambando rindo não sei do quê

Um quê de esnobice dos escritores que escrevem para agradar a elite contando histórias que não viveram como os artistas plásticos que querem ser reconhecidos e por isso sempre pintam o mesmo quadro de cores diferentes (grande artifício!) jogadores de futebol que ganham fortunas para beber e comer tudo o que não podem atletas paralímpicos que demonstram a gana de serem excluídos mendigos que querem ser ouvidos políticos que querem ser esquecidos Ufa! óh pátria deste solo és mãe gentil pátria amada Brasil

sábado, 15 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 15 de agosto de 2015 -- sangramento

sangramento

NÃO HÁ O QUE SALVAR!
Quando um poema não sangra
Como nós sangrávamos quando estávamos vivos
Ele não serve pra nada
É um desperdício de tempo e de árvores
Mesmo as virtuais devem ter razão de existir
Aliás todos deveríamos ter razão de existir

Mas preferimos sorrir do erro alheio abrindo mão de sabermos quem somos

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 14 de agosto de 2015 -- fracasso

Queria fazer um poema sentido
Daqueles que conseguissem transformar
Lágrimas em palavras
Palavras em lágrimas
Que só mudassem de dono
Passassem do poeta para o leitor
Como um copo de leite dividido entre primos
Queria tanto conseguir mas das vezes que tentei não obtive êxito
Fiquei esperando tanto o sopro da primeira frase que deve ter se perdido no Barulho da vida real que me cansei e parei
Parei e chorei
Chorei e suspirei
Suspirei e fechei os olhos e tentei
Tentei dormir com todas as minhas forças mas não consegui
E não conseguindo estou aqui
Dividindo o fracasso para mostrar que o fracasso é que dá poema


fracasso

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 13 de agosto de 2015 -- camisa manchada de vida

camisa manchada de vida

A vida sem arte é apenas passagem
Esbarrões gratuitos em várias carnes
Sem olhos de fado
Sem lágrimas de saudade

Sem arte a vida existe qual lodo
Agarra nos pés e atrapalha
Suja a festa que poderia ter ocorrido colorida

A vida com arte não é só de risos óbvio mas é mais intensa
Permite 
Um poema simples e precioso
Uma canção quiçá sussurrada uma

Camisa manchada de tinta...

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Manoel de Barros, em Retrato do artista quando coisa -- (Apêndice)

1. Ninguém consegue fugir do erro que veio.
2. Poema é lugar onde a gente pode afirmar
que o delírio é uma sensatez.
3. A limpeza de um verso pode estar ligada a
um termo sujo.
4. Por não ser contaminada de contradições a
linguagem dos pássaros só produz gorjeios.
5. O início da voz tem formato de sol.
6. O dom de esculpir o orvalho só encontrei
na aranha.
7. Pelos meus textos sou mudado mais do que
pelo meu existir.
8. Não é por fazimentos cerebrais que se
chega ao milagre estético senão que por
instinto linguístico.
9. Sabedoria pode ser que seja ser mais
estudado em gente do que em livros.
10. Quem se encosta em ser concha é que pode
saber das origens do som.

Manoel de Barros, em Compêndio para uso dos pássaros -- EXPERIMENTANDO A MANHÃ DOS GALOS

...poesias, a poesia é


-- é como a boca
dos ventos
na harpa


nuvem
a comer na árvore
vazia que
desfolha noite


raiz entrando
em orvalhos...


os silêncios sem poro


floresta que oculta
quem aparece
como quem fala
desaparece na boca


cigarra que estoura o
crepúsculo
que a contém


o beijo dos rios
aberto nos campos
espalmando em álacres
os pássaros


--- e é livre
como um rumo
nem desconfiado...

Manoel de Barros, em Livro do nada -- AS LIÇÕES DE R.Q.

Aprendi com Rômulo Quiroga (um pintor boliviano):
A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem de suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O lho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo.
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo.
Fazer noiva camponesa voar -- como em Chagall..

Agora é só puxar o alarme do silêncio que eu saio por aí a desformar.

Até já inventei mulher de 7 peitos para fazer vaginação comigo.

365 dias com poesia, 12 de agosto de 2015 -- Arlequim

Arlequim

Arrasado pelo tempo
Arrastado pelo vento
Vou seguindo
Solamente
Um dia de cada vez
Ouço tamborins e cuícas
Anunciando a alegria
Não me dizem respeito
Estou ligado na droga mais poderosa do mundo:
Consciência!
Com ela rio choro
Aconteço
Ela é capaz de me fazer querer continuar
A trilhar a caminhada
Por quilômetros de avenidas com falsas risadas...


(uma lágrima falsa pintada na cara disfarça as verdades caladas)

terça-feira, 11 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 11 de agosto de 2015 -- poesia, música e pintura

poesia, música e pintura

Na poesia tão importante quanto o que digo é o ritmo empregado
Deve-se escrever que se está sofrendo num ritmo de fado
Na canção a melodia ajuda o perfume da poesia que está por ela limitada
Mas que pode colocar o ouvinte para escutar enquanto ouve...
A pintura necessita de olhos desacostumados de parar de ver a vida alheia

Esse o maior desafio moderno

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 10 de agosto de 2015 -- sonhos pequenos

sonhos pequenos

cor dura
pura dor
púrpura
flor em vaso de plástico
tantas tintas tantas lágrimas
amarradas em olhos opacos
em rostos gris
onde está as mãos (as mães)
onde estão as sementes
que adubarão

meus pequenos sonhos?

domingo, 9 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 09 de agosto de 2015 -- Pais e filhos

Pais e filhos

Ao meu pai, Jorge, e aos meus filhos: Vinícius, Victor e Thiago

Todo filho vai ser pai?
Todo pai já foi filho!

O filho deve saber que o sofrimento de amadurecer é recíproco
Ele está crescendo fisicamente pelo esforço do pai que está diminuindo e
Não nasceu sendo
Ambos estão aprendendo...
E nesse mútuo aprendizado
O que tem de prevalecer é o amor
Por amor
O pai muitas vezes deve ensinar o que não faz (ensinando para aprender)
E  
O filho deve respirar e relevar a falta de jeito do menino travesso que lhe deu vida (aprendendo para ensinar)


(Escrito é mais fácil...mas para ter sido escrito de alguma maneira já foi vivido...)

sábado, 8 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 08 de agosto de 2015 -- famintos

famintos


de vez em quando é necessário chorar para lubrificar as imagens que por muitas vezes turvam meu raciocínio desde o início antevi o precipício que é falar verdades todos gostamos do calor do cômodo sentimento de acomodação baseado infelizmente e normalmente em mentiras algumas sociais outras infernais porque nos afastam do caminho que deveríamos estar traçando das linhas que deveríamos estar traçando comendo não pelas beiradas mas com a intensidade da colherada no meio da sopa vida única conhecida erro suicida que nos afasta de todos nós outros famintos por vida

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

365 dias com poesia, 07 de agosto de 2015 -- Pombos

Pombos

Sim
Deus existe
São as crianças brincando de viver
Sorrindo do risco de não saber
Com olhos gulosos barulham o silêncio
Entopem a cidade de esperança
Criam possibilidades que nós adultos já esquecemos

Porque crescemos e aprendemos a desconfiar

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: O banquete

1er mars 1940 


Le repas
le drap se leve du lit et immédiatement ses roues en riant à gorge deployée déchirent en lambeaux la peau du bouquet planté jusqu’à la garde sur le chant traînant ses savates sous les pieds de la table attachée au crystal du vase par des chaînes et la voix que repete le miroir mis à nu par les soins du bleu tendu à lui faire pousser des hurlements sur la bouche édentée de la fenêtre lui fait un salut très cérémonieux et bien étrange 1e plat on apporte les larmes en tas de sable et on les fait craquer entre les dents par des hommes et des femmes choisis parmi les plus beaux



o lençol se ergue da cama imediatamente estende-se lacerante flutua gira em gargalhadas a pele do buquê planta sobre a guarda o canto arrasta seus chinelos sob os pés da mesa e ataca o cristal do vaso aprisionado e a voz, que repete o espelho pondo o som do azul nu, mirando-o na janela, força o grito na boca desdentada ele faz um brinde cerimonioso e estranho primeiro prato produz lágrimas na ampulheta, tártaro, entre os dentes, dos homens e mulheres escolhidos entre os mais belos

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: piquenique

Atelier du Fournas Vallauris le 18 octobre 1954

Pourquoi tant et tant pleurer les amandiers en fleurs? faits autour de l’arche de miel de l’ogive pendue aux faîts bien éclatants mis au jour d’aujourd’hui si galamment mis en évidence à la fenêtre. Les mains pleines de sel entourant la courbe de musique sonnant le tocsin sur les drapeaux mis en berne. L’heure levée si tôt mordant dans le pain rassis – traînant ses tripes sous l’évier. La rage accompagnant le défilé et la fanfare. Les enfants cuits à point arrosant le gerbe de ses cris et de ses rires. Le prévoyant conseil tordant ses draps sur l’herbe. La chasse arrondissant ses angles dépouillant ses linges sur le toit de toute sa grandeur. Et le sucre figé et les mille et cent fleurs de l’azur suintant son haleine sur les pompons de guipure accrochés aux branches. La necessite faite em losanges et triangles rôdant sa dimension acquise aux solives. L’amour disant la bonne aventure aux nids d’hirondelles brisés sur les dalles de la terasse. Une absolute position extrêment difficile à tenir couchée debout au bord de la barque émeraude. La necessite de faire le bilan les comptes et la lessive avant le soir. Remplir des épluchures jetées le long des à goutte et à flots aux orties. La pleine décadence faite reine et chevaux de frise de tous faits accomplis. L’aurore boréale comiquement déguisée en cigale prêteuse.

Un point c’est tout.


Ateliê de Fournas Vallaris, em 18 de outubro de 1954.


Por que tanto tanto choro das amendoeiras em flor? feito ao redor da arca de mel na ogiva caída nas cumeeiras resplandecentes misturadas ao dia de hoje gentilmente evidenciadas pela janela. Mãos cheias de sal circundam a curva de música sonora de sino sobre as bandeiras a meio pau.  As horas se levantam rápidas mordendo o pão duro – arrastando suas tripas sob a pia. A raiva acompanha o desfile e a fanfarra. As crianças cozidas ao ponto engrossam-se no molho de gritos e risos. Conselho precavido torce a toalha sobre a grama. A caçada arredonda seus ângulos despojando-te de tuas roupas íntimas sobre o abrigo de tua grandeza. E o açúcar endurece e mil e tantas flores azuis destilam seu hálito sobre os pompons de renda agarradas nos galhos. A necessidade amadurece em losangos e triângulos que adquirem dimensão nos mastros. O amor dita a boa ventura nos ninhos das andorinhas destruídos nas lajes no terraço. Uma situação extremamente difícil dorme de pé a bordo da barca esmeralda. Há a necessidade de apurar o prejuízo antes do anoitecer. Catar o lixo jogado longe em gotas e ondas nas urtigas. A plena decadência se faz rainha e escapa na melhor cavalgada de tudo que já foi realizado. A aurora boreal comicamente disfarça-se de exibida cigarra.
  

Assunto encerrado.

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: bolso de pêlos

 19 septembre 1940 

autre matin

le ciel appuie de toute sa force la soie du drap tendu sur le cadre décharné de la fenêtre et la pâleur de ses joues gonfle la poche pleine de poils du sucre acidule du vert des roses des anémones la cloque en glissant sa panse dans la chambre déchire sa peau aux beurres de la scie des lèvres glacées du plâtre les gouttes du sang qui coule de ses plumes arrachées allument le troupeau des lampions entassés dans un coin pour cette fête
 

outra manhã


o céu apóia com toda a força a seda do lençol estendido no caixonete ressequida da janela a palidez de sua face intumesce o bolso cheio de pêlos de açúcar acidez verde das rosas anêmonas a bolha resvalando em sua pança na alcova rasgando a pele na manteiga do sorriso de lábios congelados no gesso gotas de sangue que fluem das plumas arrancadas inflamam as luminárias amontoadas num canto da festa

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: vista matinal

 18 septembre 1940 

vu matin


I
flammes pétrifiées des nuages angora suintant ses baves sur les briques liquides du ciel empestant les draps des vignes ☼ les pattes de la table mordant à la poitrine le soleil qui se traîne à sés pieds couvert de chaînes ☼
le canari de la harpe du bleu saupoudré sur la pâte à frire sonne l’heure à ses clochettes

II
croûtes du fromage des cheveux emmêlés des arbres qui s’évaporent sur la dalle du ciel pose sur les madriers du fleuve la laine qu’huile la lampe de ses narines du beurre de l’herbe caresse de sés doigts l’haleine emmaillotée qui tremble

III
aux quatre angles la fenêtre déchire le jour qui point et pan une pluie d’oiseaux morts frappé le mur et ensanglante la chambre de ses rires

vista matinal

I
chamas petrificadas nuvens da cor angorá babam nos tijolos líquidos do céu empesteiam o lençol das videiras ☼ os pés da mesa mordem o peito do sol que se arrasta aos seus pés coberto por correntes ☼ o canário da harpa azul espalha sobre a pata frita soa na hora anunciada

II
casca do queijo cabelos embaraçados árvores que somem na laje do céu pousado nas madeiras do rio a lã que acende a lâmpada de suas narinas qual manteiga de ervas carícia de seus dedos hálito nervoso

III

os quatro cantos da janela desejam o dia que aponta e guarda uma chuva de pássaros mortos que batem no muro e ensangüentam o quarto de risadas

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: chamas?

 26 juillet 1940 

IV
langue de boeuf du métal frissonnant dans le cristal enveloppant la tête blessée du bouquet de fleurs avec tant de tendresse

V
boeufs labourant le metal des flammes des champs de cristal de la tête blessée du bouquet des fleurs

VI
éventail ouvert à tous les vents bourrasques des plumas de l’arc-en-ciel des boeufs labourant le métal des flammes du champ de cristal de la tête blessée du bouquet de fleurs




VII
arc-en-ciel des boeufs labourant le métal des flammes de la bourrasque de plumes du cristal blessée du bouquet de fleurs des cris cloches des parfums écrasés


VIII
arc-en-ciel des plummes des boeufs labourant le cristal des flammes


IX
plumes de l’arc-en-ciel des boeufs labourant cristal des parfums des cris des cloches les flammes


X
cris de cloche du cristal des parfums labourés par la bourrasque des plumes de l’arc-en-ciel en flammes


XI
bourrasque de plumes des cris du cristal de l’ar-en-ciel des boeufs labourant les flammes du bouquet

XII
bourrasque de plumes des hauts cris du cristal de l’arc-en-ciel des boeufs labourant le parfum des flammes du bouquet

XIII
bourrasque de plumes des hauts cris de l’arc-en-ciel labourant le cristal des flammes du bouquet

XIV
hauts cris l’ard-en-ciel des plumes labourant le cristal de la bourrasque des flammes



IV
língua de vaca de metal estremecido no cristal que guarda a cabeça ferida no buquê de flores com tanto carinho

V
carne arranhando o metal chamas no campo de cristal da cabeça ferida no buquê de flores

VI
leque aberto a todos os ventos tempestade plumas no arco-íris carnes arranhando o metal chamas no campo de cristal da cabeça ferida no buquê de flores

VII
arco-íris carnes arranhando o metal chamas da tempestade de plumas cristal abençoado buquê de flores gritos sinos anunciando perfumes esmagados

VIII
arco-íris plumas carnes arranhando o cristal chamas

IX
plumas de arco-íris carnes arranhando o cristal perfumes gritos sinos anunciando chamas

X
gritos sinos anúncios do cristal perfumes arranham na tempestade plumas de arco-íris em chamas

XI
tempestade de plumas gritos do cristal do arco-íris carnes arranhando chamas do buquê

XII
tempestade de plumas estridentes gritos do cristal do arco-íris carnes arranhando o perfume das chamas do buquê


XIII
tempestade de plumas estridentes gritos de arco-íris arranham o cristal chamas do buquê

XIV

estridentes gritos no arco-íris plumas arranhando o cristal da tempestade chamas  

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: cortina

7 janvier 1940 

la plaque photographique tournant sur un axe à une plus grande vitesse que les images s’agitant autour d’elle et retrouvant fane dèjá le bouquet de surprises non encore cueilli mais laissant accroché à chaque réincarnation la larve témoin que malgré l’inconstance des rayons de lumière la frappant jusques au sang sur tout son corps nu entraîné au galop des souvenirs dèjá classes et ne laissant aucun doute balancier de la lumière l’éclairant soutient tout le poids rement sur le rideau y tansparent des sensations inaperçues à l’origine



lâmina fotográfica girando sobre o eixo a uma grande velocidade imagens agitam-se ao redor dela e lembram folhagens já o buquê de supresas ainda não colhido está mais próximo a cada reencarnação a larva testemunha que embora a inconstância dos raios de luz golpeie até mesmo o sangue dos corpos nus conduz no galope lembranças clássicas ainda não esquecidas dúvida balançando a luz esclarecendo sustentando todo o peso remendo na cortina e transparentes sensações imperceptíveis na origem

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: íbis

5 janvier 1940 

une figure jolie même celle de la femme aimée n’est qu’un jeu de patience le symptôme de la préfiguration de l’amas de fils emmêles d’un système à établir coûte sur des plans perspectifs tires par les cheveux du parfum si délicieux soit-il du tas de merde que les couleurs des projecteurs font s’épanouir en vase clos à la température du rose qu’il faut dessiner avec des cendres glacées de ses angles et ses courbes devant le hasard n’arrivant à faner coupés au ras du sol et portant en saison le fruit à sa maturité que si à sa vitre ne frappé son coup mortel dans la mêlée à peine reconnaissable derrière le rideau saumon des pattes des íbis la raison folle et nue


uma figura bonita mesmo aquela da mulher amada apenas um jogo de paciência
sintoma do preparo dum monte de filhos misturados a um sistema que casa custos aos planos
perspectivas retiradas das madeixas perfumadas delícias que assim seja do monte de merda que as cores dos projetores desabrocham em vasos fechados à temperatura da rosa que precisa desenhar com cinzas gelados ângulos e curvas diante do acaso
cores que não desbotam até o nível d’água na estação levando a fruta ao amadurecimento

na sua vidraça não aplicará seu golpe mortal atrás da cortina salmão patas de íbis razão louca e nua

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: malva

4 janvier 1940 

l’amer liquide que distille le bleu roi qu’enfarine le carré qui comprime le lait qui trait le vert de la persienne du lilás jeté sur le mur courant autour de la maison se chauffant au soleil sur le pierres bloque son compte et fixe dans quelques mots gentils entendus écossés et habilés de neuf la coupe et la façon du comble de la fidèle ressemblance que duvet et la laine de l’agneau égorgé aux ailes brisée par les coups le fouet de la couleur saupoudrée par le parfum du rose somnambule filant de toute la vitesse de ses doigts le coton de l’acier des armures clouées sur le mauve supportant toute la responsabilité du coup marque et toutes les conséquences qu’aux feux des portes et fenêtres et à l’eau qui l’illumine garde encore sur son dos la trace de ses morsures bien visibles



amargo líquido que destila o azul rei que enfarinha o quadrado comprime o leite que (mal) trata o verde da persiana lilás que pula o muro correndo acorrentado ao redor da casa se aquecendo no sol sobre as pedras que bloqueiam planos e fixam palavras gentis entendidas debulhadas ene(r)vadas com roupas novas que no ápice da fidelidade se assemelham à pena pele de cordeiro degolado asas quebradas por cortes do chicote da cor espalhada pelo perfume da rosa sonâmbula que controla a velocidade das mãos de algodão do aço das armaduras cravadas na malva suportando toda a responsabilidade do golpe que marca e as conseqüências todas que ferem portas e janelas e suportando a água que ilumina e ainda guarda sob suas costas feridas visíveis

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: suados

 28 decembre 1939 

suinte du tambourin goutte à goutte le miel de la joue en feu de la maison qui claque sur le drap noir qui déploie l’aigle vomissant ses ailes le mur s’avance à toutte vitesse pour recevoir l’aumône de l’ombre portée jouant la comédie d’être de la fenêtre les persiennes s’agitant avec des grands gestes comme des folles

le mur accourt à l’appel et s’y colle à l’ombre portée qui laisse flotter ses ailes les deux persiennes qui soutiennent le corps de l’aigle lâchent leur proie et l’abandonnent à son sort la maison vide ses tripes sur le ciel

suam os tamborins gota a gota o mel da face em festa na casa grita no lençol negro que arremessa suas asas qual águia avançando contra o muro à toda velocidade por receber esmolas das sombras barriga atuando na comédia de estar na janela as persianas se agitam em grandes gestos loucos


o muro veste a fantasia que se cola às sombras barriga que deixa suspensas suas asas duas persianas que sustentam os corpos de águia que afrouxaram(-se) as presas abandonando-se à própria sorte casa vazia tripas sobre o céu 

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: pau de sebo

10 janvier 1938 


laisse au printemps arrivant à pas de loup le soin de beurrer
L’amour qui suinte de ses yeux autour du froid glacial qui perle sur le dos du soleil tenu suspendu par ses quatre coins cloués aux gros madriers soutenant le ciel qui laisse tomber son poing sur la cassette que grillant sa lumière sur le feu doux du pan d’étoffe trempant dans l’urine des roses couvrant le mur mitoyen du parfum de leurs excréments tricote la ronce du fil à plomb de l’arc en pierre déchirant en lambeaux le corps nu de la fille étendue à sécher sous le drap mauve de son image accroché au fanion attaché au bout du mât de cocagne du mordoré de sa gorge dessinant minutieusement sur l’ombre de l’arôme de l’arbre couvert de poux déchirant son comique enveloppe de cris d’angoisse coupant la corde raide du masque en cristal de roche rongé par les piqûres des camions fixant dessus la ruche coeur calanque colline fiche mesure odeur fleuve entourant en spirale le mot dort la fleche de la lampe glissant sur le papier le traversant allègre


deixe a primavera chegar na ponta dos pés cuidado de amanteigar o amor que

pinga de seus olhos próximos ao frio glacial que orvalha sobre o dorso do sol seguro suspendido por suas quatro pontas amarradas nas grossas tábuas que sustentam o céu que pousa seus punhos sobre o cofre seca sua luz sobre a feiúra doce da fralda abafada mergulhada na urina de rosas que cobrem a meia parede do perfume de seus excrementos que avançam no espinho do fio de prumo do arco de pedra que dilacera em farrapos o corpo nu da filha secando sob o lençol malva de sua imagem pendurado no estandarte amarrado na ponta do pau de sebo vômito de sua garganta desenhando minuciosamente sombras com aroma de árvores cobertas de piolhos cobrindo-se em lacerantes gritos de angústia que cortam a corda transformam a cara num cristal de rocha que se corrói nas picadas dos alfinetes fixados debaixo da colméia coração enseada colina estaca limite odor curso de rio rodando em espiral a palavra dormindo flecha na luz bruxuleante sobre o papel atravessado e feliz

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: mandrágora

2 juillet 1937

quel triste celui de la chaise percée de la vieille mandragore – borgne – hachée menu – cousue de fil blanc à la robe de mariée du coup d’épée donné à la flamme du bec de gaz de l’aurore boérale étendu à sécher sur la fleur évanouie de l’étoffe de soie mauve du rire jaune citron des comptes à dormir debout et des pleurs orangés piques à la machine de la nuit de guimauve.
quel coquet désir de frire l’amas de révérences aux poils de la bête en colère écoute l’oreille collée à l’arôme du thym les coups de fouets dans ses chevilles et quel triste sort mendiant éprouvé aux caresses celui de la chaise percée de mille printemps apporte les regrets du miroir de sa plaie à la chemise en toile d’araignée de la vieille mendiante inscrite sur le dos du libre arbitre mangé des vers de l’épingle qui traverse la tige de la fleur d’oranger piquée au centre du rideau qui couvre la mandragore


mandrágora

quanta tristeza naquela cadeira atravessada pela velha mandrágora – zarolha – picada miúda – coberta de feridas no vestido de noiva estocadas feitas de chamas do bico de gás aurora boreal estendida secando a flor evaporando o tecido de seda malva riso amarelo cítrico imaginando negativas em choros laranjas espremidas na máquina da noite adocicada.
quão gracioso desejo do nada rimas de respeito pelos pêlos da besta em cólera

escuto a orelha colada ao aroma do tomilho golpes de chicote nos tornozelos e quanta tristeza experimenta o mendigo carências daquela cadeira percebidas à distância primavera recebe lembranças do espelho chaga na camisa teia de aranha da velhice suplicante inscrita na lombada do livro livre arbítrio fome de versos de alfinetes que atravessam o talo da flor da laranjeira picada no centro da cortina que cobre a mandrágora

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: estrelas

3 octobre 1936 

misérable peau de chagrin serrant le corps déchiré de l’amour qui saigne si à l’étroit dans la couronne de son nid de ronces misérable souvenir de l’odeur des jasmins cloué au fond de son oeil sonnat de tocsin à toutes ses cloches mordant au cou de l’arc-en-ciel la tempête prise au piège peigne miroir lettre de l’alphabet comique régalade main distance couleur effacée de la liste des mortels si la vie cuit dans la grande salle des fêtes de l’odeur des choux son pot-au-feu d’espérances et sourit sous la table au mensonge, toutes les chaises assises autour se lèvent et vont se clouer aux murs de la salle de direction en attendant que la rousette finisse de lécher les heures qui poissent les voiles de son beau parapluie et entendre le craquement que fait en se cassant dans ma poitrine la baguette du timbre d’alarme de son regard à l’arôme électrique d’etoiles qu’on écrase sous le talon

estrelas

miserável pele da fruta angústia separa corpos dilacera a flor amor que sangra

apertada na coroa de seu ninho obstáculo miserável lembrança cheirando a jasmins amarrados no fundo de seu olho soam os sinos que mordem o pescoço do arco-íris a tempestade presa na armadilha pente espelho letra do alfabeto cômico gole mão distância cor risco na lista dos mortais se a vida cozinha na grande sala de festas de odores couves são cozidos de esperanças e sorriem sob a mesa toda mentira, todas as cadeiras em fileiras próximas se levantam e vão se prender nas paredes da diretoria esperando que o morcego gigante termine de lamber as horas que possuem véus em seu guarda-chuva e ouvem o estalido que faz frágil em meu peito a chibata de timbre de alarme de recordação no aroma elétrico de estrelas que estalam sob o calcanhar

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: ba be bi bo bu

11 mai 1936 

mais si la robe détachée aux épaules tombe au fond de la mare comme une pierre et brise la vitre du dessin le ressort de la montre lui saute aux yeux et l’aveugle et l’abandonne aux mains du borreau feuille morte éclairant la marche du crâne de la méduse entre les pages du livre acrobate orphéon des myrtilles squelette pétrifié du brouillard que se lève du pré colonne de marbre noir liquide d´bordant de la coupe du riz à la valencienne du coin de la corniche aux sons des chiffres ivres morts tombant goutte à goutte sur les dalles des éponges de feu c’est à rire surtout qu’il faut chanter pendant toute la vie le ba be bi bo bu du bu bo bi be ba le soupe philosofique refroidie sur le coin du buffet où le soleil la mange à la fourchette



mas se o vestido mostra o ombro caído no fundo da maré como uma pedra quebrando a vidraça do desenho a mola do relógio salta nos olhos e cega e abandona as mãos do carrasco folha morta iluminando a caminhada do crânio da medusa entre as páginas do livro acrobata orfeão mirtilos esqueleto petrificado da névoa que se ergue do prado coluna de mármore negro líquido que guarnece o corte do arroz à valenciana da ponta do cômico som das cifras  bêbadas mortos caindo gota a gota sobre a laje esponjas de fogo engraçado sobretudo que mostra a necessidade de se cantar durante toda a vida o ba be bi bo bu do bu bo bi be ba sopa filosófica fria no canto do guarda-louça onde o sol a come de garfo

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: cabeça de mármore

4 mai 1936 

par lambeaux toutes les ombres se détachent des corps avec la précipitation des départs en voyage et vont s’étendre fidèles au rendez-vous de la lumière dans l’épaisseur du cristal fumé descendant à pic au fond de l’océan de leur royaume voici l’histoire je suis née d’un père blanc et d’un petit verre d’eau de vie andalouse je suis née d’une mère fille d’une fille de quinze ans née à Málaga dans les percheles* le beau toro qui m’engendra la front couronné de jasmins avec les dents avait arraché de ses mains les lignes de la cage qui emprisonait le peuple des oiseaux de proie déchirant des griffes et du bec l’épaule nue de la fleur du citronnier fille morte de peur ailes brisées coeur bleu rayé de rouge en spirale aux yeux de papillon de nuit enveloppée du papier de soie vert pomme de sa robe et chaussée des oreilles pointues de la chouette saute d’une vague à l’autre et fail sauter sur l’écume la tête de marbre de l’énorme statue mutilée plantée au bord de l’eau dans le sable


  • quartier autrefois mal famé de Málaga


em pedaços as sombras se desligam dos corpos para conhecer todos os gostos com a precipitação das partidas em viagens e se mantém fiéis no encontro com a luz engrossando o cristal fumê descem a prumo ao fundo do oceano de seu reino... aqui está a história: eu sou nascida de um pai branco e de um pequeno copo d’água ardente da andaluzia sou nascida de uma mãe filha duma filha de quinze anos nascida num cortiço em Málaga belo touro me engendrou a fronte coroada de jasmins com os dentes arrancou de suas mãos as linhas da gaiola que aprisionava toda a população de aves de rapina dilacerando com garras e bico o ombro nu da flor do limoeiro nascido do receio asas quebradas coração triste raiado de vermelho olhos de mariposa embrulhados em papel de seda maçã verde de seu robe que esconde as orelhas pontudas da coruja que salta entre ondas e pula sobre a espuma da cabeça de mármore da enorme estátua mutilada plantada à beira d’água

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: esquecida flor

8 mars 1936 

à coups de cloche couvre l’ennui sa matelote d’anguilles devorantes et frotte son piment surf range de larmes à la lunette d’approche de la fusée soudainement arrêtée dans sa course ouvrant toute grande son oreille aux souris du pavillon battant tambour battant le verre à boire rempli d’eau claire jusques au bord du presque absolument nécessaire besoin d’illuminer la nuit de son printemps de têtes d’épingles laisse tomber sa main et caresse distrait le fil aiguisé sur son front de la lame du couteau planté sur ses deux pattes au milieu du désert cette aube du jour huit du mois de mars respire dans la persienne le ton de la chanson du plumeau découvrant la face du secret roulé en boule puante jetée au fin fond de l’oubli fleur fifre à l’odeur du point final


de repente as badaladas cobrem o tédio da caldeirada de enguias vorazes e apimentadas sobre a fiada de lágrimas na luneta próxima da explosão subitamente no curso abre toda a grande orelha com sorrisos de pavilhão

batendo tambor batendo bebendo o copo cheio d’água clara até a borda da quase absolutamente necessária carência de iluminar a noite de sua primavera de cabeças de alfinetes que deixam cair sua mão que acaricia distraída o fi(lh)o da lâmina afiada da navalha plantada sobre suas duas patas no meio do deserto alvorada do dia oito do mês de março respira na persiana o tom da canção do espanador descobre a face do segredo rola bola fétida jogada no fim no fundo do esquecidmento flor flautim do odor do ponto final

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: búfalo

29 février 1936 

le radeau de la méduse se détache de la mer pour prendre dans ses bras le sillage de la glace de poche de l’oiseau si le radeau de la méduse enfin détaché de ses chaînes vole dans le noir son front accroche le sillage de la glace de poche si le radeau de la méduse déshabillé son corps de ses chaînes et laisse flotter accroché par les bouts des doigts des lambeaux de vagues son front moud sa caresse sul a pierre du sillage creusé par l’aile détachée du tendre oiseau blessé qui change pose sur la pointe de la corne du grand buffle amoureux


a jangada da medusa se solta no mar agarra nos braços vestígios do bloco de gelo do papo do pássaro se a jangada da medusa enfim se solta de suas amarras voa de frente na noite acompanhando os vestígios do bloco de gelo se a jangada da medusa despe seu corpo das correntes e fica flutuando solta pelas pontas dos dedos lambidas das ondas som testa moe a carícia sul uma pedra do vestígio cava pela asa solta do terno pássaro abençoado que muda pousa sobre a ponta do chifre do grande búfalo amoroso

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: asa

mardi 24 novembro 1941 

goutte d’eau accrochée au rempart de flammes du bouquet de fleurs qui s’agite au bout des doigts des lèvres brûlantes du bruit des roseaux grattent la nuit les cris et les malédictions et les éclats de rire des rubans de couleurs emmêlés exaltant la puanteur des crabes pourrissant sur la plage de l’aile qui se leve du corps abandonné au gré des flots


gota d’água na muralha de chamas buquê de flores que se agita na ponta dos dedos lábios irados mas pálidos sussurram roubam da noite gritos e maldições e gargalhadas das condecorações coloridas que confundem exaltam malcheirosos caranguejos apodrecendo na praia asa que se ergue dos corpos abandonados ao bel-prazer das ondas

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: espirais

 7 juin 1940 

la beauté qui s’évapore de ses mains dépose sa rosée dans le tout-à-l’égout des fleurs grimpantes jouant des coudes sous le tapis vert des tilleuls – les acres émanations de la toile lilas  qui brûle à la fenêtre mord à l’épaule du soir qui s’agite entre les barbelés – du chapeau citron les flammes suivent à la course la tresse qui se consume en spirale


a beleza que se evapora de mãos apoiadas em pétalas de rosa que gotejam trepadeiras abraçam o tapete verde de tílias – àsperas emanações na tela lilás que consome a janela que morde o ombro da noite que se agita entre o arame farpado – no chapéu limão as chamas acompanham a dança da corda

que se consome em espirais

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: buquê de cílios

20 mai 1940 

chant des coqs midi des agitations désordonées du ciel pétrifié se changeant sous les bras déployés du nid de vipères rideaux tires le gibet du bouquet ailes citron du soufre des fleurs des íris et des pavots à l’odeur orange des aisselles exalte sa chevelure



canto dos galos ao meio-dia agitação desordenada do céu petrificado que se altera sob o braço estendido no ninho de víboras cortina extraída da forca do buquê de cílios amarelo-limão sofrimento das flores juvenis e das dormideiras o odor laranja das axilas exalam o crescimento

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: navalha

20 janvier 1940 

glisse le long du couteau depuis la pointe jusqu’au manche le caramel des lèvres de la fenêtre ouverte sur les plis du ciel peint en faux bois la longue file de silences


introduzida a navalha depois a ponta até o cabo o caramelo mancha os lábios na janela aberta sobre as dobras do céu pinta em madeira falsa a longa fila de silêncios

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: cobra

25 juin 1938 

cordon de lunes éventail d’huile d’hirondelles attachant sa sandale dans l’imperceptible odeur de pastèque l’aqua viva de ses cheveux mélangés allume l’ alie du souffle de la main qui agite les ailes de la flûte


cordão das luas leque d’óleo das andorinhas ataca sua sandália imperceptível odor de melancia água viva em seu cabelo combina acende a linha sopro na mão que agita as asas da flauta

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: taça laranja

 9 mars 1938

I

dodeline miroir jaspe corneille
jupon acanthi dilemma citadelle
groin mamelle opossum

II

jambe nue de la glace étendue
sur les flames du vos venu du soleil couché à
plat ventre sur la joue

III

peinte au bord de l’abîme de la grimace de la démangeaison
petite fleur des champs rose et mauve tachée de noir
dans un verre à l’échelle de certitude de la douceur
de caramel des doigts de la roue

IV

recouvrant la jaune citron du sang
coulant du camion rempli d’oiseaux
sous le drap bleu du tas d’oranges


I

balança espelho jaspe gralha
anágua acanto dilema cidadela
cara mama oposição

II

perna nua de graça eterna
sobre as chamas vindas do sol que se põe
no prato ventre sobre o sexo

III

pinta na borda do abismo o esgar da comichão
pequena flor do campo rosa e malva esforço da noite
num copo a escala da certeza da doçura
do caramelo em dedos de suplício

IV

recebendo o amarelo limão do sangue
derramado do caminhão cheio de pássaros

sob o lenço azul na taça de laranjas

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: cobalto marinho

1er mars 1938 

rai noir du soleil tapant à la porte dessinant sur sa main tendue l’oeillet du troupeau des plis de l’ombre tendue au contact du bruit de l’éventail cachê dans le linon du pot de miel de la poudre de sucre brûlant sur le bout du bleu céleste le lait d’amandes douces du vol de pigeons essuyant le miroir pris dans l’étau du clavier des couteaux vibrants plantés sur le dos du soleil qui suinte dans la persienne fermée la crasse céruléenne du cobalt marin


risco negro do sol desenhando sobre a mão estendida na porta cravo do tanto de vincos na sombra curvada no contato com o barulho de leque dissimulado no linho do pote de mel da poeira de açúcar brilhando no extremo azul celeste o leite de amêndoas doces do voo de pombos mostrando-se no espelho preso no torno chaveiro de navalhas vibrantes plantadas nas costas do sol que destila na persiana fechada a imundície cerúlea do cobalto marinho

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: enxame de palavras

Mougins Vaste Horizon le 12 septembre 1937 

au bout de la jetée promenade
derrière le casino le monsieur
si correctement habillé si gentiment
déculotté mageant son
cornet de frites d’étrons
crache gracieusement
les noyaux des
olives à la gueule
de la mer
enfinant ses
prières à la corde
du drapeau qui grille
au bout du gros mot
qui illumine la scène
la musique cache son
museau dans l’arène
et décloue
son effroi
du cadre de guêpes
jambs écartées
l’éventail fond
sa cire sur
l’ancre


na ponta do quebra-mar lugar
último do cassino o senhor
corretamente vestido gentilmente
despido comendo seu
tinteiro de fritas cagadas
escarra graciosos
caroços de
azeitonas na garganta
do mar
enfileirando suas
orações na corda
da bandeira que grelha
a ponta do palavrão
que ilumina a cena
música que oculta seu
focinho na areia
e desprega
seu pavor
do enxame de vespas
pernas solitárias
leque esconde
sua cera sobre

a âncora

Projeto Plácido e Pablo -- Revisado -- Poema: sanguessugas

 12 novembre 1936 (I) (II) 

(I)

l’une anonyme à l’autre bat son plein la fête à plat de côte


(II)

les pensées suceuses de formes dans les formes suceuses de pensées force sans muscles


bouche remplie du sang des formes sucées aux pensées


(I)

duma  anônima à outra disputa, o espaço da testa na costa plana...


(II)

os pensamentos sugam as formas e as formas sugam os pensamentos força sem músculos



boca repleta de sangue das formas sucessivas do pensar