sábado, 5 de dezembro de 2015

Nicanor Parra -- Plácido, poema traduzido: Autorretrato

(01) AUTORRETRATO (41)

 


Considerad, muchachos,
Esta lengua roída por el cáncer:
Soy profesor en el liceo obscuro,
He perdido la voz haciendo clases,
(Después de todo o nada
Hago cuarenta horas semanales.)
?Qué os parece mi cara abofeteada?
!Verdad que inspira lástima mirarme!
Y qué decís de esta nariz podrida
Por la cal de la tiza degradante.

En materia de ojos, a tres metros
No reconozco ni a mi propia madre.
?Qué me sucede? -- Nada.
Me los he arruinado haciendo clases:
La mala luz, el sol,
La venenosa luna miserable.
Y todo para qué,
Para ganar un pan imperdonable
Duro como la cara del burgués
Y con sabor y con olor a sangre.
!Para qué hemos nacido como hombres
Si nos dan una muerte de animales!


Por el exceso de trabajo, a veces
Veo formas extrañas en el aire,
Oigo carreras locas,
Risas, conversaciones criminales.
Observad estas manos
Y estas mejillas blancas de cadáver,
Estos escasos pelos que me quedan,
!Estas negras arrugas infernales!

Sin embargo yo fui tal como ustedes,
Joven, lleno de bellos ideales,
Soñé fundiendo el cobre
Y limando las caras del diamante:
Aquí me tienen hoy
Detrás de este mesón inconfortable
Embrutecido por el sonsonete
De las quinientas horas semanales.

Poemas y antipoemas -- 1954.


Autorretrato

 

Considerem, amigos,

Esta língua ruída pelo câncer:

Sou professor em um liceu obscuro,

Perdi a voz dando aulas,

(Depois de tudo o nada

Faço quarenta horas semanais.)

Entenderam minha cara abobada?

Verdade que inspira lástima!

E o que dizer deste nariz podre

Pela cal do giz degradante.

 

Em matéria de olhos, a três metros

Não reconheço nem a minha própria mãe.

O que acontece? – Nada.

Arruinei-os dando aulas:

Péssima luz, o sol,

A venenosa lua miserável.

E tudo para quê,

Para ganhar um pão imperdoável

Duro como a cara do burguês

E com sabor e odor de sangue.

Para que nascemos como homens

Se nos dão uma morte de animais!

 

Por excesso de trabalho, às vezes

Vejo formas estranhas no ar,

Ouço corridas loucas,

Risos, combinações criminais.

Observem essas mãos

E essas bochechas brancas de cadáver,

Esses escassos pelos que me restam,

Essas negras rugas infernais!

 

Entendam, já fui como vocês,

Jovem, cheio de belos ideais,

Sonhei fundindo o cobre

E limando as faces do diamante:

Aqui me têm hoje

Atrás dessa mesa desconfortável

Embrutecido pelo eco

De quinhentas horas semanais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário