domingo, 2 de junho de 2013

Fernando Pessoa, AUTOPSICOGRAFIA



O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.



E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.



E assim nas calhas da roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

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