sexta-feira, 14 de junho de 2013

LEMINSKI, oração de pajé

que eu seja erva raio
no coração dos meus amigos
árvore força
na beira do riacho
pedra na fonte
estrela
na borda
do abismo



moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia



dia
dai-me
a sabedoria de caetano
munca ler jornais
a loucura de glauber
ter sempre uma cabeça cortada a mais
a fúria de décio
nunca fazer versinhos normais



ver
é dor
ouvir
é dor
ter
é dor
perder
é dor

só doer
não é dor
delícia
de experimentador



lembrem de mim
como de um
que ouvia a chuva
como quem assiste a missa
como quem hesita, mestiça,
entre a pressa e a preguiça



furo a parede branca
para que a lua entre
e confira com a que,
frouxa no meu sonho,
é maior do que a noite



como um coto caro ao roto
incrédulo tiago
toco as chagas
que me chegam
do passado
mutilado

toco o nada
aquele nada que não para
aquele agora nada
que tinha
a minha
cara

nada não
que nada nenhum
declara tamanha danação



tanta maravilha
maravilharia durar
aqui neste lugar
onde nada dura
onde nada para
para ser ventura



sim
eu quis a prosa
essa deusa
só diz besteiras
fala das coisas
como se novas

não quis a prosa
apenas a ideia
uma ideia de prosa
em esperma de trova
um gozo
uma gosma

uma poesia porosa


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