sexta-feira, 21 de junho de 2013

Clarice Lispector, sobre o ato de escrever

Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto -- e o mundo não está à toa, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras -- quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.

Paciência da aranha formando a teia. Ademais fico perturbada por enxergar mal no claro-escuro da criação. Fico assustadiça com o relâmpago da inspiração. Eu sou medo puro.

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