Habitei sótãos, porões, mulheres
sem pátria, como eu.
Queria o homem sozinho
na gruta e a gruta de alma
no homem. Mas que grutas
podem guardar um coração
soberano? Risquei com espada
na rocha o cume. E veio um
musgo e foi cobrindo de leis
a pedra. E como estava em névoa,
não distingui o rosto dos que vinham.
E as leis precisavam de umidade.
Depois poli as pedras para o fogo
e poli o fogo com o medo, organizei-me
contra os animais. E menos selvagens
não eram os que me rodeavam.
Enturmei-me aos cães e comecei
a trocar linguagem com humanos
que traziam sinais. Todos se entendiam
num sítio qualquer da infância.
mas por que só ela é capaz de conectar
os símbolos? E me aborreci com as
chispas de escuridão entre eles.
E cada palavra que emergia no impulso,
ao marulhar de trovões, tinha sementes
de povo. E a horta dos legumes
com a fala, era semente de povo.
mesmo que nunca a pudesse
entrever. E os problemas eram
puxados para fora dos rios
com os peixes. E ao se abrirem
as vísceras, cortavam-se as noites
para apanhar a moeda de uma estrela.
Quando se acostumavam com o sol,
alguns ousaram ver a ciência
pela fechadura. E com ferramentas
apertavam máquinas e elas também
as apertavam e os gritos não tinham
mais gargantas. E os fonógrafos
entupiram. Mas o progresso
gravava pelo avesso o tempo
e a vida não praticava nenhum idioma.
E se permuta silabava tratados
de comércio, decretos de líquen,
eu não podia mudar a civilização
por estar catalogada na infância.
Sim, as civilizações não sabem
nada umas das outras. E assim
não houve guerras, apenas cicatrizes
nas árvores com alguns extintos
nomes. E a palavra amor ficou
desapercebida, salvo por nômades
eremitas que bebiam na soluta boca
das nascentes. Não me molesto no pó.
E a gruta ficou povoada,
que principiei a sentir-me humano.
E não tinha dúvidas quanto a enterrar
depressa os mortos. Que os vivos
estavam sempre acreditando
nos escombros. O que é da morte,
é dos mortos. O que é do corpo
é da água. E não é a água
que nos faz mais leves,
é a alma que nos faz água.
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