sábado, 5 de abril de 2014

Emerson, sobre a inconstância dos homens

A vida traz a cada um sua tarefa e, seja qual for a ocupação escolhida, álgebra, pintura, arquitetura, poesia, comércio, política -- todas estão ao nosso alcance, até mesmo na realização de miraculosos triunfos, tudo na dependência da seleção daquilo para que temos aptidão: comece pelo começo, prossiga na ordem certa, passo a passo. É tão fácil retorcer âncoras de ferro e talhar canhões como entrelaçar palha, tão fácil ferver granito como ferver água, se você fizer todos os passos em ordem. Onde quer que haja insucesso é porque houve titubeio, houve alguma superstição sobre a sorte, algum passo omitido, qua a natureza jamais perdoa.

Condições felizes na vida podem ser obtidas nos mesmos termos. A atração que elas suscitam é a promessa de que estão ao nosso alcance. Nossas preces são profetas. É preciso fidelidade; é preciso adesão firme. Quão respeitável é a vida que se aferra aos seus objetivos! As aspirações juvenis são coisas belas, suas teorias e planos de vida são legítimos e recomendáveis: mas você será fiel a eles?Nem um homem sequer, eu receio, naquele pátio repleto de gente, ou não mais que um em mil. E quando voc~e cobra deles a traição cometida, e os faz lembrar de suas latas resoluções, eles já não se recordam dos votos que fizeram. (...)

A corrida é longa, e o ideal, legítimo, mas os homens são inconstantes e incertos. O herói é aquele imovelmente centrado. A principal diferença entre as pessoas parece ser a de que um homem é capaz de se sujeitar a obrigações das quais podemos depender -- é obrigável; e outro não é. Como não tem a lei dentro de si, não há nada que o prenda. (às obrigações que ele se impôs, digo eu).


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