domingo, 18 de setembro de 2011

Capítulo 4 (parte do Ensaio SILÊNCIO OLHAR AZUL)

Num livro de um crítico de literatura li que a pedra no caminho de Drummond era na verdade as dificuldades que todos temos na vida. Que tudo que nos aflige é a pedra no caminho.
Mas, refletindo, poeticamente, afirmo, a pedra, as pedras no nosso caminho são as perdas que temos durante a vida. Aprendi isso sofrendo na carne. Ninguém me contou.
Quando da morte do meu irmão, comecei a descobrir e agora, com a morte da minha mãe, esse sentimento se consolidou.
Vamos ao poema do mestre de Itabira.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Não há possibilidade de esquecimento. As retinas fatigadas são os olhos azuis cansados da vida cinza de perdas. De pedras.
O poema mais famoso em língua portuguesa talvez o seja por exalar perfume de destino. Todos estamos fadados a conviver com esse sentimento, o da perda, como uma pedra no caminho. Nosso destino é levar a pedra (a pedrada) até o final, que não sabemos quando será, que não desejamos, mas sabemos, que temos de carregar, as pedras fazem parte da nossa rotina, retinas?
E por que as retinas estão fatigadas?
Cansadas de tanto conviver com as pedras, as perdas! É isso e disso termos de tirar o fôlego para continuar...Difícil...Diante de tal desafio como nos comportaremos? Paramos, insistimos ou voamos para longe de quem somos?

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