segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Ruy Belo -- FIGURA JACENTE, POETAS PORTUGUESES 2016

Meu rosto nasce desta condição horizontal
de quem tem a cobri-lo todo o seu cansaço
Deus teve para mim morte mais rasa
do que a morte que o sol encontra entre as águas
Desfez-se a curva última da estrada
na ficou após meus gastos passos

Ninguém morrera ainda tanto como eu
só tive de estender um pouco mais o corpo
Sobre o meu rosto passam uma a uma as gerações
e vem lavar-me a água os velhos pés

E diz-me Deus, tão acessível como o mar das praias:
-- Tu és cada vez mais aquilo que tu és

Há entre as oliveiras sítio para o sol
e a brisa da infância canta rindo dos ramos
entre o cheiro do giz e as canções da escola

Deus é perto de mim como uma árvore

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