A
INFÂNCIA REDIMIDA -- Lêdo Ivo
A
alegria, crio-a agora neste poema.
Embora
seja trágica e íntima da morte
a vida
é um reino --- a vida é o nosso reino
não
obstante o terror, o êxtase e o milagre.
Como
te sonhei, Poesia! não como te sonharam...
Escondo-me
no bosque da linguagem, corro em salas de espelhos.
Estou
sempre ao alcance de tudo, cheio de orgulho
porque
o Anjo me segue a qualquer parte.
Tenho
um ritmo longo demais para louvar-te, Poesia.
Maior,
porém, era a beira da praia de minha cidade
onde,
menino, inventei navios antes de tê-los visto.
Maior
ainda era o mar
diante
do qual todas as tardes eu recitava poemas,
festejando-o
com os olhos rasos e às vezes sorrindo de
paixão,
porque
grande coisa é descobrir-se o mar, vê-lo existir no mundo.
Ó mar
de minha infância, maior que o mar de Homero.
Brinco
de esconder-me de Deus, compactuo com as fadas
e com
este ar de jogral mantenho querelas com a morte.
Depois
do outro lado, há sempre um novo outro lado a
conquistar-se...
Por
isso te amo, Poesia, a ti que vens chamar-me para
As
califórnias da vida.
Não és
senão um sonho de infância, um mar visto em palavras.
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