O TREMOR DA FOLHAGEM -- Lêdo Ivo
Isto
sempre me espantou:
que
possamos recordar.
Nascemos
para esquecer
e ver
a lágrima evaporar-se
no
rosto bem-amado.
Ouvi o
mar na escuridão
e o
tremor da folhagem.
De
nada quero lembrar-me
nem da
noite que cai
nem do
dia que nasce.
Vi o
vento importunar
a
janela avariada.
Escutei
a noite voltar
com as
suas luzes trêmulas.
Vi o
miasma mover-se
na
água caluniada.
No dia
de sol
o
cata-vento rangia
como
um estandarte.
Vi o
que ninguém vê:
a
inocência entorpecida
dos
seres rastejantes.
E
tornei a lembrar.
E
tornei a esquecer.
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