terça-feira, 26 de janeiro de 2016

365 dias com poesia, 26 de janeiro de 2016 -- PROMONTÓRIO


PROMONTÓRIO -- Lêdo Ivo

Sempre busquei a profusão das chuvas
e celebrei o excesso.

A porta que se abre à claridade do relâmpago
divide o dia em partes desiguais.
Mas entre a luz e a sombra há um espaço
onde o sonho e a vida acordada se juntam como dois corpos
separados das almas desunidas.
É a este lugar que retorno
quando  a chuva cai em Maceió e derruba as folhas
dos cajueiros floridos.
Os goiamuns inquietos percebem nas locas a alteração do mundo
que oscila entre a alma e as raízes dos mangues
como duas cores de arco-íris.

Berço das tanajuras, pátria ameaçada pelo trovão,
dunas sonâmbulas que só caminham à noite,
mar que umedece os lábios rachados da areia,
longe de vós serei um exilado.

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