segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

E.M. de Mello e Castro -- A DECISÃO DO GRITO, POETAS PORTUGUESES 2016

Decidiu-se que a minha voz seria
um grito
e a minha mão uma arma.

Resolveu-se que o grito seria tudo
o que eu pensasse
e a morte o que agisse.

Um dia apareci homem entre os homens,
e ninguém se espantou,
antes se congratularam estatisticamente.

Só eu, perdido entre tantos gritos
e estrangulado
pelas minhas duas mãos peludas, só eu
estremeci de pavor e fugi, fugi.

Durante anos parti os espelhos
com murros poderosos;
durante anos seguidos ensurdeci aos berros
aos berros!

Depois esqueci-me de como era. Só sei gritar,
gritar, gritar, e conto já com milhares de mortes
e destruições perfeitíssimas.



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