terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Luís Filipe de Castro Mendes -- FERNANDO PESSOA (1888 - 1935), POETAS PORTUGUESES 2016

Disfarçamos os gestos nessa bruma
que o corpo sabe rente ao coração
-- como o perfeito mar morre na espuma
e vem ouvir-se em nós a escuridão.

Perfeito o magoado som de pluma
que modula em seu arco a solidão.

só nos sossega a hora mais escura
e os passos que em perdido rumo vão.

Sorriem já as máscaras ao lume,
solto o mundo em redor do coração
-- e correm no seus braços de negrume
os tons dissimulados da canção.

Que mais do que da terra em que se nasce,
desta escura canção a alba faz-se.

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