domingo, 3 de janeiro de 2016

António Ramos Rosa -- ANTECIPAÇÃO À VELHICE, POETAS PORTUGUESES 2016

I

Foram grandes desgostos.
Algumas alegrias.
Sulcos, rugas.
Uma brandura imensa
nos olhos apagados.

Perdeu o corpo o peso
É quase uma menina.
O que pesa uma sombra
e alguns ossos e pele.

Quanto pesa uma sombra?

Uma criança ri
grande como a inocência
Levo-a ao colo
e sinto
que pesa cada ano.


II

Põe o tempo o cuidado.
Mas não põe as estrelas.

Perde o olhar o brilho.
Mas o mar não se perde.

São os insetos joias
Breves, deliciosas.
Trêmulas.
Vivas.

Uma rosa fulgura
não raro
sobre uma lágrima.

Não há morte matinal.

Também não há noturna.

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