As barcas velhas, não antigas que eu vejo cruzar
esta baía hoje cinzenta no céu e na água
quem as mandou fazer nunca pensou
que poderiam servir para meu sofrer.
Dói-me corpo e alma vê-las a passar
entre um cais que me é oculto e a frágua
da outra banda onde não aportou
nenhuma das barcas que eu estou a ver.
Vejo-as sair e entrar por um telhado
do lado de cá. Paro e de tal frágua lhes distingo o rumo;
olho-as para logo as desfitar nos dias claros;
nos de bruma cerrada elas como eu nela se perdem.
Hoje é dia de cerração; o ar molhado
dilui as coisas em tênue fumo
como se esfumam meus pensamentos raros
no cadinho de meu crânio aonde fervem.
As barcas velhas são meus pensamentos;
pudessem eles voltar a não ser
apenas tormentos.
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