terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Al Berto -- OFÍCIO DO ÓPIO, POETAS PORTUGUESES 2016

é do sangue corrompido do touro imolado que nascem as abelhas
dizias também: o linho queima ferozmente as entranhas da terra...
ouvia-te fascinado, metido no casulo febril do ópio

um fino aparo de marfim arava, incansável, as paisagens
a terra fendia-se obscura e paciente
pedia um regresso imediato...

... invoquei a chuva e o Oráculo dos Amantes, para consolo de nossa dor
mas o delírio sacudia irremediavelmente as loucas aveias
... hesitei, embora soubesse que as mãos irradiavam uma promessa de frutos

todas as insônias foram estradas dúcteis a percorrer
constelações anunciavam uma outra direção
e houve o abandono à sede dos grandes e rubros solstícios

anoitecia por onde passávamos
foi então que Júpiter se decidiu a dar às serpentes negras o mortal veneno

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