sábado, 2 de janeiro de 2016

365 dias com poesia, 02 de janeiro de 2016 -- SEM O MUSGO QUE É A FLOR


SEM O MUSGO QUE É A FLOR -- Lêdo Ivo

Feérico, todavia
espero o tempo de ser o pobre muro
sem o musgo que é, nele, a flor do tempo,
a hora em que não mais terei de inventar a primavera;
época dentro em mim, ela prescindirá de olhos
para a sua evidência. E mesmo a doçura de viver, que ora
                                      recorre à inflexão de tua voz,
liberta de tua pronúncia aos dezoito anos, se esconderá em mim
--- poeira refugiada num tapete.

É doce envelhecer abolindo o supérfluo,
E crescendo em amor, sabedoria e humano.
Tantas belezas desprezadas para fixar apenas o essencial...
De quanto quis deter, como quem puxa as rédeas de um cavalo
ficaram  uma estrela que não vi, um pouco de mar célere,
o sonho revel que me perturbou o repouso,
a alheia melodia que estorvou minha canção
e a lâmpada que outros acenderam por mim em minha sala.

Contudo, nada foi perdido. Sobre a colheita
vem a morte, e não encontra o imaturo,

a morte semelhante ao verão que ama as coisas completas

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