quinta-feira, 5 de março de 2015

Graciliano Ramos, Vidas Secas. Marco Plácido, Poema:Festa

Festa

Iam à festa
Os meninos estreavam calça e paletó
Sinha Vitória num vestido vermelho de ramagens remava em sapatos de salto alto
Fabiano procurava erguer o espinhaço apertado na roupa de pouco tecido de brim branco

Logo tiraram o que puderam Andariam à tarde toda
À noite chegaram à festa A multidão apertava mais do que a roupa Mãos e braços como se fossem agarrá-lo Fabiano, apertado pela tradição, conseguiu chegar à água benta Sabia que estava ridículo e que todos mangavam dele
(todos eram ruins) Se encontrasse um conhecido iria abraçá-lo, sorrir, bater palmas Pensando no soldado amarelo Bebeu cachaça e ficou sem-vergonha
“Quem tem coragem de dizer que sou feio?”
Cambada de... (animais, é o que somos?)
Com o estômago embrulhado pela cachaça adormeceu

Sinha apertada se escondeu e resolveu suas necessidades
Os meninos ocupavam-se em descobrir uma enorme quantidade de objetos
(Teriam nome?
Como podem os homens guardar tantas palavras?

Livres dos nomes as coisas ficavam distantes, misteriosas).

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