quinta-feira, 5 de março de 2015

Graciliano Ramos, Vidas Secas. Marco Plácido, Poema:O Soldado Amarelo

O Soldado Amarelo

Fabiano ia decifrando rastros, observando sinais
Cortava quipás e palmatórias que interrompiam a passagem
De repente deu de cara com o soldado amarelo, que franzino tremia
Baixou a arma A lâmina parou de chofre junto à cabeça do intruso, bem em cima do boné vermelho Irritou-se Por que será que aquele safado batia os dentes como um caititu?
Meteu o facão na bainha, podia matá-lo com as unhas

Alguns minutos antes não pensava em nada Mas agora suava frio e tinha lembranças insuportáveis Naquela tarde se não tivesse xingado a mãe da autoridade não tinha dormido na cadeia nem apanhado
Ele, Fabiano, seria tão ruim se andasse fardado?
Uma vez de lambadeira em punho espalhara a negrada
Aí Sinha Vitória começara a gostar dele

Não sentira a transformação mas estava acabando Envelhecia Não estava acabado! Para que suprimir aquele doente que bambeava?
Vendo-o acanhado e ordeiro o soldado ganhou coragem, avançou, pisou firme e perguntou o caminho
Fabiano tirou o chapéu de couro Curvou-se Ensinou o caminho

-- Governo é governo!, pensou

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