quinta-feira, 5 de março de 2015

Graciliano Ramos, Vidas Secas. Marco Plácido, Poema:O mundo coberto de penas

O mundo coberto de penas

-- Um bicho de penas matar o gado!
Provavelmente sinha Vitória não estava regulando.
O casal agoniado sonhava desgraça: Que fim de mundo! Não permaneceria ali muito tempo. No silêncio comprido só se ouvia o rumor de asas.
As arribações bebiam água. Bem. O gado curtia sede e morria
Fabiano ria encantado com a esperteza de sinha Vitória Uma pessoa como aquela valia ouro...

Aquela hora o mulungu do bebedouro, sem falhas e sem flores, enfeitava-se de penas
Fabiano aquilo quis ver de perto com chapéu, pederneira e espingarda, que usou para fazer provisão
(Espingarda que trazia recordações de Baleia...)

Quando as aves desciam do sertão acabava-se tudo
Que havia de fazer?
Fugiria de novo!
Desanimado sentou-se na cabeceira do riacho e logo lembrou-se de outras coisas ruins: os juros cobrados e o soldado amarelo...
Devia tê-lo cortado a facão! Cabra safado mole! Se não fosse tão fraco, teria entrado no cangaço e feito misérias! Talvez estivesse preso e respeitado, um homem respeitado! Um homem...

Tornou a sentar-se na ribanceira a acumular provisão
-- Malditos bichos!
Eles é que traziam a seca
Seria necessário mudar-se de novo?
Pestes! Miseráveis!
Ele, sinha Vitória e os dois meninos comeriam as arribações
Se Baleia estivesse viva...coitadinha...matara-a forçado, por causa da moléstia...


Iriam embora Precisava consultar sinha Vitória, livrar-se das arribações, explicar-se, convencer-se de que não praticara nenhuma injustiça matando a cachorra

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