segunda-feira, 4 de maio de 2015

Federico Garcia Lorca -- AURORA



A aurora de New York tem
quatro colunas de lodo
e um furacão de pombas
que explode as águas podres

A aurora de New York geme
nas vastas escadarias
a buscar entre as arestas
angústias indefinidas

A aurora chega e ninguém
em sua boca a recebe
porque ali a esperança
nem a manhã são possíveis
e as moedas como enxames
devoram recém-nascidos

Os que primeiro se erguem
em seus ossos adivinham:
não haverá paraíso
nem amores desfolhados
só números, leis e o lodo
de tanto esforço baldado

A barulheira das ruas
sepulta a luz na cidade
E as pessoas pelos bairros
vão cambaleando insones
como se houvessem saído

de um naufrágio de sangue

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