sexta-feira, 1 de maio de 2015

POESIA FEMININA JAPONESA (1)


         No japonês são intraduzíveis certas implicações verbais, pois trata-se de uma língua altamente flectida e inflectida, significando que as funções gramaticais estão, muitas vezes, contidas nas próprias palavras, como desinências, ou na entonação com que se articulam; a ordem dos vocábulos na frase afeta o sentido e altera o seu significado; ainda a considerar a omissão de artigos e pronomes; a indeterminação entre singular e plural; a ausência de maiúsculas e de pontuação; o sentido duplo de certos vocábulos; o caráter elíptico e onomatopaico da língua, como se ela mesma se alimentasse da natureza, através de sua imitação na formação do léxico com que se exprime e a exprime em poesia.
Mas, sobretudo, de todas as condicionantes referidas, a ausência (ou o vazio) do pronome pessoal na língua de origem é da maior importância em termos de transposição lingüística e altera profundamente todo o sentido das coisa, pois, como diz R.H.Blyth na sua reflexão, “when we use the personal pronouns in translation, the whole life-feeling is changed. The opposition of ego and cosmos is there, and once there, ineradicable. In oriental feeling, in its poetry and art and music, the cosmos is suffused with “I” (…) The “I” is interpenetrated with the cosmos, but not overwhelmed by it.”


1)     SHIBA SONOME (1664 – 1716)

Ela já desponta
mesmo antes da floração ---
violeta brava.

Primeira roupa de Verão ---
uma mulher que não tece
sente-se culpada.

Lama a escorrer
desde a encosta do monte ---
um rebento de bambu!

A voz dos insetos
quando a noite vem chegando
mergulha nas pedras.

No meio do meu lenço,
uma violeta brava
desde que murchou.

Um bebê às costas
brincando com meu cabelo ---
que calor que faz!

Batendo nas folhas
e quebrando-as em bocados ---
aí vem o frio.

Que fresca me sinto
ao deitar minha cabeça
sobre o chão de mármore!

Uns mostrando flores,
outros para se mostrarem ---
chapéus de senhora.

Quando envelheceres
até os ratos te evitam ---
mas que frio que está!

Há algumas flores
que nunca são avistadas ---
carvalho no bosque.

Os cães a uivar
ao som das folhas que caem ---
lá vem tempestade!

Adeus ao Outono ---
só estrelas brilham na água
da vigésima noite.

Que noite gelada ---
na luz sinistra da vela,
navalhas de barbear.

Nos montes vazios
sem nada a oferecer,

domina o Outono.

Nenhum comentário:

Postar um comentário