No japonês são intraduzíveis certas
implicações verbais, pois trata-se de uma língua altamente flectida e
inflectida, significando que as funções gramaticais estão, muitas vezes,
contidas nas próprias palavras, como desinências, ou na entonação com que se
articulam; a ordem dos vocábulos na frase afeta o sentido e altera o seu
significado; ainda a considerar a omissão de artigos e pronomes; a
indeterminação entre singular e plural; a ausência de maiúsculas e de
pontuação; o sentido duplo de certos vocábulos; o caráter elíptico e
onomatopaico da língua, como se ela mesma se alimentasse da natureza, através
de sua imitação na formação do léxico com que se exprime e a exprime em poesia.
Mas,
sobretudo, de todas as condicionantes referidas, a ausência (ou o vazio) do
pronome pessoal na língua de origem é da maior importância em termos de transposição
lingüística e altera profundamente todo o sentido das coisa, pois, como diz
R.H.Blyth na sua reflexão, “when we use the personal pronouns in translation,
the whole life-feeling is changed. The opposition
of ego and cosmos is there, and once there, ineradicable. In oriental feeling,
in its poetry and art and music, the cosmos is suffused with “I” (…) The “I” is
interpenetrated with the cosmos, but not overwhelmed by it.”
1)
SHIBA SONOME (1664 –
1716)
Ela
já desponta
mesmo
antes da floração ---
violeta
brava.
Primeira
roupa de Verão ---
uma
mulher que não tece
sente-se
culpada.
Lama
a escorrer
desde
a encosta do monte ---
um
rebento de bambu!
A
voz dos insetos
quando
a noite vem chegando
mergulha
nas pedras.
No
meio do meu lenço,
uma
violeta brava
desde
que murchou.
Um
bebê às costas
brincando
com meu cabelo ---
que
calor que faz!
Batendo
nas folhas
e
quebrando-as em bocados ---
aí
vem o frio.
Que
fresca me sinto
ao
deitar minha cabeça
sobre
o chão de mármore!
Uns
mostrando flores,
outros
para se mostrarem ---
chapéus
de senhora.
Quando
envelheceres
até
os ratos te evitam ---
mas
que frio que está!
Há
algumas flores
que
nunca são avistadas ---
carvalho
no bosque.
Os
cães a uivar
ao
som das folhas que caem ---
lá
vem tempestade!
Adeus
ao Outono ---
só
estrelas brilham na água
da
vigésima noite.
Que
noite gelada ---
na
luz sinistra da vela,
navalhas
de barbear.
Nos
montes vazios
sem
nada a oferecer,
domina
o Outono.
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