segunda-feira, 4 de maio de 2015

Walt Whitman -- CANTO DE MIM MESMO (Fragmento)




Eu me celebro e a mim mesmo me canto;
E minhas pretensões serão as tuas,
Pois cada átomo meu também te pertence.

Ando à toa e a minha alma incito;
Abaixado me distraio a observar um broto
da relva estival.

Casas e aposentos estão cheios de perfume – as prateleiras
Estão saturadas de perfume.
Aspiro eu mesmo a fragrância, a identifico e me deleito com isso;
A essência me intoxicaria também, mas eu não deixo.

A atmosfera não é um perfume – não tem sabor de essência
-- é inodora;
Será de minha boca para sempre. Apaixonei-me por ela:
Irei até o limite do bosque e lá ficarei nu e sem disfarce.
Estou louco para sentir em mim o seu contato.

O calor do meu próprio hálito;
Ecos, sussurros, raízes de amor, filamentos de seda,
os caprichosos ramos da videira e a videira;
minha respiração e a minha inspiração, a batida de meu coração,
o fluir do sangue e do ar atravessando-me os pulmões.

Farejo o odor das folhas verdes e das folhas secas, e o cheiro da ma-
resia, e a cor escura das rochas marinhas, e do feno no celeiro;
O som das palavras murmuradas por minha voz, palavras
                            (lançadas no redemoinho do vento;
Beijos suaves, uns quantos abraços, um cingir de braços;

O jogo de brilhos e sombras no arvoredo quando a brisa o balança;
O prazer de estar só em meio à azáfama das ruas ou na imensidão
                            (dos campos e nas encostas dos montes;
A sensação de saúde, os trinados do meio-dia pleno, a canção

                   (de meu levantar da cama ao encontro do sol.

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