segunda-feira, 4 de maio de 2015

Arthur Azevedo -- À MINHA NOIVA



“Tu és flor, as tuas pétalas
Orvalho lúbrico molha;
Eu sou flor que se desfolha
No verde chão do jardim.”
Têm por moda agora os líricos
Versos fazer neste estilo...
Tu és isto, eu sou aquilo,
Tu és assado, eu assim...

As negaças deste gênero,
Carlotinha, não resisto;
Vou dizer que tu és isto,
Que aquilo sou eu, vou dizer:
Tu és um pé de camélia,
Eu sou triste pé de alface,
Tu és aurora que nasce,
Eu sou a fogueira a morrer.

Tu és vaga pacífica,
Eu sou onda encrespada.
Tu és tudo, eu não sou nada,
Nem por descuido doutor;
Tu és de Deus uma lágrima,
Eu sou de suor um pingo,
Eu sou no amor o gardingo,
Tu Hermengarda no amor.

Os fatos restabeleçam-se,
Ó dona dos pés pequenos:
Eu sou homem – nada menos,
Tu és mulher – nada mais;
Eu sou empregado público,
Tu minha noiva bem cedo,
Eu sou Arthur Azevedo,

Tu és Carlota Morais.

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