segunda-feira, 4 de maio de 2015

Jorge Luis Borges -- AO ESPELHO




Por que persistes, incessante espelho?
Por que duplicas, misterioso irmão,
O menor movimento desta mão?
És o outro eu de que nos fala o grego
E espreitas desde sempre. E na pura
E incerta água ou no cristal que dura
Me buscas e é inútil eu estar cego.
O fato de não te ver e de saber-te
Te acresce horror, coisa mágica que ousas
Multiplicar o número das coisas
Que somos e que abarcam nossa sorte.
Quando eu morrer, copiarás outro,

Depois a outro, a outro, a outro, a outro...

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