terça-feira, 5 de maio de 2015

Pancetti, quadro. Poema: CEGUEIRA

CEGUEIRA

Após Ensaio contra a Cegueira, de José Saramago


Cá estou
Cego
A sentir e ouvir
Histórias de desamor
Ignomínia
Maldade
Descobri com pavor
Do que nós humanos
Somos capazes
Em qualquer idade
Quando a situação aperta
Fique alerta
Se não vão querer
Comer seu coração
Os desalmados
Necessitam
da nossa ingenuidade
da nossa coragem de fazer
para dela se alimentar
e tentar viver
uma vida menos sofrida
menos poluída
por seus pensamentos torpes
alva cegueira
em um mundo escuro e feroz
habitado por pessoas
cujo sentimento frio e atroz
passa a ser o desejado
para manter a tênue sensação
de que sem razão
fica menos difícil sobreviver
(fraca afirmação
para quem vai morrer
de qualquer modo)
escolher não se enamorar
pela vida e pelas pessoas
que são encaradas como inimigas
ou amigas para o deleite do sexo sem prazer
apenas por medo de morrer
Quem está cego
Eu que enxergo
e pago para não me aborrecer?
Ou você
Que não quer enxergar
Para não dissipar
a obscura sensação

de prazer?

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