sexta-feira, 1 de maio de 2015

POESIA FEMININA JAPONESA (8)

UDA KIYOKO (1935)

Sinto-me tão só
enquanto escrevo o meu nome ---
quente madrugada.

Trutas de viveiro ---
quer em vida quer na morte,
os corpos torcidos.

Açafrão em flor ---
assassinaram um homem
no filme que vi ontem.

Uma sucata de ferro ---
certamente que as pessoas
vão deixar de olhar.

Aperto nos braços
a alma, os seios e tudo o mais
ao chegar Outono.

Felizmente que
a cremação acabou
antes do meio-dia.

Pirilampo morto ---
luminosamente claro
todo o céu noturno.

Ainda com vida,
a libelinha a secar
sobre um rochedo.

Aves, ramos, pedras
todos vestidos de branco ---
tempo de partir?

Metade do corpo
num sonho; a outra metade
dentro da neve.

Os rostos sem máscara
transformam-se em mascarados
ao redor do fogo.

Os crisântemos ---
nem brancos nem amarelos
num escuro total.

O branco do cisne,
não é tão imaculado.

Sobre ou sob as folhas
cada caracol fará
a própria vontade.

As sanguessugas do monte
também têm o que dizer ---
vamos escutar.

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