sexta-feira, 1 de maio de 2015

POESIA FEMININA JAPONESA (2)

     CHIYOJO (1703 – 1775):

Eis a borboleta ---
atrás, adiante, atrás
da mulher no caminho.

As campainhas despontam ---
Aquela que acorda os outros
Já não vê as flores.

Boas-noites a florir,
quando a pele duma mulher
brilha em noite escura.

Ele fez-me esquecer
de pôr vermelho nos lábios ---
um rio cristalino.

Crisântemo branco ---
como é estranho contemplá-lo
a florir ao sol!

Será que despontam
por sonhar com a Primavera?
Flores fora de tempo.

Tornaram-se flores
ou são só gotas de orvalho?
Neve de manhã.

Chuva em Primavera ---
todas as coisas na terra
ficarão mais belas.

Rosto de criança
que o sol não tostou ainda ---
pessegueiro em flor.

Alga a flutuar
levando às costas o peso
de uma borboleta.

Um dente-de-leão
interrompendo por vezes
o sonho da borboleta.

Noite de luar ---
lá fora, sobre a pedra,
um grilo que canta.

Toda solidão
está dentro de quem ouve ---
um cuco a chamar.

Eis a lua cheia ---
há ali também uma ave
que procura o escuro.

Truta a descer o rio ---
a água, dia após dia,
me mete mais medo.



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