sexta-feira, 3 de abril de 2015

Reinaldo Arenas: poema VOZES

VOZES

            Nós viemos pelo ar
Nós viemos pelo mar
Nós chegamos amarrados ao pneu de um automóvel
Nós chegamos presos à roda de um avião
Nós saímos conjurando tubarões e guarda-costas
Nós saímos tradeando um túnel no ar
Nós saímos agarrados à cauda de um cometa
Nós chegamos a nado, vomitando bílis,
soltando os bofes,
os ossos ao sol, desidratados,
descarnado o coração.
            Sim, sem dúvida somos os mais ditosos
                                                           -- os afortunados.
Os demais jazem para sempre sob o mar
ou condenam a nossa fuga

enquanto secreta e desesperadamente desejam partir.

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