sexta-feira, 3 de abril de 2015

José Koser: Havana, 1940. Poeta, ensaísta e tradutor.

 RENASCIMENTO DE FRANZ KAPRA

É uma casa pequena de dois pisos não muito longe do rio
num beco de Praga. Na madrugada
de onze para doze de Novembro teve um sobressalto, desceu à cozinha com a mesa redonda e a cadeira de
tília, o fogareiro e a chama azul de metileno. Acendeu
o fogão
e o fogo verdejou ao mesmo tempo (três) chamas nos três
vidros da janela: cheirava a enxofre.
Quis
passar
à salinha de comer para beber uma tisana de boldo e mel,
correu a cadeira e acomodou-se diante de uma taça
de barro castanha que
tinha colocado não se sabe desde quando
sobre o porta-copos de vime de seis
cores, obséquio
de Felicia: e uma vez mais
apareceu Felicia com a risca ao meio, as duas tranças e um
resplendor de velas na
oval branca daquele rosto ávido de
farinhas e pães da consagração,
rosto
três vezes
uma labareda no vidro da janela: apareceu. E era uma
vez mais a menina três vezes dos seus mortos, acudiam
ao toque
do triângulo uns músicos de câmara e ao toque da
sineta (as três) no alto campanário não muito longe
do rio:
acomodaram-se, dez
taças, dez
cadeiras no imenso casarão das mansardas, a casa em
que as varandas e as marquises (estábulos e alpendres) se
abriam dia e noite, a água
e as esponjas
reluziam. Pois, sim: era outra época e um coro de
raparigas vigiava as chaleiras (ferver) os eucaliptos
(ferver) a manjerona e uma
Água digestiva (mentas) águas
Da respiração: tudo
Tranqüilo (por fim) tudo tranqüilo, subiu os degraus e viu
Janela (por fim) sem uma
Aglomeração de pássaros

Na janela.

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